Guilherme Pietro De Ciccio (CV), Guilherme de Castro Teixeira (CV) y Maria do Rosário R. Salles
1. INTRODUÇÃO
Inicialmente, a proposta do trabalho era entender a relação entre o turismo social e o movimento alberguista na cidade de São Paulo, mas acabou-se por optar por um estudo que discorresse sobre as razões pelas quais os jovens não têm como prioridade de escolha os albergues de juventude ou hostels (denominação inglesa), como meio de hospedagem em suas viagens. Essa percepção decorre da experiência e interesse pelo tema dos albergues da juventude dos autores, e que, no entanto, apesar de atrativo para os jovens europeus e americanos, parece não ter o mesmo peso para o jovem brasileiro.
No debate sobre a dificuldade em unir os dois assuntos, turismo social e alberguismo, decidiu-se focar a pesquisa na relação entre o jovem universitário e os albergues de juventude, pois esse foco pareceu-nos mais condizente com a problemática no Brasil, ou seja, partimos do pressuposto de que o jovem brasileiro ainda não tem esse meio de hospedagem como prioritário para suas viagens, por uma série de motivos que procuramos responder com a pesquisa.
Assim, o tema foi escolhido, pelo interesse dos autores, jovens estudantes universitários, em albergues da juventude; a pesquisa em turismo, meios de hospedagem e albergues da juventude, ou hostel. O foco então foi compreender os motivos pelos quais os jovens universitários brasileiros ainda não aderiram ao movimento alberguista expressivamente.
A partir desta interrogação resolveu-se realizar uma investigação sobre a conduta e postura do jovem universitário no que se refere ao albergue da juventude como meio de hospedagem extra-hoteleiro, com jovens universitários da cidade de São Paulo.
O objetivo principal é identificar o motivo pelo qual o jovem universitário não tem o albergue da juventude como seu principal meio de hospedagem, além de descobrir, através de pesquisa bibliográfica e questionários, quais meios de hospedagem os jovens universitários mais utilizam em suas viagens e entender as prioridades dos jovens no momento da escolha da hospedagem em suas viagens.
Como objetivos específicos, estão a busca do entendimento do estado de arte dos albergues ou hostels em São Paulo, sua idealização como empreendimento, seu funcionamento, assim como sua identificação com a filosofia alberguista e o perfil dos hóspedes. Para isso realizou-se entrevistas com proprietários de quatro albergues da juventude na cidade de São Paulo.
As hipóteses que sustentam esta pesquisa são:
O jovem universitário não conhece o movimento alberguista;
O jovem universitário não acredita que se hospedar em albergue pode ser agradável e economicamente viável;
Existe falta de informação a respeito do tipo de hospedagem que é o albergue da juventude.
O presente trabalho foi elaborado com base em pesquisa bibliográfica sobre os temas: albergues da juventude, filosofia alberguista, turismo da juventude, turismo social, meios de hospedagem, e seu contexto na cidade de São Paulo. Os autores mais utilizados foram Giaretta (2002), Montejano (2001) e FBAJ (2010), que ajudaram a construir o referencial teórico para o desenvolvimento do tema.
2. TURISMO
O turismo, área de estudo relativamente jovem que ainda enfrenta certa deficiência e indefinição de conceitos (COOPER, 2007), abrange diversos tipos de viagens, equipamentos, transportes, passeios locais, mão-de-obra especializada e hospedagens. Segundo Cooper (op cit.), essa diversidade de insumos e serviços é um dos fatores que dificulta a definição do turismo, além da natureza demasiadamente ampla do conceito (Gilbert, 1990). A hotelaria é parte integrante desse processo, pois não se consegue fazer crescer o turismo sem locais para que o turista possa descansar e pernoitar (Araújo, 2005, p. 13).
