Paulo Ricardo Machado Weissbach
A formação e transformação da espacialidade é a substantivação da história, um quadro móvel da existência coletiva no qual as relações sociais e a própria vida produtiva são revelados na forma material (SOJA, 1983, p. 37).
A Rota das Terras constitui-se em um consórcio turístico que compreende dezenove municípios do Planalto Médio gaúcho. É nossa intenção neste capítulo caracterizar essa área sob o aspecto geográfico e turístico, destacando a metodologia empregada nesta análise e enfatizando a atuação dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDEs), órgãos de fomento ao desenvolvimento regional no Estado do Rio Grande do Sul.
O desenvolvimento da atividade turística na Rota das Terras será verificado tendo em vista a proposição que encerra esta pesquisa, que é a de sugerir subsídios para a elaboração de políticas públicas para o turismo no espaço rural do roteiro.
A escolha da temática de pesquisa justifica-se pelos motivos a seguir:
- A emergência de novas atividades no espaço rural como alternativas para o desenvolvimento econômico e social deste local;
- O desenvolvimento que a atividade turística tem apresentado na atualidade;
- A alternativa produtiva que o turismo representa para o espaço rural;
- A possibilidade de desenvolvimento do turismo na Rota das Terras em virtude das potencialidades, traduzidas sob a forma de atrativos turísticos;
- A crença de que políticas públicas específicas para a Rota das Terras possam dinamizar a atividade, já que as políticas existentes não têm sido aplicadas em prol de um desenvolvimento turístico satisfatório;
- Os instrumentos de políticas públicas têm se mostrado insuficientes para promover o desenvolvimento turístico na Rota das Terras;
-O planejamento inadequado reflete a necessidade de objetivos e políticas públicas para o setor turístico.
Assim, a Rota das Terras foi eleita em virtude das peculiaridades e possibilidades que a caracterizam e tendo em vista os motivos acima apresentados, que justificam o seu estudo.
3.1 Metodologia empregada na área de estudo
A abordagem da área de estudo é feita segundo a base teórico-metodológica proposta por Milton Santos (1985, p.52) ao considerar a organização espacial como resultado da análise do todo mediante a interação de diversos elementos.
A análise considera também a característica regional da área de estudo, conforme enuncia Rochefort (1998, p. 61):
Por muito tempo os geógrafos procuram definir a região pelo conteúdo do espaço, no interior de limites determinados, conteúdo que se exprime mais ou menos por certa homogeneidade da paisagem. Essa concepção conduz a certo número de impasses no esforço compreendido para estabelecer unidades válidas, caracterizadas por certa homogeneidade das atividades de produção que nele se localizam.
Assim, o estudo tratará a área analisada sob o enfoque regional, porém sem as limitações que o conceito acima impõe.
É utilizada, igualmente, a proposta de Morin (1996), segundo o qual:
O trabalho com a incerteza perturba muitos espíritos, mas exalta outros; incita a pensar aventurosamente e a controlar o pensamento. Incita criticar o saber estabelecido, que se impõe como certo. Incita ao auto-exame e à tentativa de autocrítica. Contrariamente à aparência, o trabalho com a incerteza é incitação à racionalidade; um universo que fosse apenas ordem não seria um universo racional, mas racionalizado, ou seja, deveria obedecer aos modelos lógicos de nosso espírito. Seria, nesse sentido, um universo totalmente idealista. [...] O trabalho com a incerteza incita ao pensamento complexo: a incompressibilidade paradigmática de meu tetragrama (ordem/desordem/interação/organização) mostra-nos que nunca haverá uma palavra-chave – uma fórmula-chave, uma idéia-chave – que comande o universo. E a complexidade não é só pensar o uno e o múltiplo conjuntamente; é também pensar conjuntamente o incerto e o certo, o lógico e o contraditório, e é a inclusão do observador na observação (MORIN, 1996, p. 205-206)
Ademais, considera-se que o método, enquanto caminho para a investigação, pode trazer respostas satisfatórias para uma pesquisa. No entanto, o bom senso não deve ser menosprezado em favor, exclusivamente, da rigidez metodológica por vezes adotada. Faz-se par a Rodrigues (1999, p. 15), quando fala que se desvencilhar do método significa criar oportunidade para a pluralidade e que cada pesquisador poderá seguir o caminho que acredita ser o mais adequado para responder aos anseios mais profundos da sociedade, ou seja, temas de relevância social que atendam necessidades prementes.
A análise da área estudada pretende realizar uma interface com o senso comum naquilo que for aplicável ao estudo, sem, no entanto, fugir aos preceitos que norteiam o método científico. Neste sentido, o conjunto das informações obtidas por meio de observações do pesquisador, será utilizada na consideração necessária que o subjetivismo empresta à análise científica.
O estudo pretende ampliar o conteúdo das proposições existentes no tema abordado, mesmo sabendo que os novos conhecimentos são provisórios. Assim, considera-se o que ensina Freire-Maia (1991, p. 171): “A verdade científica só é ‘verdade’ dentro das coordenadas em que foi construída; aí, ela tem certa definitividade.” Assim, considerando o aspecto precário e provisório das verdades e os limites da metodologia, a intenção deste estudo é ampliar a possibilidade dos debates a partir de idéias inovadoras.
Como instrumento de investigação usou-se a pesquisa bibliográfica e dados coletados a partir das observações do pesquisador, cujas análises finais vêm consolidadas neste estudo. Também foram coletados dados resultantes de entrevistas do tipo semi-estruturadas feitas com prefeitos, responsáveis pelo turismo no poder público municipal e a secretária executiva da Rota das Terras e entrevistas com empreendedores e moradores das cidades do roteiro. As entrevistas foram realizadas pelo autor no período de março a novembro de 2006. A organização e tabulação dos dados também foram feitas pelo autor. Assim, utiliza-se a técnica de coleta de dados qualitativa, na medida em que são levadas em consideração as interações interpessoais dos informantes com o pesquisador.
É intenção deste estudo, embora privilegiando seu caráter geográfico, realizar uma interface com o conhecimento turístico, utilizando, além de conceitos oriundos dos estudos turísticos, de investigações realizadas na Geografia do turismo.