Revista: TURYDES
Turismo y Desarrollo local sostenible / ISSN: 1988-5261


PATRIMÓNIO MICOLÓGICO E MICOTURISMO

Autores e infomación del artículo

Catarina Lino*

Paulo Carvalho**

Universidade de Coimbra. Portugal

lino_catarina91@hotmail.com


Resumo
Nos dias de hoje assiste-se a uma tendência de utilização dos recursos patrimoniais, de forma cada vez mais inovadora, e à sua consequente ligação ao lazer, designadamente a modalidades alternativas de turismo, que podem abrir caminhos inovadores e sustentados para o desenvolvimento regional e local.
Neste contexto os cogumelos silvestres, enquanto recursos endógenos de determinadas regiões (essencialmente rurais), podem ser analisados na perspetiva de um novo tipo de património: o património micológico, e como uma oportunidade no universo dos novos produtos turísticos: o micoturismo ou turismo micológico.
Após uma revisão de literatura, com o intuito de explicitar o suporte teórico-conceptual da reflexão, o artigo enfatiza as principais atividades e entidades relacionadas com a micologia e o micoturismo em Portugal.
Palavras-chave: Cogumelos Silvestres. Micologia. Património Micológico. Micoturismo.

Abstract
Nowadays there is a tendency to use heritage resources, increasingly innovative, and its consequent leisure connection of interest such as the alternative modes of tourism which can open innovative and sustained ways for regional and local development. 
In this context the wild mushrooms, while endogenous resources in certain regions (essentially), can be analyzed from the perspective of a new type of heritage: the mycological heritage, and as an opportunity in the universe of the new tourism products: the mycotourism or mycological tourism.
After a review of the literature, in order to clarify the theoretical support of reflection, the article emphasizes the main activities and related entities with the mycology and the mycotourism in Portugal.
            Key-words: Wild Mushrooms. Mycology. Mycological Heritage. Mycological Tourism.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Catarina Lino y Paulo Carvalho (2018): “Património micológico e micoturismo”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 24 (junio / junho 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/turydes/24/patrimonio-micologico-micoturismo.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/turydes24patrimonio-micologico-micoturismo


1. Cogumelos silvestres e património micológico
1.1 Potencialidades e diversos usos
Em muitos territórios rurais, a colheita de cogumelos silvestres é uma atividade com larga tradição, que se repete todos os anos, em diferentes estações conforme os vários locais em que brotam, o que representa uma mais-valia (ou complemento) quer na esfera alimentar, quer no contexto económico.
Nas regiões temperadas as épocas mais favoráveis à frutificação dos fungos é o outono e a primavera (Brundett et al., 1996 citados por Castro, 2009). Estes ocorrem normalmente em ambientes florestais ou agroflorestais, com prevalência em habitats como os azinhais/sobreirais, os carvalhais/soutos ou os pinheiros/eucaliptais, entre outros. No caso de Portugal, as regiões de Trás-os-Montes, Beira Litoral, Ribatejo, Oeste e Alentejo são as mais representativas na produção de cogumelos o que resulta em importantes contributos para a economia local.
A micologia ou “micetologia” é a ciência que estuda os fungos e este termo provém da junção do vocábulo grego “mikes” (cogumelo), com “logos” (estudo). Os fungos são organismos heterotróficos de diversas dimensões e que desempenham diferentes funções em áreas tão distintas como a agricultura, a indústria, a alimentação e a medicina.
Os cogumelos (figuras 1 e 2) correspondem à parte frutificada (visível) de um determinado tipo de fungo (oculto), isto é “são estruturas macroscópicas produzidas por alguns fungos durante a reprodução sexuada, e que têm uma função semelhante aos frutos, ou seja, a produção, protecção e dispersão dos esporos”, como refere o site do projeto “Vem Conhecer os Cogumelos – Uma Riqueza do Alentejo”, do Departamento de Biologia da Universidade de Évora (http://info.uevora.pt/cogumelo).
Regra geral aproveitam condições favoráveis de humidade do solo (em períodos de elevada pluviosidade) e temperatura para o seu desenvolvimento, o que acontece em especial no outono e na primavera, e apresentam uma diversidade de formas, cores e tamanhos grandiosa, o que lhes confere um valor estético inegável e permitiu a construção de todo um imaginário à volta deles (histórias, lendas relacionadas com duendes, etc.), para além do valor comercial associado a determinadas espécies.

