Daniela Cristina Silva Afonso*
Kathlleen Terra Angelim Figueiredo**
Lidiane Aparecida Marques***
Universidade Federal de Uberlândia. Brasil
daniafonso22@yahoo.com.br
RESUMO
O Ecoturismo é um segmento de turismo ambientalmente, socialmente e culturalmente responsável, por ser realizado de forma sustentável e consciente. Nesse sentido, inclui a participação de pessoas interessadas no contato com a natureza, despertando a atenção e a valorização dos locais visitados. Esse relato tem como propósito expor sobre o minicurso “Descobrindo as potencialidades do bioma do Cerrado através da atividade ecoturística” realizado para alunos de geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em 2015 no Parque Estadual do Pau-furado. A metodologia utilizada partiu-se de levantamentos bibliográficos e de trabalhos acadêmicos publicados (artigos, monografias, dentre outros), bem como em sites de pesquisa disponibilizados na internet referentes ao tema pesquisado. Por isso, procurou-se seguir uma abordagem de apresentação nesse estudo sobre as experiências resultadas no minicurso.
PALAVRAS-CHAVE:
Ecoturismo. Atividade Ecoturística. Minicurso. Natureza. Uberlândia.
ABSTRACT
Ecotourism is an environmentally, socially and culturally responsible segment of tourism, because it is carried out in a sustainable and conscious way. In this sense, it includes the participation of people interested in the contact with nature, arousing the attention and the valorization of the visited places. This report aims to explain the mini-course "Discovering the potential of the Cerrado biome through the ecotourism activity" carried out for geography students of the Federal University of Uberlândia (UFU) in 2015 in the Pau-Furado State Park. The methodology used was based on bibliographical surveys and published academic papers (articles, monographs, among others), as well as on research sites made available on the internet related to the researched topic. Therefore, we tried to follow a presentation approach in this study about the experiences resulting from the mini-course.
KEY WORDS:
Ecotourism. Ecotourism Activity. Minicourse. Nature. Uberlândia.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Daniela Cristina Silva Afonso, Kathlleen Terra Angelim Figueiredo y Lidiane Aparecida Marques (2018): “Vivências de atividade ecoturística com alunos de geografia em Uberlândia – MG”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 24 (junio / junho 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/turydes/24/vivencias-atividade-ecoturistica.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/turydes24vivencias-atividade-ecoturistica
1. INTRODUÇÃO
A Atividade Ecoturística consiste em uma maneira de conhecimento e envolvimento ambiental e social, pois favorece a relação homem e natureza em um mesmo espaço. Nesse caso, a tendência do turista é explorar conservando os recursos naturais, respeitando o meio ambiente, as comunidades locais através da interação educacional.
Dessa forma, essa atividade acontece em áreas protegidas, onde os recursos podem ser diversos como as vegetações e os animais, por isso o equilíbrio entre a manutenção do lugar e a sua exploração são fundamentais.
Esse relato tem como propósito expor sobre o minicurso “Descobrindo as potencialidades do bioma do Cerrado através da atividade ecoturística” realizado pela manhã do dia 8 de outubro de 2015 para alunos de geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), incluindo a visita ao Parque Estadual do Pau Furado (PEPF) em Uberlândia para a prática do Ecoturismo.
A Atividade Ecoturística no Parque Estadual do Pau-furado teve o intuito de proporcionar uma prática turística ambiental e sensorial, destacando a importância do bioma do Cerrado. Por isso integrou o uso dos sentidos (olfato, visão, audição e tato) para o contato com o solo, a fauna e flora, o ar, a água, ou seja, contribuindo com a interpretação da paisagem e estimulando a ação sustentável para garantir a preservação da área visitada.
2. ECOTURISMO: RESGASTE HISTÓRICO, DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA
O Ecoturismo surge no Brasil no final da década de 80 em meio às preocupações com as questões ambientais de sustentabilidade e a redução dos impactos ambientais, visando principalmente o aumento do conhecimento, a conscientização e a conservação do meio ambiente. Nesse sentido, ganhou destaque a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – a Rio/92.
