A Tabela 1 (secção de material e métodos) apresenta a listagem dos 14 taxa endémicos de Apiaceae ibéricas com ocorrência em Portugal Continental, dos quais foi possível identificar, localizar e recolher sementes e/ou plantas de 13 (Fig. 7). A espécie Bunium macuca subsp. macuca não foi localizada, apesar de muitas saídas de campo terem sido realizadas na região de Setúbal e na Serra da Arrábida, locais indicados na literatura como aqueles onde este taxon tinha sido referida (Tabela 7).
Com base na documentação consultada, apenas Angelica pachycarpa é considerada uma espécie rara e prioritária para conservação (Queiroga et al., 2008), restrita à ilha Berlenga, pelo que o taxon foi incluído no grupo 1.
Como resultado das consultas de Floras, do estudo de exemplares de herbário e das análises de campo, apresenta-se uma descrição resumida dos taxa e respetivos habitats. Muitos dados baseiam-se, particularmente, na Flora Ibérica (Castroviejo et al., 2003) e correspondem aos carateres morfológicos fundamentais para a identificação dos taxa.
De acordo com a Flora Ibérica, está indicada em numeração romana a época (meses) de frutificação dos taxa. As províncias referentes à localização dos taxa estão indicadas pelas siglas correspondentes (ver abreviaturas); as províncias onde foram colhidos os taxa estão indicadas a negrito.
Os espécimes de herbário do material herborizado estão depositados no Herbário COI e discriminados no anexo I.
Tabela 7: Locais onde foram detetados e recolhidos os diferentes taxa.
Taxa |
Províncias |
Critérios de prioridade de conservação* |
Localidades |
Nº de saídas de campo |
1. Eryngium galioides |
Ag AAl BA BAl BB (TM). |
Grupo 3 |
Nave do Barão |
1 |
2.1. Eryngium duriaei subsp. duriaei |
BA BL Mi TM. |
Grupo 2 |
Serra da Estrela |
2 |
2.2. Eryngium duriaei subsp. juresianum |
Mi BL DL. |
Grupo 2 |
Serra da Freita |
1 |
3. Daucus carota subsp. halophilus |
Costa SW, Ag BAl E. |
Grupo 1 |
Cabo S. Vicente |
10 |
4. Bunium macuca subsp. macuca |
AAl. |
Grupo 1 |
Não encontrada |
12 |
5. Conopodium subcarneum |
BA (BB) BL(E) TM. |
Grupo 2 |
Serra da Arada |
1 |
6. Conopodium majus subsp. marizianum |
AAl Ag BA BAl BB BL DL E Mi (R) TM. |
Grupo 3 |
Tabuaço |
1 |
7. Seseli montanum subsp. peixotoanum |
TM. |
Grupo 1 |
Alimonde |
5 |
8. Angelica major |
BA BB Mi TM. |
Grupo 2 |
Serra da Estrela |
4 |
9. Angelica pachycarpa |
Berlenga Islands-E. |
Grupo 1 |
Berlenga |
4 |
10. Ferula communis subsp. catalaunica |
AAl Ag BA BAl BB BL E R TM. |
Grupo 3 |
Guarda |
2 |
11. Ferulago capillaris |
BA Mi TM. |
Grupo 2 |
Celorico da Beira |
1 |
12. Distichoselinum tenuifolium |
Ag. |
Grupo 1 |
Moncarapacho |
7 |
13. Laserpitium eliasii subsp. thalictrifolium |
Mi TM (BA). |
Grupo 2 |
Gerês |
3 |
14. Thapsia minor |
AAl Ag BA BAl BB BL DL E Mi TM. |
Grupo 3 |
Mucelão |
1 |
TOTAL |
|
|
36 |
121 |
*Prioridade de conservação: grupo 1 - presente apenas numa província portuguesa ou exclusivamente em Portugal; grupo 2 - presente em 2 a 4 províncias portuguesas; grupo 3 - presente em 5 ou mais províncias portuguesas.
1. Eryngium galioides Lam.
Erva anual, raramente bienal, com 2-30 cm de altura, procumbente. Folha basal 2-8 x 0,2-1 cm, oblongo-lanceolada a linear-lanceolada, dentada a inciso-serrilhada. Capítulos sésseis, 0,5-1 cm de diâmetro, subglobosa. Fruto elipsóide.
Lugares pantanosos ou sazonalmente encharcados, com frequência em substrato arenoso, limoso; 0-900 m. VI-IX. AAL Ag BA BAl BB (TM).