Barretto (2000) chama atenção para os elementos mais importantes das definições existentes, que são o tempo de permanência, o caráter não lucrativo da visita e uma coisa que é pouco explorada pelos autores das definições encontradas na literatura, a procura do prazer por parte dos turistas. O turismo é uma atividade em que a pessoa procura prazer por livre e espontânea vontade. Portanto a categoria de livre escolha deve ser incluída como fundamental no estudo do turismo.
O comportamento dos turistas pode variar de acordo com a classe social e com a faixa etária. Barretto (2000) os dividiu em quatro grupos: classes privilegiadas, classes médias / profissionais liberais, classes baixas ou médias baixas e turismo jovem.
O último grupo é onde focamos o trabalho, o de turismo jovem. Este se utiliza de transportes econômicos ou caronas, hospedagem em alojamentos extra-hoteleiros e têm os gastos reduzidíssimos, apenas para o essencial. Não utilizam serviços de agências ou guias e preferem alimentar-se em casas de amigos ou em troca de trabalho (lavar pratos, tocar música, etc.) (BARRETTO, 2000).
A prática do turismo social pode ser vivenciada por diferentes grupos não é exclusividade do público jovem porém, o turismo da juventude está enquadrado dentro do turismo social, dadas as características acima. Conforme a discussão abaixo, veremos que de certa forma uma parcela dos jovens se enquadram nesse tipo de turismo.
2.1. TURISMO SOCIAL
O turismo social difere de outras práticas de turismo ao possibilitar a vivência cultural (e sustentável) do fenômeno turístico, que envolve essencialmente deslocamento e a busca por ritmos, estilos de vida e paisagens diferentes dá oportunidade, principalmente às minorias sociais, de acesso democrático a serviços, equipamentos e experiências turísticas (CAMARGO, 1992).
O turismo urbano e o turismo social, quando encarados dentro da ótica da educação para o lazer e da inclusão social, podem se tornar importantes aliados na transformação da realidade de pessoas que não se caracterizam exatamente pelo gozo pleno dos direitos da cidadania (MAGNANI, 1996) as chamadas minorias sociais. O termo minoria se justifica por remeter não somente ao aspecto numérico, mas por contemplar [...] grupos que podem ter um número elevado de membros, mas que tem menos acesso aos mecanismos de poder (MELO, 2003).
Entende-se por turismo social um conjunto de ações que [...] permitam o acesso ao turismo de amplos setores da população, os quais por insuficiência de meios econômicos ou por falta de hábito, de educação ou de informação [...], permanecem fora do movimento turístico (ORTUÑO, 1976).
Montejano (2001) afirma que o turismo juvenil é exemplo de turismo social; centrado nos segmentos mais jovens da população, podendo ser classificado em turismo escolar, juvenil e universitário.
2.2. TURISMO DA JUVENTUDE
Para Giaretta (2002), turismo da juventude é um segmento de mercado turístico que busca atender a um grupo homogêneo, formado pela variável faixa-etária da juventude convencionada entre 18 e 35 anos, e que esse promove outros subsegmentos:
turismo educativo ou estudantil, de intercâmbio ou cursos no exterior, que se utiliza de casas de família, albergues da juventude e alojamento universitário como meio de hospedagem;
associativo, fomentado por organizações não governamentais utilizam principalmente colônias de férias;
turismo social, promovido por organizações que possibilitam o acesso de uma camada da sociedade que não tem acesso a outras formas de viagens, que se utiliza de albergues da juventude e colônias de férias;
turismo da natureza, dividido em ecoturismo e de aventura, produtos operados especialmente para esse público e a criação de condições especiais de prestadores de serviços voltados para esta demanda. Meios de hospedagem mais utlilizados são chalés, casas de campo, refúgios de montanha, casas-grandes e campings;
turismo backpacker, turismo geralmente individual, que não constitui público alvo para as empresas turísticas, já que os mochileiros não usufruem de hotéis ou pacotes turísticos de agências (CASO, 1999). Preferem campings e albergues da juventude.
