TURISMO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE URBANO-REGIONAL BASEADA EM CLUSTER
Jorge Antonio Santos Silva
Esta página muestra parte del texto pero sin formato.
Puede bajarse la tesis completa en PDF comprimido ZIP
(480 páginas, 2,35 Mb) pulsando aquí
2.1.7 W. W. Rostow – A decolagem ou arranco (take off) para o desenvolvimento econômico
Em início da década de 1960, W. W. Rostow (The stages of economic growth, 1959), sugeriu que os países passam por cinco etapas de desenvolvimento econômico, os quais, conforme sua análise, são:
Etapa 1 – A sociedade tradicional (traditional society), caracteriza-se por uma estrutura que se expande dentro de funções de produção bastante limitadas, na qual predomina uma economia baseada em atividades de subsistência e onde uma proporção substancial de seus recursos é destinada à agricultura, a qual traduz-se na sua mais importante atividade econômica. A produção é caracterizada por ser intensiva em trabalho, verificando-se uma utilização de limitadas quantidades de capital, cuja forma de alocação é determinada majoritariamente pelos tradicionais métodos de produção, refletindo-se em um nível de produtividade também limitado.
Etapa 2 – As precondições para o arranco ou a decolagem (transitional stage – the preconditions for takeoff), abarca sociedades em pleno processo de transição, quando se estabelecem as pré-condições para o arranco, que objetivam afastar a fase dos rendimentos decrescentes característicos da sociedade tradicional. O incremento da especialização do trabalho gera excedentes na comercialização, emergindo uma infra-estrutura de transporte como suporte ao mercado. Com o crescimento da renda, da poupança e do investimento surge uma incipiente atividade de natureza empreendedora. O comércio internacional passa a ocorrer com maior intensidade, porém concentrado sobre os produtos primários.
Toda essa atividade, porém, se processa em ritmo limitado dentro de uma economia e de uma sociedade ainda caracterizadas sobretudo pelos métodos tradicionais de baixa produtividade, pela estrutura social e pelos antigos valores, bem como pelas instituições políticas com bases regionais que evoluíram com aqueles [da sociedade tradicional].
Politicamente, a formação de um Estado nacional centralizado eficaz – baseada em coligações matizadas pelo novo nacionalismo, em oposição aos tradicionais interesses regionais agrários, à potência colonialista ou a ambos – foi um aspecto decisivo do período das pré-condições. Isso também foi, quase universalmente, uma condição necessária para o arranco. (ROSTOW, 1961, p. 19).
Etapa 3 – O arranco (take off), representa o intervalo em que as obstruções e resistências ao desenvolvimento são superadas. Incrementa-se a industrialização, ocorrendo a migração de trabalhadores do setor agrícola para o setor industrial, com o crecimento concentrando-se em um número reduzido de regiões do país e em poucas indústrias. As transformações da economia são acompanhadas pela evolução de novas instituições políticas e sociais que dão suporte ao processo de industrialização.
No caso mais geral, o arranco aguardou não só a acumulação de capital social fixo e um surto de evolução tecnológica da indústria e da agricultura, mas também o acesso ao poder político de um grupo preparado para encarar a modernização da economia como assunto sério e do mais elevado teor político. (ROSTOW, 1961, p. 20).
O crescimento torna-se auto sustentado por investimentos líderes que provocam o crescimento continuado da renda, gerando maiores volumes de poupança que são destinados ao financiamento de futuros investimentos.
No decurso do arranco, novas indústrias se expandem rapidamente, dando lucros dos quais grande parte é reinvestida em novas instalações, e estas novas indústrias, por sua vez, estimulam, graças à necessidade aceleradamente crescente de operários, de serviços para apoiá-las e de outros bens manufaturados, uma ulterior expansão de áreas urbanas e de outras instalações industriais modernas. Todo o processo de expansão no setor moderno produz um aumento de renda nas mãos daqueles que não só economizam a taxas mais elevadas, como também colocam suas economias à disposição dos que se acham empenhados em atividades no setor moderno. A nova classe empresarial se amplia e dirige os fluxos aumentados do investimento no setor privado. A economia explora recursos naturais e métodos de produção até então inaproveitados. (ROSTOW, 1961, p. 20-21).
Etapa 4 – A marcha para a maturidade (drive to maturity), nesta estapa a economia em ascenção procura estender a tecnologia moderna a todo o front de sua atividade econômica. A economia se diversifica em uma série de novas áreas produtivas. As inovações tecnológicas provêm uma diversidade de opções e oportunidades de investimento, que refletem na ampliação e maior diversificação dos bens e serviços produzidos na economia nacional e podem, inclusive, provocar a redução ou a seletividade estratégica das importações.
A contextura da economia se modifica incessantemente à medida que a técnica se aperfeiçoa, novas indústrias se aceleram e indústrias mais antigas se estabilizam. A economia encontra seu lugar no panorama internacional: bens anteriormente importados são produzidos localmente; aparecem novas necessidades de importação, assim como novos artigos de exportação para se contraporem.
Uns 60 anos após o início do arranco (digamos, 40 anos depois do seu término) geralmente se atinge o que se denomina maturidade. A economia, concentrada durante o arranco num complexo relativamente estreito de indústria e tecnologia, dilatou seu campo de ação para abranger processos mais apurados e tecnologicamente amiúde mais complexos [...].
