Tesis doctorales de Economía

 

TURISMO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE URBANO-REGIONAL BASEADA EM CLUSTER

Jorge Antonio Santos Silva

 

 

 

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3.2.2. Os conceitos de agrupamentos ou clusters referenciados ao turismo

A literatura que trata do tema cluster de turismo, é mais numerosa que a referida à cadeia produtiva do turismo, porém não tão expressiva como se esperava encontrar e, em sua maior parte, caracterizada, também, por um elevado grau de abrangência e generalização. Se procurará analisar com maior ênfase as contribuições assentadas em formulações teóricas diferenciadas daquelas que integram o modelo porteriano, além daquelas que, mesmo seguindo este modelo, tragam algum aspecto distintivo em relação ao enquadramento padronizado do mesmo.

Retoma-se neste ponto, as alternativas de análise da competitividade, referidas por Monfort Mir (2000) em seu estudo sobre a competitividade de destinos turísticos, as quais, como visto no capítulo 2, item 2.4, podem agrupar-se a partir de cinco tipos de variáveis causais: vantagens-país; vantagens-indústria / setor; vantagens-território; vantagens-produto; e vantagens-empresa.

No âmbito da atividade turística, a existência de um produto hegemônico, cuja capacidade de atração da demanda o converte no produto turístico por excelência, reduz, segundo Monfort Mir, a intensidade das vantagens-produto.

[As vantagens-produto] explicam a competitividade pelo nível em que os produtos incorporam os atributos que os consumidores mais valorizam em sua decisão de compra. A análise da competitividade se dirige, neste caso, a comparar vetores de atributos entre produtos competitivos no mercado, a conhecer as razões comerciais de valoração e apresentação do produto em cada mercado e a tratar de familiarizar-se com os processos de decisão do cliente situado em posição de eleger entre alternativas próximas, segundo o seu nível de gostos e renda. [...] o consumidor percebe cada produto como um conjunto de atributos com diferentes capacidades para oferecer-lhe os benefícios desejados e satisfazer suas expectativas. A falta de produtos turísticos alternativos ou de uma importância semelhante [ao produto turístico por excelência de um determinado destino], invalida em grande proporção a análise do efeito-produto, [tradução livre nossa]. (MONFORT MIR, 2000, p. 41-42).

Algo semelhante acontece com as vantagens-território, pois, a forma pela qual as mesmas são compartilhadas ou repartidas por todas as empresas de um destino turístico pode reduzir o impacto competitivo do entorno espacial, se bem que, neste caso, nas palavras de Monfort Mir:

[...] é inegável certo dinamismo competitivo, transmitido a partir do âmbito geográfico desde o qual se tomam determinadas decisões estratégicas na empresa. O que obriga a considerar as condições socioeconômicas do território, [...] devido a que as condições últimas que confluem na competitividade de uma empresa encontram sentido em um lugar geográfico definido, caracterizado por uma relação multidimensional entre empresas e indústrias relacionadas, infra-estruturas, atividades complementares, serviços de apoio, recursos naturais e políticas institucionais, [tradução livre nossa]. (MONFORT MIR, 2000, p. 42).

O esquema analítico selecionado pelo autor para seu estudo sobre a competitividade de destinos turísticos (Figura 3.14), se inclinou pelo “suporte das vantagens-país, vantagens-indústria / setor e vantagens-empresa, que sustentam a competitividade internacional das organizações e que estão na base da diferenciação competitiva dos destinos turísticos e de seus respectivos negócios, sendo estes últimos os autênticos artífices da competitividade distintiva dos destinos, [tradução livre nossa]. (MONFORT MIR, 2000, p. 42).

Figura 3.14 Tipos de Vantagens Competitivas da Empresa Turística

Fonte: Camisón, 1996, apud Monfort Mir, 2000, p. 42.

Desde a perspectiva do efeito-país se define a competitividade, segundo Monfort Mir, como a capacidade que possue um espaço para competir eficazmente nos mercados internacionais, referindo-se também à capacidade de concorrer por parte de um “setor” turístico de um destino concreto.

Esta é uma visão que se ampara, em uma primeira instância, nas vantagens da especialização que já enunciava Adam Smith, porém, desde a perspectiva ricardiana da Teoria do Comércio Internacional, tomando pois, como base dos fundamentos da competitividade internacional do turismo, a teoria das vantagens comparativas. [...] O mecanismo da vantagem comparativa explica o fenômeno da especialização que adquirem certos fatores de produção frente a outros, encontrando-se sua raiz no custo de oportunidade que se revela entre distintas opções produtivas oferecidas por esses fatores de produção. [Neste sentido], a explicação sobre a competitividade nos mercados turísticos internacionais se limita a analisar as vantagens em custos derivadas dos recursos produtivos existentes sob o controle do “setor” turístico em cada lugar. [...] se deduz [então] que a capacidade competitiva dos agentes que configuram a atividade turística, está delimitada pela dotação de fatores do espaço no qual se localizam: climatologia, atrativos paisagísticos, históricos ou culturais, infra-estruturas, etc., [tradução livre nossa]. (MONFORT MIR, 2000, p. 44).

Já a definição do panorama relativo ao efeito indústria, para o autor, enfatiza a importância fundamental que exercem as características estruturais vitais de cada indústria ou setor, sendo de especial interesse [...] esta última opção, por sua maior aplicabilidade à atividade turística conceitualizada como “setor” [...] Estes traços estruturais implicam um papel crítico no êxito empresarial, através da determinação das concorrências [e competências] existentes no próprio “setor” e do posicionamento dos agentes que interatuam entre si no mesmo, [tradução livre nossa]. (MONFORT MIR, 2000, p. 171).

Com relação ao efeito empresa, o mesmo condensa as capacidades distintivas dos negócios instalados em um destino turístico, que são os que acumulam a responsabilidade final entre níveis de competitividade diferentes de uns lugares para outros.

[...] se deduz que a [...] explicabilidade de diferenciais de competitividade entre destinos turísticos, reside nos diferentes desempenhos das organizações desses destinos. Isto condiciona, em conseqüência, o divergente êxito competitivo e empresarial de uns espaços com respeito a outros, referendando assim a particular atitude demonstrada pelos negócios de cada destino, [tradução livre nossa]. (MONFORT MIR, 2000, p. 191).

Para Monfort Mir, a metodologia mais eficiente que se dispõe, com a perspectiva de se realizar aproximações ao “setor” turístico, que atue sobre a problemática mais pertinente à realidade turística atual, exige o recurso à análise do cluster, que se identifica com um grupo de empresas e serviços turísticos relacionados geográfica, comercial e tipologicamente.