Giaretta (2002) constatou que uma forma de turismo associativo pode ser social, da juventude, ou seja, pertencer a mais de uma classificação de turismo. Como é o caso dos Albergues da Juventude, da Associação Cristã de Moços e de Moças, Associação dos Escoteiros. Ela verificou ainda que todas essas associações são imbuídas de um fundo filosófico fortemente presente, desde a fundação até o presente, como é o caso dos Albergues da Juventude, Rotary Club International e Clube dos Escoteiros.
O termo backpacker (ou mochileiro, em português) foi introduzido aos estudos turísticos pelo australiano Philip L. Pearce em 1990 (ALTELJEVIC e DOORNE, 2002 apud OLIVEIRA, 2008) e vem sendo utilizado mundialmente para denominar o segmento de viajantes que tem um estilo de viagem independente, flexível e econômico, por longos períodos e que buscam conhecer vários destinos numa mesma viagem.
A maior parte dos hóspedes que frequentam os albergues da juventude são mochileiros vindos de todas as partes do mundo, em busca de hospedagem a preços acessíveis, conforto, interação com outras pessoas, etc. Oliveira (2008) afirma que nem todos os alberguistas são backpackers assim como nem todos os backpackers são membros dos albergues da juventude, mas garante que a grande maioria dos backpackers utiliza os albergues da juventude em suas viagens, os quais são recomendados nos guias de viagem por eles utilizados.
3. ALBERGUE DA JUVENTUDE
O precursor do movimento alberguista foi Guido Rotter, com os albergues escolares em 1884, porém estes albergues eram restritos a apenas 2% dos alunos alemães, e eram voltados apenas aos escolares. A ideia dos albergues da juventude com abrangência mundial surgiu em 1909, com o professor Rischard Schirmann, que costumava ministrar aulas ao ar livre e gostava de viajar com os alunos em excursões-aula. Em uma ocasião, quando o grupo pegou uma tempestade e teve que buscar abrigo numa escola em Brol Valley, na Alemanha, Schirmann idealizou a utilização de escolas como alojamentos nas férias (GIARETTA, 2002).
Em 1912, foi inaugurado o primeiro albergue da juventude em Altena, Alemanha, num monumento histórico restaurado, com dormitórios e banheiros coletivos separados por sexo e uma cozinha, que funciona até os dias de hoje (FBAJ, 2010).
O movimento ficou estagnado em função da Primeira Guerra Mundial. Em 1920, já existiam 700 albergues na Alemanha (HEATH, G. apud GIARETTA, 2002).
Em 1927 o movimento torna-se internacional, quando é inaugurado um albergue na Suíça e na Polônia. Em 1932, foi criado a IYHF (International Youth Hostel Federation), Federação Internacional de Albergues da Juventude, e nos anos seguintes, o movimento se espalha pelo mundo. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas obrigaram Schirmann a renunciar do seu cargo da organização internacional, anularam seu passaporte para que ele não saísse da Alemanha e foi proibido de entrar nos albergues da juventude até o final da guerra. Com o fim dela, Schirrmann foi o primeiro civil a sair da Alemanha, ele morreu em 1961.
3.1. FORMA DE HOSPEDAGEM EXTRA HOTELEIRA
O Ministério do Turismo classifica os albergues da juventude como meios de hospedagem extra-hoteleira. Segundo Montejano (2001), hospedagem extra-hoteleira são aqueles estabelecimentos mercantis que prestam diversos tipos de alojamentos distintos dos que oferecem os hotéis, devido a sua diferente ordenação legal infra-estrutura, preços e serviços. Esses representam um complemento na capacidade de hospedagem e no destino turístico e satisfazem uma demanda que deseja este tipo de serviço, na maioria dos casos em função do fator preço.
A IYHF é a instituição que coordena e controla a operação dos albergues em todo o mundo. A FBAJ (Federação Brasileira de Albergues da Juventude) é o órgão responsável pelas políticas do movimento alberguista no país. Foi fundada em 9 de dezembro de 1971 e admitida à IYHF como membro pleno em 1984; fato que lhe permite participar das decisões internacionais.