Podemos definir essencialmente a maturidade como a etapa em que a economia demonstra capacidade de avançar para além das indústrias que inicialmente lhe impeliram o arranco e para absorver e aplicar eficazmente num campo bem amplo de seus recursos – se não a todos eles, os frutos mais adiantados da tecnologia (então) moderna. Esta é a etapa em que a economia demonstra que possui as aptidões técnicas e organizacionais para produzir não tudo, mas qualquer coisa que decida produzir. (ROSTOW, 1961, p. 22).
Etapa 5 – A era do consumo de massa (high mass consumption), nesta etapa a economia direciona-se para o consumo de massa, florescem as indústrias produtoras de bens de consumo duráveis e o setor de serviços começa a assumir crescente relevância e preponderância dentro da estrutura setorial da economia do país.
Chegamos agora à era do consumo em massa, em que, no devido tempo, os setores líderes se transferem para os produtos duráveis de consumo e os serviços [...].
À proporção que as sociedades atingiram a maturidade no século XX [EUA, Europa Ocidental e Japão, na análise de ROSTOW], duas coisas aconteceram: a renda real por pessoa elevou-se a um ponto em que um maior número de pessoas conseguiu, como consumidores, ultrapassar as necessidades mínimas de alimentação, habitação e vestuário; e a estrutura da força do trabalho modificou-se de maneira tal que não só aumentou a produção da população urbana em relação à total, mas também a de trabalhadores em escritórios ou como operários especializados – conscientes e ansiosos por adquirir as benesses de consumo de uma economia amadurecida. (ROSTOW, 1961, p. 23).
A descrição anterior das etapas do desenvolvimento econômico formuladas por Rostow (1961), foi colocada, de forma sintética, visando uma homogeinização de informação, tendo em vista se pretender analisar em particular a dinâmica da formação dos setores líderes da etapa do arranco e estabelecer um vínculo direto com os efeitos de encadeamento analisados por Hirschman.
Segundo Rostow, os setores de uma economia podem ser agrupados em três categorias:
1 - Setores de desenvolvimento primário, em que as possibilidades de inovação, ou de aproveitamento de recursos que há pouco se tornaram lucrativos, ou que até então permaneciam inexplorados, ocasionam um elevado índice de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, desencadeiam forças expansionistas em outras áreas da economia.
2 - Setores de desenvolvimento suplementar, em que ocorre progresso rápido como resposta direta a – ou exigência de, um progresso nos setores de desenvolvimento primário; por exemplo, carvão, ferro e engenharia em função das estradas de ferro. Estes setores talvez tenham de ser rastreados até fases muito anteriores da economia.
3 - Setores de desenvolvimento derivado, em que o progresso se dá numa relação razoavelmente constante com o crescimento da renda real total, população, produção industrial ou outra qualquer variável global, de crescimento modesto. A produção de alimentos em relação à população e a disponibilidade de habitação em relação à formação da família são relações derivadas clássicas dessa espécie, [grifo nosso]. (ROSTOW, 1961, p. 77).
Na categorização acima, pode-se perceber uma clara vinculação com o conceito de multiplicador de investimento de Keynes, em seus efeitos diretos, indiretos e induzidos sobre toda a estrutura produtiva de uma determinada economia, bem como com os conceitos de efeitos de cadeia retrospectiva e efeitos de cadeia prospectiva de Hirschman, configurando as relações de interdependência setorial dessa economia.
Parece que, analisa Rostow, “o impulso progressista [de uma economia] é sustentado como resultado da expansão rápida de um número reduzido de setores primários, cuja ampliação tem efeitos significativos nas economias externas e outros efeitos secundários [...]” (ROSTOW, 1961, p. 78). Originando-se daí, pode-se inferir, um efeito de transbordamento em toda a economia, refletido no adensamento de suas cadeias produtivas e na ação multiplicadora do capital inicialmente aplicado.
O arranco, definido por Rostow à semelhança de uma revolução industrial diretamente vinculada a modificações radicais nos métodos de produção e exercendo cruciais e estratégicos efeitos num curto período de tempo sobre o ritmo do desenvolvimento, aproxima-se também da noção do processo de destruição criadora de Schumpeter.
[...] o rápido crescimento de um ou mais novos setores industriais é um poderoso e essencial propulsor da transformação econômica. Sua força se origina da multiplicidade de suas formas de impacto, quando a sociedade está preparada para reagir positivamente a este. O crescimento desses setores, com novas funções de produção de alta produtividade, por si mesmo tende a elevar o volume da produção per capita; coloca a renda nas mãos de homens que não se limitarão a amealhar uma grande percentagem da renda em crescimento, mas que a reinvestirão em atividades altamente produtivas; estabelece uma cadeia de procura efetiva de outros produtos manufaturados; origina a necessidade de áreas urbanas maiores, cujos custos em capital podem ser elevados mas cuja população e organização mercantil auxiliam a dotar a industrialização de impulsão própria; e, afinal, inaugura uma série de efeitos de economias externas que, no fim, ajudam a produzir novos setores líderes quando o impulso inicial dos que lideraram o arranco começar a esmaecer.
(ROSTOW, 1961, p. 84-85)
Vale se ressaltar ainda, a possível convergência conceitual e funcional entre os setores líderes de Rostow, a indústria motriz de Perroux e as empresas líderes de Porter, considerando o papel a desempenhar no processo de desenvolvimento, dentro do enquadramento teórico correspondente a cada autor.