O “setor” turístico é excessivamente amplo e heterogêneo, para poder ser tratado como um todo. Esta consideração, conforme Monfort Mir, conduz à necessidade de interpretar a verdadeira concorrência no seio do “setor” turístico, a partir de uma taxonomia em segmentos estratégicos distintivos, entendidos como parcelas de produto/mercado turístico que competem pelos mesmos clientes, canais de comercialização/distribuição, ou pelas mesmas fontes de vantagem competitiva. O “setor” turístico deve ser dividido nesses segmentos estrategicamente diferenciados, onde reside a verdadeira concorrência. [...] esta concorrência se estabelece, fundamentalmente, entre as empresas, e não as nações, dedicadas a fornecer serviços em um âmbito geográfico determinado: o destino turístico; o qual pode fazer parte de um ou mais clusters, em função dos diferenciados produtos que seja capaz de articular o destino [...], [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (MONFORT MIR, 2000, p. 46).

Em seguida a essas constatações, o autor enuncia, de acordo com o modelo de Porter, no qual se baseia, o seu conceito de cluster aplicado ao turismo que é, em suas próprias palavras, o conjunto complexo de diferentes elementos, entre os quais se encontram os serviços prestados por empresas ou negócios turísticos (alojamento, restauração, agência de viagens, parques – aquáticos, temáticos, ..., etc.); a riqueza que proporciona a experiência das férias de um turista; o encontro multidimensional entre empresas e indústrias relacionadas; as infra-estruturas de comunicação e transporte; as atividades complementares (dotação comercial, tradição em feiras, etc.); os serviços de apoio (formação e informação, etc.); e os recursos naturais e as políticas institucionais, [tradução livre nossa]. (MONFORT MIR, 2000, p. 46).

A hipótese central do modelo teórico que embasa o estudo sobre competitividade de destinos turísticos elaborado por Monfort Mir, se resume em que a competitividade internacional da “indústria” (“setor” turístico) de um país, vem determinada por uma extensa série de vantagens-país, que se encontram relacionadas com a estrutura da “indústria” ou “setor”, com a eficácia dos mercados, com o entorno econômico global, com a atuação do governo e com a eficácia de suas empresas. [...] investigações mais recentes postulam que os fatores discriminantes-chave da competitividade (produtos, competências distintivas, recursos e capacidades) estão distribuidos de forma heterogênea entre as empresas competidoras dentro de uma indústria (ou setor); por isto, este enfoque prediz a existência de notáveis e persistentes diferenças de êxito competitivo intra-indústria, provocadas por fatores específicos de cada organização, maiores inclusive que as divergências interindustriais, [tradução livre nossa]. (MONFORT MIR, 2000, p. 46).

O autor acrescenta que as teorias baseadas nas vantagens-país e vantagens-indústria são partidárias preferentemente de um enfoque relacionado com a variável tamanho ou a dimensão empresarial, enquanto as teorias baseadas nas vantagens-território, vantagens-produto e vantagens-empresa postulam uma visão ampliada, respaldada por uma cesta de fatores internos vinculados a elementos majoritariamente de natureza intangível. Nesse contexto, o autor afirma que a empresa se define como a unidade fundamental de análise da competitividade, é o suporte explicativo básico da competitividade de um destino turístico (Figura 3.15, p. 373).

O conceito de cluster no turismo, segundo Carner (2001), se relaciona com a alta integração vertical, horizontal, intersetorial e interdisciplinar que ocorre na atividade turística. A eficiência das cadeias de produção não mais é gerada, segundo a autora, apenas à escala nacional, como também internacional, mediante o valor agregado em um território específico, mas também através e entre as fronteiras.

Figura 3.15 Modelo de Síntese Explicativo da Competitividade de um Destino Turístico

Fonte: Monfort Mir, 2000, p. 82.

[...] o turismo, desde o ponto de vista econômico, é um “setor” altamente dependente da demanda, tanto dos seus fatores econômicos como dos que se relacionam com suas características e motivações. Isto, personificado em última instância ao redor do visitante, é o fio que tece a rede de relações em torno do turismo. [...] Os fatores básicos da oferta [por sua vez] são os que tradicionalmente se relacionam com o conceito de cluster no lugar de destino, o qual conjuga estes elementos com o de territorialidade. Este é o complexo que interessa aos governos desenvolver quando se dão conta da importância do “setor”. Os [seus] componentes básicos são o alojamento, os alimentos e bebidas, as atrações e o entretenimento. Também se inclui o transporte local e nacional nesses elementos. [...] O elemento de enlace, de rede, é o que, em sua maior parte, relaciona a oferta com a demanda e cria as vinculações entre elas, vinculando-se diretamente com a criação e a difusão de informação, a promoção, a comercialização / distribuição e a venda dos produtos turísticos, [tradução livre nossa]. (CARNER, 2001, p. 12-13).

Carner utiliza o conceito de cluster no turismo, em função do mesmo proporcionar um marco mais dinâmico e mais adequado para captar a multiplicidade de encadeamentos horizontais e verticais tradicionais, assim como as relações inovadoras de uma série de fatores que interatuam para criar o conjunto das atividades turísticas, de apoio e a elas relacionadas, podendo a utilização deste conceito ser adaptada ao nível local, regional e nacional.

Para Beni, em artigo publicado no ano de 2001, o cluster pode ser definido “como um conjunto de atrativos com destacado diferencial turístico, dotado de equipamentos e serviços de qualidade, com excelência gerencial, concentrado num espaço geográfico delimitado” [grifo nosso], (BENI, 2001, p. 107).

Já em publicação de 2003, Beni amplia e explicita mais a sua definição anterior, passando a considerar o cluster como:

o conjunto de atrativos com destacado diferencial turístico, concentrado num espaço geográfico delimitado dotado de equipamentos e serviços de qualidade, de eficiência coletiva, de coesão social e política, de articulação da cadeia produtiva e de cultura associativa, e com excelência gerencial em redes de empresas que geram vantagens estratégicas comparativas e competitivas, [grifo nosso]. (BENI, 2003, p. 74).

A respeito das vantagens comparativas e competitivas, Beni comenta sobre o modelo do Fórum Econômico Mundial, com base na distinção que Ritchie e Geoffrey fazem entre vantagens comparativas e competitividade:

[...] a competitividade de um país ou região é compreendida como a habilidade de criar e manter um valor econômico adicionado ao longo do tempo. [...] uma vantagem comparativa pode fundamentar-se na habilidade do empresariado em adicionar valor aos recursos disponíveis. (RITCHIE e GEOFFREY, 1995, apud BENI, 2003, p. 76).

Na atividade do turismo, segundo Beni, o diferencial dos aspectos geográficos da natureza e do patrimônio cultural constitui o elemento determinante da vantagem competitiva, que sustenta as vantagens comparativas de um país ou região.

Toledo, Álvarez e Castroman (2002), por sua vez, afirmam que a idéia de pólo turístico levou ao conceito errôneo de relacionar a competitividade turística somente com as características geográficas, os recursos naturais e turísticos que se possuem em uma região. Essas características, pelo que se pode depreender da definição de Beni acima, corresponderiam às vantagens comparativas da região.