Vale ressaltar que existem albergues independentes que seguem o mesmo modelo dos albergues membros da FBAJ, ainda que não sejam filiados a nenhuma instituição reguladora, e que em alguns países essa associação sequer conta com representantes (OLIVEIRA, 2008).
3.2. FILOSOFIA ALBERGUISTA
A filosofia alberguista propõe a busca de uma relação harmoniosa do ser humano consigo mesmo, com o outro e com a comunidade. A prática de filosofia alberguista se realiza nos espaços físicos dos albergues da juventude, onde os alberguistas de diferentes partes do país e do mundo têm a oportunidade de conviver e praticar os princípios da filosofia que são: desenvolver o espírito comunitário; solidariedade, ausência de preconceitos e discriminação de raça, nacionalidade, cor, religião, classe social, política e respeito com o meio ambiente (GIARETTA, 2002).
Além disso, espera-se que o jovem, através da HI (Hostelling International), conheça países, cidades, culturas e costumes peculiares de cada povo, contribuindo para sua formação. Os hostels prezam pelo espírito de amizade, o sentimento de solidariedade e o desejo de viajar. (FBAJ, 2010).
A FBAJ, através da IYHF, busca por fomentar a consciência meio-ambiental e procura unir o cotidiano dos albergues da juventude ao contexto ecológico, para que eles desempenhem o papel que lhes corresponde na conservação do meio-ambiente.
3.3. SITUAÇÃO ATUAL DOS ALBERGUES DA JUVENTUDE
Atualmente, a Alemanha é o país que conta com o maior número de albergues da juventude no mundo. A precursora do movimento alberguista ainda possui o primeiro albergue da juventude, em Altena. Em seguida vem a Polônia e depois o Japão. Segundo Oliveira (2008, p. 7), em 1994 a IYHF congregava 4.473 albergues, passando em 2003 a contabilizar 3.986 albergues no mundo todo.
Na Europa, os albergues da juventude são um sucesso (gráfico 1), meio de hospedagem amplamente difundido entre os jovens em geral, especialmente entre os mochileiros. Podemos observar que a Europa detém o maior número de pernoites no mundo, com 68% delas. Em seguida vem o leste asiático com 17%, depois vem as Américas com 12% e Oriente Médio com 3%.
O número de pernoites está mais relacionado com o número de UHs e com a taxa de ocupação do que com o número de albergues propriamente dito. Segundo a FBAJ (2010), o Estado da Bahia possui doze albergues da juventude filiados à HI e contava com 26% dos hóspedes de hostels filiados do Brasil em 2003 (gráfico 2). Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo possuem quinze, oito e treze albergues filiados, respectivamente. Porém, o número de hóspedes em 2003 para esses três Estados foi percentualmente o mesmo.
4. RESULTADOS E CONCLUSÕES
4.1. A PESQUISA METODOLOGIA
Esta pesquisa foi organizada para compreender o perfil do jovem universitário, de um lado, e a filosofia alberguista, de outro, caracteriza-se como um pesquisa exploratória em duas fases: numa primeira, optou-se pela pesquisa quantitativa através da aplicação de um questionário padronizado contendo perguntas abertas, mistas e fechadas, dicotômicas e de múltipla escolha, aplicados a jovens universitários da Universidade Anhembi Morumbi, Campus Vila Olímpia, nos dias 30 de agosto, 13, 14 e 18 de outubro de 2010, com o intuito de avaliar questões como o conhecimento desses jovens quanto ao albergue da juventude como meio de hospedagem, o que eles levam em consideração no planejamento da estadia de sua viagem, se ele é filiado à HI, etc.
