TURISMO, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE URBANO-REGIONAL BASEADA EM CLUSTER
Jorge Antonio Santos Silva
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2.1.6 Albert O. Hirschman – Interdependência e efeitos de encadeamento
Uma determinada indústria só será criada se tiver capacidade para produzir e só terá sentido em existir se conseguir vender sua produção. Para que essas condições se verifiquem, a criação de uma indústria só será viável se resultar de uma demanda que lhe anteceda, já existente. Diante dessa análise, Albert O. Hirschman (The strategy of economic development, 1958), aqui sendo trabalhada a versão em português de 1961, levanta a questão sobre se uma indústria terá a condição ou capacidade de ser responsável pela indução de novas atividades e de procura.
Considerando a posibilidade da produção que motivaria a criação de uma indústria ser suprida pelo mercado externo à região ou ao país, pela via da importação, Hirschman (1961) destaca a vantagem de ocorrer a criação da indústria e se ter a disponibilidade interna de tal produção, em contraponto aos riscos e ameaças de se ter de importá-la.
[...] é de máxima importância o fato de determinado produto ser fabricado internamente resultar, provavelmente, em esforços da parte dos produtores para propagar-lhe usos adicionais e na participação financeira dos mesmos em tais empreendimentos. A disponibilidade interna de um produto dá, assim, vida a forças ativas que procuram ser utilizadas como input em novas atividades econômicas, que supram as necessidades acarretadas recentes. (HIRSCHMAN, 1961, p. 155).
Dessa forma, Hirschman analisa dois processos de incentivo atuantes no, por ele denominado, setor de Atividades Diretamente Produtivas (ADP), que, nas suas palavras são os que seguem:
1) O input-provisão procura derivada, ou efeito em cadeia retrospectiva, isto é, cada atividade econômica não primária induzirá tentativas para suprir, através da produção interna, os inputs indispensáveis àquela atividade.
2) A produção-utilizada, ou efeito em cadeia prospectiva, ou seja, toda atividade que, por sua natureza, não atenda exclusivamente às procuras finais, induzirá a tentativas de utilizar a produção como inputs em algumas atividades novas. (HIRSCHMAN, 1961, p. 155-156).
Analisando esses dois processos, em uma abordagem pioneira, Hirschman (1961) introduz os conceitos de encadeamentos para trás e para frente, que permitem a articulação dos elos entre as diversas atividades que integram a estrutura produtiva de determinada economia, conformando suas diversas cadeias produtivas ou cadeias de valor.
Do efeito em cadeia retrospectiva emerge o conceito de capacidade econômica mínima que refere-se à “capacidade que tem a firma do país, tanto para garantir lucros normais quanto para concorrer com fornecedores estrangeiros, já existentes, levando-se em conta as vantagens e desvantagens locais, bem como, talvez, certa proteção à indústria incipiente [...]” (HIRSCHMAN, 1961, p.157).
Do efeito em cadeia prospectiva, podendo também estabelecer-se pela cadeia retrospectiva, surge o conceito de indústria-satélite que, conforme Hirschman, apresenta as seguintes características: desfruta de grande vantagem de localização pela proximidade da indústria principal; emprega como input fundamental um produto ou subproduto da indústria principal, sem o submeter a uma transformação esmerada, ou a sua produção básica é um input – em geral menor, da indústria principal; e a sua capacidade econômica mínima é menor que a da indústria principal.
Segundo Hirschman, “o fato de os efeitos em cadeia de duas indústrias, vistos em conjunto, serem maiores do que a soma dos efeitos de cada indústria isoladamente, fala a favor do caráter cumulativo do desenvolvimento [...]” (HIRSCHMAN, 1961, p. 161). Pode se constatar nesta assertiva de Hirschman, a presença conjunta dos conceitos de causação circular cumulativa e de economias externas, conforme Myrdal e Marshall, respectivamente, além das etapas do desenvolvimento econômico de Rostow – capítulos 1 e 2, itens 1.2.2 e 2.1.1 e 2.1.7.
Quando a indústria A se estabelece primeiro, os seus satélites logo surgem; quando, porém, a indústria B é subsequentemente instalada, pode isto contribuir para a criação não só dos seus próprios satélites, como também de algumas firmas, que nem A nem B, isoladamente, poderiam ter provocado. E, com a entrada em cena de C, seguirse-ão outras empresas, que requerem os estímulos conjugados, não só de B e C, e sim de A, B e C. Esse processo pode-se estender no sentido de explicar a aceleração do crescimento industrial, que é tão relevante nas primeiras etapas do desenvolvimento de um país. (HIRSCHMAN, 1961, 161).
É possível perceber-se aqui, também, a extrema semelhança do processo acima descrito com o processo de formação de um agrupamento econômico ou cluster, o processo de “clusterização”, compreendendo as etapas de: pré-cluster, cluster emergente, cluster em expansão e decolagem do cluster, com cada etapa caracterizando-se por um diferente nível de dimensão, complexidade das interrelações e intensidade e consistência dos elos estabelecidos entre os diversos agentes componentes do cluster. O conceito de cluster será abordado de modo detalhado, mais à frente, no item 2.2 deste capítulo.
Hirschman (1961) comenta que os efeitos em cadeia retrospectiva são mais facilmente percebidos e identificados do que os efeitos em cadeia prospectiva, pelo fato de que esta não pode revelar-se sob uma forma pura, fazendo-se sempre acompanhar da cadeia retrospectiva, resultando da pressão da demanda, ou seja, a existência de uma previsão de demanda é fator condicionante para o aparecimento dos efeitos em cadeia prospectiva.
Hirschman (1961) caracteriza a cadeia retrospectiva como um processo de desenvolvimento. Como ela surge em função dos aumentos da demanda ele considera que o desenvolvimento autônomo resulta da formação de capital líquido, aumento da eficiência e elevação das exportações. Ele pressupõe também, que a cadeia retrospectiva acarreta a formação adicional de capital líquido, quando a importação de algumas mercadorias chega a ultrapassar a base liminar da capacidade econômica mínima. Neste processo pode-se obter um padrão de investimento induzido que poderá sofrer forte oscilação, mesmo na presença de um comportamento previsível e não acelerado do crescimento da demanda.
Pode-se conceber que esse padrão seja muito útil na consideração dos repentinos surtos de investimentos, em relação à renda – o ponto de decolagem [take off] de Rostow [ou a mudança primária de Myrdal, ou o big push de Rosesntein-Rodan] -, que serve para caracterizar o processo de desenvolvimento de uma quantidade de países. (HIRSCHMAN, 1961, p. 176).