Os atores mencionam a definição de cluster turístico formulada por Gutiérrez e Bordas, segundo o qual, no sistema turístico, os clusters compreendem

agrupamentos de vários atrativos turísticos concentrados em uma região geográfica, com infra-estrutura compatível, equipamentos, serviços receptivos e órgãos e agentes turísticos coordenados para oferecer um produto turístico integrado e diferenciado, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (GUTIÉRREZ E BORDAS, 1993, apud TOLEDO, ÁLVAREZ E CASTROMAN, 2002, p. 820).

Com base nesta definição, Toledo, Álvarez e Castroman consideram como cluster turístico aquela região geográfica que possue uma densidade tal de equipamentos, serviços e de fluxos de turistas, com uma imagem diferenciada, produzindo um ordenamento sócio-espacial, no qual a produção local é determinada pela rede de fluxos intersetoriais, articulados e integrados pelos sistemas de gestão dos agentes que atuam no mesmo. Estes fluxos são orientados competitivamente à satisfação do cliente através de toda sua cadeia de valor e de produção, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (TOLEDO, ÁLVAREZ E CASTROMAN, 2002, p. 820).

Apesar dos autores não se referirem ao aspecto de delimitação da região geográfica, o termo densidade pode ser considerado um equivalente ao termo concentração, percebendo-se, desse modo, muitos pontos em comum entre a sua definição e as de Beni (2003) e de Gutiérrez e Bordas, com todas compartilhando o modelo teórico de origem porteriana e um enfoque de demanda na definição do cluster de turismo, embora em Toledo, Alvarez e Castroman (2002) se ressalte mais os elementos correspondentes às relações intersetoriais e às cadeias produtivas e de valor, em alguma medida contempladas na definição de Beni.

Toledo, Álvarez e Castroman (2002) fazem referência a um modelo proposto por Toledo et al., denominado de Modelo de Sistema Interfuncional Interrelacionado da Competitividade de um Cluster Turístico (SIIC), o qual se constitui de cinco elementos que atuam de forma interrelacionada no sistema turístico e que, segundo os autores, adequadamente gerenciados alavancam a competitividade do destino turístico. Esses cinco elementos são: massa crítica; natureza da demanda; estratégia competitiva; estratégia cooperativa e estratégia de relacionamento com o turista.

Os dois primeiros, de acordo com os autores, têm as características de criar condições básicas para o desenvolvimento do cluster, enquanto os outros três sugerem um processo no qual a vantagem competitiva de um cluster turístico é representada por um vetor resultante de três estratégias com os seguintes direcionamentos:

 integração vertical em busca da vantagem competitiva;

 integração horizontal em busca da cooperação entre empresas concorrentes, para obter um desempenho coletivo superior frente a outros clusters;

 na profundidade que se agrega maior valor ao cliente, satisfazê-lo mediante um relacionamento mais efetivo e aumentar a fidelidade, [tradução livre nossa]. (TOLEDO, ÁLVAREZ E CASTROMAN, 2002, p. 820).

No (Quadro 3.3, p. 377), se apresenta uma síntese comparativa entre os aspectos de análise das atividades de um pólo turístico e de um cluster turístico segundo o modelo SIIC referido por Toledo, Álvarez e Castroman. Já na (Figura 3.16, p. 378) se ilustra a configuração de um pólo de turismo, de acordo com a abordagem do Banco do Nordeste (2000).

Quadro 3.3 Análise das Atividades de um Pólo e de um Cluster Turístico segundo o Modelo SIIC

Fonte: Toledo, Álvarez e Castroman, 2002, p. 822.

São indicados abaixo, os conceitos de pólo turístico e de zona turística adotados pelo Banco do Nordeste do Brasil (BN) e tomados como referência no Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste do Brasil (PRODETUR-NE):

O conceito [...] de pólo turístico corresponde a “um grupo de municípios contíguos que têm recursos turísticos complementares e/ou concorrentes, que concordam em desenvolver conjuntamente suas capacidades de gestão dos municípios e de gerenciamento dos fluxos turísticos” [podendo o pólo assim definido incorporar uma ou mais zonas turísticas].

Uma zona turística, por sua vez, é considerada como a “região que abrange áreas urbanas e rurais, áreas de proteção ambiental e outros atrativos físicos, ecológicos e culturais de importante apelo turístico” [sendo contempladas, ainda, características de proximidade geográfica e homogeneidade temática ou motivacional entre os municípios de uma zona turística e entre zonas de um pólo turístico], [grifo nosso]. (BID, 2001?, apud SILVA, out-2001/mar-2002).

Figura 3.16 Pólo de Turismo

Fonte: Banco do Nordeste, 200, p. 24.

Rodríguez Domínguez (2001), cuja abordagem dos conceitos de cluster e de competitividade foi apresentada no capítulo 2, item 2.4, na aplicação que faz dos mesmos ao turismo, introduz o termo microcluster turístico. Para a autora, a aplicação da teoria dos distritos industrias ao “setor” turístico conduz a se trabalhar com a noção de distritos turísticos, entendidos como destinos turísticos, onde a concentração de empresas turísticas é um elemento característico.

[...] ainda que os diversos componentes do serviço turístico possam ser desenvolvidos por empresas distintas (hotéis, restaurantes, empresas de transporte, empresas de animação, ...), pelo menos [elas] devem estar localizadas em um espaço geográfico reduzido [delimitado e não excessivamente amplo] de modo que o cliente possa deslocar-se de uma empresa a outra sem ter que desperdiçar seu tempo de lazer (bem escasso) em tais deslocamentos, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (RODRÍGUEZ DOMÍNGUEZ, 2001, p. 306).

A este respeito, Valls (1996) destaca que “o [novo] consumidor turístico percebe como melhor destino aquele que lhe proporciona uma oferta comum de produtos / serviços e não uma oferta dispersa de hotéis, praias, restaurantes, museus e outros [...]” [tradução livre nossa], (VALLS, 1996, p. 66).

A aplicação da metodologia dos clusters ao “setor” turístico deve ser feita, de acordo com Rodríguez Dominguez (2001), de forma ainda mais minuciosa do que quando é aplicada ao setor industrial, isto devido à heterogeneidade que caracteriza as empresas que conformam os destinos turísticos, as motivações dos clientes (turistas), os recursos naturais explorados pelo turismo, etc. “[...] trabalhar com âmbitos territoriais dispersos [excessivamente amplos] e pouco homogêneos [...] dificulta a identificação de diagnósticos precisos do “setor” turístico [...]” [grifo nosso], [tradução livre nossa], (RODRÍGUEZ DOMÍNGUEZ, 2001, p. 307). Como exemplo, pode se fazer menção à tentativa de se tentar trabalhar o conjunto dos destinos turísticos da Bahia, que poderia se entender como o cluster em um sentido amplo, como se, numa perspectiva conceitual e metodológica, se tratasse de um único cluster, onde todos os destinos se situassem geograficamente próximos uns dos outros e apresentassem uma condição de homogeneidade do perfil e da oferta empresarial, das motivações e da tipologia de turistas, bem como da disponibilidade e da qualidade de recursos, naturais e artificiais, se teria uma grande dificuldade para levar a bom termo e conseguir resultados satisfatórios de tal tarefa.

