A salvaguarda e valorização do património é garantia de uma paisagem mais equilibrada e atrativa, reforçando a sua identidade, e pode constituir um recurso importante na afirmação do território e no reforço da autoestima das populações. Um território com qualidade e com identidade, portanto com relevância geográfica (Fernandes e Carvalho, 1998) é potencialmente atrativo. Um território uniforme e vago, cria psicologias de fuga.
Os recursos patrimoniais naturais e culturais (estes entendidos nas dimensões arquitetónica e arqueológica) são considerados variáveis-chave nos sistemas e instrumentos de gestão territorial. Além de condicionantes do ordenamento do território e urbanismo na medida em que neste se estabelecem as medidas indispensáveis à proteção e valorização do mesmo e, em princípio, acautelam o uso dos espaços envolventes, são igualmente uma das componentes essenciais da estruturação da imagem dos territórios (Santana, 1995), e podem ser usados como referências de memória e indicações de identidade das comunidades, bem como definem uma matriz de especificidade e um potencial de qualidade e qualificação dos territórios, preocupações também recentemente assumidas no planeamento urbano português (Craveiro, 1999).
Devem, assim, assumir igualmente relevância estratégica na formulação de planos e políticas de desenvolvimento e na tomada de decisões sobre o ordenamento do território (com alcance superior a uma certa perspetiva reducionista e insular do património), e permitam-me a veleidade de pensar que a gestão deste recurso de certa forma limitado é um dos grandes desafios de um certo entendimento de sustentabilidade alicerçada na forte preocupação em conciliar ambiente e economia, mediante uma utilização equilibrada de recursos, e numa ótica de solidariedade com as gerações futuras, às quais pretendemos legar um ambiente natural e construído mais rico, diversificado e qualificado do que o atual e que parece fundamental para a melhoria da qualidade de vida dos atuais (que envolve os níveis de bem estar individual, familiar e social, incluindo aspetos psicológicos, culturais e históricos que se prendem com a identidade e o sentimento de pertença), ao mesmo tempo que é necessário promover a sensibilização e participação dos cidadãos nas decisões e melhorar a qualidade do relacionamento institucional – é a chamada eficiência institucional, que engloba as boas formas de relacionamento entre governantes, burocracias, máquinas empresariais e cidadãos (Roseta, 1999).
A significativa e crescente importância e preocupação que desperta o património rural explica-se mais pelo seu valor social e cultural do que pela sua importância económica.
A conservação do património rural tem origem na Europa, na segunda metade de oitocentos, sobretudo em áreas onde o modo de vida rural foi mais afetado pelo êxodo rural e pela Revolução Industrial (Dewailly, 1998).
Quanto às funções, a funcionalidade económica ganhou realce após a II Guerra Mundial, quando o espaço rural mais se decompunha e, ao mesmo tempo, perdia diversidade, por avanço da agricultura produtivista, e quando se desenvolve o grande movimento do turismo de massas na Europa. Nos anos 70 acrescenta-se a preocupação/motivação ambiental, sobretudo no que respeita ao turismo rural.
As perspetivas iniciais, centradas numa atitude monumentalista de contemplação de marcas históricas e etnográficas, deram lugar ao entendimento do valor dos conjuntos (envolvências) e das redes, e das formas ativas de participação das populações, instituições e atores.
Partindo da definição de ecomuseu de Georges Henri Rivière, o inspirador desta corrente: “C’est un miroir où une population se regarde pour s’y reconnaître, où elle cherche l’explication du territoire auquel elle est attachée, jointe à celle des populations qui l’y ont précédée dans la discontinuité ou la continuité des génrérations; un miroir que cette population tend à ses hôtes, pour s’en faire mieux comprendre, dans le respect de son travail, de ses comportements, de son intimité…C’est une expression de l’homme et de la nature…” (Amirou, 2000), parece-nos de salientar: a ideia de mostra e defesa da cultura local e das tradições sob uma perspetiva de valorização e não de simples conservação, pois o património cultural tem uma valor de antiguidade, mas tem também um valor de continuidade; a valorização dos objetos, não pelo seu valor estético, mas sim enquanto documento etnográfico e de testemunho da história social e humana; a importância do contexto simbólico dos objetos; a importância das identidades locais e da autenticidade dos lugares e das tradições.
As reflexões e os trabalhos de George Henri Rivière , nas primeiras décadas deste século, ilustram a ideia clara de um museu que mostrasse não apenas as obras de arte mas as relações entre as sociedades humanas que as produzem e o meio que as rodeia (Pessoa, 1985).
Nasceu pois uma nova conceção museológica e museográfica em que o visitante penetra, de uma maneira ativa e participativa, nas formas de vida do espaço representado.
A diferença essencial para os museus tradicionais é que o ecomuseu em princípio não se confina a um edifício, antes espalha-se pelo território para em contexto próprio explicar a vida e a essência dos seus eixos estruturantes.
Por isso, o ecomuseu é entendido não como um edifício mas sim como uma rede de edifícios, com animação cultural, mas também com visita a células ativas (como fábricas artesanais de queijo, de tapeçarias, por exemplo); não como um simples inventário museológico, mas sim como uma rede articulada de comunidades, de territórios dotados de particularidades próprias, mas colaborando todos para a construção de uma mesma identidade cultural.
Varine (2000) advoga que o ecomuseu não busca a eficácia técnica institucional, mas o desenvolvimento de uma consciência comunitária.
O conceito de ecomuseu está sempre em evolução (Pessoa, op. cit.). Deve ser um museu do tempo (conhecer a História do território) e dos espaços (o território atual, com percursos temáticos) e integrar atividades de dinamização da cultural local, no sentido de dignificação das populações locais.
A ideia de conservação não pode ser estática, criando reservas e proibindo, mas sim dinâmica, ordenando o uso dos espaços.
Os estatutos de conservação e proteção da natureza, do património natural e cultural, enfim da paisagem, além de instrumentos de ordenamento, conservação e desenvolvimento, devem também constituir meios de divulgação dos valores ecológicos e excelentes formas pedagógicas de motivar a consciência coletiva para a problemática da sustentabilidade do desenvolvimento
Na Europa são hoje muitos os espaços que enformam este conceito. A título de exemplo, podemos referir o Ecomuseu da Alsácia e o Ecomuseu de Valls d’Àneu .
Em Portugal, o Ecomuseu Rural das Serras do Algarve, o Ecomuseu Municipal do Seixal e o Ecomuseu do Zêzere, entre outros, são expressão deste “novo” paradigma.