TURyDES
Vol 7, Nº 16 (junio/junho 2014)

TURISMO DE PASSEIO PEDESTRE/PEDESTRIANISMO COMO PROMOTOR DE BENEFÍCIOS: O CASO DO FUNCHAL (MADEIRA/PORTUGAL)

Arturo Sousa (CV)

1. Pedestrianismo: significado, caraterização e singularidades:
1.1. Conceitos e considerações gerais do pedestrianismo

O pedestrianismo é nas sociedades atuais uma atividade desportiva, de lazer, de natureza e ainda cultural e turística (Bietolini, 2007; Braga, 2007; Calmé, 2011; Gabriel, 2005; Gonçalves, 2002; Granet, 2012; Santos & Cabral, 2005). Isto acontece porque é uma tendência atual de exercício físico, que implica algum movimento. É lazer porque tende a ser uma prática planeada e realizada num tempo livre fora das obrigações sociais. Todavia, é uma forma de identidade pessoal e social, que envolve elementos culturais e do património natural dos povos, bem como pode levar a viagem para outros territórios com vista à sua prática.
Esta atividade é uma prática singular bastante realizada nos dias que correm por indivíduos um pouco de todo o mundo, desde turistas, residentes, curiosos, jovens e idosos, entre tantas outras categorias. No entanto, “se quisermos falar em passeios a pé como prática organizada, sobretudo pelas famílias, recuaríamos ao século XVIII e como local apontaríamos a Inglaterra” (Braga, 2007: p.10). Este autor diz-nos também que só depois da 2ª guerra mundial deu-se o “boom” da criação de percursos por várias regiões de Portugal e do mundo. No entanto, desde cedo já existiam práticas que foram a origem desta atividade, uma vez que na Idade Média e depois, no Renascimento “eram sobretudo os comerciantes e os peregrinos que se deslocavam por milhares de quilómetros, em míticas viagens que duravam anos, à procura de novos mercados, da espiritualidade e da saúde, à descoberta de novos mundos” (BIETOLINI, 2007: p. 7).
O pedestrianismo integra-se numa sociedade atual que está muito marcada pelo lazer e desporto, enquanto práticas importantes no dia-a-dia das pessoas. Com isto, define-se como “uma atividade de percorrer distâncias a pé, de forma a desfrutar de tudo o que rodeia, a um ritmo tranquilo” (Santos & Cabral, 2005: p.103).
Em Alencoão et al. (2010), Gonçalves (2002) e Tovar (2010) constata-se que o pedestrianismo pode ser praticado por amplas camadas da população, em grupos e/ou famílias, por não requerer equipamentos e conhecimentos sofisticados, tal como não ser uma atividade tendencialmente perigosa.
Gabriel (2005) refere que os percursos pedestres/rotas ao serem caminhos-suporte da passagem humana, podem ter certas comodidades que potencializam o exercício físico e a interação social, sendo elas, pontos de beber água, parqueamentos, condições de segurança como a sinalização dos percursos. Tovar (2010: p.22) acrescenta que esta “é uma atividade de baixo custo para o praticante, pouco exigente em termos de forma física, sendo praticado por mulheres, crianças e pessoas pertencentes às faixas etárias mais elevadas”.
Para Raimundo (2007) o pedestrianismo pode ser feito com ou sem monitor da caminhada, o qual pode orientar e caraterizar o percurso, a sua história, suas atrações, atributos, especificidades, entre outros aspetos. O monitor assume um papel importante aqui, pois para (Alencoão et al., 2011: p.77) esta “é uma atividade que comporta riscos”, daí ser necessária a consciencialização dos praticantes para os mesmos. É o monitor aquele que, normalmente é melhor instruído para situações anómalas.
Outra ideia importante é que “o clima e as condições atmosféricas influenciam a atividade do pedestrianismo” (Alencoão et al., 2010: p.27). Estes podem potencializar ou inibir a prática por períodos irregulares. Podendo também condicionar a duração dos percursos, por questões de pavimento, de visibilidade, entre outras.
Não obstante, Raimundo (2007: p.127) refere que “os percursos pedestres não se resumem somente às marchas de meio-dia ou de um dia”. Isto porque tendem a poder ser feitos ao longo do ano.
O Turismo de Passeio Pedestre é uma das tantas modalidades de Turismo de Natureza, também denominado para Granet (2012) de ‘Turismo de Itinerário/itinerante’, esta prática integra-se na denominada “Natureza Soft”, da Organização Mundial do Turismo (OMT), porque segundo THR (2006: p.9) a motivação principal dos praticantes de “Natureza Soft” reside em “viver experiências de grande valor simbólico, interagir e usufruir da natureza”.
Tendo em conta a extensão geográfica, o pedestrianismo, de acordo com as normas europeias, pode ser praticado em duas tipologias de percursos pedestres – as pequenas rotas (PR até 30 quilómetros) e as grandes rotas (GR mais de 30 quilómetros). Em relação aos graus de dificuldade dos percursos, são três sendo eles os graus fácil, moderado e difícil, cabendo as entidades competentes como são as Câmaras Municipais e a FCMP ditarem o grau (Braga, 2007).
Evidentemente, o pedestrianismo acontece em meio urbano e no meio rural. Tanto nas áreas urbanas como nas rurais, há a sinalização dos percursos com vista a informar os praticantes das direções, as distâncias, o tempo e outras questões (Tovar, 2010).
Este tipo de turismo tem crescido bastante ao longo dos anos, tal como há um forte aumento das práticas de merchandising de equipamentos e serviços deste desporto de natureza, assim como o BTT (Calmé, 2011; Granet, 2012).
Por outro lado, em Barbosa (2000: p. 14) encontra-se uma série exaustiva de conselhos práticos para fazer uma boa caminhada. Entre os tantos conselhos, sobressaem os seguintes:

“leve sempre consigo uma mochila com uma muda de roupa, primeiros socorros, um saco para lixo, um apito de emergência, uma lanterna, um farnel energético e água potável. (…) Não beba água dos poços, fontes ou chafarizes sem se informar previamente sobre a sua qualidade. Se lhe disserem que é a água que costumam beber, tenha em atenção que as suas defesas podem não ser similares às das pessoas que se habituaram ao seu consumo desde sempre. Use calçado resistente e vestuário desportivo, adequado à estação do ano. No inverno, não se esqueça do impermeável e, no verão, do chapéu, protetor solar e óculos de sol. Evite caminhar ou pedalar nas horas de maior calor. Embora em passeios com as caraterísticas destes a bússola possa não ser necessária, não a dispense, é sempre um excelente ‘tira-teimas’ e, caso se desvie do bom caminho ou tenha algum azar, pode ser a sua salvação. Se tiver telefone móvel leve-o, mas não conte com ele em todos os momentos do percurso. Evite passear sozinho. Se for essa a sua opção, deixe o seu contato e uma cópia do percurso que vai fazer a alguém da sua confiança. Antes de partir leia o descritivo do passeio e organize o seu dia em função do tempo que calcula gastar, de modo a que a hora de regresso seja sempre antes do pôr-do-sol.”

Já Bietolini (2007: p. 23) apresenta-nos um leque de regras que considera fundamentais para o pedestrianista. Destacam-se os seguintes:

1.2. Prática Espacial do Pedestrianismo

Conhecer dados concretos sobre a prática deste desporto, é muito difícil, porém como marco de dados da atividade, selecionamos Alencoão et al. (2010: p.113), já que referem que “atualmente mais de 12 milhões de pessoas praticam percursos pedestres na Europa”.
É do nosso conhecimento que há vários países do mundo com maior tradição desta atividade do que Portugal. Alguns países da Europa destacam-se pela vasta rede de percursos sinalizados, uma grande diversidade de empresas deste ramo e as formas de divulgação, como a Áustria, a França, a Alemanha, o Reino Unido, a Suécia e a Suíça.  Por exemplo, TOVAR (2010) mostra-nos que a Alemanha tem mais de 200.000 quilómetros de percursos sinalizados, Áustria com 44.000 km, Bélgica a rondar os 5000 km e Chipre com mais de 530 Km.
Já Bietolini (2007: p. 81) valoriza e bem, diga-se de passagem, a grandiosidade e a extraordinária variedade de ambientes naturais do mundo que podem ser palco desta atividade como turismo ou não:

“do deserto do Sara à floresta amazónica, das ilhas da Polinésia aos glaciares da Patagónia ou do Tibete, guiado pela curiosidade e pela emoção. Os destinos de maior apelo encontram-se, no entanto, na Ásia, na cadeia do Himalaia entre o Nepal, o Butão, o Paquistão, a Índia e a China.”

Séguin (2010) mostra-nos o exemplo do Québec, país da América do Norte, que tem também boas potencialidades na modalidade de passeios pedestres, com as virtudes de educação e interpretação ambiental assentes em recursos naturais de grande diversidade (florestas, áreas protegidas, rios, lagos, entre outros). Todavia, este país, atendendo as nossas pesquisas online, apresenta potencialidades na procura e principalmente na oferta de atividades aquáticas ligadas ao meio fluvial, principalmente quando inseridos em parques naturais como o Parc National du Mont –Tremblant.
Relativamente a França, este embora seja um dos países mais visitados do mundo principalmente pelos seus recursos e produtos culturais, em Granet (2012) podemos verificar que o TN, acontece com algum dinamismo. Esta autora utiliza o estudo feito pelo l´Institut National du Sport de l´Expertise et de la Performance (ISEP), para validar a importância da França, enquanto destino com potencialidades de TN (sobretudo Turismo de Passeio Pedestre). Este instituto conclui que a França é um país que, pelo menos 20 milhões de indivíduos, praticam pelo menos um desporto de natureza. Este país foi um dos pioneiros na caminhada organizada e sinalizada da Europa e, talvez por isso mesmo, tenha milhões de praticantes com idades maioritariamente compreendidas entre os 35 e os 64 anos e por volta de 180 mil km de trilhas sinalizadas. No caso de estudo da autora, na região dos Alpes de Haute-Provence, ela concluiu que esta região tem 137 guias de montanha e tem uma procura internacional muito importante capaz de gerar receitas avultadas nos territórios dessa região, mas também das regiões envolventes.
Em complementaridade, Bietolini (2007: p. 81), ao referir que a rede de percursos de natureza na Europa é vastíssima e bem aproveitada, integrados e não só, em grandes e distintos parques nacionais suecos e noruegueses, à respeito de França, elucida que este país tem:

 “itinerários bem sinalizados e ordenados; cartas-guia atualizadas, precisas e tecnicamente válidas; inúmeras estruturas de acolhimento e coordenação entre as várias associações. Se a isto adicionarmos um território com imensos espaços naturais e uma variedade ambiental extraordinária, a França pode tornar-se num paraíso para o trekker: da Provença, aos Pirenéus, do Maciço Central à Costa Azul, da Picardia à Córsega e, finalmente os Alpes”.