Na abordagem de Rodríguez Domínguez, ao se trabalhar com clusters no turismo torna-se necessário contemplar um nível geográfico muito reduzido, concreto, um destino turístico, onde se podem adquirir um número muito limitado de produtos turísticos. Nesta perspectiva, um microcluster turístico define-se segundo os seguintes critérios:

 Existe um âmbito geográfico local, medido em função de conexões reais;

 Conforma relações comerciais, entendidas como a distância máxima que permite a um fornecedor servir adequadamente aos seus clientes e desenvolver outras atividades complementares, bem como muitos outros aspectos a exemplo da promoção, das escolas de formação turística, etc.;

 Contém infra-estruturas suficientes para toda a área;

 Dispõe de uma estratégia própria muito diferenciada, com características de oferta ou de demanda muito distintas em relação ao resto do território, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (RODRÍGUEZ DOMÍNGUEZ, 2001, p. 307).

Na hora de se competir no “setor” turístico, conforme Rodríguez Dominguez, é possível se deparar com dois tipos de destinos competitivos. Primeiro, teria-se aqueles constituídos por uma única empresa corporativa, que proporciona ao cliente todos os componentes do produto, a exemplo dos cruzeiros marítimos. Segundo, aqueles em que se situam um grupo de empresas, que compartilhando o lugar geográfico dentro do mesmo destino, formam um Sistema Produtivo Local – termo que para a autora é equivalente aos de distrito industrial e microcluster.

Este sistema de produção de serviços turísticos é muito mais flexível que o anterior, porque mantém os diferentes elementos da produção sem integrá-los em uma só unidade organizativa, de modo que são combináveis – via mercado ou acordos de colaboração – sob distintas formas, para produzir experiências turísticas muito diferentes e adaptar-se à grande heterogeneidade dos clientes, [tradução livre nossa]. (RODRÍGUEZ DOMÍNGUEZ, 2001, p. 308).

Para a autora, a cooperação no “setor” turístico pode ser compreendida em duas vertentes:

 horizontal – pela formação de alianças estratégicas, cujos acordos podem ser de dois tipos, de um lado os acordos entre empresas que se dedicam à mesma atividade principal, ou seja, entre empresas que se dedicam ao alojamento, à animação, ao transporte ou à restauração (alimentação), e de outro os acordos entre empresas que se dedicam em satisfazer ao mesmo grupo de clientes, mas lhes proporcionando distintos componentes do produto (serviços turísticos);

 vertical – através da formação de redes estratégicas, onde ocorre o estabelecimento de uma relação fornecedor-cliente unilateral entre os sócios, de tal modo que as atividades objeto de acordo são realizadas por uma das partes, que cede o seu output à outra em troca de uma contraprestação.

Diante da argumentação de alguns autores, de que com o crescimento das redes internacionais de comunicação, do transporte mundial e com a globalização das empresas, já não seria necessário se estar localizado em uma zona geográfica delimitada, Rodríguez Dominguez (2001) se manifesta afirmando que isto não ocorre no “setor” turístico, desde quando,

[...] uma das características [que se destaca no mesmo] é a simultaneidade de produção e consumo que exige dos clientes o deslocamento à própria empresa (na maior parte das ocasiões), sendo insubstituível este deslocamento pelos avanços dos meios de comunicação. Portanto, é necessário que as empresas turísticas se encontrem localizadas numa área geográfica bastante reduzida [ou bem delimitada], sendo impossível a aplicação dos clusters virtuais.

Em definitivo, existem dois tipos de razões para a formação de clusters: umas pelo lado da demanda e outras pelo lado da oferta. Ainda que as razões pelo lado da oferta possam chegar a desaparecer com a aplicação dos clusters virtuais, não ocorre o mesmo pelo lado da demanda, sendo estas últimas as que prevalecem na hora de defender a construção de clusters turísticos, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (RODRÍGUEZ DOMÍNGUEZ, 2001, p. 310).

A autora comenta que as empresas, sejam turísticas ou não, competem em forma de clusters ou agrupamentos naturais. As empresas, em geral, não se agrupam de modo consciente e deliberado, sob normas contratuais, mas sim, de forma mais ou menos involuntária, competindo em agrupamentos – motivadas pelo aproveitamento das economias de aglomeração e das vantagens territoriais, os quais tendem a comportar-se como um todo, mantendo um equilíbrio dinâmico entre a cooperação e a concorrência. Com o objetivo de aproveitar tais economias, muitos agrupamentos são conformados sob a tutela de um cluster institucional, seja pela ação da iniciativa privada ou da Administração Pública. Para a formação de um cluster institucional, Rodríguez Domínguez sugere a formalização, pelo menos, das seguintes fases:

 Identificação das empresas que compõem o agrupamento natural, que devem ser as que vão constituir o cluster institucional;

 Diagnóstico do “setor”, tanto a nível interno como externo;

 Definição dos objetivos gerais que traduzam o objetivo genérico do cluster institucional que é o de melhorar a competitividade;

 Desenho das estratégias ou atuações genéricas para alcançar os objetivos;

 Desenho dos planos de ação a nível operativo;

 A constituição do cluster institucional propriamente dita;

 Realização das ações propostas e o estabelecimento de um sistema de acompanhamento e controle das mesmas.

As “experiências turísticas”, de acordo com a OMT (2000), geralmente têm lugar em pequenas zonas geográficas às quais se podem chamar de conjuntos (clusters), onde se cria o sistema de valores que tornará tais experiências competitivas ou não, a depender da realização nesses conjuntos de atividades competitivas distintas das oferecidas pelos rivais / concorrentes.

Um conjunto ou cluster turístico é um espaço geográfico no qual tem lugar a totalidade da experiência turística [...]. Os conjuntos estão compostos por uma série de recursos e atrativos turísticos, infra-estruturas, equipamentos, empresas de serviços e outros setores de apoio ou órgãos administrativos, cujas atividades integradas e coordenadas contribuem para proporcionar ao cliente a experiência que ele espera do destino que escolhe visitar, [tradução livre nossa]. (OMT, 2000, p. 68)

Para a Secretaria de Turismo do Governo do México, um cluster de turismo deve entender-se como “um âmbito geográfico bem definido, onde se concentram e interrelacionam os atrativos turísticos, infra-estruturas, equipamentos, serviços e organização turística, para oferecer um produto turístico a um mercado determinado [...]” [tradução livre nossa], (MÉXICO (País), 2002b, p. 10).

O Governo do México considera que a competitividade de um agrupamento ou conjunto turístico, se vê determinada pela sua “capacidade para gerar taxas de rentabilidade superiores à média das obtidas por outros clusters que operam dentro da mesma indústria a nível nacional e internacional [de maneira sustentada] [...]” [tradução livre nossa], (MÉXICO (País), 2002a, p. 8).