Além disso, como foi mencionado, para entender o empreendimento, sua filosofia e sua evolução realizou-se entrevistas com proprietários ou responsáveis de quatro albergues da juventude na cidade de São Paulo, sendo dois filiados à HI e dois não filiados, a fim de comparar semelhanças e diferenças entre os dois grupos. As entrevistas semi-estruturadas foram padronizadas por meio de um roteiro e continham perguntas abertas e fechadas.
Foram selecionados dois dos três albergues da juventude filiados à HI na cidade de São Paulo e outros dois albergues não filiados. A escolha se baseou na disponibilidade dos entrevistados.
4.2. OS QUESTIONÁRIOS
Foram aplicados 167 questionários a jovens estudantes de diversos cursos (gráfico 3) da Universidade Anhembi Morumbi, Campus Vila Olímpia.
A idade média dos jovens que responderam aos questionários foi de 22,7 anos (gráfico 4). Mais de 98% dos jovens tinham idade entre 18 e 35 anos, faixa de idade considerada para o turismo de juventude segundo Giaretta (2002). Em sua pesquisa quanto à faixa etária dos frequentadores de albergues da juventude no Estado de São Paulo, Giaretta (op cit.) constatou que o público na faixa etária de 21 a 30 anos representa mais de 50% dos hóspedes.
Foi observado que 76% dos jovens que responderam o questionário vivem com a família (gráfico 5), dado condizente com a idade média amostrada. 17% moram sozinho ou com amigos e apenas 7% vivem com um companheiro.
A maioria, 62%, pertence ao sexo feminino (gráfico 6), o restante, 38%, ao sexo masculino. Apesar de o curso de Engenharia ter predominantemente alunos do sexo masculino, a esmagadora maioria dos alunos dos outros cursos é do sexo feminino.
Constatou-se que 32% dos respondentes viajam muito pouco (gráfico 7), de nenhum a 10 dias ao ano. Se somarmos esse resultado aos que viajam de 10 a 20 dias por ano, teremos que 58% do público amostrado viaja poucos dias ou faz pequenas viagens ao ano. 20% viajam mais de 30 dias ao ano.
O fato de a maioria dos amostrados viajar poucos dias pode revelar que lhes falta tempo. Como os questionários foram aplicados integralmente no período noturno, esses amostrados, provavelmente, trabalham. Dentre os 20% que viajam mais de 30 dias, estão provavelmente os que não trabalham ou não têm um emprego formal, que acabam disponibilizando maior tempo livre para viagens.
Ao perguntar-se sobre os gastos diários de viagem, 27% responderam que gasta até R$ 50,00 (gráfico 8), a maioria, 32%, disse que gasta de R$ 50,00 a 100,00 por dia e 19% gasta de R$ 100,00 a 150,00.
Apenas 9% gastam de R$ 150,00 a 200,00 e 13% dos amostrados gastam acima de R$ 200,00. Relacionando esses dados com os meios de hospedagem mais utilizados pelos amostrados (gráfico 9), pode-se inferir que os 29% que utilizam casas de amigos como meio de hospedagem são os que menos gastam em suas viagens, já que o custo de estadia (e transporte) representa aproximadamente metade dos custos em uma viagem. Porém, apesar da maioria gastar muito pouco ou pouco em suas viagens, 33% afirmaram que utilizam hotéis em suas viagens.
É provável que os amostrados viajem com a família e o custo da estadia não tenha sido levado em consideração, já que muitos pais pagam o transporte e estadia do grupo.
Verificou-se que 26% dos respondentes preferem utilizar pousadas em suas viagens, um meio de hospedagem onde as diárias podem ser muito variáveis, desde diárias com valores de albergues até hotéis. Somente 4% deles afirmaram utilizar o albergue da juventude como meio de hospedagem. Outros 4% responderam que tinham preferência por campings e 4% responderam que utilizaram outros meios de hospedagem.
Dentre os critérios para escolha de estadia (gráfico 10), o mais citado foi preço, com 32%, seguido de ambiente, com 25%, conforto, com 17% e serviços oferecidos, com 15%.