Esta atividade pela importância e contornos que exige, acaba por possuir, um pouco por todo o mundo várias associações, clubes e organizações que trabalham com essa atividade e têm como objetivo principal a promoção desta atividade. Alguns exemplos de organizações são:

1.3. Pedestrianismo e seus benefícios

A prática de passeios pedestres por via turística ou não, possui vários benefícios tanto para os seus praticantes como para os territórios detentores de percursos pedestres. Basicamente são os benefícios económicos, sociais, culturais, administrativos/políticos, que estão na base desta peculiar atividade.
Esta é uma atividade que não implica grandes gastos e esforços. Já dizia Horeau (2011: p.23), em género de crítica poética, “pensai o homem que levanta halteres, apenas por razões de saúde, quando há fontes fervilhantes em prados e paisagens distantes, sem que ele as explore”.
Neste sentido, com a necessidade e a vontade de ter cada vez mais estilos de vida saudáveis, este desporto é praticado por vários indivíduos que ambicionam tirar fruto em termos de imagem e de saúde. Contudo, há outros motivos que levam certas pessoas praticarem este desporto, como é o caso de conhecerem mais e melhor a variedade paisagística, a fauna e a flora, as formas e singularidade dos percursos, a vontade de distrair-se por alguns motivos e passarem em família momentos diferentes da rotina diária. Assim, “o pedestrianismo revela-se de grande importância na promoção da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas” (Alencoão et al., 2010: p.7).
Todavia, referindo-se aos benefícios do foro da saúde, os praticantes desta atividade poderão ver reduzidos “os problemas associados à obesidade, diabetes e osteoporose” (Alencoão et al., 2010: p.56-57), uma vez que “as atividades de marcha são frequentemente recomendadas pelos cardiologistas” (Gonçalves, 2002: p.5). O praticante de pedestrianismo pode obter uma melhor forma física realizando essa prática. Contudo, Raimundo (2007: p.78) indica que “é completamente errado pensar que um esforço de algumas horas (8 a 10 horas) queima as gorduras de reserva”.
Todavia, sublinha-se que pedestrianismo pode ter a função recreativa e/ou a educativa (Alencoão et al., 2010). Com isto, Pires (2010) é das autoras que complementa esta ideia ao referir que independentemente da idade, sempre se aprende alguma coisa. Deste modo, os percursos são recreativos porque estimulam o convívio e o bem-estar, mas também podem ser fruto de alguma aprendizagem sobre fauna, flora, formas geomorfológicas e a história do povo recetor.
Em contextos urbanos, o pedestrianismo constitui “uma válvula de escape para o sedentarismo das grandes cidades e de fuga ao stress quotidiano das sociedades urbanas” (Gonçalves, 2002: p.11).
Outro benefício para os praticantes de pedestrianismo reside no possível convívio social. Convívio entre famílias e amigos ou até mesmo entre a comunidade recetora, como trocas culturais/de ideias. Esta questão está bem patente em Pires (2010) e em Tovar (2010), pois estas autoras o exaltam, aliado ao lazer e a distração.
Os praticantes poderão beneficiar da consolidação mais esclarecida da sua consciência ecológica, pois terão a oportunidade de conhecerem e valorizarem melhor os processos ecológicos relacionados com o território (Gabriel, 2001; Gabriel, 2005).
Em relação ao território recetor de praticantes de pedestrianismo e detentor de percursos pedestres, este pode usufruir de benefícios concretos caso haja uma procura considerável desta prática. Esta procura pode levar a criação de emprego e riqueza no território, com os praticantes a comprar determinados produtos/serviços. Esses mesmos praticantes estrangeiros ou nacionais podem ser fundamentais para divulgar esses patrimónios e especificidades dos percursos pedestres. Deste modo, isto pode ser bom para a procura e desenvolvimento local, em termos económicos e sociais com as pessoas a se sentirem valorizadas pelo seu património (Alencoão et al., 2011; Gabriel, 2005; Gonçalves, 2002).
Ao propósito, Braga (2007: p.18) aponta ainda que esta prática de passeios pedestres “poderá ajudar a rentabilizar a oferta da hotelaria, restauração, alojamento rural, turismo de habitação, etc.” À título de complementaridade, Gonçalves (2002: p.11) diz que esta atividade “fomenta a amizade e o intercâmbio cultural, facilita o conhecimento do nosso país, das suas gentes, costumes e tradições”.
Além disso, para Gonçalves (2002: p.11) o pedestrianismo “permite o conhecimento e a sensibilização ambiental promovendo a proteção da natureza”. Este pode valorizar a conservação dos caminhos, calçadas, lugares de interesse, a fauna e a flora, pois depende dos mesmos para a sua prática. Aqui as entidades governamentais terão um papel decisivo para instrução e consciencialização.