Quando falamos em património micológico, referimo-nos a recursos naturais endógenos de determinadas áreas, que integram o património natural biótico. É evidente um crescente interesse por parte das populações neste recurso e um reconhecimento da “raridade” e “excecionalidade” das suas caraterísticas, bem como das inúmeras utilizações do mesmo. São vários os motivos que justificam a proteção dos fungos, desde a sua importância ecológica (decompositores de matéria orgânica, relações de simbiose com plantas, parasitas, etc.), ao seu funcioidnto como bioindicadores do estado dos povoamentos florestais, ao seu valor recreativo e educativo, ao seu valor estético, à sua importância política e ao seu valor cultural (Horcajada, 2000 citado por Castro, 2009).
Com efeito, os cogumelos são elementos muito importantes na preservação dos habitats e no equilíbrio dos ecossistemas, da qual fazem parte. De entre as suas funções principais destacam-se as relações que estabelecem com os outros seres, nomeadamente plantas, garantindo-lhes a sua sobrevivência e a decomposição da matéria orgânica. Por outro lado, a sua apanha pode constituir um negócio, podendo depois ser comercializados 1, ou serem utilizados para consumo próprio. Muitas espécies apresentam propriedades terapêuticas comprovadas por estudos científicos (sendo que algumas estão a ser utilizadas, inclusive, no tratamento do cancro). São ainda utilizados na farmacologia e recentemente constituem objeto privilegiado na inovação de pratos gastronómicos e um novo produto no contexto do turismo rural e de natureza (micoturismo), com especial interesse educativo (Costa, 2010).
A expansão das atividades relacionadas com a exploração de cogumelos silvestres tem vindo a provocar e gerar uma afluência indiscriminada de pessoas aos espaços florestais onde estes recursos se encontram presentes (DGAR, s.n.t). A acrescentar a isto, verifica-se muitas vezes a “invasão” de propriedades privadas e utilização de processos de colheita nem sempre adequados (a recolha é feita de forma aleatória e desregrada) e que podem ameaçar a sobrevivência deste recurso e o equilíbrio ecológico dos habitats, assim como comprometer a segurança alimentar dos consumidores, uma vez que nem todos os cogumelos são comestíveis e fáceis de identificar.  Tal evidência tem vindo a despertar as populações para uma realidade que se prende com a necessidade de conservação dos espaços micológicos e explica também as iniciativas que remetem para a preservação e exploração sustentável deste recurso, as quais começam agora a dar os primeiros passos.

1.2 Conservação e preservação
Existem mais de 5000 espécies de macrofungos na Europa, sendo que muitas já se encontram extintas em mais do que um país, e cerca de 30% a 50% estão em risco de extinção. Alguns países europeus têm uma longa e contínua tradição micológica científica: Alemanha, França, Suécia e Reino Unido são os exemplos mais relevantes. Outros apresentam um interesse mais recente, embora forte, como é o caso da Noruega, Polónia e Espanha. Já Portugal, a Albânia e a Grécia apresentam um conhecimento científico muito recente e, por isso, algo limitado (Senn-Irlet et al., 2007).
O Conselho Europeu para a Conservação de Fungos (ECCF) foi fundado em 1985 e constitui uma rede de micologistas em toda a Europa interessada e ativa na conservação de fungos. A maioria dos países europeus tem representantes no ECCF e há geralmente pelo menos uma reunião anual. A Associação Europeia de Micologia (EMA) é uma organização não-goveridntal fundada em 2003 para promover atividades micológicas em toda a Europa e tem como órgão de conservação o ECCF. Em 2003, o ECCF elaborou uma lista com 33 macrofungos para ser incluída na Convenção de Berna2 . Em 2007 encontrava-se a desenvolver um conjunto de mapas de distribuição de 50 espécies europeias selecionadas, bem como uma Lista Vermelha Europeia de macrofungos (Senn-Irlet et al., 2007).
A constituição de uma área protegida, num determinado território, pode revelar-se preponderante na preservação e conservação de determinas espécies, na medida em que “estabelece normas quanto às relações entre as atividades que têm lugar nesse território e o conjunto das características que a área protegida visa conservar” (Menezes, 2005, cit. in Castro, 2009). Existem alguns países que começam a selecionar territórios devido, aos seus valores micológicos (Bélgica, Estónia, Alemanha, Roménia, Suíça, Reino Unido e Escócia), como referem Senn-Irlet et al. (2007).
Em relação à recolha de cogumelos, sabe-se que existem países onde este tipo de prática é já regulamentada desde há alguns anos, como é o caso da apanha de Trufas, em Itália. Em Portugal não existia legislação que regulamentasse a apanha de cogumelos silvestres, até há bem pouco tempo. Apenas o código civil mencionava a proibição da colheita de cogumelos silvestres em propriedades privadas e em áreas naturais. Em 2009 é editado o novo código florestal que engloba uma série de medidas com esse fim, e de entre as mesmas salienta-se o artigo 64º, o qual determina que “(…) nos espaços florestais, a colheita e transporte de cogumelos silvestres para consumo humano, bem como o armazeidnto temporário até sua eventual concentração para processamento ou comercialização, apenas pode ser efetuada por coletores habilitados com licença de coletor emitida pela Autoridade Florestal Nacional (AFN)” (Castro, 2009).
A preocupação oficial no que diz respeito às normas de colheita, transporte e consumo deste produto, conduziu à elaboração do “Manual de Boas Práticas de Colheita e Consumo de Cogumelos Silvestres” (figura 3) e do “Guia de Coletor de Cogumelos para os Cogumelos  Silvestres Comestíveis com Interesse Comercial em Portugal” 3 (figura 4), pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e a  Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) no âmbito do Projeto “Promover os Recursos Micológicos”. Ambas as publicações foram apoiadas pelo Programa para a Rede Rural Nacional e editadas em 2013.