Já o critério receptividade foi citado por apenas 6%, seguido de 4% de critérios culturais. Apenas 1% citou outros motivos. Apesar de optarem por preços mais acessíveis, surpreendentes 83% dos amostrados nunca se hospedaram em albergues da juventude (gráfico 11).
O principal motivo, citado por 57% dos jovens que não se hospedaram em albergues foi não conhecer este tipo de hospedagem (gráfico 12). Outros 27% responderam que não acham a estadia agradável. Porém, essa resposta pode evidenciar que dentro desses 27% que afirmam achar desagradável, podem estar pessoas desinformadas e que também não conhecem este tipo de hospedagem, ocasionalmente confundindo albergue da juventude com albergues públicos, instituições mantidas por prefeituras para abrigar moradores de rua. 13% afirmaram que nunca se hospedaram em albergues por falta de oportunidade. 1% não acha economicamente viável, outro 1% respondeu não haver albergue no destino e o último 1% afirmou ter outros motivos.
Perguntamos aos 17% que já tinham se hospedado em albergues como eles ficaram sabendo dos albergues onde eles se hospedaram (gráfico 13). A grande maioria, 77%, respondeu que tomou conhecimento através da internet, 15% através de amigos e 8% disseram que ficaram sabendo através de outros meios.
Também foi perguntado aos alberguistas em quais albergues eles já haviam se hospedado, porém muitos deles não responderam. Por ser uma pergunta aberta, obtivemos respostas diversas, como o nome do hostel, cidade ou país. Foram citados Florianópolis, Londres, Maresias, Camburi, Buenos Aires, Mendonza, Argentina, Alemanha, Che Lagarto (na Ilha Grande, RJ), Europa, Extrema (MG), Nova Iorque, Nova Zelândia e Rio de Janeiro.
Os que já tinham se hospedado em albergues também responderam sobre a motivação para a escolha deste meio de hospedagem (gráfico 14). Mais da metade, 53%, afirmou que levou em consideração o preço da estadia. 26% têm a localização como motivação para a escolha do albergue. Interação com outras pessoas foi citada por 15% dos amostrados e somente 6% priorizam o ambiente.
Apenas um quarto dos questionados afirmou conhecer a filosofia alberguista (gráfico 15); nota-se, mais uma vez, a falta de informação a respeito desse meio de hospedagem.
Constatou-se que apenas 6% dos jovens são filiados à Hostelling International (HI) (gráfico 16). Esse dado condiz com o perfil dos jovens amostrados que, em sua maioria, viaja pouco ou muitos poucos dias por ano
Dos 94% não filiados à HI, 58% afirmaram não conhecer a instituição (gráfico 17), 17% disseram que ainda não precisaram da carteira de alberguista, 12% responderam não ter interesse na filiação, 6% não achou vantajoso, 4% não conhecem a filiação ou a carteira de alberguista. Não gostam, não utilizam este meio de hospedagem e não viajam com freqüência somam 3% dos questionados.
O fato da pessoa não viajar com freqüência, não gostar ou não utilizar este meio de hospedagem pode incluí-la no grupo dos que não acha vantajoso. Se o jovem não conhece a filiação, é provável que ele não conheça a HI, já que a carteira de alberguista é amplamente divulgada nos sites dos albergues cadastrados e da própria HI. Dos que responderam que ainda não precisaram, pode ser que não utilizam este meio de hospedagem, não viajam com freqüência ou já se hospedaram em albergues, porém não cadastrados.
Dentre os destinos mais procurados pelos jovens amostrados em suas viagens (gráfico 18), o litoral foi o mais citado, com 42%, seguido do interior de São Paulo, 11%, e o nordeste brasileiro, com 9%. A Europa foi citada por 6% dos jovens, a região sul do Brasil e os EUA por 5% cada, o campo e o Rio de Janeiro por 4% cada e países da América do Sul por 3%. Outras respostas foram dadas por 11% dos amostrados.
