EVOLUÇÃO E PERSPECTIVAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE AÇÚCAR E ÁLCOOL
Eduardo Fernandes Pestana Moreira
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O Japão, como podemos ver no gráfico 3.5 , não só continuou perdendo importância como mercado para os exportadores de açúcar, como também apresentou uma redução no seu consumo de açúcar e de adoçantes calóricos em geral durante o período 1990-2002. A produção interna de açúcar e de outros adoçantes (fundamentalmente de milho) manteve-se relativamente constante, tendo as importações acompanhado a redução do consumo interno.
Diferentemente do conjunto dos países da OECD, que apresentaram um crescimento no consumo per capita de 7,6% durante este período (0,6% aa), o Japão apresentou uma substancial redução de 13% (1,2% aa), o que significa uma mudança importante na dieta dos japoneses com a exclusão deste item e/ou sua substituição por adoçantes não calóricos. O consumo, que já era 24% menor do que a média dos países desenvolvidos, passou a ser 39% menor.
Desta forma, as perspectivas do Japão como mercado para o açúcar brasileiro e de outros países exportadores não é promissora, mesmo que se levem em conta possíveis reduções no apoio à produção interna que, porventura, possam ser conseguidos na rodada Doha. Ainda que se tenha reduzido o montante de seus subsídios agrícolas informados à OMC em mais de 50% durante o período 1995-2000, e o montante dirigido a AMS (caixa amarela) em quase 80% , os efeitos destas reduções não tiveram impacto sobre as importações de açúcar, que, aparentemente, continuarão a proteger um mercado declinante.
Enquanto os principais mercados dos países desenvolvidos apresentam estagnação ou declínio no consumo de adoçantes calóricos e de açúcar em particular, os demais países continuam vendo seu consumo interno aumentar. Conforme observamos no Gráfico 3.6, os países da OECD apresentaram um crescimento no consumo total de adoçantes (18% no período 1990-2002) menos intenso do que nos demais países (30% no mesmo período).
O mais interessante desta evolução é que o consumo de açúcar subiu apenas 7,5% neste período, crescimento menor que o aumento populacional, enquanto que o aumento do consumo de outros adoçantes (principalmente de milho) cresceu 45%, mostrando que todo o dinamismo do mercado de adoçantes foi capturado por um produto que não é competitivo sem políticas de proteção de mercado e/ou de subsídios.
Dentre os países da OECD, os únicos países que mantiveram um dinamismo como compradores no mercado internacional foram o Canadá e a Coréia do Sul, que tiveram um crescimento de 17% e 50%, respectivamente, em suas importações líquidas de açúcar bruto equivalente durante o período 1990-2002, ambos com volumes próximos a 1,2 milhões de toneladas no último ano. Entretanto, a perspectiva para o futuro próximo mostra-se bem diferente quando comparamos estes dois países, embora ambos venham apresentando um grande aumento no consumo de adoçantes calóricos por suas populações.
O Canadá teve neste período seu consumo de adoçantes aumentado em mais de 50%, bem maior que a média mundial, com um aumento no consumo de açúcar igual à média dos países em desenvolvimento. Sua produção interna, inteiramente da beterraba, sofreu forte retração, embora seu papel no abastecimento do mercado canadense já fosse muito pequeno.
O fato mais importante, entretanto, foi o aumento expressivo dos demais adoçantes na dieta canadense que, em 2002, passaram a representar 29% do total consumido contra 11% em 1990. Este crescimento no consumo de outros adoçantes foi suprido tanto pelo aumento da produção interna quanto por importações (fundamentalmente dentro da área do NAFTA), reproduzindo-se neste país a mesma evolução do mercado de norte-americano. Este deslocamento do mercado de adoçantes pode enfraquecer o crescimento do mercado de açúcar canadense, dependendo da evolução das negociações comerciais desse país na OMC. Aparentemente, o apoio a políticas de preço alinhadas aos USA torna atrativa a produção (que cresceu 159%) e mesmo a exportação intra NAFTA de outros adoçantes pelo Canadá. Se este cenário se confirmar, o Canadá deve diminuir sua importância como comprador no mercado internacional de açúcar.
Já a Coréia do Sul mostra uma perspectiva bem mais favorável para os exportadores de açúcar, tanto pela estrutura quanto pelos níveis atuais de seu consumo interno. Durante o período analisado, a Coréia manteve um consumo elevado de outros adoçantes calóricos (42% do total consumido), apresentando uma estrutura de mercado próxima àquela do mercado americano. Embora toda a oferta de açúcar seja suprida por importações e a de outros adoçantes por produção interna, seu perfil de consumo já se encontra próximo do limite de substituição, o que indica que o mercado de açúcar deve continuar crescendo à mesma taxa que o total dos adoçantes. Por outro lado, a Coréia continua apresentando um crescimento econômico vigoroso, sinal de maior renda e maior consumo em geral. Embora seu consumo per capita de adoçantes venha crescendo mais rápido que os demais países desenvolvidos, ele ainda é 22% menor do que a média dos países da OECD, indício de que o crescimento do mercado coreano de açúcar deve continuar vigoroso.