As Associações Micológicas desempenham um papel fundamental na conservação dos recursos micológicos (Minter, 2007, citado por Castro, 2010). Estas entidades têm colaborado na elaboração de listas de espécies perigosas, promovido e sensibilizado as entidades goveridntais e populações para este recurso florestal. Desmistificar alguns medos e práticas erróneas por parte da comunidade e promover conhecimentos capazes de garantir segurança na identificação das espécies são algumas das suas principais atividades. O contributo de algumas associações em particular, foi preponderante na compilação e organização de informação a integrar os manuais supracitados e no desenvolvimento das atividades de ócio ligadas aos cogumelos silvestres, com caráter mormente local (micoturismo).
Existem, também em Portugal, algumas unidades de produção de cogumelos silvestres e algumas empresas específicas neste setor (como, por exemplo, a Eurofunghi, na Guarda). Estas exportam, importam e transformam os cogumelos. Ainda assim, a maioria dos cogumelos apanhados em Portugal, é exportado para Espanha, França e Itália, onde são vendidos a preços muito superiores que aqueles que se pagam aos coletores locais.  
Portugal apresenta um elevado património micológico, quer pela sua elevada diversidade, quer pela sua produtividade, patenteando, as suas potencialidades no que toca sector emergente do micoturismo. Este dá os seus primeiros passos, como um novo nicho de mercado, que combina a prática de uma atividade recreativa e de lazer e conservação dos recursos micológicos em meios predominantemente rurais.