A competitividade favorece o fortalecimento das vantagens singulares dos clusters. O aumento da competitividade, conforme o Governo do México, induz a ocorrência de certos impactos para os agrupamentos ou conjuntos turísticos:

 incremento do atrativo de mercado dos destinos e produtos;

 inserção exitosa no processo de globalização;

 maior diferenciação de produtos turísticos a menores custos;

 redução de custos ao longo da cadeia do “setor”;

 difusão de conhecimento e tecnologia;

 aumento do ciclo de vida dos produtos turísticos pela incorporação de atrativos e serviços;

 aumento da presença dos clusters no âmbito internacional;

 fortalecimento permanente da qualidade de produtos e serviços turísticos;

 geração de economias de escala (e de escopo) com alto grau de flexibilidade.

A competitividade turística se alcança, conforme a OMT (2000), no âmbito do destino local, através de uma renovada capacidade de inovação e de melhora constante, nascendo, crescendo e se mantendo dentro dos conjuntos turísticos, considerados como as unidades básicas de competitividade, que participam diretamente no cenário da concorrência nacional ou internacional, competindo com outros conjuntos turísticos. Ou seja, também no turismo, de acordo com o modelo teórico porteriano, a concorrência não ocorre entre países, mas sim entre os clusters e os negócios turísticos.

Neste contexto, o setor público e o setor privado devem integrar-se e cooperarem mutuamente para conformar um entorno institucional e empresarial favorável à realização das atividades competitivas de modo eficaz e com um elevado nível de produtividade na utilização dos recursos.

Para Esteve Secall (2002), a competitividade de indústrias ou setores fundamenta-se na “criação de redes empresariais que interatuam e estreitam suas relações graças à sua proximidade e complementaridade física, técnica, econômica e social, em um marco territorial e institucional favorável [...]” [tradução livre nossa], (ESTEVE SECALL, 2002, p.1). Essas redes, segundo o autor, nas quais se assenta a competitividade de qualquer atividade produtiva ou de serviços, podem ser analisadas através do conceito de agrupamento (cluster).

Esteve Secall considera que o turismo não é um setor econômico tradicional, mas um conjunto de atividades realizadas por diferentes setores, principalmente de serviços. Neste sentido, a atividade turística se constitui de um núcleo central de empresas, equipamentos e dotações de fatores que, em seu interrelacionamento, conforma o locus de fundição da atividade turística. Sobre este centro nuclear incide um amplo conjunto de atividades agrupadas, conforme Esteve Secall, em cinco blocos complementares: produtos genéricos de consumo turístico; insumos básicos das empresas turísticas; mobilidade; canais de comercialização; administração e outras instituições (Figura 3.17).

A integração destes cinco blocos de atividades turísticas com o núcleo central é o que se denomina o turismo desde o ponto de vista da oferta; e sua interrelação é o que favorece o aparecimento das vantagens competitivas das empresas que operam no turismo, especialmente quando o núcleo central e os blocos periféricos coincidem no espaço, ao situarem-se uns próximos dos outros, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (ESTEVE SECALL, 2002, p. 2).

Figura 3.17 Anatomia das Atividades Turísticas

Fonte: Esteve Secall, 2002, Anexos.

Em função da necessidade de um marco territorial favorável e do fato das empresas e atividades localizarem-se observando uma relação de proximidade geográfica para, de fato, constituírem um agrupamento, Esteve Secall formula o seu entendimento do conceito de “zona turística”, consoante com tais condicionamentos:

[...] um território, normalmente de caráter supramunicipal, caracterizado por uma grande concentração de atividades turísticas (ou no qual o turismo é a atividade econômica preferente), onde se ofertam diversos produtos turísticos – ainda que predomine um tipo de produto concreto, que integra diferentes destinos turísticos, e que se manifesta como um conglomerado de três tipos de agrupamentos de empresas ou entidades turísticas: a) de caráter empresarial; b) de caráter territorial; e c) de caráter institucional [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (ESTEVE SECALL, 2002, p. 2).

Esteve Secall considera a existência de sete características das zonas turísticas que servem para delimitar o seu conteúdo: caráter multiproduto; caráter multisegmento; caráter multimotivação; caráter multidestino; caráter multicliente; caráter multiorigem; e caráter multiclasse. Em decorrência do anterior, Esteve Secall qualifica o que é um “destino turístico”.

O destino turístico, como parte de uma zona turística ou, simplesmente, como um destino, é também um âmbito geográfico, inferior em tamanho à zona [turística], normalmente de caráter municipal, caracterizado por sua especilização em um produto turístico, por atender a um segmento turístico determinado ou a um tipo de turista atraído por uma só motivação. Portanto, se particularizou-se as características da zona e se escreveu “multi”, passa-se a escrever “mono”, então, encontra-se o conceito “destino turístico”. Ou seja, a singularidade de caracterização é o traço mais definidor do conceito de destino [turístico], [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (ESTEVE SECALL, 2002, p. 4).

Considerando os conceitos acima explicitados, na abordagem de Esteve Secall, a conjunção dos agrupamentos territoriais, institucionais e empresariais e de suas respectivas vantagens competitivas, é o que vai resultar na competitividade conjunta ou global da zona turística.

[...] a competitividade turística é a capacidade dos agentes que intervém na atividade turística de um país, de uma região ou de uma zona, para alcançar seus objetivos acima da média do “setor”, de maneira sustentada e sustentável; o que pode alcançar-se mediante a consecução de rentabilidade financeira acima da média nos âmbitos empresariais, e de rentabilidade social e ambiental como conseqüência da atuação de organismos e instituições públicas, também se conseguindo obter a máxima satisfação para os turistas. Porque, o objetivo final da competitividade será o melhor atendimento das expectativas de todos os agentes que participam na atividade turística, [tradução livre nossa]. (ESTEVE SECALL, 2002, p. 8).

A competitividade compõem-se de um conjunto de fatores básicos que se apresenta no (Quadro 3.4).

Quadro 3.4 Fatores Básicos na Competitividade de uma Zona Turística

Fonte: Esteve Secall, 2002, p. 9.

Deixando de lado os fatores externos de competitividade, os quais a zona turística não tem capacidade de influenciar, Esteve Secall afirma que [...] a competitividade de uma zona turística, considerando como tal uma rede de agrupamentos ou clusters empresariais, institucionais e territoriais, se encontra na “reticularidade” – ou intensidade da malha de interrelações, dentro de cada um dos três tipos de clusters, bem como entre os três grupos, [grifo do autor], [tradução livre nossa]. (ESTEVE SECALL, 2002, p. 9).

Logo, a competitividade de uma zona turística resultará da “combinação das competitividades” dos diferentes agrupamentos que a configuram, bem como do nível de estreiteza e coesão dos relacionamentos entre eles. A (Figura 3.18), traz uma adaptação realizada por Esteve Secall da sua tipologia de agrupamentos turísticos ao modelo do Diamante da Competitividade de Michael Porter. Já a (Figura 3.19, p. 388), apresenta a estrutura das zonas turísticas por agrupamentos, na qual o cluster territorial encontra-se dividido nos agrupamento de infra-estruturas, de recursos turísticos e de localização.

