EVOLUÇÃO E PERSPECTIVAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE AÇÚCAR E ÁLCOOL
Eduardo Fernandes Pestana Moreira
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Com base na análise das variáveis motrizes e de ligação, feita no item 4.1, passamos a construir alguns cenários alternativos, continuando a produzir uma redução no número de variáveis àquelas mais influentes e de maior poder de explicação sobre o mercado internacional do açúcar e do álcool produzidos no Brasil. Este processo foi feito parte mentalmente, parte com o auxílio do módulo Morphol (Análise Morfológica).
Numa primeira tentativa, levantamos 9 (nove) variáveis, discriminadas abaixo, a partir das quais assumimos 2 ou 3 hipóteses de comportamento para cada uma delas.
a) Taxa de Crescimento da Economia Mundial (TAXACRESC)
b) Disputas e Cenários da Hegemonia Mundial (HEGEMON)
c) Capacidade de Intervenção dos Estados Nacionais e Políticas Agrícolas Internas (ESTAGRI)
d) Preço do Petróleo (PREÇOPETRO)
e) ALCA e/ou acordos com os USA (ALCA)
f) Acordos multilaterais no âmbito da OMC (OMC)
g) Políticas de utilização de combustíveis alternativos por razões ambientais, econômicas e políticas (POLCOMB)
h) Competitividade do álcool em função da tecnologia e do preço da terra (COMPETITIVIDADE)
i) Produção de açúcar e de álcool nos demais grandes exportadores (PRODMUNDO)
Dois problemas, tanto operacionais quanto de encadeamento lógico, surgiram desta primeira aproximação. O primeiro foi a geração de mais de 11 mil cenários alternativos que, mesmo depois de excluídas as combinações incompatíveis (tais como uma alta taxa de crescimento da economia mundial com altos preços do petróleo num mesmo cenário), ainda assim mantinham cinco mil cenários possíveis e um número ainda grande de cenários com probabilidade razoável, o que tornava difícil o ordenamento de um leque de opções passível de ser analisado. O segundo problema apareceu na definição do quadro de hipóteses, quando percebemos uma relação de dependência entre variáveis e/ou que poderíamos reduzir o quadro de variáveis sem perder em demasia o potencial explicativo do conjunto restante.
A variável “capacidade de intervenção dos Estados nacionais e políticas agrícolas internas”, já em si uma junção de duas variáveis analisadas no item anterior, apresentava um quadro de hipóteses simétrico (e invertido) ao da variável “acordos multilaterais no âmbito da OMC”. Isto estava de acordo com nossos pressupostos de que os acordos agrícolas representam uma diminuição na capacidade dos estados nacionais e que, portanto, captamos o mesmo efeito com qualquer uma destas variáveis, podendo prescindir da outra.
A variável “ALCA e/ou acordos com os USA”, de outra parte, aparecia como decorrência das hipóteses levantadas para outra variável: “disputas e cenários da hegemonia mundial”. Nosso pressuposto é de que não haverá acordos do Brasil e/ou do Mercosul numa situação de permanência do atual cenário de hegemonia americana, uma vez que não haverá interesse dos USA em abrir mão de áreas sensíveis de seu mercado e, ao mesmo tempo, essa hegemonia não significa capacidade de impor regras de comportamento comercial e financeiro além das atualmente em vigor (principalmente o do uso do dólar como moeda- chave do comércio internacional). Por outro lado, a concretização de acordos comerciais (e até eventualmente de uma ALCA palatável aos interesses do Mercosul) só teria espaço num mundo onde a hegemonia americana estivesse em contestação, com blocos fortalecidos na Europa e na Ásia, criando um poder de barganha para a América Latina na discussão de um alinhamento comercial com os USA. Assim sendo, a primeira variável já estaria sendo explicada pelas hipóteses alternativas da segunda, podendo assim ser excluída do modelo sem prejuízo de sua capacidade de explicação.
Optamos, ainda, por excluir do conjunto de variáveis as duas últimas, partindo da aceitação de uma única hipótese para cada uma, o que nos pareceu razoável. No caso da variável “competitividade do álcool em função da tecnologia e do preço da terra“, optamos por assumir uma estabilidade nos custos de produção médios do açúcar e do álcool, já que o aumento de produção, especialmente do segundo produto, vai exigir a ocupação de áreas não tradicionais e de menor produtividade, o que deve compensar ganhos tecnológicos esperados. Já na variável “produção de açúcar e de álcool nos demais grandes exportadores“, assumimos que a exportação brasileira de açúcar deverá manter a participação relativa dos últimos três anos, diante de uma queda na participação relativa do álcool, em conseqüência do aumento na produção dos outros grandes produtores/exportadores de açúcar e da produção interna de grandes consumidores (USA, UE, China ) .
