Este texto forma parte del libro
Ensaios de Economia
de Luis Gonzaga da Sousa
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A QUESTÃO DOS PREÇOS



O inter-relacionamento entre as pessoas leva a que se busquem dinheiros, para comprar produtos que satisfaçam as necessidades humanas, e isto conduz ao fluxo que movimenta o mercado. A estruturação de mercado direciona a que as pessoas demandem, e outras ofereçam mercadorias e, por conseqüência, os preços são estipulados. Os preços dizem respeito a uma expressão monetária de quanto valha um bem ou serviço, que se está negociando, não é o valor; mas, é a expressão do valor no sistema econômico. A problemática do preço é muito discutida nos tempos modernos, tanto no que diz respeito ao valor propriamente dito, como a justiça na determinação daquele preço, refletindo ou não, a realidade dos tempos modernos; pois, o preço é apenas um equivalente de valor, que pode corresponder a uma igualdade, ou não, dependendo da elasticidade demanda pelo produto.
Quando se fala em preços, coloca-se de imediato a idéia de preços relativos e preços absolutos. Os preços são o termômetro da economia; e daí, pode-se sentir se a economia vai bem, ou mal na conjuntura de inter-relações. Preços altos de forma constante e persistente significam inflação; consequentemente, ao continuar, a economia vai mal e caminha para uma recessão, ou depressão. Preços baixos não quer dizer que o sistema econômico vai bem, nem que vai mal; entretanto, pode-se afirmar que a economia está desaquecida e precisa de qualquer estímulo que a faça crescer, dinamizar-se e ter um nível de preços compatíveis com a estrutura econômica como um todo. Mas, ninguém vai esquecer que o pior; é quando a economia enfrenta um processo inflacionário, já tendente a uma hiper-inflação como aconteceu em alguns lugares do mundo.
Em economia, trabalha-se com preços relativos, tendo em vista que o processo concorrencial que enfrentam os agentes econômicos, no afã de encontrar um espaço para sobreviverem, tanto como consumidores, como vendedores, ou revendedores dos produtos do mercado nacional. Os preços relativos dizem respeito à substitutibilidade, ou complementaridade que os bens econômicos possuem no processo de troca; quer dizer, o trabalho pode ser substituído por máquinas, o café pode ser substituído por chá, o açúcar é um complemento do doce, e muitas outras combinações que podem ser feitas; de tal maneira que a economia possa funcionar sem subaquecimento, ou superaquecimento, isto é, funcionar sempre estável, sem capacidade ociosa e sem ser superutilizada.
Todavia, neste emaranhado de busca pelo lucro, pela sobrevivência comercial e pela acumulação de capital, concentração excessiva de rendimentos, precisa-se de um índice que meça a evolução dos preços de uma economia; quer dizer, é necessário saber se a economia está em um processo inflacionarão, ou deflacionário. Tal índice tem como objetivo medir o índice Geral de Preços, - IGP; mas, não se sabe o índice que representa realmente o dos preços da economia, ao considerar que, este representa o de preços da classe alta; contudo, não representa o índice de preço da classe baixa, ou identifique as necessidades da classe baixa; mas, não representa, em verdade, o índice de preços da classe alta e daí começa a complexidade daquele que satisfaça a todas as classes sem super-estimação de uns, nem tão pouco de sub-estimação de outros.
Entretanto, sabe-se, que a cesta de consumo mensal da classe rica é totalmente diferente da cesta da classe pobre. A elasticidade renda da classe rica, no que respeita aos bens necessários é muito baixa; mas, a classe pobre, ou inferior, coloca toda a sua renda em produtos necessários, ou de consumo de subsistência, estimando uma propensão marginal a consumir muito alta, em média um valor de aproximadamente 0.96. Já a classe rica, ou abastada, tem uma propensão marginal a consumir, na ordem de 0.43 em média. Veja que a classe rica poupa uma grande parte de sua renda e a classe pobre não poupa nada, pelo contrário, compra a crediário, ultrapassando quase sempre o que ganha em cada mês. Isto dificulta a confecção de um Índice satisfatório para toda economia.
O Índice Geral de Preços é calculado, tendo como base uma pesquisa que é feita em algumas capitais do país e, também manuseado de numa amostragem em cada capital sorteada, onde for feita a captação dos dados. Deve-se lembrar que o processo de cálculo do Índice Geral de Preços é feito por amostragem, por isso suspeita-se que não representa fielmente o geral como se fosse o próprio universo pesquisado. Essa versão de cálculo não invalida o resultado chegado quanto ao valor real de quanto cresceu o Índice Geral de Preços; agora resta saber quem está perdendo com este cálculo que superestima os valores dos bens e serviços da classe pobre e subestima para a classe rica; pois, aqueles que não possuem condições, pagam mais pelos produtos de necessidade imediata, ou de sobrevivência, que é a classe inferior.