2. Eryngium duriaei J. Gay ex Boiss.
Erva perene, (20-)30-150(-180) cm de altura, ereta. Folhas coreáceas a membranáceas, as basais 8-25(-45) x 2-5(-7) cm, linear-lanceoladas, oblongo-obovadas a espatuladas, com a margem denticulada-espinolosas a pinatífido-espinescentes. Capítulos pedunculados (pedúnculo 3-5 cm de comprimento), o terminal com 3-8(-10) x 1,5-3 cm, cilíndrico-elipsóides a elipsóide. Frutos 3-4 x 2,5-3 mm.
Cascalheiras e pedregais siliciosos, clareiras de matagais (ou matas), menos frequentemente em carvalhais abertos. 30-1.700 m. VII-IX. BA BL Mi TM; também localizado em DL.
As diferentes populações estudadas deste taxon apresentam variações morfológicas, principalmente nas folhas basais, como ilustram as Figuras 11a e 11b, apresentadas na secção 3.1.3.2.1. Assim, duas subespécies são consideradas e podem ser distinguidas com a ajuda da seguinte chave, elaborada para o efeito:
1. Erva até 60(-80) cm de altura; capítulos até 3(-3,5) cm de comprimento, cilíndrico-elipsóide a elipsóide; brácteas até 3,5 cm de comprimento, fortemente cuspidatas; folhas coreáceas, as basais pecioladas, linear-lanceoladas a oblongo-obovadas, pinatifido-dentadas; as caulinares sésseis a ligeiramente pecioladas…....subsp. duriaei.
Erva até 100(-180) cm de altura; capítulos até 8(-10) cm de comprimento, oblongo-cilíndricos a cilíndrico-elipsóides; brácteas até 2,5 cm de comprimento, suavemente cuspidatas; folhas membranáceas, as basais quase sésseis, espatuladas, denticuladas para inciso-dentadas; as caulinares amplexicaules……………..…..subsp. juresianum.
Eryngium duriaei J. Gay ex Boiss. subsp. duriaei
Fissuras de rochas graníticas, em encostas. 1.700 m. VII-IX. BA.
Eryngium duriaei J. Gay ex Boiss.subsp. juresianum (M. Laínz) M. Laínz
Bordas de florestas de carvalhos e encostas húmidas, principalmente em xisto. 700-1.000 m. VII-X. BLMi TM. Também localizado em DL (ver tabela da localização dos taxa).
3. Daucus carota L.
Erva bienal ou perene, (3 -)10-170(-200) cm de altura, glabra, procumbente híspida. Folhas basais (1)2-4(-5) penatissetas, a raramente divididas. Umbela côncava, plana ou convexa, com um número variável de raios, pedunculada, raramente subséssil. Flor central estéril e purpúrea presente ou ausente. Pétalas 0,5-3,5 mm, cordiformes a ovadas, brancas, raramente branco-amareladas, por vezes tingidas de púrpura, brancas ou amarelas em seco. Frutos (1,5)2-4 mm de comprimento, elipsóide a subgloboso, com os espinhos sobre as cristas secundárias mais largos ou mais curtos do que a largura do mericarpo.
Prados, florestas abertas, penhascos rochosos e costa, praias de areia e zonas ruderais; 0-1.800 m. III-IX. Todas as províncias.
Espécie extremamente polimórfica dividida em várias subespécies, das quais cinco são reconhecidas em Portugal: subsp. carota; subsp. gummifer; subsp. halophilus; subsp. maximus e subsp. sativus, sendo esta última cultivada - a cenoura.
Podem ser identificadas pela seguinte chave resumo dos carateres essenciais e adaptada com base na Flora Ibérica:
1. Últimos segmentos das brácteas sublineares, os raios da umbela arqueado- convergentes na floração; cristas secundárias do mericarpo com espinhos finos, pouco dilatados na base…………………………………..……………………………………2
Últimos segmentos das brácteas ovados, lanceolados a linear-lanceolados; raios e umbelas arqueadas na altura da floração e não convergentes; cristas secundárias do mericarpo com espinhos grossos e dilatados na base………..........................................4
2. Plantas cultivadas, com uma raiz principal carnuda, geralmente laranja ou amarela para púrpura, raramente esbranquiçada……………………………...…..subsp. sativus.
Plantas selvagens, com uma raiz principal cilíndrica, fibrosa, esbranquiçada…….…...3
3. Umbelas na antese com (1,5) 3-7 (-11) cm de diâmetro; brácteas 7-9, quase tão longas quanto os raios da umbela……....……….……………..…….…..subsp. carota.
