Yolanda Vieira de Abreu
Conforme mostrado no Capítulo 2, os indicadores econômicos podem ser: econômicotermodinâmico (1o) e econômico puro (2o). Para o primeiro tipo de indicador é necessário que a energia seja mensurada na entrada em unidades termodinâmicas e na saída em valor monetário, porém tais dados não estão disponíveis, neste momento. Os dados coletados de consumo de eletricidade, não indicam a quantidade de energia que entra no sistema, nem como possibilita imputar preços na saída. Isso acontece porque esses dados teriam duas maneiras de serem construídos. A primeira delas poderia ser através da realização do balanço energético do processo de produção, porém as empresas brasileiras, consultadas não o forneceram. O segundo, seria através dos preços dos produtos que saem da fábrica, porém nenhuma dessas possibilidades está disponível, neste momento. Tal afirmação baseia-se no fato que são produzidos diferentes tipos e larguras de cerâmica, no mesmo dia e na mesma linha de produção e as empresas não fornecem os preços por tipos de produtos e em serie anuais. Portanto, não se têm dados suficientes para construir esse tipo de indicador com estas características.
O indicador econômico puro, que seria o segundo proposto, tem como característica principal à mensuração do valor monetário das energias de entrada e de saída, aqui se repete a mesma dificuldade do primeiro indicador. Não se tem o valor monetário da energia nem na entrada e nem na saída, porque as ICRVU brasileiras não realizam, ou não cederam, balanços energéticos minuciosos que poderiam nos fornecer esses dados. Portando, o que se pode fazer é adaptar os dados coletados ao conceito dos indicadores, seja econômico ou econômico termodinâmico.
Uma das soluções possíveis, utilizada neste trabalho, é a seguinte: o dado coletado quanto à energia térmica empregada no processo é a total gasta no processo de produção, incluindo perdas, mensuradas na unidade (original) de cada energético. Outro dado disponível é a quantidade física produzida, mensurada em metros quadrados. Portanto, este trabalho, construirá um indicador, que mostrará quanto de energia térmica foi gasta para produzir um metro quadrado, em valores monetários.
Portanto, o indicador seria econômico-termodinâmico-físico (IETF ou Iecet), porque irá fornecer, como resultado final, quanto se gasta de energia térmica, em valores monetários, para se produzir um metro quadrado de cerâmica (por exemplo: US$/m2). Assim, esse indicador permitirá uma comparação econômica antes e depois da inclusão do GN na matriz energética brasileira, porque esse energético somente começou a ser implantado na maioria das ICRVU pesquisadas a partir de 2000.
Além dessa possibilidade poderá se verificar o valor em dólar gasto para se produzir um metro quadrado de cerâmica no Brasil e na Espanha. Como resultado foi possível conhecer quais as fontes energéticas que poderão ser utilizadas em conjunto a fim de produzir um metro quadrado, segundo os indicadores econômicos de eficiência energética.
O indicador econômico físico termodinâmico de eficiência energética (IEFT ou Ieeet), foi calculado com as seguintes premissas: total de energia térmica (E.T.) consumida ao ano, convertida em metros cúbicos de GN e multiplicada pelo valor do dólar médio do ano em questão, que resultará em US$/m2. O período computado será de 1998 a 2000, tanto para os dados espanhóis como para os brasileiros. Esse período foi determinado, levando em consideração que o GASBOL (nome do gasoduto que transporta o gás boliviano, até o Sul do país) chegou somente a partir de 1999 às cidades de São Paulo e Santa Catarina, onde estão situadas as principais empresas de cerâmica.
Os dados de energia térmica das ICRVU espanholas foram computados em moeda espanhola – Pesetas Espanholas11 – e para as brasileiras em Real [R$], sendo que ambas, foram convertidas em dólares americanos [US$]. Para se transformar em Dólar, a moeda brasileira e espanhola, foi utilizada a taxa de cambio médio anual do dólar, sendo que no Brasil a cotação terá como base o dólar comercial. Após a conversão de todos os valores de energia térmica (V.E.T.) em metros cúbicos de GN e multiplicados pelo dólar médio do ano, foi dividida pela quantidade total (anual) da produção, em metros quadrados, de acordo com a seguinte fórmula.
IEFT ou Iec et = Valores de Energia Térmica [US$ anual]
Quantidade total de produtos produzidos em [m 2/ano]
Na Tabela 20, pode ser observado o Iecet brasileiro, foi calculado a partir dos dados das energias térmicas, originais, coletados, transformados em equivalente a GN/m3 (item 2, 4, 6, 8). O item 10 contém o valor do US$/mil m3, esse valor para o ano de 1998 foi calculado dividindo o valor do energético (GN) em real pelo dólar médio comercial. O valor médio do dólar foi elaborado a partir da soma dos valores das cotações médias mensais, fornecidas pelo Banco Central, dividida por doze (meses), obtendo como resultado o valor do dólar médio. Os valores das tarifas para o GN, segundo a ABEGÁS (via e-mail em dez/2002 – Anexo III), são compostas por "preço do gás -produção" ou commodity e tarifa de transporte (variável de acordo com o ponto de entrega). Até janeiro 2000 o preço era único sem diferenciação pela distância. A tarifa de 1998, fornecida pela ABEGÁS foi de R$88,584/1000m3 (equivalente a US$ 76,13) e a tarifa media para GN em dólar para o Brasil em 1999 (US$ 63,98) e 2000 (US$ 80,49) estes valores foram coletadas no site da ANP.
As Tabelas 20 (cálculo do Iecet brasileiro) e 21 (cálculo do Iecet espanhol), fornecem valores muito diferentes. Porém, ao se observar o item 18 da primeira tabela e o resultado final em US$et/m2 da Tabela 21 poderá verificar-se que os valores, quando se usa somente o GN não são muito diferentes, são compatíveis e neste caso, a fonte de energia e a tecnologia utilizada são as mesmas. Portanto, a diferença grande de US$et/m2, está quando se utilizam diversas fontes de energia, para produzir o mesmo produto. Neste caso precisa-se levar em consideração que no Brasil até Janeiro/2000 a tarifa do GN não contemplava o transporte. Esta era a mesma, não importando a distancia para entrega. O GLP era em parte importado e parte produzido no país; o carvão mineral é nacional; o gás pobre de carvão utilizado até 1998 não tinha um preço fixo, poderia se negociar por contrato o que o tornava economicamente atraente. Porém, as empresas preferiram deixar de usar o GPC, porque não era uma fonte de energia com fornecimento garantido e pelas mudanças nas leis ambientais, que agora determinam o reflorestamento das áreas desmatadas. Tal mudança aumentaria o custo e também por algumas das empresas fornecedoras usarem mão-de-obra infantil, o que poderia vir a prejudicar a imagem da empresa compradora de tal produto. Mesmo com a saída do GPC a composição de fontes de energia (GLP, CM, Óleos) ainda era economicamente mais viável em 1999, do que começar utilizar somente o GN. Um outro dado importante que se pode retirar desses cálculos é que tanto no Brasil como na Espanha, a tendência na ICRVU é de aumento dos gastos com energia, como resultado da valorização do dólar perante as moedas locais. A questão do GN pode ser vista como custo da implantação de uma nova tecnologia, sempre existe a necessidade de um tempo para maturação da mesma e isso pode refletir no custo total.