2. Micoturismo
O turismo e mais especificamente os novos produtos com o objetivo de atrair segmentos específicos da procura turística, aliados a uma maior exigência no que concerne ao planeamento e sustentabilidade da atividade turística, surgem como uma oportunidade de revitalizar territórios, designadamente rurais, melhorar a qualidade de vida das populações, e valorizar os seus recursos mais importantes enquanto património natural, cultural e paisagístico (Carvalho, 2012).
Como refere Castro (2009, citando Moreno-Arroyo et al., 2004), “os macrofungos são organismos que pelas suas características visuais, etnomicológicas, místicas, ecológicas, farmacológicas e gastronómicas, se tornam um recurso passível de ser explorado pelo setor turístico”. Ainda segundo os mesmos autores, citados por Castro (2009), “o turismo micológico é uma atividade compatível com outras tipologias turísticas, permite a organização de atividades de natureza, contribui para a diminuição dos riscos de intoxicação, evita a sobrexploração e ajuda na conservação dos recursos micológicos”.
Esta nova tipologia turística pretende ser um modelo que garanta o aproveitamento sustentável do recurso micológico, que impulsione a criação de riqueza e emprego e que contribua para a consolidação de uma nova imagem do património natural. Pois, de facto, o micoturismo ou turismo micológico, como já referido anteriormente, apresenta ligações ao turismo rural e ao turismo de natureza, assim como evidencia uma relação próxima aos contextos rurais (com ou sem estatutos de proteção patrimonial).
De entre as atividades principais abrangidas pelo turismo micológico evidenciam-se: a degustação gastronómica de determinadas espécies de cogumelos e em restaurantes pré-determinados; os passeios com ou sem guia pelo bosque, quer seja apenas para admirar, aprender a colher, fotografar ou interpretar; a criação de infraestruturas como são os jardins micológicos, museus, parques biológicos e centros interpretativos com elevado valor educativo/cultural, unidades de alojamento, restaurantes; a compra do próprio produto fresco em centros de comercialização próprios, entre outras.
Estas atividades são integradas em rotas ou circuitos específicos, bem planeadas e estruturadas por entidades públicas (em particular as câmaras municipais) e associações micológicas. Salienta-se a importância das rotas guiadas e dos passeios ou percursos pedestres, como instrumentos fundamentais para a interpretação do elemento natural e dar sentido ao que se vê ou explora, tornando o trilho/percurso num verdadeiro laboratório de experiências, como acontece, por exemplo, na “Rota dos Cogumelos”, em Macedo de Cavaleiros (figura 5). No mesmo sentido, importa referir os passeios micológicos, os quais decorrem em várias regiões (figuras 6 e 7).

A acrescentar ao conjunto de atividades já mencionadas, no contexto do micoturismo, enumeram-se ainda: os workshops de identificação, produção, biorremediação, de sanidade florestal, workshops gastronómicos, feiras e festivais micológicos, artesanato micológico, encontros científicos, entre outros. A título de exemplo podemos referir: a Festa dos Cogumelos (Míscaro Amarelo de Mira – figura 8), que decorreu em Mira, de 6 a 8 de dezembro de 2013, com percursos de identificação e colheita, oficinas de confecção e degustação de cogumelos, e palestras ou o evento “Míscaros - Festival do Cogumelo”, cuja 7ª edição decorreu em Alcaide, no Fundão, de 13 a 15 de novembro de 2015, o qual incluiu tasquinhas, artesanato, concertos, teatro de rua, palestras, passeios micológicos pela Serra da Gardunha, entre outros. No que diz respeito aos eventos científicos e técnicos, destacamos o “XVII Congresso Europeu de Micologistas (European Mycological Association Activities 2015)”, que decorreu de 21 a 25 de setembro de 2015, em Portugal, na ilha da Madeira; as “Jornadas da Confederação Europeia de Micologia Mediterrânica”, desde 1993, tendo a Associação Micológica “A Pantorra” (com sede em Mogadouro), organizado a XXIII edição deste evento, em Fornos de Algodres, entre os dias 8 e 13 de novembro de 2015, o qual envolveu também passeios pedestres, com recolha e tratamento dos cogumelos selvagens, degustação e identificação de espécies de cogumelos silvestres; o “Encontro de Micoturismo” (figura 9) que teve lugar em Alfândega da Fé, a 26 de abril de 2015, e que discutiu o papel deste segmento para o desenvolvimento rural e valorização dos recursos micológicos, as rotas micológicas em Portugal e na região de Castela-Leão; ou o “XIX Encontro Micológico Transmontano” (figura 10), realizado em Mogadouro, nos dias 10, 11 e 12 de novembro de 2017.

Pode dizer-se que o micoturismo promove a conservação do recurso micológico (ajudando na criação de listas de espécies, zonas de proteção de fungos, monitorização, legislação sobre recolha de cogumelos silvestres, código de conduta do apanhador, educação ambiental, etc.) Contribui para o bem-estar da população, através da criação de empregos, diversificação da economia familiar e ainda inclui aprendizagem ou interpretação micológica, propondo-se a aliar a experiência turística, a proteção e conservação do recurso micológico e o envolvimento da população local, considerando o desenvolvimento local sustentável. Apesar do seu caráter sazonal existe um conjunto de possibilidades de desenvolvimento territorial, promovendo e ajudando a construir uma imagem renovada das regiões, baseada na qualidade e diversidade (Madrazo et al., 2012).