Umbelas na antese com 12-23 cm de diâmetro; brácteas 10-13, mais curtas do que os raios da umbela…………………………….……...…….………....….subsp. maximus.
4. Segmentos das brácteas linear-lanceolados a linear, ligeiramente mucronados; cristas secundárias do mericarpo com espinhos antorsos, grossos ou patentes…………………………………………………....………….subsp. gummifer.
Segmentos das brácteas ovadas a ovado-elípticas, pouco mucronados; cristas secundárias do mericarpo com espinhos patentes...............................subsp. halophilus.
Daucus carota L. subsp. carota
Prados, florestas abertas. 0-1.800 m. IV-X. Todas as províncias.
Daucus carota L. subsp. gummifer (Syme) Hook.f. & G. Martens
Rochosos e penhascos da costa, solo arenoso. 0-50 m. IV-IX. (BA) BL DL E.
Daucus carota subsp. halophilus (Brot.) A. Pujadas
Rochas e falésias costeiras, praias e dunas fósseis. 10-50 m. IV-VI. Ag BAl E.
Daucus carota L. subsp. maximus (Desf.) Ball
Florestas abertas. 0-1.400 m. IV-VIII. AAL Ag (BA).
Daucus carota L. subsp. sativus (Hoffm.) Schübl. & G. Martens
Cultivada. 0-1.500 m. IV-VI.
4. Bunium macuca Boiss. subsp. macuca
Erva perene. Caule 5-35 cm de altura, fino, ramificado, com ramos em ângulo agudo. Folhas basais longas-pecioladas, deltóides, 2-3-penatissetas, segmentos lineares espatulados. Umbelas (1)2-6 cm de diâmetro, com 5-8(10) raios. Pétalas 0,8-1 mm, brancas ou ligeiramente rosadas. Frutos 2-3 mm comprimento.
Orlas da floresta e terrenos rochosos ou pedregosos. 500-1.700 m. V-VIII.
Conforme referido, as tentativas para encontrar este taxon, tanto em Setúbal, como noutras regiões da Estremadura e do Alto Alentejo foram infrutíferas.
5. Conopodium subcarneum (Boiss. & Reut.) Boiss.
Erva perene, (10-) 20-60 cm (-75) de altura, provida de tubérculo subterrâneo. Folhas basais pecioladas, 3-penatissetas, segmentos pinados, mucronadas, glabras. Pétalas 1-1,5 mm, geralmente marginalizadas ou não, brancas, rosadas. Frutos 2,8-4 de mm de comprimento.
Bosques, pastos, lugares rochosos e arenosos; 200-1.700 m.V-IX. BA (BB) BL (E) TM.
6. Conopodium majus (Gouan) Loret subsp. marizianum (Samp.) López-Udias & Mateo
Erva perene, 15-60 cm de altura, com um tubérculo subgloboso, 1,3-2,5 cm de diâmetro. Folhas basais longas-pecioladas, 2(-3) penatissetas, segmentos 3-6 lobulados, ovados a suborbicular. Umbelas 4-7 cm de diâmetro, com 6-14 raios, 2-4,5 cm de comprimento. Pétalas brancas, por vezes rosadas na antese. Pedúnculos 1,5-6 cm de comprimento, glabros. Frutos 3-5 mm de comprimento.
Bosques, lugares rochosos e arenosos, geralmente graníticos; 200-1.700 m. IV-VIII. AAL, Ag BA BAl BB BL E Mi (R) TM.
7. Seseli montanum L. subsp. peixotoanum (Samp.) M. Laínz
Erva perene, com um caule ± vertical, (10-)35-70(-80) cm de altura, ereto. Folhas basais pecioladas, 1,8-12 x 0,8-3 cm, 2-penatissetas, segmentos lineares, glabras ou papilosas; folhas caulinares progressivamente mais curtas e menos divididas. Umbelas terminais com raios 5-9, 3-10 mm de comprimento; raios das umbelas secundárias 0,5-1 (-1,5) mm de comprimento. Pétalas 1-1,4 mm, inteiras, geralmente brancas ou ligeiramente tingida de púrpura. Frutos 1,8-3,5(4,5) x 1,1-1,5 mm.
Bosques, solos ultrabásicos; 750 m. VIII-X. TM.