Dentre os demais países importadores (não participantes da OECD), com uma fatia de 70% das importações mundiais de açúcar em 2002, destacam-se Rússia, Indonésia, Irã, Malásia, Argélia e Nigéria, todos com importações de pelo menos 1 milhão de toneladas.
A Rússia é, sozinha, o maior importador de açúcar no mercado mundial, tanto de açúcar bruto quanto refinado. A URSS já representava a posição de principal importador mundial antes de sua dissolução, e Cuba seu mais importante fornecedor. Com o fim da URSS, a Rússia, que representava mais de 80% deste volume, continuou mantendo um volume elevado de importações, ainda que a partir deste momento tenha diversificado suas fontes de fornecimento e passado a comprar o açúcar a preços internacionais e não mais aos preços que mantinha com seu convênio com Cuba. Ao lado disto, a produção interna sofreu uma redução em virtude da baixa eficiência de suas plantas industriais, não tendo até hoje recuperado os níveis de produção de 1992.
Embora não seja possível prever para o futuro próximo um crescimento substancial da demanda russa por importações, este país deve continuar a demandar volumes semelhantes aos da última década (foram 4,9 milhões de toneladas em 2002), uma vez que a recuperação da produção deve ser lenta e, no máximo, contemplar o crescimento no consumo. Mesmo que mantenha uma política de proteção para sua produção interna (em especial o setor de refino, uma vez que o açúcar branco possui tarifas mais elevadas que o açúcar bruto), não há perspectivas de investimentos de vulto que possam reverter o quadro atual em um futuro próximo.
A Indonésia é hoje o segundo maior importador de açúcar, depois de ter sido uma das principais regiões produtoras no início do século XX. Sua posição como importador importante começou em meados da década de 1990, em virtude da redução em sua produção interna tanto de açúcar quanto de outros adoçantes de cana (melaço, rapadura e outros), produção esta que é hoje menor do que foi ao final dos anos 1920. O consumo vem crescendo em ritmo bastante acelerado, tanto pelo aumento populacional como, principalmente, pelo aumento no consumo per capita de adoçantes, que foi de 27% no período 1990-2002 contra 5% na média mundial.
Embora a produção interna de açúcar e de outros adoçantes seja protegida na Indonésia, e as negociações da Rodada Doha apontem que não haverá mudanças substanciais pela situação de país em desenvolvimento, esse é um mercado com grande potencial de crescimento. A Indonésia vem apresentando taxas de crescimento acima da média mundial nos últimos anos, com crescimento da massa salarial, o que explica o forte crescimento do consumo de açúcar descrito acima. Mesmo com medidas de suporte e proteção, dificilmente a produção interna crescerá em um ritmo que possa levar o país a prescindir de importações elevadas, uma vez que sua renda média ainda se encontra dentro da faixa em que a elasticidade do açúcar é alta e, portanto, o consumo deve continuar crescendo.
No continente africano, a Argélia e a Nigéria sobressaem como os principais mercados. Os dois países vêm aumentando seu consumo em função do aumento na renda derivado da indústria do petróleo e, uma vez que suas produções internas são insignificantes, suas importações vêm crescendo de forma acelerada. A Nigéria apresenta-se como o mercado mais promissor, visto que seu consumo per capita ainda é muito baixo (11,8 kg/hab/ano) e vem crescendo a taxas elevadíssimas (8,2% ao ano no período 1990-2002). A África em seu conjunto apresenta boas perspectivas para o mercado de açúcar, dado que seu consumo vem crescendo em média 3,6% ao ano (o dobro da média mundial), enquanto que a produção cresce a 2%.
Os outros dois importadores importantes da Ásia, Irã e Malásia, apresentam perspectivas distintas de crescimento de suas importações. O Irã vem mantendo estagnado seu consumo per capita de açúcar e de outros adoçantes, consumindo atualmente algo bem próximo da média mundial. O crescimento do consumo aparente atendeu ao crescimento populacional, crescimento suprido por uma elevada taxa de incremento na produção interna de 4,4% ao ano entre 1990-2002, fazendo inclusive com que as importações passassem a ter um recuo a partir do ano 2000. Mantida esta tendência, a importância deste país como mercado internacional para o açúcar deve diminuir.
Já a Malásia apresentou crescimento expressivo em seu consumo (4,4% ao ano), com uma produção quase estagnada e representando atualmente 13% de seu consumo aparente. Embora este país já tenha um consumo per capita de adoçantes calóricos próximo àquele dos países da OECD, sua economia vem apresentando altas taxas de crescimento da produção e da renda, que podem manter o dinamismo de suas importações.