Figura 3.18 O Diamante da Competitividade das Zonas Turísticas

Fonte: Esteve Secall, 2002, Anexos.

Figura 3.19 Estrutura das Zonas Turísticas por Agrupamentos

Fonte: Esteve Secall, 2002, Anexos.

Esteve Secall (2002) entende que um agrupamento, cluster ou sistema produtivo local é um conceito perfeitamente transportável às atividades turísticas, apresentando como principais características: proximidade geográfica; proximidade técnico-produtiva; interrelação e interdependência; busca da competitividade; atuação conjunta para criar “climas” propícios à sua atividade; favorecimento à inovação e ao fluxo da informação; organicidade e poder para pressionar a administração pública.

Nessa perspectiva, o autor cita Camisón, que define o cluster turístico como “grupos de empresas e serviços turísticos relacionados geográfica, comercial e tipologicamente” [tradução livre nossa], (CAMISÓN, 1998, apud ESTEVE SECALL, 2002, p. 13), sendo um conceito similar ao de distrito industrial e ambos ao conceito de destino turístico. Esteve Secall, identifica esta noção do destino ou cluster com o que ele denomina de zona turística, a qual, mais que um agrupamento é um conglomerado de agrupamentos, ou seja, para o autor uma zona turística contém, ou pode conter, vários clusters turísticos.

Como já mencionado neste trabalho, nos dias atuais a competição ocorre não entre países ou entre empresas, mas sim, reforça Esteve Secall, entre “redes multidirecionais de empresas”, ou conglomerados de empresas trabalhando em rede, especializadas na produção, comercialização e/ou venda de determinados produtos no mercado; ou seja, a competição se dá entre os agrupamentos ou sistemas produtivos locais.

Relativamente ao turismo, uma atividade em que produção e consumo ocorrem simultaneamente, e cujo consumo se materiliza numa “experiência vivida” em um determinado lugar ou em um conjunto de lugares concreto, o autor analisa que o território que recebe a produção-consumo turísticos é um fator-chave ou determinante dessas redes. Isto porque a proximidade física e funcional das diferentes ofertas produtivas dos múltiplos setores ou sub-setores turísticos é básica na satisfação da demanda, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (ESTEVE SECALL, 2002, p. 16).

Considerando o caráter transversal da atividade do turismo, Esteve Secall afirma que não existem “empresas turísticas”. Segundo o autor,

existem empresas hoteleiras, restaurantes, transportadoras, empresas de entretenimento / lazer, etc. Todas elas satisfazem parte das demandas e necessidades do turista, mas não são empresas turísticas strictu sensu porque não satisfazem à totalidade das necessidades do cliente-turista. Não existe nenhum tipo de empresa que possa satisfazer a totalidade das demandas do turista. [...] Logo, a atividade turística é uma atividade de empresas que trabalham e se comunicam “em rede” entre si, já que todas elas atendem ao turista, independente se tais empresas possuem internamente uma estrutura de trabalho em rede ou não. E para que aconteça a produção-consumo turísticos com a máxima eficiência e qualidade, é preciso que tais empresas funcionem de modo interrelacionado, pelo menos as “nucleares”, ou seja, as que satisfazem as necessidades essenciais do consumidor turístico: alojamento, transporte e alimentação, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (ESTEVE SECALL, 2002, p. 16-17).

O tradicional esquema linear de fornecimento dos insumos que propiciam a consecução e oferta do produto turístico está, de acordo com Esteve Secall, tornando-se obsoleto, dando lugar às redes de valor, as quais se baseiam na busca de soluções adaptadas às necessidades não só dos clientes, mas também das empresas “nucleares” da zona turística ou conglomerado de agrupamentos turísticos, sendo impulsionadas por determinados fatores-chave: certeza; rapidez; maiores receitas / rendas; e aumento da produtividade. “[...] na rede de valor tudo se centra no cliente. [...] [ela abrange] a eleição do cliente-turista, a criação de valor e a entrega-recepção do produto segundo o pactado [...]” [grifo nosso], [tradução livre nossa], (ESTEVE SECALL, 2002, p. 19).

Em termos competitivos, seguindo a abordagem do autor, o valor, visto pelo lado da demanda, corresponde à quantia que os compradores – os turistas, estão dispostos a pagar pelo conjunto de serviços turísticos que esperam receber, ou seja, é o preço que pagarão pelas “experiências” que uma zona turística pode oferecer-lhes. Já pelo lado da oferta, o valor, em conformidade com a lógica empresarial, equivale ao total das receitas ou rendimentos obtidos pela empresa em sua atividade, o qual deve superar os custos, de modo a garantir a obtenção de uma margem, o lucro das empresas.

Para a análise da vantagem competitiva de determinadas zonas turísticas em relação a outras, a comparação entre as cadeias de valor das distintas zonas concorrentes põe em evidência as diferenças e as respectivas fontes de valor em que se fundamenta sua competitividade (Figura 3.20, p. 391).

Assim, são as análises das cadeias de valor das zonas [turísticas], ao invés do valor agregado (obtido das macromagnitudes contábeis), a melhor forma de conhecer as vantagens ou as desvantagens competitivas das zonas turísticas, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (ESTEVE SECALL, 2002, p. 21)

Figura 3.20 Cadeia de Valor das Zonas Turísticas

Fonte: Esteve Secall, 2002, Anexos.

Conjugando os esquemas dos agrupamentos ou clusters que configuram as zonas turísticas, com os descritos na estrutura das cadeias de valor, Esteve Secall conforma o que ele denomina de “sistema de valor das zonas turísticas” (Figura 3.21, p. 392). No eixo horizontal deste sistema, se encontram representadas as cadeias de valor dos provedores ou fornecedores das empresas nucleares do turismo, seguindo-se as das empresas que constituem o “núcleo central” da atividade turística, e as das empresas distribuidoras e comercializadoras do produto turístico; se situando na origem as cadeias de valor dos residentes da zona turística e no final as correspondentes aos turistas. No eixo vertical aparecem as cadeias de valor do território e a cadeia de valor institucional, junto às cadeias de valor empresariais.

Os três elementos do eixo horizontal conformam o entorno competitivo empresarial da zona turística, enquanto os três elementos do eixo vertical configuram o sistema competitivo da zona turística. Os consumidores / turistas, são os destinatários últimos de todo o sistema de valor das zonas turísticas.

Figura 3.21 O Sistema de Valor das Zonas Turísticas

Fonte: Esteve Secall, 2002, Anexos.

O elemento básico para a possível integração de um cluster, de acordo com o Governo do México, é a existência de um produto turístico consolidado e/ou com potencial de mercado que tenha a capacidade de gerar uma dinâmica integradora dos distintos elos da cadeia produtiva do “setor”. Ou seja, o produto turístico deve funcionar como motor na conformação de uma rede integral de serviços apoiados solidamente em esquemas de fornecimento / abastecimento e infra-estruturas de base local e regional, [grifo nosso], [tradução livre nossa]. (MÉXICO (País), 2002a, p. 6).

