Resumo
Nos últimos anos afirmou-se uma nova conceção de desenvolvimento rural: participado, individualizado e contextualizado, de inserção vertical e horizontal, numa rede de cooperação e solidariedade.
A Serra da Lousã (no Centro de Portugal) é um território periférico em processo de reestruturação funcional e crise de identidade, que corre o risco de vir a ser marginalizado.
A nossa proposta de “ecomuseu” pretende articular e integrar, numa rede coerente e dinâmica, ações e/ou propostas de intervenção de cada um dos agentes de desenvolvimento com incidência local mormente no âmbito da valorização dos recursos patrimoniais (no amplo espectro das dimensões natural e cultural), visando racionalizar os recursos financeiros envolvidos, conciliar as vertentes económica, social, cultural e ambiental, reforçar a imagem e a identidade do território, afirmar a atividade turística sustentável e melhorar as condições de vida da população serrana.
1. Nota introdutória
A organização social e territorial das sociedades ocidentais vive neste alvor de milénio uma fase de transição caracterizada por mudanças significativas.
Questionar os anteriores modelos de produção e de vivência (Amaro, 1996), é um pretexto para reconhecer a heterogeneidade, fluidez e complexidade, das sociedades e dos espaços geográficos, quiçá as principais linhas que identificam a pós-modernidade, e que não se desenham, por isso, vias únicas e uniformes de leitura, de organização e de atuação sobre os territórios. É tempo de repensar conceitos como desenvolvimento, ruralidade e urbanidade, de discutir problemáticas como a cidadania, a participação, as relações de poder e a estruturação das redes dos atores de desenvolvimento.
Os espaços rurais do mundo ocidental, com as suas fragilidades e respetivas propriedades difusas, deixaram de ser exclusivamente sentidos e olhados sob a ótica das suas potencialidades produtivas para, num contexto diferente, poderem ganhar em complexidade, diversidade funcional e sustentabilidade, aquilo que perderam na sequência da aplicação desregrada de técnicas produtivistas a que foram sujeitos, sobretudo desde a Revolução Agrícola inglesa e em especial após o fim da segunda Grande Guerra (Carvalho e Fernandes, 2000).
O grande desafio que se coloca perante a Geografia e os geógrafos, perseguindo o objetivo de manter e assegurar no futuro a diversidade da cultura, do espaço e do meio, perante o quadro tendencial de uniformização decorrente do processo de globalização, é ao mesmo tempo uma reflexão profunda sobre o significado atual dos espaços (geográficos e de fluxos) e territórios, e a sua relação com o exercício da cidadania. As relações estreitas entre a população, o território e o património, configuram o conceito de ecomuseu enquanto lugar de memórias e de construção de identidades.