Segundo Martínez (2011), o perfil do turista micológico é algo que não está ainda muito estudado. Não obstante, com base na análise efetuada em 2006 ao projeto MYAS, (aplicado na província de Soria, Espanha) sabe-se que é um turista disposto a pagar pela qualidade, pois tem um poder de compra mais elevado e está apto a gastar mais em hotéis, restaurantes e estabelecimentos comerciais relacionados com a temática e iniciativas pontuais (como é o caso das jornadas gastronómicas micológicas).
Na secção seguinte apresentam-se alguns exemplos desta recente patrimonialização e turistificação dos recursos micológicos. O primeiro foi desenvolvido em Espanha e os restantes são iniciativas portuguesas e em colaboração com outros países europeus.

3. Exemplos de boas práticas
Um dos primeiros projetos europeus, quiçá o pioneiro da península ibérica e aquele que permitiu a Espanha desenvolver um modelo de gestão no âmbito da valorização dos recursos micológicos, numa perspetiva integrativa do turismo rural, foi o projeto MYAS. Este foi lançado em 1996 e visava a construção de um modelo para a gestão sustentável dos recursos micológicos em Espanha, mais precisamente na região de Soria. O projeto MYAS evoluiu de forma faseada e compreendeu cerca de cinco etapas sucessivas. A primeira compreendeu o período de 1996-2001, seguindo-se o de 2001-2004; 2004-2006; 2006-2007 e 2008-2012. O projeto MYAS, bem como o projeto que se segue, foram ambos desenvolvidos ao abrigo do financiamento de programas europeus como é o caso do LIFE, LEADER+, PRODER e Leonardo Da Vinci (Martínez et al., 2011). Além da enorme variedade de infraestruturas construídas, como é o caso dos restaurantes, unidades de alojamento rural, salienta-se a adaptação dos seus restaurantes e dos seus pratos confecionados; a criação de um sistema geográfico informático, denominadado MicodataGIS-europe. Este é um serviço inovador de informação micológica destinado a colecionadores e amantes da cultura micológica na Europa. Fornece informações sobre a produção micológica, recursos e serviços, a rede de parques micológicos, sociedades micológicas, eventos culturais relacionados com a micologia e informações sobre as áreas onde a recoleção requer uma autorização.
No que concerne a Portugal continental, no Baixo Alentejo, a Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM) apostou na estruturação de um circuito organizado de comercialização para os recursos micológicos. Foram dinamizadas ações de divulgação dos recursos, ações de concentração da oferta, ações de formação para apanhadores e ainda foi elaborado um protocolo de certificação de qualidade, enquadradas pelo projeto “Estratégia para o Desenvolvimento e Promoção da Fileira dos Recursos Micológicos do Baixo Alentejo”, financiado pelo INALENTEJO 2007/2013. O objetivo é dar a conhecer duas espécies, a silarca (Amanita ponderosa) e a trufa de Mértola (Choiromyces gangliformis) e continuar com ações de gestão nas propriedades, formação para gestores e apanhadores, realização de materiais promocionais, entre outros (ADPM).
Ainda no Alentejo, conforme já referido, o projeto “Vem Conhecer os Cogumelos – Uma Riqueza do Alentejo”, alicerçado no Departamento de Biologia da Universidade de Évora, oferece ao público em geral um conjunto de informações práticas sobre o conhecimento deste tipo de fungo (o que são, como se alimentam, como se identificam, onde se encontram, usos diversos, como se protegem, bibliografia), assim como promove a divulgação de ações desenvolvidas com as escolas da região, eventos científicos, receitas gastronómicas, espécies mais comuns, entre outras informações.
O projeto “Promover os Recursos Micológicos”, referido no ponto anterior, é uma parceria ICNF e DGADR  e conta com a colaboração de várias entidades ligadas aos recursos micológicos. Entre outros resultados, o projeto produziu o “Manual de Boas Práticas de Consumo e Colheita de Cogumelos Silvestres”  e o “Guia do Coletor de Cogumelos”, no âmbito da candidatura aprovada no Programa para a Rede Rural Nacional (PRRN). Foram ainda apresentadas propostas para cursos de formação dirigidos a formadores, técnicos e coletores/concentradores. Na sequência dos esforços efetuados e da colaboração recebida, foi possível financiar pelo PRODER as ações de formação destinadas a formadores e técnicos de micologia: “Curso de Formadores em Micologia” (66 h), o “Curso de Técnicos em Micologia” (61 h), “Colheita de cogumelos silvestres” (25 h) e “Produção de cogumelos comestíveis” (25 h) (DGAR).
Em Trás-os-Montes, mais precisamente em Vinhais (Bragança) foi inaugurado recentemente, um Centro Micológico4 (figuras 11 e 12) com exposição, informação, equipamento interativo e um espaço dedicado à confeção gastronómica dos diferentes fungos que fazem parte da culinária regional. Este centro localiza-se no Parque Biológico de Vinhais, uma réplica da fauna e da flora do Parque Natural de Montesinho. O parque biológico tem a valência de parque de campismo, com quatro bungalows; a hospedaria do parque, uma casa setecentista recuperada para albergar visitantes; e a casa do guarda, que curiosamente não tinha a finalidade de receber turistas, mas foi adaptada para tal, depois dos vários pedidos para ali pernoitarem (Fillol, 2013).

