Tesis doctorales de Economía


O SETOR IMOBILIÁRIO INFORMAL E OS DIREITOS DE PROPRIEDADE: O QUE OS IMÓVEIS REGULARIZADOS PODEM FAZER PELAS PESSOAS DE BAIXA RENDA DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

Krongnon Wailamer de Souza Regueira


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4.6 A REDUZIDA CAPACIDADE EMPRESARIAL DAS PESSOAS E PEQUENAS EMPRESAS QUE DEMANDAM CRÉDITO

Se a falta de crédito para iniciar um empreendimento pode ser uma barreira difícil de transpor para a maioria dos que buscam crédito, existem outros fatores que podem reduzir as chances de sucesso de um negócio, como afirma PINTO (2003, p.11):

[...] a restrição ao crédito não explica totalmente as dificuldades de desenvolvimento enfrentadas pelas pequenas empresas brasileiras, sendo fator importante para a compreensão destas dificuldades, o pequeno grau de acesso destas empresas à tecnologia e à capacitação. Geralmente, os pequenos empreendedores apresentam uma baixa capacidade empresarial, o que pode causar o baixo desempenho do negócio, mesmo não havendo restrição no mercado de crédito.

Em geral, os informais descritos por De Soto possuem baixos níveis de capital humano. Tais fatores dificultam o processo de aprendizagem, gestão dos negócios, bem como a criação de associações para reivindicar direitos e tirar proveito das economias de escala e das externalidades produtivas geradas.

Se fôssemos utilizar a microeconomia neoclássica como modelo, poderíamos deduzir que dois empresários com o mesmo conjunto de fatores produtivos à sua disposição chegariam a resultados similares. Contudo, no mundo real tal fato raramente é observado, pois os empresários diferem na sua capacidade de gerir um empreendimento. Empresários mais aplicados ou com maiores habilidades para o empreendedorismo tendem a obter um desempenho melhor. Como sugere PINTO (2003, p.12): “As firmas cujos proprietários e sócios têm uma maior capacidade empresarial terão um melhor desempenho”. Essas deficiências de conhecimento, encontradas mais facilmente nos empresários informais analisados por De Soto, podem ser decisivas para o insucesso de um empreendimento, uma vez que muitos deles não estão preparados para gerir seus próprios empreendimentos.

MARCUSE (2004, p.42) afirma que os empreendedores, independente do segmento social ao qual pertençam, devem ser financiados pelos seus méritos:

That is not to downplay the importance of the entrepreneurship of many of the poor. But entrepreneurship should be financed on its owns merits, as it is for typical business in developed countries and as good microcredit programs do, not at the expense of shelter security for a struggling family.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE, 2005) constatou que no ano de 2003 os empregadores no Brasil possuíam em média 9,7 anos de estudo, ou seja, possuíam pelo menos o ensino fundamental. Por outro lado, os empregados por conta própria apresentavam seis anos de estudo. Pode-se auferir que a capacidade empreendedora está positivamente relacionada à escolaridade, ainda que em termos absolutos esta não seja elevada. Como ressalta NERI (2005), o conceito de trabalhador por conta própria é bem heterogêneo, incluindo desde médicos, dentistas e advogados até vendedores ambulantes.

Segundo pesquisa do SEBRAE (2004) sobre a mortalidade das micro e pequenas empresas realizada no ano de 2002, 22% dos entrevistados em empresas com uma pessoa declarou ter iniciado o negócio sem nenhuma experiência ou conhecimento no ramo. Para empresas extintas com 2 até 9 pessoas e empresas com 10 até 19 pessoas, o percentual de pessoas que declararam ter iniciado o empreendimento sem nenhuma experiência ou conhecimento no ramo foi de 28% e 17% respectivamente. Trata-se de percentuais elevados, uma vez que estas pessoas, além de possuírem pouca educação formal, resolvem desenvolver negócios sem o menor conhecimento a respeito dos mesmos, elevando com isso a probabilidade de fracasso.

Os resultados encontrados para a taxa de mortalidade da empresas mostram que 49,4% encerraram as atividades com até 02 (dois) anos de existência, 56,4% com até 03 (três) anos e 59,9% não sobrevivem além dos 04 (quatro) anos (SEBRAE, 2004).

Nesta mesma pesquisa do SEBRAE, os entrevistados apontaram as principais causas para o insucesso do empreendimento . Para empresas com até uma pessoa, entre 2 e 9 pessoas e entre 10 e 19 pessoas, o percentual de pessoas que atribuíram o fracasso à falta de capacidade gerencial foi de 5%, 7% e 33% respectivamente. Aufere-se a partir destes resultados que quanto maior é o empreendimento, mais conhecimento gerencial é necessário para o seu bom funcionamento. Analisando as causas para o fechamento das empresas e comparando-as com os fatores de sucesso mencionados com maior freqüência, nota-se que o fator que ameaça a sobrevivência da empresa é a escassez de dados suficientes para o processo de tomada de decisão. Estes dados, necessários para a tomada de decisões consistentes, vão desde a escolha do empreendimento a ser realizado, até a maneira de financiar as operações, política de vendas, estratégia de compras e estrutura de produção. Entre as falhas gerenciais encontradas na pesquisa, destacam-se a falta de capital de giro, problemas financeiros, ponto/local inadequado, além da já citada falta de conhecimento gerencial.

Ainda que as taxas de juros sejam acessíveis, ocorra estabilidade econômica e haja crédito disponível para os empresários, a capacidade empresarial é um fator decisivo para o sucesso do empreendimento. O maior problema é que esta não é uma característica facilmente observada, sobretudo quando não se tem uma reputação no mercado de crédito e no ambiente de negócios. Neste sentido, acreditamos que a análise de De Soto é excessivamente otimista, ao atribuir às pessoas pobres e com baixa educação uma capacidade empresarial maior do que seria esperar à luz destas estatísticas.


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