Yolanda Vieira de Abreu
A indústria de cerâmica no Brasil, iniciou-se primeiramente com a fabricação de tijolos e telhas de cerâmica vermelha. No começo do século XX, desenvolveu-se a produção de ladrilhos hidráulicos e, mais tarde, azulejos, pisos, pastilhas cerâmicas e de vidro. Na segunda metade da década de sessenta, com a instituição do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), a indústria da construção civil ganhou estímulo para crescimento em virtude do aumento da demanda por materiais de construção para o setor. O Sistema Financeiro da Habitação (SFH) criado pela lei nº4.380, de 21/08/1964 em torno do Banco Nacional da Habitação, integrado aos novos programas de seguros sociais como o PIS e o PASEP passou a ser um poderoso agente de captação de poupança privada forçada. (Abreu et. al, 1990:28).
O SFH era composto de um conjunto de organismos financeiros governamentais e privados. Tinha como objetivo estimular, planejar a construção de habitações populares e a aquisição da casa própria A partir de 13/09/1966, com a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), as empresas estavam obrigadas a depositar até o dia 30 de cada mês, 8% do salário de cada funcionário, que renunciasse ao sistema anterior de estabilidade no emprego e optasse pelo novo. Os novos empregados, seriam incluídos já nesse sistema. Os recursos do FGTS passaram à gestão do BNH que agora dispunha de um montante de crédito, muito maior, para habitação. Tal fato alavancou a indústria de construção civil, através do crescimento da demanda. (Abreu et. al, 1990:240)
No inicio da década de setenta, com o chamado “milagre econômico4”, a industria de cerâmica para revestimento pôde ampliar sua produção, através dos incentivos para construção de unidades habitacionais para a classe média. Segundo Brum (2002), o SFH/BNH, desvirtuou-se de seus princípios e passou a financiar principalmente as classes média e média alta, nesse período.
Com esse aumento da demanda surgiram novas empresas.
Na década de oitenta, com a recessão, o setor iniciou sua reestruturação, com a finalidade de aumentar a produtividade e a qualidade para alcançar uma participação mais significativa no Comércio Exterior. Essa indústria, inicialmente, ficou concentrada em alguns pólos de produção nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. A partir da década de oitenta, passou por um processo de desconcentração indústrial e pulverização regional. Tal desconcentração não eliminou a hegemonia da região Sudeste, como se observar no Figura 2.
Entre os anos de 1968 a 1973 a economia brasileira apresentou extraordinária expansão econômica, à este período denominouse “milagre econômico”. Crescimento de aproximadamente 10% a.a., enquanto a inflação tinha uma média anual de 20% (Brum, 2002:322).
O processo de reestruturação, consistiu na implantação de tecnologia e
conhecimento, desenvolvidos principalmente pela Itália e Espanha, como:
· modernização dos equipamentos;
· aplicação de nova tecnologia, como por exemplo a monoqueima;
· novos métodos de gestão, formação e aperfeiçoamento de pessoal.
Entre 1994 e 2001 a número de certificações em milhões de m2, cresceu 577% o que mostra a preocupação dos empresários em melhorar a qualidade do produto e se adequar às normas. A partir da década de noventa, aprofundaram-se os esforços para a modernização e a busca por certificação, segundo normas internacionais, com o objetivo de ampliar as exportações.(Ver Figura 3 e Figura 4).
A reestruturação das empresas desse segmento indústrial, não se consistiu em abertura de capital ou vendas das empresas familiares à grandes grupos nacionais ou estrangeiros. As empresas ainda, em sua maioria, são constituídas por grupos familiares (BNDES, 1999). A década de noventa no Brasil, marcou a abertura do seu mercado e a implantação do Plano Real, que levou à extinção de unidades fabrís, que não conseguiram competir com as importações. Esse plano econômico congelou os salários e manteve elevada a paridade da moeda nacional face ao dólar, levando a economia a uma recessão. Tal situação da moeda nacional, facilitou e impulsionou as importações, que no caso das indústrias de cerâmicas para revestimento, puderam aumentar ou renovar seu parque indústrial, pela compra de novas máquina e equipamentos.
Essas indústrias agora, como consequência do Plano Real e da abertura do mercado
brasileiro, passaram a sofrer a concorrência dos produtos cerâmicos importados e
também o aumento da ofertas de bens substitutos. Por esse motivo, a certificação de seus
produtos, começou a significar uma possibilidade de conquistar novos mercados, principalmente no
exterior, o que serviria de âncora para o pagamento das importações e uma maior segurança contra
futura desvalorização da nova moeda [R$], frente a outras.
Segundo a ANFACER (2002), o volume exportado em 2001 foi menor que do ano anterior como consequencia “do refluxo da economia internacional, principalmente após os atentados terroristas de 11 de setembro, em Nova Iorque”. (site ANFACER, 29/09/2002). Porém, mesmo com este acontecimento, as exportações brasileiras para os EUA, passaram de US$ 60 milhões em 2000 para US$ 63 milhões.
Segundo o BNDES (2001), as exportações brasileiras de revestimento cerâmico, atingiram em 2000 o valor total de US$ 182 milhões, que representa um aumento de aproximadamente 11,5%, se comparado com 1999. Em contrapartida, pode-se verificar que as exportações de 2001 comparadas com as de 2000, cairam em 2%, enquanto o aumento de 1998 para 1999 foi de 23%.
Portanto em percentagem de ano para ano a participação brasileira vem tendo dificuldades em manter o crescimento das exportações.
Na Figura 5 pode-se conhecer as principais empresas exportadoras de cerâmicas para revestimento, e constata-se, também, que as indústrias Eliana, Cecrisa e Portobello, representam 52% do total das exportações brasileiras. Todas essas empresas utilizam a via úmida, como processo de produção.
A produção brasileira de revestimento cerâmico cresceu entre 1990 e 2001 aproximadamente 274% e a demanda por esse bem no mercado brasileiro cresceu aproximadmente 264% nesse mesmo período, conforme os dados da Tabela 6 e Tabela 7. As importações referentes à cerâmica para revestimento via úmida representam, segundo a ANFACER (2002), menos de 0,5% da comercialização do mercado interno. As exportações representam, em 2001, menos de 10% da produção total (46,5 106 m2).
No Brasil o consumo per capita, está em torno de 2,2m2/hab., dado que pode revelar a existência de demanda reprimida, que a qualquer momento pode exercer seu consumo, podendo vir a permitir a ocupação da capacidade ociosa existente.
Desde 1997 a indústria brasileira de cerâmica para revestimento, com processo de produção via úmida, vem sofrendo uma queda na utilização da sua capacidade instalada, conforme pode se verificar na Figura 6. Essa diminuição na utilização total, reflete o aumento de quantidade de empresas entrantes no setor e também é resultado da modernização e ampliação do parte indústrial ocorrida na década de noventa.