POLÍTICA CAMBIAL E MACROECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO
Paulo Gala
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archivos en pdf comprimidos ZIP. (167 pags., 1359 Kb) Com relação aos impactos do câmbio nas diversas variáveis macroeconômicas,
Corden (2002) identifica três abordagens: o “real targets approach”, o “nominal anchors
approach” e o “exchange rate stability approach”. No primeiro, que segue a tradição
keynesiana, a taxa de câmbio tem efeitos reais e pode afetar trajetórias de produto e emprego.
Corden mostra que numa abordagem desse tipo é razoável para o BC de um país manter
alguma autonomia na determinação do nível da taxa de câmbio nominal para poder
responder de forma mais eficiente aos diversos choques enfrentados pela economia. Um choque
negativo que reduza os termos de troca de um dado país, por exemplo, poderia ser
compensado com uma desvalorização do câmbio nominal, evitando que todo o custo do ajuste recaia
sobre preços e salários nominais com conseqüências negativas no emprego e nível renda.
Para o “nominal anchors approach”, ligado à tradição monetarista, o
comportamento da taxa de câmbio tem pouco efeito sobre variáveis reais como produto e emprego,
sendo uma de suas principais funções a de estabelecer uma âncora nominal para o sistema.
Uma grande quantidade de planos de estabilização, especialmente os latino-americanos
nos últimos anos, teve como inspiração essa abordagem. Nessa vertente teórica,
assume-se a hipótese de maior flexibilidade do salário nominal e, portanto, desvalorizações
do câmbio real são muito mais difíceis já que a resposta dos preços e salários é mais
elástica a mudanças na taxa de câmbio nominal. Por fim, Corden chama a atenção para a
abordagem da estabilidade da taxa de câmbio. O principal argumento por trás desta postura
é o de que a baixa volatilidade do câmbio real estimularia aumentos da corrente de comércio
exterior ao reduzir custos de transação. Essa abordagem tem muita influência na discussão de
áreas monetárias ótimas e no tema de unificações monetárias.
Inspirando-se na proposta de Corden (2002), Williamson (2003) define o
“development approach” para a política cambial presente em estratégias bem sucedidas de
crescimento econômico. Como já mencionamos na introdução do trabalho, ao evitar apreciações
excessivas do câmbio real via administração do câmbio nominal, as autoridades
monetárias estariam contribuindo para o desenvolvimento de uma indústria de manufaturas
voltada para a exportação, como nos conhecidos casos de “export-led growth”. Williamson
(2003) destaca o problema de “Dutch Disease” e o impacto negativo que as
sobrevalorizações têm no desenvolvimento de uma indústria de manufaturas tecnologicamente avançada e
provedora de externalidades positivas para o resto da economia.
O termo “Dutch Disease” foi cunhado para descrever os problemas que surgiram na
Holanda nos anos 60 e 70 a partir da descoberta de reservas de gás. O acréscimo
repentino de exportações desse produto causou mudanças importantes na economia holandesa.
A excessiva apreciação cambial decorrente da renda gerada pela nova descoberta
implicou numa retração do setor de bens comercializáveis manufatureiro holandês, que
acabou por gerar desemprego e menores taxas de crescimento. A situação econômica do país
piorou após a descoberta das reservas numa situação paradoxal que ficou conhecida como
o problema da “Dutch Disease” ou maldição dos recursos naturais. Muitos outros
casos desse tipo foram analisados na literatura. Alguns autores mostraram como a descoberta
de ouro na Austrália no século XIX causou problemas semelhantes para a indústria
australiana ou ainda como o caso do forte fluxo de ouro para a Espanha no século XVI devido às
descobertas na América foi também nocivo. Em termos mais gerais, a síndrome da
“Dutch Disease” está vinculada, paradoxalmente, aos efeitos negativos decorrentes das
rendas econômicas geradas por grandes descobertas ou abundância de recursos naturais,
tais como ouro, diamantes, petróleo e gás.
Com objetivo de contribuir para essa discussão, este capítulo estuda os efeitos
negativos de sobrevalorizações cambiais decorrentes da abundância de recursos naturais. A
análise se divide em quatro partes. A primeira trata dos argumentos teóricos presentes na
discussão sobre “Dutch Disease”. A segunda discute aspectos de um modelo que procura
incorporar dentro do instrumental de crescimento endógeno a hipótese de que câmbios reais
depreciados poderiam contribuir para maiores taxas de crescimento e aumentos de
bem estar. A terceira parte apresenta alguns estudos de caso presentes na literatura
empírica sobre o tema. A última discute a condução da política cambial na Indonésia nos
últimos 30 anos. Argumenta-se que a política cambial adotada por esse país nos anos 70 e
80, especialmente em resposta aos choques do petróleo, foi um dos principais
componentes de sua estratégia de sucesso pós-1970.
3. A DOENÇA HOLANDESA REVISITADA