POLÍTICA CAMBIAL E MACROECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO
Paulo Gala
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POPULISMO, ÂNCORAS E CRISES CAMBIAIS
A maioria das crises observadas na América Latina nos últimos 20 anos segue
um padrão de endividamento externo e sobrevalorização do câmbio. Ciclos de apreciação
cambial, crescentes déficits em conta corrente e colapsos externos resume m boa parte da
história recente da região. Num registro menos analisado pela literatura teórica,
sobrevalorizações cambia is podem também afetar negativamente dinâmicas de acumulação de capital
através de seus impactos na poupança e investimento ou ainda dificultar movimentos de
inovação tecnológica, como nos casos de “Dutch Disease”. Nesta primeira etapa do trabalho
discutimos três conseqüências negativas da sobrevalorização cambial. O presente
capítulo se concentra em apresentar alguns fatos estilizados a respeito de apreciações
cambiais e crises no balanço de pagamentos. O próximo capítulo discute os efeitos negativos
da “Dutch Disease” ou a maldição dos recursos naturais em processos de graduação
tecnológica necessário s ao desenvolvimento econômico. O quarto capítulo trata
dos possíveis impactos do nível do câmbio real na poupança e investimento agregados
a partir de seu papel determinante na definição do nível dos salários reais.
Ao discutir os recorrentes problemas cambiais da América Latina, Dornbusch et al
(1995) defendem políticas que mantenham o câmbio real numa posição competitiva para
promover exportações e crescimento. Tratam dos eventos que levaram à crise mexicana de
1994 e argumentam que evitar excessivas apreciações do câmbio real talvez seja uma das
mais importantes metas de política econômica para economias financeiramente
integradas ao resto do mundo. Nos casos de desalinhamento cambial, um mercado financeiro excessivamente elástico no sentido de financiar desequilíbrios pode ampliar
ainda mais os custos de um colapso como no caso mexicano. De acordo com os autores, o câmbio
real é um preço relativo chave e “when it becomes too high, it hurts growth, endangers
financial stability, and ultimately comes crashing down” (Dornbusch et al 1995, pg.220).
Argumentam ainda que, na maioria dos casos, a taxa de câmbio é uma variável sob
o controle das autoridades monetárias, uma das mais importantes.
Seguindo esta discussão, o principal objetivo deste capítulo será analisar
importantes casos de sobrevalorizações cambiais e crises na América Latina. Como procuraremos
argumentar ao longo do texto, uma das principais causas da estagnação recente da região
encontra-se nos sucessivos ciclos de apreciação cambial e crise observados nas últimas
décadas. Além de descrever os principais fatos estilizados a respeito das sobrevalorizações
latino americanas recentes, com destaque para o populismo econômico e estabilizações com âncoras cambiais, o trabalho analisará mais detalhadamente a evolução da
política cambial chilena desde o início dos anos 70. O Chile foi talvez o único dos países
latino-americanos capaz de manter sua taxa de câmbio num nível razoavelmente competitivo a partir
de meados dos anos 80, evitando os problemas da sobrevalorização sofridos pelas
principais economias da região nos anos 90.
A experiência das políticas cambiais praticadas no Chile ao longo dos últimos 30
anos é especialmente interessante pois engloba praticamente todos tipos de arranjos
cambiais possíveis; desde as “tablitas” e ancoragem, passando por bandas, até uma
flutuação mais livre. Em termos de nível, os exemplos são também bastante ricos. O câmbio
chileno passou por ciclos de sobrevalorização decorrentes do típico populismo
latino-americano e das famosas âncoras cambiais voltadas para a estabilização de preços.
Experimentou níveis de relativa estabilidade e subvalorização no período de “real exchange rate
targeting” praticado com as bandas, especialmente entre 1985 e 1995. Mais recentemente, com
a livre flutuação a partir de 1999, o câmbio chileno vem experimentando sucessivas
apreciações decorrentes da tentativa de atingir níveis inflacionários compatíveis com o
regime de metas de inflação.
O texto se divide em cinco partes, além desta introdução. A segunda parte aborda
a questão do populismo econômico, termo cunhado para descrever os recorrentes casos de
políticas econômicas irresponsáveis praticadas especialmente na América Latina nos ano s
70 e 80. Na seqüência, analisa-se a estratégia de estabilização de preços com ancoragem
cambial praticada na América Latina nos anos recentes. A quarta parte do capítulo
discute alguns trabalhos que tratam do impacto das sobrevalorizações cambiais em crises de
balanço de pagamentos. A seção final trata especificamente do caso chileno.