POLÍTICA CAMBIAL E MACROECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO
Paulo Gala
Esta página muestra parte del texto pero sin formato.
bajarse los
archivos en pdf comprimidos ZIP. (167 pags., 1359 Kb) Um dos principais temas de pesquisa da literatura atual em macro aberta é a
relação entre política cambial e “performance” macroeconômica, especialmente no que diz
respeito a regimes cambiais. Dando seqüência a velha discussão de câmbios fixos versus
flutuantes, que ganhou destaque nos anos 60 e 70, a vertente mais atual da literatura tem se
preocupado em analisar os resultados da utilização de diversos arranjos cambiais,
de jure e de facto, em países em desenvolvimento no período recente. Grande parte dos
estudos se dedica a discutir a eficácia dos diversos regimes cambiais no controle da
inflação, no que parece ser um dos temas populares de pesquisa. Uma gama mais red uzida de
trabalhos se preocupa com as relações entre regimes cambiais e crescimento econômico. O foco
passa então para o desempenho em termos de taxas de crescimento dos diversos arranjos
cambia is. Os trabalhos nessa última área têm maior viés empírico do que teórico
(ver Ghosh et al 2002, por exemplo).
Curiosamente, um tema que recebe menos atenção nessa literatura é aquele que
trata dos impactos do nível da taxa de câmbio real no processo de crescimento econômico. A
vertente que discute o assunto, em franca minoria nos estudos sobre câmbio, está
ligada a literatura de desalinhamento cambial. O livro de John Williamson (1994) é uma
das principais referências nessa área. Os trabalhos do Banco Mundial sobre problemas
cambiais em países em desenvolvimento nos anos 80, especialmente na África, também
contribuíram para essa linha de pesquisa (ver Montiel e Hinkle 1999). A comparação entre Ásia,
América Latina e África é um tema comum nesses estudos. Os trabalhos de David
Dollar (1992) e Domingo Cavallo et al (1990) se destacam nesse sentido. Muitos desses
estudos foram posteriormente integrados à literatura econométrica de crescimento
econômico no final dos anos 90. O termo desalinhamento cambial, que em geral caracteriza
situações de sobrevalorização, passou a ser incorporado como um dos fatores explicativos nas
regressões de crescimento. Como veremos mais adiante, os trabalhos de Easterly
(2001), Acemoglu et al (2002) e Fajnzylber et al (2002) são bons exemplos deste tipo de
abordagem.
A principal preocupação desta literatura está na identificação de possíveis
situações de desalinhamento cambial, partindo já do princípio de que casos de
sobrevalorização são especialmente maléficos para dinâmicas de crescimento. Pouca ou nenhuma atenção
é dada para os mecanismos de transmissão ou canais pelos quais a sobrevalorização
cambial afeta trajetórias de crescimento. O foco dos trabalhos está na discussão das diversas
metodologias de cálculo do nível do câmbio real de equilíbrio (ver Montiel e
Hinkle 1999 para uma discussão detalhada). Além dos tradicionais problemas de medidas de
câmbio real, a literatura se depara com o desafio de definir um conceito de câmbio de
equilíbrio, para depois caracterizar uma situação de desalinhamento. Dois métodos são mais
comuns: medidas de desvio de PPP e medidas de posição do câmbio baseadas em alguma noção
de equilíbrio macroeconômico “fundamental”. O primeiro se vale de tradicionais
comparações de PPP ajustadas pelo efeito Harrod-Balassa-Samuelson e considera câmbios reais
apreciados como níveis de preços internacionais elevados em comparações entre
países. O segundo método leva em consideração medidas de equilíbrio interno e externo na
definição do câmbio real de equilíbrio, ou seja, plena utilização de fatores e situação do
balanço de pagamentos, dado o estado de uma série de variáveis.
Para as medidas de desalinhamento baseadas em desvios de PPP ajustadas pelo
efeito Harrod-Balassa-Samuelson, um câmbio fora do lugar estará numa posição
relativamente apreciada em relação à sugerida pelo nível de renda per capita do país (ver
discussão abaixo). Um dado nível de renda per capita traz implicitamente um dado nível de
produtividade e, portanto, a remuneração relativa adequada dos não
comercializáveis em relação aos comercializáveis; em outros termos, a relação entre salários
nominais e preços dos produtos comercializados no mercado mundial. Um câmbio real de equilíbrio
será, portanto, aquele que torna compatível o nível de produtividade com os salários
reais em cada país. Para câmbios reais excessivamente apreciados, o salário real estará
desalinhado em relação à produtividade e a capacidade produtiva da economia o que implicará
potencialmente numa situação de excesso de absorção e endividamento (ver
Dornbusch 2002, pg.249). Em última análise, por esta linha de raciocínio, um câmbio de
equilíbrio estará sempre alinhado com o nível de produtividade relativa do país em questão,
ou seja, o nível do salário real será compatível com a produtividade do trabalho.
Para o segundo método, um câmbio de equilíbrio seria aquele presente numa
situação de razoável crescimento econômico com uma trajetória de conta corrente sustentável.
Estaria associado ao pleno emprego dos fatores de produção (equilíbrio interno) e a um
financiamento razoavelmente tranqüilo das co ntas externas (equilíbrio externo).
É importante notar que essa posição de equilíbrio dependerá de uma série de
variáveis: i)termos de troca, ii)taxas de juros internacionais, iii)política comercial,
iv)transferências e auxílios internacionais, v)controles de capital, composição dos gastos de
governo e vii)progresso tecnológico. Uma piora dos termos de troca, um aumento das taxas
de juros internacionais, uma redução de tarifas, uma redução de auxílios e transferências
internacionais tenderão a depreciar o câmbio real. Uma liberalização da conta
capital, um aumento de gastos do governo em não comercializáveis e o progresso tecnológico
tenderão a apreciar o câmbio real (ver Cavallo et al (1990) e Edwards (1989)).
Seguindo a discussão, este capítulo tem por objetivo fazer uma análise de painel
para países em desenvolvimento no período 1960-1999. Apresenta uma nova série de estimativas
da relação entre nível do câmbio real medido como desvios de PPP e taxas de
crescimento per capita a partir da construção de um índice de correção cambial RER *. A vantagem
do índice aqui proposto é levar em consideração variações de renda per capita para
todos os anos da série 1960-1999 ao calcular posições de câmbio real como fazem alguns
autores para anos específicos. Ao deflacionar o câmbio real por variações de renda per
capita e, portanto, produtividade, o índice fornece uma indicação mais precisa da
competitividade externa dos diversos países.
O capítulo se divide em 4 partes além da introdução. A próxima apresenta uma
resenha de estudos econométricos sobre o tema que se dividem em três principais
metodologias: desvios de PPP, equilíbrio interno e externo e volume de aquisição de reservas
cambiais. A segunda parte discute a construção das séries de câmbios reais a serem
utilizados nas estimativas econométricas, com destaque para os trabalhos de Dollar (1992) e
Easterly (2001). Apresenta, ademais, cálculos que completam a série de câmbios reais para
o Brasil no período 1965-1980. A terceira parte propõe uma metodologia de correção de
câmbios reais baseada em variações de produtividade. A última seção do capítulo discute
os dados e as variáveis de controle, apresenta a metodologia de análise econométrica e os
resultados das regressões.
6. NÍVEL DO CÂMBIO REAL E CRESCIMENTO: UMA ANÁLISE DE PAINEL