Tesis doctorales de Economía

 

TURISMO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE URBANO-REGIONAL BASEADA EM CLUSTER

Jorge Antonio Santos Silva

 

 

 

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INTRODUÇÃO

O turismo caracteriza-se por ser um fenômeno multisetorial e multidisciplinar. Essas condições, se por um lado são extremamente positivas, pois possibilitam contribuições teóricas e práticas de diversos matizes, que enriquecem o conhecimento do fenômeno em si, por outro lado resultam em sérias dificuldades em nível de delimitação conceitual e metodológica, quando se pretende analisar não a totalidade complexa do turismo, mas, de modo específico, a sua consideração sob um determinado enfoque ou âmbito, disciplinar, espacial e setorial.

Tal sucede quando se busca analisar o turismo como atividade econômica e a sua relação com o processo de desenvolvimento regional, incluindo aportações oriundas da economia e da geografia. Desenvolvimento econômico, geografia econômica, economia espacial, análise urbano-regional do desenvolvimento socioeconômico, constituem-se em áreas do conhecimento às quais recorreu o autor desta tese para, estabelecendo links entre elas e o turismo, alcançar o objeto ao qual se propôs.

O objeto deste trabalho consiste em analisar se o turismo, enquanto atividade econômica, apresenta condição de atuar como motor do crescimento e do desenvolvimento regional e, em caso afirmativo, sob que modelo teórico-metodológico, estrutura e configuração tal condição se concretizaria.

Nos anos 1990, difundiu-se no meio acadêmico, a partir dos estudos de Michael Porter, o conceito de cluster, vinculado à noção de competitividade das nações como derivada da competitividade das empresas instaladas no território nacional, localizadas em concentrações geográficas delimitadas, dentro desse território, e compartilhando, em grupos, as externalidades positivas decorrentes das chamadas economias de aglomeração. A este conceito, que nesta tese será mais referido como “agrupamento”, Michael Porter atrelou um aparato metodológico que ganhou o crédito de, inclusive, pretender constituir-se em um novo modelo de desenvolvimento regional.

Com estreito e indissolúvel vínculo ao objeto acima referido, se procurará analisar se o conceito de cluster, bem como o de cadeia produtiva, aplica-se-se apropriadamente à atividade do turismo, e, em caso positivo, se o “cluster de turismo”, ou seja, um agrupamento de empresas que têm como atividade nuclear o turismo, corresponderia à estruturação e configuração de um modelo de desenvolvimento regional, a partir da atividade turística.

Ainda para atender ao objeto desta tese, um outro tema nela enfatizado e de conteúdo diretamente relacionado ao conceito de cadeia produtiva refere-se à noção de “fugas” ou “vazamentos” da economia de uma determinada região, decorrente do suprimento de inputs necessários ao funcionamento da estrutura produtiva dessa economia a partir de fornecedores de bens e serviços localizados fora da região, representando a realização de importações e a conseqüente remuneração de agentes exógenos, o que atua no sentido de mitigar os resultados econômicos da atividade turística que seriam retidos localmente.

A competitividade e sustentabilidade do desenvolvimento turístico de base endógena, preconizaria, portanto, o enraizamento ou internalização da produção de tais inputs, implicando no adensamento e ampliação dos encadeamentos setorias, a montante e a jusante, que compõem a estrutura produtiva da economia dessa região.

Neste sentido, realizou-se um levantamento, em nível exploratório e preliminar, junto à hotelaria de Salvador, capital do Estado da Bahia, procurando constatar a ocorrência de vazamentos, bem como evidenciar variáveis influenciadoras e áreas por onde os recursos estariam vazando, relacionadas diretamente a problemas e dificuldades com fornecedores locais e em função do tamanho dos estabelecimentos e da propriedade do capital, se local ou de cadeias nacionais e internacioanais.

Para o alcance do objeto da tese, além do trabalho empírico realizado, se procedeu a uma extensa revisão bibliográfica em fontes primárias e secundárias.

O estudo realizado possibilitou concluir-se que para regiões deprimidas economicamente a atividade turística pode atuar como indutora de crescimento econômico, mas por si só, não reúne condições de promover o desenvolvimento econômico regional.

O modelo de cluster, na concepção porteriana “pura” marcadamente empresarial e microeconômica, caracterizado pela presença de grandes indústrias e de dimensão nacional, com elevada amplitude e alto nível de agregação, não se aplica apropriadamente ao turismo e não pode ser tomado como uma estratégia de desenvolvimento regional.

O agrupamento que tem o turismo como atividade nuclear, cujo foco é o destino turístico entendido como um microcluster, caracterizando-se pela delimitação da amplitude geográfica do seu entorno espacial, do âmbito territorial de abrangência do próprio agrupamento, do segmento turístico principal e dos sub-segmentos relacionados, bem como do próprio mercado alvo, corresponde à configuração de cluster de turismo que reúne as condições de promover e modelar estratégias de crescimento e desenvolvimento para micro-regiões ou zonas turísticas. Desta forma, se alcançará e sustentará o desenvolvimento regional, como resultado da interação entre a função de especialização – o turismo e o território – o destino turístico e seu entorno próximo.

Esta tese, além de sua introdução, estrutura-se em quatro capítulos, e mais a conclusão, referências e anexos. O primeiro capítulo aborda os aspectos conceituais do crescimento e do desenvolvimento regional, tratando dos conceitos econômicos e geográficos que referem-se à questão regional e dos modelos de crescimento e desenvolvimento regional. O segundo capítulo reporta-se à “Teoria dos Aglomerados”, caracterizando os seus antecedentes conceituais originados na economia e na geografia econômica, explicitando a abordagem de Michael Porter e o seu conceito de cluster e passando em seguida a analisar outras abordagens sobre os conceitos e práticas de cadeias e clusters. O capítulo 3 traz todo o referencial teórico trabalhado nos capítulos anteriores em sua ligação com o turismo, ou seja aborda o turismo face o desenvolvimento regional e a “Teoria dos Aglomerados”. Neste capítulo se delineia o enquadramento econômico do turismo, a aplicação do conceito do multiplicador, a dimensão territorial do desenvolvimento turístico e a localização das atividades turísticas, tratando-se na sequência da aplicação dos conceitos de cadeias e de clusters à atividade do turismo. Por fim, o capítulo 4 apresenta o trabalho empírico realizado, descrevendo-se a metodologia empregada e os resultados alcançados.

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