Neste ponto do trabalho, descreve-se o processo de integração de clusters turísticos competitivos, seguindo-se o esquema analítico elaborado pelo Governo do México:

1º- Um agrupamento turístico está referenciado a um espaço geográfico onde se concentram os atrativos – principal e complementares, conformados por recursos naturais e/ou artificiais e por atividades que possam ser desenvolvidas (ver Figura 3.22, p. 393).

Figura 3.22 Atrativos Turísticos

Fonte: México (País). Secretaria de Turismo, 2002a, p. 62.

2º- A oferta de serviços e equipamentos possibilita aos turistas desfrutarem e aproveitarem os atrativos do lugar visitado, atuando como elementos facilitadores para a consecução da atividade do turismo (ver Figura 3.23).

Figura 3.23 Serviços e Equipamentos

Fonte: México (País). Secretaria de Turismo, 2002a, p. 62.

3º- As empresas que proporcionam a oferta turística necessitam do fornecimento de insumos e elementos institucionais para o desempenho de suas atividades. Os fornecedores ou provedores podem se encontrar estabelecidos no mesmo âmbito geográfico em que atuam os prestadores de serviços turísticos, podendo ocorrer, no entanto, que para algumas necessidades, se localizem fora das fronteiras regionais e nacionais, em função de fatores econômicos, logísticos ou vinculados à concentração industrial, (Figura 3.24).

Figura 3.24 Indústrias e Setores Fornecedores

Fonte: México (País). Secretaria de Turismo, 2002a, p. 63.

4º- As infra-estruturas econômicas e sociais funcionam como o enlace da oferta com os mercados, além de propiciarem o fortalecimento e o desenvolvimento da atividade do turismo, (Quadro 3.5).

Os quatro elementos acima descritos, são os compenentes da oferta turística de uma região que podem constituir-se na base para a integração de um cluster de turismo. A conformação de um agrupamento turístico a partir desses quatro componentes anteriores só se tornará possível (Figura 3.25), de acordo com o Governo do México, mediante o estabelecimento de relações horizontais e verticais entre as distintas - unidades econômicas que operam dentro do “setor”, no qual tais relações giram em volta do produto principal e são definidas em quatro direções principais: interempresarial (prestadores de serviços turísticos); interinstitucional; empresa-fornecedores; e empresa-instituições, [tradução livre nossa]. (MÉXICO (País), 2002a, p. 64)

Figura 3.25 Conectividade entre Agentes Participantes

Fonte: México (País). Secretaria de Turismo, 2002a, p. 64.

Neste sentido, em conformidade com o Governo do México, a organização turística é o fator fundamental para a criação e o fortalecimento das redes de cooperação e coordenação entre os agentes que participam do agrupamento (Figura 3.26, p. 396).

Adicionalmente, a organização turística deve levar em conta critérios de inovação, de sustentabilidade e de qualidade no desenho e construção das redes de enlace [...] entre os distintos agentes participantes no “setor” turístico, para que o agrupamento resultante opere orientado por um enfoque de competitividade, [tradução livre nossa]. (MÉXICO (País), 2002a, p. 65).

Figura 3.26 Agrupamento Turístico Competitivo

Fonte: México (País). Secretaria de Turismo, 2002a, p. 65.

O turismo, conforme Gouveia e Duarte (2001), por se constituir uma multiplicidade de atividades de resposta a distintas procuras, apresenta uma característica de heterogeneidade, que não possibilita a sua consideração como um setor típico de uma classificação de atividades econômicas, e sim como um conceito integrador de atividades ligadas aos serviços prestados ao viajante, cuja existência é o denominador comum e a razão de ser das atividades turísticas. Nesta perspectiva, a análise do cluster turismo pressupõe como foco “o visitante”, a partir do qual se pode tentar perceber ou detetar o conjunto de atividades vinculadas à crescente movimentação das pessoas.

O conceito de cluster subjacente à abordagem de Gouveia e Duarte, pressupõe que a atividade turística depende de atividades e empresas relacionadas – a montante, a jusante e na órbita da sua própria esfera de oferta, atuando de forma interligada através da co-responsabilidade dos diversos intervenientes, fundamental para a competitividade do turismo. (GOUVEIA e DUARTE, 2001, p. 17).

Deste modo, as autoras abordam as atividades do cluster (Figura 3.27 e Quadro 3.6, p. 398), de acordo com os níveis de aproximação ao foco, o visitante:

 conjunto de atividades características que oferecem bens e/ou serviços que deixariam de existir em quantidades significativas se não houvesse consumo turístico – núcleo ou “core do cluster”, como sejam, a restauração [alimentação], o alojamento, os transportes, as agências de viagens e os operadores turísticos [que se destacam pelo efeito estruturante da oferta turística ao integrar em estratégias comuns, a montante e a jusante, as demais atividades];

 conjunto de atividades conexas que oferecem serviços ou produtos que são afetados significativamente pelo turismo, ou são importantes para o turismo, independentemente do nível de utilização do produto;

 atividades econômicas não diretamente turísticas, nomeadamente, a construção e outras de forte conteúdo local, potenciadas pelo turismo;

 outras atividades, de caráter horizontal, que influenciam o desenvolvimento do turismo, [grifo das autoras]. (GOUVEIA e DUARTE, 2001, p. 18).

Figura 3.27 Atividade do Cluster Turismo e suas Relações com o Foco

Fonte: Gouveia e Duarte, GEPE, 2001, p. 18.

Quadro 3.6 Atividades do Cluster Turismo

Fonte: Gouveia e Duarte, 2001, p. 26.

Para se chegar à identificação das atividades que integram o tecido econômico-produtivo do cluster turismo, Gouveia e Duarte sugerem uma metodologia baseada na interação das seguintes análises:

 uma análise quantificada dos fluxos / relações da Matriz das Contas Nacionais, onde se considerariam os impactos que o “core do cluster” produziu nas diferentes atividades econômicas;

 uma avaliação de natureza qualitativa do núcleo de atores / atividades, através das tendências que se perspectivam em áreas como, a sustentabilidade do turismo ao nível regional, a cooperação dos diferentes níveis de atuação de forma a ir ao encontro das várias motivações do turista que, embora de fraco significado econômico quando medidas pelos métodos quantitativos, assumem, porém, especial importância no processo de modernização, competitividade e atratividade do cluster.

A importância econômica das atividades que, direta ou indiretamente, se relacionam com o turismo, entendido como o conjunto das atividades – Alojamento e Restauração [Alimentação], Transportes Aéreos e Agências de Viagens, é estimada a partir dos fluxos inter-setoriais das Matrizes das Contas Nacionais que permitem calcular os efeitos diretos e indiretos daquelas atividades em relação a todos os outros setores da atividade econômica [...] Assim, a partir da aplicação dos multiplicadores de produção podem-se quantificar os efeitos diretos e indiretos produzidos pelas atividades do core do cluster sobre o conjunto da economia. [...] Utilizando as técnicas de análise matricial [é] possível, também, [se] calcular o peso do conjunto das atividades do core do cluster [...] no total da economia [...]. (GOUVEIA e DUARTE, 2001, p.19;21).