8. Angelica major Lag.
Erva, bienal, raramente perene, com 40-120 cm de altura. Folhas 20-55 x 30-75 cm, de um verde mate, mais claro na parte inferior; as basais sempre 3-penatissetas, ovadas, lobos laterais, sésseis, dentados ou crenato-mucronados. Pétalas brancas a amareladas. Frutos 4-9 x 5,5-6,5 milímetros.
Bosques, ladeiras pedregosas, mais ou menos recobertas por urzes; silícola. 650-1.700 m. VI-IX. BA BB Mi TM.
9. Angelica pachycarpa Lange
Erva perene, robusta, até 100 cm de altura. Folhas 18-45 x 18-45 cm, as basaias sempre 3-penatissetas, de um verde-claro, lustroso, subcarnosas, glabras. Umbelas robustas, de pedúnculo curto, com 15-25 raios. Pétalas amareladas ou de um amarelo-esverdeado. Frutos 4,5-11 x 3,5-9 mm.
Alcantilados frente ao mar, sempre em zonas sob influência marítima; 0-50(90) m. V-VI. E.
10. Ferula communis L. subsp. catalaunica (Pau ex Vicioso) Sánchez-Cuxart & Berna
Erva, robusta perene, até (100)160-250 cm (330) de altura. Folhas 3-4(6) penatissetas, as basais até 100 cm, glabras; as caulinares progressivamente de menor tamanho., sempre lineares. Umbelas sésseis ou com um pedúnculo curto, 5-35 mm de comprimento, com (6)12-26(50) raios, (13)22-45(120) mm de comprimento. Frutos fortemente comprimidos dorsalmente, obovados a elípticos.
Bosques, pastagens, ao longo das estradas, por vezes em zonas cultivadas; 0-1.600 m. V-VII. AAL Ag BA Bl BB B E R TM.
11. Ferulago capillaris (Link ex Spreng.) Cout.
Erva perene, até 60-160 cm de altura, ereta. Folhas basais até 60 x 35 cm, 4-6-penatissetas, segmentos lineares ou linear-lanceolados, mucronados; folhas superiores 2-4 penatissetas, gradualmente reduzidas à baínha. Umbelas terminais de cada ramo com flores hermafroditas, as laterais, quando presentes, com flores unissexuadas; umbela principal robusta, pedunculada. Pétalas amarelas. Fruto 19/10 x 5-9,5 mm.
Bosques degradados; silícola. (200)900-1.400 m. VII-IX.BA Mi TM.
12. Distichoselinum tenuifolium (Lag.) García-Martín & Silvestre
Erva perene, totalmente glabra, até 130 cm de altura. Folhas basais dísticas até 55 cm de comprimento, (4)5-penatissetas, ovaladas, espessas; lobos linear a linear-lanceolados, mucronados. Folhas caulinares muito reduzidas, 3 penatissetas, as superiores reduzidas à bainha. Pétalas inteiras, inflexas, amarelas. Frutos 8-18x 2-4 mm (sem asas).
Bosques degradados, encostas rochosas, em calcários; 0-1.300 m. V-VIII. Ag.
13. Laserpitium eliasii Sennen & Pau subsp. thalictrifolium (Samp.) P. Mont
Erva, robusta, perene, 70-130 cm altura. Caules grossos e estriados. Folhas 40-80 cm, as basais de menor tamanho 3(-4) penatissetas, com divisão terminal de última ordem trilobada - quase trifoliada, de lóbulo central cuneado; as calinares abundantes. Umbela principal com 12-20(-30) raios, (3-)4-6(-9) cm de comprimento. Pétalas brancas, frequentemente com manchas rosadas. Frutos (6-)7-8(-11) mm de comprimento.
Orlas de florestas de carvalhos, solos siliciosos; (400) 600-1.100(-1.500) m.VI-IX (BA) Mi TM.
14. Thapsia minor Hoffmanns. & Link
Erva perene, de 33-93 cm. Caules delgados, de 1,5-5,5(8) mm de diâmetro na base. Folhas basais com bainha de 4-11(18) mm de largura, pouco desenvolvida, limbo 8-16 x 7-15 cm, de contorno triangular, às vexes deltoide, (2)3-pinatisseto. Umbelas com 4-10 (12) raios, 4-9 cm de comprimento, sub-iguais ou desiguais. Pétalas obovadas, amarelas. Frutos 9-12 x 6-10 mm, elípticos; asas de (1,5)3-4 mm de largura, amareladas.
Pinhal, carvalhais, geralmente em solos ácidos; 200-1.300 m. IV-VII. AAL Ag BA BAl BB BL DL E Mi TM.
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