O projeto MYCOSILVA é uma iniciativa de carácter técnico-científico, cujo objetivo é o de promover, no Espaço SUDOE5 , uma gestão florestal multifuncional e sustentável que integre e valorize as funções ecológicas e socioeconómicas dos Cogumelos Silvestres Comestíveis (CSC). Lançado em 2009, este projeto visava criar uma rede de cooperação entre os distintos agentes envolvidos, a fim de servir de apoio técnico à silvicultura fúngica, no território abrangido. Esta rede conta com a participação de alguns membros e associados portugueses, como o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), a Associação para o Desenvolvimento Sustentável e Promoção de Emprego Rural e a Associação Florestal da Terra Fria Transmontana (ARBOREA). Apesar de voltado para a atividade micológica, incidia sobretudo na silvicultura micofúngica e não tanto, na vertente turística (Micosylva – Instituto Europeo de Micologia).
Outra iniciativa na extensão da valorização e mais precisamente, divulgação deste património micológico, prende-se com a recente produção de cogumelos biológicos nas Grutas de Mira de Aire. A ideia é retirar proveito económico da comercialização dos cogumelos e ao mesmo tempo constituir um novo atrativo às grutas, pelo caráter inovador e único subjacente (Café Portugal, 2013).
Em Castanheira de Pera, no setor meridional da Serra da Lousã (Cordilheira Central), a Prazilândia (empresa municipal de turismo e ambiente), através da iniciativa do engenheiro florestal, micólogo e guia da natureza José Pais, promoveu diversas iniciativas no âmbito do conhecimento e valorização dos cogumelos silvestres, designadamente passeios (figura 13), identificação, degustação e confeção.

No que diz respeito a iniciativas futuras de carácter predominantemente lúdico e educativo, a Aguiarfloresta em parceria com a Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, pretende criar também, no atual parque florestal de Tinhela, um Parque Micológico que integre distintas áreas da micologia, com um centro de interpretação, viveiros florestais e produção de cogumelos saprófitas. Vila Pouca de Aguiar é uma região em que a apanha de cogumelos tem uma tradição muito enraizada e por isso, pretende com a instalação deste parque, “melhorar o conhecimento local acerca dos cogumelos, as práticas de apanha e conservação, criar condições para acrescentar valor aos cogumelos que hoje em dia já são comercializados e introduzir novas técnicas produtivas de plantas e de cogumelos que permitam reduzir a dependência das condições atmosféricas” (Fillol, 2013; AguiarFloresta, 2016).