A questão dos preços é muito melindrosa, pois, envolve uma dinâmica muito difícil e perigosa de se fazer simulação. Os preços, de acordo com a Teoria Clássica da Economia, seriam determinados pela correlação de forças livres no mercado; quer dizer, consumidores e vendedores se encontrariam em um ponto comum e, dai, os preços seriam determinados para aqueles produtos que estariam dispostos á venda e isto acontece ainda hoje. Do mesmo modo aconteceria no mercado de trabalho e em muitos mercados onde envolvesse a concorrência. Com as acumulações de capital e, consequentemente, as concentrações de riquezas, a coisa mudou muito, por causa da concorrência ser desleal, e a atuação mais direta ser dos oligopólios, dos monopólios e dos trustes que dominam a economia capitalista do mundo moderno.
Na filosofia do capitalismo internacional hodierno, quem determina preços é o poder de domínio, e/ou de liderança na economia mundial. Neste caso, o preço não é determinado pela concorrência consumidor versus vendedor diretamente; mas, pela competição entre os capitalistas que lutam para derrubar seus próprios colegas e ficarem onipresentes na estrutura de mercado. Isto acontece muitas vezes com o beneplácito do governo que concede subsídios e incentivos no afã de conseguir capital para o desenvolvimento do país, onde, na verdade, o que consegue é implementar a competição na própria classe de atuação. Esta luta beneficia o consumidor no curto prazo; todavia, não se deve esperar nenhum aumento de bem-estar para a sociedade; contudo, uma maior usurpação no mercado, no médio e longo prazo.
Os grandes poderios monopolistas da atualidade foram conseguidos por força dessa competição intercapitalista, onde os menores que saiam do páreo, e sobreviva o mais forte, velha filosofia que tem dado certo no sistema de dominação capitalista. A prova, é que as micros, e pequenas indústrias vivem em constante rotatividade comercial, isto é, surge um certo número dessas indústrias e, em seguida, falem, ou fecham as suas portas. O mesmo não acontece com os grandes industriais; pois, a falência dos pequenos, nada mais é do que a alimentação dos grandes, quer dizer, essas micros e pequenas indústrias, servem apenas como subsidiárias dos grandes poderosos internacionais, e quando crescem um pouco, os patrões, donos do poder, cortam-lhes logo as rédeas de sua prosperidade.
No caso brasileiro existe, como foi no passado, a famosa correção monetária que assegura uma atualização do capital e dos preços, de tal maneira que não se tem a ingenuidade do mercado, determinando perdas mútuas entre aqueles que querem vender e aqueles que querem comprar. O consumidor quando vai ao mercado e não possui a mínima condição de barganha, além de submeter se sempre a produtos deteriorados, velhos e sem condições ao consumo humano, não faz uma feira condigna. Todavia, os empregados que são também consumidores, são induzidos a tratar mal seus irmãos com palavras inadequadas aos bons costumes, como por exemplo: compra quem pode. Não vêem que foram eles quem fez esse e outros produtos que deveriam satisfazer aos desejos deles próprios e daqueles que necessitam.
Já em termos de defesa do consumidor, não existe ainda uma consciência por parte dos compradores, que lidere uma associação de apoio àqueles que são lesados todos dias pelos donos dos supermercados que não oferece poder de barganha aos compradores. Como os consumidores não criaram essa liderança, que coordene as reclamações do povo, o governo se encarregou de prestar esse serviço à comunidade, onde, na verdade, a única coisa que faz é atrapalhar no processo de reivindicação popular e democrática. No papel, essas associações existem; mas, nunca atuam de maneira eficaz e progressista, servem apenas para atrapalhar o processo de formação associativista popular e participativa. Essas associações do governo são chamadas de comitês de apoio ao consumidor, que nunca funcionaram e os abusos continuam a ser praticados todos os instantes por comerciantes inescrupulosos do sistema de comercialização.
A formalização das associações tem um papel importante na formação dos preços na estrutura econômica; pois, deverão impedir as correções excessivas sobre produtos que tiveram custos de produção baixíssimos, e que são majorados cotidianamente para acompanhar uma inflação expectativa criada indevidamente pelos lacaios do poder. Enquanto isto não acontece, os monopolistas, ou oligopolistas continuam abusando do poder para remarcarem seus preços e impedirem que eles sejam determinados pela estrutura de poder oligopolista. Deve-se entender que os preços são, bem como as taxas de juros, os termômetros da economia, através dos quais, sabe-se o quanto a economia está doente, e precisa de qualquer terapia para, não amenizar a dor do doente, mas acabar a sua enfermidade que corrói o sistema econômico e social.
Enfim, quais são as soluções mais imediatas que se devem tomar para que o sistema econômico não oficialize uma doença crônica? Numa rápida comparação, uma dor de cabeça no ser humano não é uma causa; mas, uma conseqüência de qualquer distúrbio interno em uma pessoa. A mesma coisa acontece com a economia, cujas variações de preços nunca serão combatidas; pois, elas são resultados de toda transação econômica de um país. Portanto, o que se combate, são os desajustes que existem dentro do organismo econômico; pois, como conseqüência; ter-se-ão preços altos, ou baixos, criando problemas futuros para a economia, porque ao longo da história, os preços passaram a ser problemas e nunca resultados de uma anomalia dentro de uma economia, que precisa caminhar, dentro dos princípios de equilíbrio.