2. Caso Prático:
2.1. Caraterização do território do Funchal

O Funchal tem cerca de 76 km², com 10 freguesias. Este, enquanto concelho e capital da Região Autónoma da Madeira (RAM – 11 concelhos), apresenta o maior número de habitantes da região com mais de 111 mil pelos censos de 2011, daí o seu grande dinamismo (Figura 2).

É um município onde, conforme o website da Câmara Municipal, o desporto e a ocupação dos tempos livres têm ganho uma dinâmica democratizada, pois pessoas de todas as idades envolvem-se em práticas de lazer e de desporto em clubes e associações. Estas entidades, segundo a mesma fonte, movimentam cerca de 8200 atletas.
Algumas atividades promovidas pela autarquia são eventos lineares de percursos pedestres organizados por monitores e outros desportos como jogos tradicionais, a vela, a canoagem. Isto com recurso a determinados clubes e associações do município, onde participal turistas e moradores locais.
Não obstante, é uma região que depende bastante do Turismo, tal como o resto dos concelhos da Ilha da Madeira, contudo, sendo a capital acaba por possuir mais turistas.O concelho apresenta várias atrações culturais e naturais que levam a que turistas e visitantes se façam sentir em número considerável pelo dinamismo económico que apresenta. Por exemplo, de acordo com o Anuário Estatístico de 2010 da RAM registaram-se, em 2010, 639 811 hóspedes e 3 361 613 dormidas nos estabelecimentos hoteleiros do Funchal.
Neste sentido, turistas, visitantes e residentes são importantes para o desenvolvimento económico da região. O Funchal tem maior número deles da RAM, sendo eles os principais atores na prática de desportos e/ou lazeres muito díspares.

2.2. As levadas do Funchal

As levadas do Funchal são o principal produto turístico do Turismo de Passeio Pedestre. Estas são maioritariamente praticadas por turistas nacionais e estrangeiros, sendo que também a população local se servem delas atendendo aos mais diversos motivos (Quintal, 2005; 2010). Não se sabe especificamente um número concreto, porém, dada a sua especificidade na procura e na oferta de percursos pedestres, esta “foi pioneira na aprovação de legislação relativa aos percursos pedestres” (Braga, 2007: p.69). Um exemplo é o Decreto Legislativo Regional nº 7-b/2000/M, que estabelece os percursos pedonais recomendados desta região e as entidades regionais de controlo dos espaços como as autarquias.
É em Quintal (2010: p.1) que vemos as levadas como “ricas peças do património cultural da ilha da Madeira e a expressão viva de como foi possível a intervenção humana sem criar rupturas significativas no funcionamento dos ecossistemas”. É através delas que é possível descobrir recantos de beleza indescritível daí a grande potencialidade da ilha da Madeira no pedestrianismo.
Este produto turístico ainda está ligado à agricultura, pois as levadas são usadas para transportar água para a rega de certa prática agrícola pelos proprietários de terras. Estas têm um papel fulcral no desporto, lazer e turismo (Quintal, 2005). Já dizia Quintal (2010: p. 15) que elas “levam-nos às fantásticas áreas da Laurissilva”. Esta referência é importante porque as levadas do Funchal e do resto da ilha confrontam-se com espécies naturais da Floresta Laurissilva (considerada Património Mundial pela Unesco).
O Funchal é detentor de 5 percursos pedestres que são muito utilizados para agricultura, para lazer e desporto, tal como pelos turistas que querem usufruir da natureza. Aqui destacam-se os percursos que são recomendados a visita e realização:
- Do Monte ao Bom Sucesso; Do Monte à Camacha;
- Levada dos Piornais;
- Levada do Curral e Castelejo;
- Caminho da Neve.