4. Notas Finais
Em jeito de considerações finais, pode afirmar-se que os recursos micológicos são, cada vez mais, alvo de valorização patrimonial em território nacional. Várias são as regiões que se encontram a desenvolver pequeno projetos em Portugal (Alentejo, Terra Fria Transmontana, Beira Interior Norte, entre outras), que se tratam sobretudo de pequenas iniciativas em locais rurais, promovidas por associações micológicas. No entanto, projetos como “Promover os Recursos Micológicos”, da responsabilidade e da parceria da DGADR e da AFN, começam a revelar uma preocupação mais global a nível de das regiões em território nacional continental, onde os cogumelos silvestres abundam. As preocupações mais evidentes prendem-se com as formas de promover e preservar este recurso e vão desde a criação de guias de boas práticas e colheita de cogumelos às ações de formação no âmbito da identificação de cogumelos comestíveis, da micosilvicultura, entre outras.
Portugal segue agora o exemplo da Espanha e de outros países europeus, que se revelaram vanguardistas, em matéria de preservação e utilização multidisciplinar deste “novo” património natural/cultural. Uma das formas mais inovadoras deste recurso prende-se com as práticas de lazer que a ele podem estar associados e assim surge o turismo micológico. Este segmento turístico, que pode incluir-se no turismo rural e de natureza, revela grandes potencialidades no que concerne ao desenvolvimento sustentável das regiões.
Na atualidade em Portugal ainda não existem dados que permitam verificar a afluência de turistas aos locais em questão (pessoas que se deslocam e inclusive pernoitam no local e consomem o produto turístico), mas sabe-se que as escolas constituem um público-alvo de grande relevância. A institucionalização de passeios pedestres e rotas de cogumelos, a organização de eventos gastronómicos, e mais recentemente a criação de áreas especializadas de exposição e interpretação micológica (como os centros micológicos) em áreas naturais e parques biológicos, são algumas das formas de patrimonialização e turistificação do recurso, mais recorrentes. A maioria das ações de promoção, conservação e valorização conservação micológica estão integradas em projetos cofinanciados por fundos comunitários europeus, através de programas como, por exemplo, o LEADER II, o LEADER + ou o INTERREG SUDOE.
No futuro espera-se que este novo segmento possa crescer no nosso país e criar condições para atrair cada vez mais visitantes/participantes. Para isso, é necessário promover uma política de gestão adequada dos territórios e dos seus recursos e que ações empreendedoras por parte dos locais, bem como candidaturas a programas europeus de financiamento, sejam apoiadas pelas autarquias locais. A criação de uma rede nacional de Regiões Micológicas poderia funcionar também, como o apoio da Rede Nacional Rural, como um bom meio de gestão e partilha de experiências inter-regionais.

Bibliografia e Fontes

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*Mestre em Lazer, Património e Desenvolvimento (Universidade de Coimbra); lino_catarina91@hotmail.com .
** Doutorado em Geografia. CEGOT (Universidade de Coimbra); paulo.carvalho@fl.uc.pt .
1              Os cogumelos apresentam um valor económico bastante elevado. Exemplo disso é a Trufa, cujo preço pode atingir os 7000€ o kg (Calvão, 2007).
2              Os objetivos desta Convenção (que data de 1979) são conservar a flora e a fauna selvagens e os seus habitats naturais na Europa, com especial atenção às espécies e aos habitats cuja conservação tem subjacente a necessidade de cooperação entre diversos estados, e promover essa cooperação; é atribuído uma ênfase particular às espécies em perigo ou vulneráveis, incluindo as espécies migratórias.
3              Esta publicação apresenta um índice visual de cogumelos, agrupados “de acordo com um critério baseado em características morfológicas evidentes à primeira vista” (ICNF/DGDR, 2013), e uma descrição detalhada das várias espécies inventariadas, para além de introdução, glossário e anexos.
4              De acordo com a informação disponível em http://www.corane.pt/portfolio-item/corane-12/, “O Centro Micológico custou 130 mil euros e foi financiado com fundos PRODER, através da Corane – Associação de Desenvolvimento dos Concelhos da Raia Nordestina, em 60%.” (consulta a 17 de dezembro de 2017)
5              O Sudoeste Europeu é constituído por 30 regiões e cidades autónomas e estende-se por uma superfície de 770.120 km2, que representa 18,2 % da superfície da União Europeia. O programa de cooperação territorial do espaço Sudoeste Europeu (SUDOE) apoia o desenvolvimento regional através do cofinanciamento de projetos transnacionais por intermédio do FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional). Precedida de duas gerações anteriores (2000-2006 e 2007-2013) a nova fase de programação (2014-2020) inclui como regiões elegíveis todas as comunidades autónomas espanholas, (excepto Canárias), as seis regiões do sudoeste de França, as regiões continentais de Portugal, Reino Unido (Gibraltar) e o Principado de Andorra (conforme informação disponível em: http://www.interreg-sudoe.eu/programa/).

Recibido: Mayo 2018 Aceptado: Junio 2018 Publicado: Junio 2018

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