Dessa maneira, o ecoturismo é conhecido como uma prática diferente da concepção do “turismo de massa”, por contadas agressões causadas pelos impactos na paisagem natural e cultural, enquanto uso do espaço turístico. Segundo Lima (2003),
As modalidades de turismo denominadas como alternativas surgiram a partir da década de 70 como uma opção ou uma reação ao turismo de massa, quando começam a se evidenciar os problemas por ele provocados e a serem discutidos novos tipos de turismo de menor impacto sobre o meio ambiente e as comunidades anfitriãs.
O turismo de massa é voltado para o período de férias, geralmente realizado através de ônibus fretado, em fins de semana ou por meio de roteiros programados, muito procurados e visitados, sendo de baixo custo para atender a classe média e baixa.
De acordo com o Ministério do Turismo (2009) o Ecoturismo é caracterizado enquanto o tripé de interpretação, conservação e sustentabilidade, pois se baseia no uso sustentável dos atrativos turísticos, proporcionando o equilíbrio entre a vivência e a manutenção do local explorado pela atividade. Assim, pode ser entendido como,
Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2009)
.
No entanto, devido à realização do Ecoturismo nas áreas naturais e no espaço rural, e por envolver os aspectos ambientais, ele tem relação direta e interligação com outros segmentos de turismo como o Turismo de Aventura, Turismo Rural, Turismo Cultural.
De maneira geral, o Ministério do Turismo (2009) identifica como serviços indispensáveis para a prática do Ecoturismo o Transporte (acesso, meios); a hospedagem; a alimentação; infraestrutura (água, coleta de lixo, busca e salvamento, médico hospitalar, e outros); seguro de vida; centro de informação; sinalização educativa e interpretativa; serviços de condução e guiamento (profissionais qualificados).
Ainda assim, reconhece o perfil do ecoturista com poder aquisitivo médio e alto; que viaja sozinho ou em pequenos grupos; com desejo de contribuir para a conservação do meio ambiente; escolaridade de nível superior; com faixa etária entre 25 e 50 anos. Contudo, nesses dois últimos é possível perceber que há exceções, no nível de escolaridade pode ser incluído os níveis fundamental, médio e técnico, já na faixa etária os jovens com idades aproximadamente entre 10 e 25 anos.
3. JUSTIFICATIVA: EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS
A escolha do segmento de Ecoturismo para a proposta de atividade deveu-se ao pré-conhecimento conceitual e prático adquirido em outros momentos na caminhada acadêmica, estimulando assim a retomada das experiências vivenciadas e adquiridas durante a análise bibliográfica, de visitas e viagens realizadas. Dentre as viagens, podemos destacar:
4. TIPOS DE VISITAÇÃO
É importante ressaltar que no contexto atual, ou seja, do século XXI o Brasil mantêm uma parcela significativa de biodiversidade representada pelos biomas da Amazônia, Mata Atlântica, Campos Sulinos, Caatinga, Pantanal e Cerrado, o que favorece a prática do Ecoturismo nas áreas onde eles estão inseridos, sendo elas específicas e organizadas, conforme legislações estabelecidas.
Dessa forma, existem as Unidades de Conservação que recebem visitantes, segundo regulamentos. Dentre elas estão presentes os Parques Nacionais, Estaduais e Municipais, esses que possibilitam o desenvolvimento da atividade ecoturística, recreativa e educativa. No caso de Uberlândia, a visita prevista no minicurso aconteceu em um Parque Estadual, sendo assim eles,
destinam à preservação integral de áreas naturais inalteradas ou pouco alteradas pela ação do homem, e oferecem relevante interesse do ponto de vista científico, cultural, cênico, educativo e recreativo, permitida a visitação pública, condicionada a restrições específicas. (LIMA, 2003).
No Ecoturismo podem ser praticadas duas especificidades de atividades, as de observações da fauna (aves, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes e outros); da flora (espécies nativas e exóticas e também plantas medicinais envolvendo usos tradicionais pelas comunidades locais); da formação geológica (origem, idade das rochas ou minerais presentes) e astronômica (estrelas, eclipses e outros).