Em relação as levadas mais visitas e praticadas por caminhantes, sobressaem a levada do Curral e Castelejo e a dos Piornais, dado que Duarte Oliveira, técnico superior da Câmara Municipal do Funchal, que respondeu ao questionário, confirmou. Este assegura que o pedestrianismo desenvolve o município, porém deve “ser explorado, enquanto produto/nicho turístico”. A levada dos piornais e a levada do Curral e Castelejo singularizam-se pelas paisagens possíveis de ver, tal como pela presença de formações rochosas “diferentes”. Aqui também podem-se ver espécies vegetais singulares como é o caso da cana viera e da tabaqueira (Figuras 3, 4, 5 e 6).

Nas levadas do município, algumas vezes ao longo do ano, são organizadas saídas por escolas e por encontros programados pela autarquia do Funchal. Um pouco por todas essas levadas, os praticantes de pedestrianismo beneficiam de aspetos consideráveis, assim como beneficiam o Funchal. Os praticantes podem beneficiar de vários elementos, entre os quais:
- Conhecimento de novas realidades;
- Boas paisagens;
- Aprendizagem/visionamento da Floresta Laurissilva;
- Convívio/distração entre pessoas;
- Diminuição do stress associado à quebra da rotina;
- Desenvolvimento dos laços familiares;
- Melhorias nas condições de saúde/aspeto físico aliadas ao ar puro das levadas.

O Funchal dinamiza-se pela prática do pedestrianismo com o desenvolvimento de serviços e de produtos concretos. De acordo com Duarte Oliveira, os praticantes tendem a gastar algumas quantias no município. Quanto mais não seja, podem gastar em alojamento e restauração e já reverte para o desenvolvimento local. Outro benefício desta prática no Funchal ocorre com a criação de emprego em serviços e produtos associados ao pedestrianismo. Todavia, havendo uma procura considerável destas levadas, esta é fundamental para divulgar e ao mesmo tempo para promover a preservação das levadas, uma vez que elas são objeto de “uso” pelos caminhantes.
Os funchalenses valorizam e sentem-se orgulhosos pelas suas levadas e suas paisagens, porque estas atraem imensos turistas e/ou praticantes de pedestrianismo. Os próprios munícipes tendem a praticar pedestrianismo, porém há mais praticantes de indivíduos do exterior, isto reforça Duarte Oliveira.
Além disso, a prática de pedestrianismo pode ser primária ou secundária. Primária porque as pessoas deslocam-se para o município com a razão principal de realizarem percursos pedestres. E secundária porque as pessoas podem realizar algum percurso pedestre, mas o motivo principal da sua deslocação foi outro, como por exemplo assistir as festas da ilha, ir as praias, entre outros.
Relativamente ao perfil de utilizadores dos percursos pedestres do município, Duarte Oliveira evidencia que são “normalmente turistas ativos e interessados na nossa biodiversidade e igualmente grupos de munícipes associados à instituições sociais e desportivas.” Atendendo às perceções obtidas com trabalho de campo, há muitas famílias, desde estrangeiras às nacionais, que praticam esta atividade no Funchal.
Os meios de divulgação destes percursos pedestres passam pela via formal, com recurso a entidades competentes e coordenadas com a Câmara Municipal do Funchal (a própria autarquia, associações recreativas, Direção Regional de Turismo) e informal por meio dos praticantes nacionais e estrangeiros que indicam a realização dos percursos a outras pessoas (familiares, amigos/conhecidos).
Este concelho apresenta uma variedade alargada de empresas que promovem e exercem a sua atividade no pedestrianismo. Embora a visitação dos percursos possa ser realizada gratuitamente, algumas empresas como a Madeira Blue sun a Madeira Adventure Kingdom e a Madeira Explorers oferecem serviços de monitorização e de guia-intérprete dos percursos pedestres no Funchal e um pouco por toda a ilha. Estas não se restringem ao pedestrianismo, pois valorizam outras áreas desportivas de natureza como o mergulho, asa delta e outros.
Por fim, elucida-se que a utilização dos percursos pedestres do Funchal deve ser cuidadosa e sustentável, uma vez que, caso não haja uma prática equilibrada e correta por parte dos caminhantes, poderão ser afetados o solo, a água, a vegetação, a fauna, e as formações geológicas.

