Tesis doctorales de Economía


ESTUDO COMPARATIVO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DA INDÚSTRIA DA CERÂMICA DE REVESTIMENTO VIA ÚMIDA NO BRASIL E NA ESPANHA

Yolanda Vieira de Abreu



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3. Comparação e caracterização da indústria brasileira e espanhola de cerâmica para revestimento com processo de produção via úmida

Este capítulo pretende posicionar, no mundo cerâmico, a indústria de cerâmica para revestimento, com processo de produção via úmida, tanto do Brasil, quanto da Espanha. O objetivo é demonstrar a importância desta indústria na economia dos dois países.

3.1. Processos de produção de cerâmica para revestimento

Pode-se definir cerâmica de diversas formas como, por exemplo, a da Associação Nacional de Fabricante de Cerâmica para Revestimento– ANFACER.

“Cerâmica compreende todos os materiais inorgânicos, não-metálicos, obtidos geralmente após tratamento térmico em temperaturas elevadas.

Os materiais cerâmicos são fabricados a partir de matérias-primas classificadas em naturais e sintéticas. As naturais mais utilizadas indústrialmente são: argila, caulim, quartzo, feldspato, filito, talco, calcita, dolomita, magnesita, cromita, bauxito, grafita e zirconita. As sintéticas, incluem entre outras alumina (óxido de alumínio) sob diferentes formas (calcinada, eletrofundida e tabular e tabular); carbeto de silício e produtos químicos inorgânicos os mais diversos” (ANFACER, 2001).

Em outra definição simples, traduzida a partir do espanhol, o setor de cerâmica agrupa as indústrias que fabricam produtos a partir de substâncias inorgânicas que primeiro são moldadas e depois endurecidos por ação do calor. (Ministério de Industria y Energia, 1982, p.209).

A cerâmica de revestimento constitui um segmento da indústria de transformação, de capital intensivo. Tendo como atividade à produção de pisos e azulejos. Porém, o gênero de cerâmica é amplo e heterogêneo o que induz a dividi-lo em sub-setores ou segmentos em função de diversos fatores, como matérias-primas, propriedades e áreas de utilização (ANFACER,2001).

A classificação geral que se adota é a seguinte:

• Cerâmica vermelha -compreende aqueles materiais com coloração avermelhada empregados na construção civil (tijolos, blocos, telha e tubos cerâmicos / manilhas) e também argila expandida (agregado leve), utensílios domésticos e adorno. As lajotas muitas vezes são enquadradas neste grupo e outras, em cerâmicas ou materiais de
revestimento.

• Cerâmica ou materiais de revestimento -compreende aqueles materiais usados na
construção civil para revestimento de paredes, piso e bancadas tais como azulejos, placas ou ladrilhos para piso e pastilhas.

Ainda podem ser considerados como pertencentes ao genêro cerâmico: materiais refratários; isolantes térmicos; abrasivos; vidros; cerâmica branca (louça sanitária; louça de mesa; isoladores elétricos; utensílios domésticos; cerâmica técnica para fins diversos, tais como: químico, elétrico, térmico e mecânico); cimento, cal e cerâmica de alta tecnologia.

Na indústria de cerâmica de revestimento destacam-se dois tipos de processos produtivos, classificados de acordo com o processo de preparação da massa, como:

• Via seca – Utiliza as seguintes etapas: a) lavra; b) secagem; c) moagem a seco; d) conformação, decoração e queima. A secagem é realizada naturalmente, expondo-a ao sol.

As maiores vantagens desse processo são os menores custos energéticos e o menor impacto ambiental.

• Via úmida – Utiliza as seguintes etapas: a) mistura de várias matérias primas, como por exemplo argilas, matérias fundentes, talco, carbonatos, que são moídas e homogeneizadas em moinhos de bola, em meio aquoso; b) secagem e granulação da massa em “spray dryer” (atomizador); c) conformação, decoração e queima. A maior vantagem desse processo é não precisar esperar a secagem da argila pelo sol e por conseguir uma massa mais homogênea.

O processo pela via úmida, no Brasil, é utilizado mais na região Sul, no pólo cerâmico de Criciúma (SC), no Paraná e em São Paulo nos pólos de Mogi-Guaçu e da grande São Paulo. Na Espanha a maioria das fabricas, somente utiliza esse processo. No Brasil, este processo normalmente a mistura da argila procura dar uma cor branca ou clara ao suporte da cerâmica; na Espanha a cor do massa é vermelha, detrminando sua cor final.

O processo pela via seca concentra-se no pólo de Santa Gertrudes, no Estado de São Paulo.

Nesse processo utilizam-se apenas argilas vermelhas, que vêm de rocha fresca, mais fundente, com as parcialmente alteradas, mais plástica, formando uma massa com coloração vermelha, para a fabricação do suporte ou biscoito. As dificuldades encontradas, nesse processo, encontram-se nos limites tecnológicos por não permitir obter um grau de espessura da massa compatível com o da via úmida. Tal processo de produção não processa vários componentes de natureza diversa simultaneamente, para obter o suporte, porém utiliza-se somente de um tipo de argila. Por isso, pode apresentar problemas com a prensagem em relação ao material atomizado (BNDES, 1999:207).

Segundo a ANFACER (2001) 40% da produção nacional é realizada por via seca e 60% por via úmida. A principal diferenças entre esses tipos de processos, está na seleção e preparação da massa de argila, para produção do suporte ou biscoito. A fase de mineração e processamento cerâmico, é a mesma para os dois processos.

Neste trabalho foi estudado com mais ênfase a produção de cerâmica de revestimento com processo de produção via úmida, porque é o processo utilizado tanto por uma parte importante das indústrias brasileiras, quanto por toda a indústria de revestimento cerâmico espanhola. A produção realizada através dessa tecnologia é a que se destina à exportação; portanto, é a que enfrenta a competição, no mercado internacional, tanto com a Espanha como com os demais produtores internacionais.

No Brasil esses produtores, que em sua maioria encontram-se no Sul do país, são representados por grandes empresas como a Cecrisa, Eliane, Portinari, Portobello e outras. Essa escolha de parâmetros semelhantes de produção é importante para que se possa ter acesso aos dados necessários ao desenvolvimento de um indicador de eficiência energética, que será realizado no desenvolvimento deste trabalho.

Existem também dois processos possíveis de queima denominados de monoqueima e biqueima. O processo de monoqueima tem esse nome, por serem queimados simultaneamente a massa argilosa, que constitui o suporte, e o esmalte, em temperaturas elevadas (normalmente acima de 1.000ºC). Os benefícios advindos desse processo são: a) maior resistência à abrasão superficial; b) resistência mecânica e química e c) absorção relativamente baixa de água. No processo de biqueima, a queima é realizada primeiramente no suporte e posteriormente na peça já decorada (BNDES, 1999:208). Algumas empresas realizam uma terceira queima, com o objetivo de criar efeitos de decoração no suporte. Para isso, cobre o esmalte já queimado e o recoloca no forno sob temperaturas mais baixas, para obter o design definitivo. Tal processo permite a obtenção de alguns efeitos especiais, como pinturas metálicas, alto-relevo etc., impossíveis de se conseguir a temperaturas elevadas.


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