A segunda atividade é a contemplação, assim incluindo o Mergulho Livre (no mar, rios, lagos, cavernas com o uso de equipamentos); visitas às cavernas (estudos de cavernas, chamada espeleologia); safáris fotográficos (para fotografar a paisagem a pé ou com a utilização de um meio de transporte); caminhadas (percursos a pé de um ou mais dias, geralmente com pernoite em acampamentos) e as trilhas interpretativas (podendo estar sinalizadas, com equipamentos de proteção, corrimões, pontes), conhecidas como
O conjunto de vias e percursos com função vivencial, com a apresentação de conhecimentos ecológicos e socioambientais da localidade e região. Podem ser autoguiadas por meio de sinalização e mapas ou percorridas com acompanhamento de profissionais, como Guias de Turismo e Condutores Ambientais Locais. (FERREIRA, COUTINHO, 2002 apud MINISTÉRIO DO TURISMO, 2009).
Nesse aspecto, com relação à Trilha do Angico onde ocorreu a prática ecoturística, o nome deve-se a sua presença no interior do parque, com extensão de 1.150 metros; sendo o tempo de caminhada aproximada de 30 minutos para ida (dependendo do grau de dificuldade e do itinerário). Para o seu percurso estiveram disponíveis as sinalizações explicativas com placas sinalizadas e educativas referentes ao ambiente de vegetações e animais proporcionado, sob a orientação de uma monitora do parque e de nós graduandas de geografia da UFU.
Inicialmente foram passadas informações relevantes sobre o cerrado e a criação do parque, os alunos acompanharam através de um roteiro prático para anotações de horários e coordenadas geográficas nas paradas, além da visibilidade atmosférica (temperatura, vento) e suas percepções pessoais, incluindo o solo observado, os cheiros ou odores, sons e ruídos.
Além disso, as outras atividades realizadas foram a observação da fauna e flora do cerrado, considerando as espécies encontradas na trilha (como um bosque de aroeiras), caminhada com Safári Fotográfico, coleta de resíduos sólidos e interpretação da paisagem através do uso dos sentidos (olfato, visão, audição e tato), onde os olhos dos alunos foram vendados.
5. PARQUE ESTADUAL DO PAU FURADO
O Parque Estadual do Pau Furado, criado em 27 de Janeiro de 2007, localiza-se nos municípios de Uberlândia e Araguari. Primeira unidade de conservação de proteção integral do Triângulo Mineiro, instituído como medida compensatória, ao processo de construção da Usina Capim Branco.
O nome curioso “Pau Furado”, nos remete a árvore copaíba, plantada à margem do Rio Araguari, utilizada como referência para travessia dos tropeiros entre os estados de Minas Gerais e Goiás. Tal espécie era utilizada como fonte de óleo para lubrificar as roldanas dos carros de boi. Havia um grande furo na árvore utilizada para a coleta do óleo. Com o decorrer cronológico, foi construída uma ponte ligando os dois municípios.
O parque é uma área de proteção integral, legalmente estabelecida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC- lei nº 9925/00).
Art. 1º Esta lei institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. (BRASIL, LEI Nº 9.985, de Julho de 2000).
Atualmente o Parque encontra-se sob a responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF), órgão responsável pelas Unidades de Conservação (UCs) Estaduais de Minas Gerais. Conta com remanescente importante do Bioma Cerrado e uma área de 2.186,849 ha, o que equivale a 21.868.490 m², apresentando inúmeros diferentes similitudes, dos quais podemos destacar o Cerradão; Cerrado Sentido Restrito, Floresta Ciliar, Floresta de Galeria, Floresta Estacional semidecidual. Sua flora é constituída por aproximadamente 700 espécies vegetais. A fauna é de aproximadamente 1300 espécies, dentre mamíferos, microfauna e macrofauna, já aherpetofauna (répteis e anfíbios) é bem variada e podemos evidenciar a presença marcante de variedades específicas de serpentes.
Ainda assim, o parque oferece para aos visitantes trilhas ecológicas, que podem ser utilizadas para pesquisas científicas; educação ambiental; piqueniques, caminhada ou cicloturismo.