3. Conclusão
Na presente investigação procurou-se consolidar o conhecimento sobre a temática do pedestrianismo, daí que foram abordadas as suas caraterísticas e valências, seguindo-se pelo caso prático em contexto territorial do Funchal.
O pedestrianismo é uma atividade incontornável e uma tendência desportiva e de lazer de grande importância. Este tem vindo a congregar mais simpatizantes pela sua singularidade no preço, qualidade, disponibilidade e valor natural/humano. É uma atividade que pode de facto oferecer benefícios. Esses benefícios irão depender evidentemente dos praticantes e dos territórios, que por sua vez, similarmente “trocarão” benefícios entre ambos.
Está mais que visto que o modo como se usa o tempo livre, aquele tempo em que não se tem obrigações sociais (trabalho, dormir e outros), constituí uma importância incontornável nos dias que correm. Cada pessoa é livre, na medida do possível, de desenvolver um estilo de vida adequado às suas aspirações. Por isso, cada vez mais assiste-se a importância da imagem, do bem-estar e das questões da saúde muito referenciadas em vários meios de comunicação.
A ideia do pedestrianismo como prática de percursos pedestres cultural, turística, ambiental e física é importante para entender que esta atividade tem assumido contornos positivos explanados no artigo.
Foram abordados os benefícios que os praticantes de pedestrianismo no Funchal possuem, tal como o território obtém com estas práticas. Aqui vê-se que o pedestrianismo, enquanto desporto de natureza “soft”, acaba por beneficiar praticantes e territórios com elementos principalmente económicos, sociais e culturais.
O poder de atração do Funchal é fundamental para cativar possíveis praticantes de pedestrianismo. As levadas inseridas na Floresta Laurissilva constituem um atrativo importante no concelho. Estas, além de serem usadas para agricultura, são muito realizadas por praticantes nacionais e estrangeiros, os quais às observam com outros olhos e expetativas.
Este concelho apresenta um número considerável de população residente e turista em estabelecimentos hoteleiros. Este número é o maior de toda a RAM e que em certos concelhos de Portugal Continental, pelo que, assume-se como um destino particular com potencialidade para a realização dos seus percursos pedestres.
Dos 5 percursos pedestres disponíveis no município, a levada dos Piornais e a levada do Curral e Castelejo tendem a ser as mais fáceis de realizar, assim como são as mais conhecidas pela sua singularidade e imponência. Estas podem ser realizadas com o auxílio de empresas do Funchal especializadas em percursos pedestres. Embora nem sempre se verifique essa realidade.
Finalmente, outras questões complementares foram elucidadas do caso prático como foram o perfil típico dos praticantes, as motivações, as empresas especializadas em percursos pedestres, os meios de divulgação dos percursos. Aqui, viu-se que o perfil dos praticantes está patente um pouco por várias idades, com especial destaque para as famílias nacionais e estrangeiras. Estas pessoas têm motivações diferentes e procuram percursos como motivação primária ou secundária e são muitas vezes responsáveis pela divulgação dos percursos similarmente com as entidades governamentais competentes.

Bibliografia e Fontes

. Livros, Artigos, Relatórios e Dissertações:

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Recibido: 23/04/2014
Aceptado: 10/05/2014
Publicado: Junio de 2014



TURyDES es una revista acadmica iberoamericana, editada y mantenida por el Grupo eumednet de la Universidad de Mlaga.

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