POLÍTICA CAMBIAL E MACROECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO
Paulo Gala
Esta página muestra parte del texto pero sin formato.
bajarse los
archivos en pdf comprimidos ZIP. (167 pags., 1359 Kb)
Ao analisar o impacto da crise da dívida do início dos 80 na América Latina e
Ásia, Sachs (1985) conclui que o ajuste superior dos últimos se deveu primordialmente ao
manejo da política cambial e ao regime de comércio de suas economias. Com a exceção das
Filipinas, nenhum país do leste ou sudeste asiático passou por “default” da dívida externa,
situação bastante distinta da latino-americana. Sachs argumenta que essas duas regiões
guardavam três características comuns e uma distinta que seria responsável pelo seu
sucesso na transição da crise da dívida. Em termos de endividamento externo, os asiáticos
haviam praticamente contraído uma dívida equivalente a latino -americana. A Indonésia,
por exemplo, exibia um coeficiente de dívida externa sobre PIB de 28% em 1980, a
Coréia do Sul de 27,6% em 1981, ambos maiores do que o índice do Brasil de 26,1% para o
mesmo ano. Com relação ao choque nos termos de troca, a situação não foi diferente.
Sachs argumenta que alguns países asiáticos sofreram uma deterioração ainda maior do
que países da América Latina. Por fim, quanto à questão de tamanhos e formas de atuação do
estado nas duas regiões, destaca a semelhança do grau de intervenção dos governos no
processo de desenvolvimento de ambas.
A grande diferença entre as duas regiões estaria no regime de comércio e na
administração cambial. Enquanto a América Latina se concentrou num processo de substituição de
importações voltado para o mercado interno com forte viés a apreciações cambia
is, os países asiáticos perseguiram um programa de estímulo às exportações, com
práticas constantes de câmbio reais competitivos. A explicação para a superioridade do
ajuste asiático em relação a crise da dívida estaria, portanto, na existência de um
amplo e dinâmico setor de bens comercializáveis, capaz de gerar os recursos necessários
para pagar a dívida externa. A diferença entre essas duas regiões aparece claramente na
comparação da razão exportações sobre dívida externa no início dos 80. Indonésia, Coréia do
Sul, Malásia e Tailândia apresentavam uma média ponderada de 0,821 em 1981 contra uma média
de 2,715 para Argentina, Brasil, Chile, México, Peru e Venezuela no mesmo ano.
Sachs (1985, pg.541) identifica ainda uma relativa apreciação das moedas latino americanas em
relação às asiáticas para o período 1979-81 comparado a 1976-1978, com a exceção de
Brasil e Peru.
Em síntese a história aqui apresentada parece se resumir a uma tendência
recorrente de ciclos de apreciação na América Latina e depreciações na Ásia, especialmente
após o final dos anos 70. Enquanto os primeiros passaram por vários ciclos de
sobrevalorização cambial, com o já conhecido populismo econômico dos anos 70 e 80 e com os planos
de estabilização dos anos 90, os países asiáticos concentraram-se na sua estratégia
de “exportled growth” com estímulo permanente ao setor exportador, evitando fortes apreciações
cambiais. Fishlow e Gwin (1994, pg.7) destacam esse ponto ao discutir a
comparação feita pelo Banco Mundial (1993) entre o leste e sudeste asiático, América Latina e
África. Ao perseguir o controle fiscal e promoção de exportações, os asiáticos evitaram
muitos dos problemas latino-americanos. Enquanto os primeiros usaram o câmbio como
instrumento de populismo econômico e ferramenta de estabilização, os segundos parecem ter
usado o câmbio como estímulo ao setor exportador, mantendo-se fiéis a sua estratégia de
desenvolvimento. Nesse sentido, a estratégia de industrialização com promoção de
exportações (EPI) do leste e sudeste asiático provou-se muito mais eficaz do que
a estratégia de substituição de importações latino-americana (ISI).
As evidências aqui apresentadas apontam para uma recorrente subvalorização das
moedas asiáticas quando comparadas às latino-americanas, especialmente ao se levar em
consideração alguma medida de distorção cambial que considere variações de produtividade. Esses resultados estão em linha com a literatura empírica que
ressalta a importância de câmbios competitivos como uma das explicações para o relativo
sucesso dos países do sudeste asiático nos últimos 30 anos, notada mente quando
comparados ao desempenho decepcionante dos latino-americanos e africanos. Podem-se observar,
obviamente, variações dessa estratégia dentro de cada região. Na América Latina,
a mais notável exceção é a economia chilena que parece ter mudado para um padrão
asiático de administração cambial em meados dos 80. Na Ásia, a exceção fica por conta das
Filipinas,
o mais latino-americano dos países asiáticos. A guisa de conclusão, parece
razoável propor que emerge um padrão de condução de política cambial para cada uma dessas
regiões nesses últimos 30 anos que possivelmente contribuiu para o seu desempenho de
longo prazo (para uma análise das estratégias de desenvolvimento nas duas regiões, ver
Medeiros 1997 e Palma 2005, sobre políticas cambiais ver também Elson 2005).
Dois padrões