6. CARACTERIZAÇÃO: BIOMA CERRADO
Localizado no Planalto Central do Brasil, o Cerrado é o segundo maior domínio morfoclimático do Brasil, possuindo uma área superior a dois milhões de quilômetros quadrados, equivalente a 23% do território brasileiro.
O Domínio dos Cerrados apresenta duas variações paisagísticas observáveis (Cerrado e Cerradão), pertinentes aos interflúvios e suaves vertentes de acordo com as diferenciações dos planaltos, considerando as particularidades de cada região.
Em meio aos espaços das cabeceiras dendritificadas das sub-bacias hidrográficas, visualizamos uma vegetação ciliar, linear. Florestas-galeria ocupam apenas setores pontuais, nos centros de inundação, favorecendo a formação de um corredor florestal, sendo o mesmo reconhecido popularmente por veredas.
A diferença fenotípica da Vegetação do Cerrado em detrimento às demais, deve-se ao processo de evolução associada às condições climáticas, pedológicas e a sazonalidade.
Nesse sentido, o clima no Cerrado comporta de cinco a seis meses de períodos de seca, em oposição a cinco a seis meses de períodos relativamente chuvosos. Com temperatura mínima de 20º C a 22º C até um máximo de 24º C a 26º C. Resultado da combinação de fatores físicos, ecológicos e bióticos que predomina, é na aparência constante e homogênea em toda extensão do espaço. Tal constância favorece a apreensão de uma paisagem monótona.
Dessa maneira, o Domínio dos Cerrados possui drenagens perenes para os cursos d’água “coadjuvante e antagonista”. Nos períodos de redução pluviométrica, marcado pelo período de estiagem do inverno, podemos observar o desaparecimento temporário de pequenos cursos d’água. No período de estiagem, podemos observar canais de escamento laterais aos Chapadões. O lençol freático é “coordenado”, conforme as variações das estações do ano, porém sua função primordial é manter a vivacidade da vegetação lenhosa do Cerrado.
Composto por uma base hidrográfica diferenciada, graças à especificidade do relevo Planalto, que proporciona a formação de rios caudalosos e de forte correnteza, sob uma base pedológica denominada Basalto. A base Hidrográfica do Cerrado Brasileiro é composta pelas seguintes bacias hidrográficas:
De maneira geral, os diferenciais primordiais do Domínio dos Cerrados pode ser observado no processo de decomposição química, relativamente profunda das rochas; predomínio de latossolos; convexização ao nível topográfico; de grandes espaços, padrões de drenagem que variam ligeiramente.
No entanto, é um Domínio de Formação recente, exposto a um processo de evolução gradativo, porém contínuo, é uma potencialidade natural, que requer um estudo aprofundado e políticas de preservação eficazes, devida a sua exuberância diversificada na flora e fauna em processo de estruturação.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira geral, a prática ecoturística possibilitou um momento enriquecedor de interação e experiências criativas e inovadas, com isso a relação homem e natureza aconteceram de maneira diferente e compartilhada.
Assim, o resultado da dinâmica, por exemplo, de olhos vendados em duplas foi positivo. Durante todo o caminhar da Trilha escolhida os alunos realmente souberam apreciar o momento, observando e sentido as diferentes sensações da área visitada. Alguns participantes relataram logo no final do minicurso a grande importância da preservação da natureza, um ambiente rico de espécies da fauna e flora diferenciadas do Cerrado, e também as dificuldades encontradas quando se submeteram à vendar os olhos, constatando que vai muito além do simples olhar.
Dessa forma, as pessoas podem apenas olhar o local e vêem sua incrível beleza, mas infelizmente não conseguem sentir através do cheiro, dos sons ou simplesmente suas texturas. E foi justamente isso, que cada um deles pôde vivenciar, onde literalmente adentraram na natureza. Com a venda nos olhos, os alunos passaram a ter o contato com a textura das folhas secas, as cascas de árvores, o solo.
Portanto, são vivências únicas que passam despercebidos por algumas pessoas, porém para outras, é preciso se adaptar para sentir o ambiente como ele verdadeiramente é. Nesse sentido, é assim para uma pessoa com deficiência visual ou auditiva, que apuram muito mais alguns sentidos para não perder as belas sensações da natureza.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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