Em relação à abordagem de Esteve Secall (2002), que privilegia a análise das cadeias de valor como a melhor alternativa para se conhecer o nível de competitividade de uma “zona turística”, percebe-se uma divergência quanto à ênfase colocada na metodologia de Gouveia e Duarte (2001), nos métodos quantitativos e nos agregados macroeconômicos derivados do sistema de contas nacionais, pelo menos nos aspectos relacionados à análise quantificada dos fluxos inter-setoriais do core do cluster. Quando as autoras fazem referência à avaliação qualitativa do núcleo de atores / atividades, a nível de tendências e perspectivas, se vislumbra uma possibilidade de convergência entre os dois modelos analíticos.

O core do cluster do turismo engloba, segundo Gouveia e Duarte, um amplo conjunto de entidades produtoras de serviços – alojamento e alimentação e transporte aéreo, e entidades de intermediação – operadores turísticos e agências de viagens, que em conjunto, buscam solucionar e atender, quase que sob encomenda, as necessidades dos turistas.

Uma característica da cadeia de valor do turismo, de acordo com as autoras, é o fato da mesma não envolver um produto físico, traduzindo-se em prestação de serviços, os quais, além de não poderem ser transacionados, têm de ser consumidos no ato da aquisição (Figura 3.28, p. 401).

As inter-relações entre os distintos agentes que intervêm no processo só se viabilizam mediante a troca de informação, que passa a se constituir um elemento determinante na atividade do turismo, caracterizando uma modificação da cadeia operacional turística, com a tendência à concentração da demanda através dos meios de informação.

A globalização crescente do turismo que se traduz numa interligação cada vez maior entre os diversos atores turísticos, implica um [também] crescente envolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC), que têm se tornado um dos fatores determinantes da competitividade das atividades turísticas. [...] O desenvolvimento de redes no âmbito da oferta turística apoiado pelas TIC permite o fornecimento de produtos turísticos especializados, inovadores e completos. As organizações turísticas [se] beneficiam cada vez mais com a utilização da Internet no fornecimento de serviços de informação personalizados, na obtenção de conhecimento sobre o mercado e a concorrência, e no desenvolvimento do comércio eletrônico. (GOUVEIA e DUARTE, 2001, p. 25-26).

Nesse contexto, as autoras comentam que a possibilidade de trabalhar em rede propicia uma maior divulgação da oferta turística, fornece um instrumento adicional para a melhoria da gestão empresarial, bem como da informação relativa ao mercado, permitindo assim, a geração de valor novo e diferenciado que se incorpora à respectiva cadeia, resultando na ampliação da competitividade do cluster do turismo, a qual, concretamente, se traduzirá na maior rapidez de resposta por parte da oferta turística e na sua maior flexibilidade, conformando fatores competitivos de fundamental e estratégica relevância para a economia de países e regiões receptores de turismo.

Figura 3.28 Cadeia de Valor Turística

Fonte: Gouveia e Duarte, GEPE, 2001, p. 25-26.

Complementando esta abordagem sobre os conceitos de cadeias e clusters referidos ao turismo, insere-se três figuras que demonstram a visão de Gollub, Hosier e Woo (2002 ou 2003), do ICF Consulting, os quais retratam a estrutura de cluster em três distintas configurações.

A primeira, (Figura 3.29, p. 403), apresenta uma estrutura de cluster, pela qual se percebe que a base econômica e os fornecedores a nível regional devem estar integrados, conformando uma rede econômica e institucional com aptidão para atender aos diferentes agrupamentos de empresas, indústrias, atividades econômicas e negócios - distribuídos nos mais variados setores da economia, direcionada para clusters segmentados, em correspondência a mercados usuários finais também segmentados. Assim, teria-se o cluster da construção civil, o cluster da indústria automobilística, o cluster têxtil, ..., como também o cluster do turismo. Como esta segmentação setorial reveste-se de um elevado nível de agregação, caberia em cada um desses “grandes” clusters, implementar-se um processo de segmentações sucessivas, orientado por sub-setores, por mercados / motivações e por áreas espaciais ou âmbitos territoriais de abrangência ou influência.

Já a segunda, (Figura 3.30, p. 404), traz uma estrutura de cluster de turismo na qual pode notar-se a divisão do nível das indústrias fornecedoras em três sub-níveis, que suprem as empresas e indústrias de exportação final desde as atividades produtivas mais amplas e genéricas, passando pelas de suporte e relacionadas, até aquelas ditas características ou específicas do turismo. O aspecto central da segmentação evidencia-se ao nível dos mercados finais de exportação, tanto pelo lado da demanda – distintas motivações e experiências de visita / nichos de mercado, como pelo lado da oferta – adequação dos destinos pelo provimento das estruturas receptivas requeridas por cada segmento de mercado.

Na terceira, (Figura 3.31, p. 405), a concepção da cadeia de valor regional de turismo contempla os encadeamentos produtivos, horizontais e verticais, dentro da região de destino, bem como os interrelacionamentos e complementariedades com regiões exteriores, que vão, em conjunto, refletir o nível atual e o potencial de crescimento da atividade do turismo, permitindo identificar-se elementos motores e pontos de estrangulamento que irão moldar o patamar de promoção e dinamismo do desenvolvimento turístico de uma determinada região, influenciando a formulação de políticas públicas, gerais e específicas. Vale destacar que dessas interrelações regionais resultarão transações recíprocas de bens, serviços, recursos humanos e financeiros, implicando em exportações e importações, cujos resultados líquidos refletirão na competitividade regional, restando, implícito no processo, a ocorrência de fugas ou vazamentos, os quais deverão situar-se em um determinado nível de eficiência que não comprometa o caráter competitivo do desenvolvimento do turismo na região ou país de referência.

Figura 3.29 Estrutura do Cluster

Fonte: Gollub, Hosier e Woo, 2002 ou 2003, p. 7.

Figura 3.30 Cluster de Turismo

Fonte: Gollub, Hosier e Woo, 2002 ou 2003, p. 12.

Figura 3.31 Cadeia de Valor Regional do Turismo

Fonte: Gollub, Hosier e Woo, 2002 ou 2003, p. 28.

No capítulo 4, se buscará confirmar através de um trabalho empírico, preliminar e exploratório, a incidência de vazamentos ou fugas do valor imputado como correspondente à contribuição da atividade do turismo para a economia da Bahia, a partir da rede hoteleira de Salvador, capital do Estado, procurando identificar variáveis determinantes de tais vazamentos e “por onde” os mesmos poderão estar ocorrendo, em termos das atividades produtivas que estiverem sendo supridas por fornecedores exógenos à Bahia, de outros estados do Brasil ou mesmo de fora do país.

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