Com estas reduções, o conjunto de variáveis foi reduzido ás cinco abaixo, para as quais elaboramos um quadro de hipóteses que pode ser visto na Figura 4.9, com probabilidades de ocorrência atribuídas por nós.
a) Taxa de Crescimento da Economia Mundial (TAXA CRESC)
b) Cenários na Hegemonia Mundial (HEGEMON)
c) Acordos na OMC e Políticas Agrícolas e de Comércio Exterior Nacionais (OMC AGRI)
d) Preços médios do petróleo a longo prazo (PREÇOPETRO)
e) Políticas de incentivo ao uso de combustíveis alternativos (POL COMB)
Para o conjunto da economia mundial, as hipóteses para o crescimento correspondem a um cenário igual ou inferior às projeções da OCDE, para o grupo de países participantes da organização, e um cenário mais otimista para a economia brasileira, que acompanharia a média do mundo em desenvolvimento.
As hipóteses para os cenários sobre a hegemonia mundial incorporaram os acordos possíveis Mercosul e/ou Brasil e USA, como mencionado anteriormente (sob o cenário de continuidade da hegemonia americana não haveria acordos substantivos). Foi assumida também uma hipótese mais pessimista de uma disputa mais conflituosa entre blocos de poder, com baixa probabilidade de ocorrência, segundo nossa percepção. Esta hipótese mais pessimista é a única que estaria alinhada às hipóteses de recrudescimento do protecionismo e manutenção de preços médios do petróleo acima de US$ 60,00 que, na nossa opinião, só ocorreriam em um cenário de tensão internacional.
A última variável, referente às políticas de utilização de combustíveis alternativos, apresenta hipóteses com 70% (generalizada) e 30% (restrita), um quadro de probabilidades que pode parecer pessimista ante o discurso de preocupação ambiental, mas que nos parece mais próximo da expectativa real para estas políticas.
Com a redução no número de variáveis do modelo, o espaço de possibilidades reduziu-se substancialmente a 108 cenários possíveis . Dentre estes, excluímos aqueles que consideramos inconsistentes ou muito pouco prováveis, que incluíam as combinações de hipóteses abaixo relacionadas:
a) tensão e conflitos entre os pólos de poder e crescimento acima de 3% ao ano ;
b) tensão e conflitos entre os pólos de poder e preço do petróleo abaixo de US$ 40,00 ;
c) continuidade da hegemonia americana e redução substancial dos subsídios e do protecionismo agrícola ;
d) continuidade da hegemonia americana e recrudescimento do protecionismo agrícola ;
e) preço do petróleo abaixo de US$ 40,00 e incentivo generalizado ao uso de biocombustíveis ;
f) preço do petróleo acima de US$ 60,00 e políticas de incentivo restritas aos atuais consumidores de biocombustíveis.
Estas exclusões de combinações entre duas hipóteses reduziram o número de cenários possíveis a 18, dentre os quais selecionamos 3, com alta ou média probabilidade de ocorrência . Além destes, agregamos um cenário mais extremo (supondo um mundo envolto em tensões e conflitos entre pólos de poder) para compor o conjunto de cenários-base a fim de projetar a situação futura do mercado internacional do complexo sucroalcooleiro, os quais estão ordenados no Quadro 4.2 .
O Cenário 1, que aparece como o mais provável na seleção, pressupõe uma evolução mais lenta da economia mundial, mas favorável à evolução do setor, já que os preços do petróleo se manteriam nos patamares atuais, e as políticas de utilização de biocombustíveis abrangeriam um grande número de países. Não haveria mudanças substanciais nos subsídios e nas barreiras ao comércio agrícola e haveria uma continuidade da hegemonia americana, o que, na nossa hipótese, implicaria a não-existência de acordos dos USA com Brasil e/ou Mercosul.
O Cenário 2, que é igual ao anterior nos dois últimos aspectos, pressupõe um crescimento mais acelerado da economia mundial (o que é bom para o mercado de açúcar), em parte devido aos baixos preços do petróleo, que voltariam à média histórica. Como conseqüência deste patamar de preços, as políticas de substituição de combustíveis seriam refreadas, o que provocaria impacto direto na taxa de crescimento do mercado de álcool.
O Cenário 3 pressupõe mudanças no sistema mundial de poder, com a redução do grau de influência dos USA sobre as demais regiões do mundo. Neste cenário, supomos, apesar de uma menor taxa de crescimento da economia mundial, da manutenção do protecionismo nos níveis atuais e mesmo de desvio de exportações brasileiras de açúcar e de álcool para outros grandes produtores que se vinculem a blocos econômicos, que o poder de barganha do Brasil com os USA aumentaria, resultando em maior acesso da produção brasileira àquele mercado.
O Cenário 4 levaria a uma retração nos fluxos de comércio devido a tensões entre blocos, fazendo com que os preços do petróleo se mantivessem em patamares elevados e a maior parte dos países procurasse adotar políticas de incentivo aos biocombustíveis. Entretanto, isto não reverteria em maior mercado para os grandes exportadores, pois neste cenário haveria um recrudescimento das práticas protecionistas.