Nota-se que mais da metade dos jovens preferem o litoral ou o interior de São Paulo, localidades próximas à capital, local onde os questionários foram aplicados, e os jovens provavelmente possuem parentes ou amigos os quais podem emprestar suas casas para hospedagem.
Além disso, a proximidade facilita a utilização do carro próprio como meio de transporte (gráfico 19), resposta dada por 43% dos amostrados. 27% afirmaram utilizar avião com maior frequência, que evidencia viagens de longo percurso. O ônibus foi citado em 20% dos questionários. Carros alugados e a pé foram citados por 4% de cada, motocicleta e bicicleta somam 2% das respostas.
4.3. AS ENTREVISTAS
Atualmente existem 14 albergues na cidade de São Paulo, sendo que três deles são filiados à HI. Segundo Giaretta (2002), a faixa etária da maioria dos alberguistas (33,25%) é de mais de 30 anos, seguidos de 27,75% de jovens entre 21 e 25 anos. Quase a metade, 52%, é do sexo feminino e 52,66% dos alberguistas amostrados em sua pesquisa estudam. A maioria, 32,73%, possui curso superior completo, seguidos de 31,70% com curso superior incompleto. Em sua pesquisa foi constatado que 57,36% dos alberguistas entrevistados pertenciam ao tipo alocêntrico, conforme o modelo de Stanley Plog, aqueles que são ávidos por atividades, querem conhecer coisas novas, buscam lugares que não são desenvolvidos turisticamente, procuram aventura e preferem viagens flexíveis.
Foram realizadas quatro entrevistas qualitativo-descritivas com os empreendedores de quatro albergues da juventude (sendo dois deles filiados à HI e os outros dois não filiados). Os dois albergues filiados à HI são o Hostel Praça da Árvore (que recebe o nome do seu bairro) e o Sampa Hostel (na Vila Madalena), ambos abertos em 2008 e filiados no mesmo ano. Os dois albergues não filiados à HI são o Saci Hostel (no bairro do Sumaré) e o Olah Hostel (na Vila Mariana), abertos há sete meses e há um ano, respectivamente.
Durante as entrevistas, foi notado que todos os proprietários dos albergues eram mochileiros e acabaram conhecendo os albergues em suas viagens fora do país e na volta ao Brasil perceberam a escassez de albergues da juventude na cidade de São Paulo. Eles viram nesse mercado uma ótima oportunidade de negócio assim como o proprietário do Saci Hostel contou em entrevista.
[..] o turismo jovem no Brasil acaba sendo subestimado principalmente em grandes cidades, o pessoal tem os olhos muito abertos para grandes hotéis e o turismo um pouco mais jovem acaba sendo subestimado. Atendendo a esta demanda estamos dando oportunidade a um público que na verdade não era atendido antes, um público que realmente precisa de algo um pouco mais barato e querem sociabilidade e a idéia dos hostels acaba facilitando para essas pessoas (Diego Silveira, Saci Hostel).
Percebe-se que os empreendedores captaram a necessidade dos jovens em meios de hospedagens mais baratos e sua consequente falta de opção; apesar de ser um meio de hospedagem pouco conhecido, os quatro entrevistados nos contam que a taxa de ocupação dos albergues são boas e variam de 50% na baixa temporada (ocupação mínima) a 100% na alta temporada.
Observou-se também que pelo conhecido fato de as pessoas associarem o nome albergue da juventude com os albergues da prefeitura, voltados para os moradores de rua, eles evitam utilizar, assim, o nome albergue da juventude em seus meios de divulgação. Dessa maneira eles utilizam a palavra de origem inglesa hostel, inclusive no próprio nome do empreendimento, Saci Hostel, Olah Hostel, etc.
Como a principal (e às vezes única) ferramenta de marketing de todos os albergues da juventude é a internet, se uma pessoa vir a procurar pela palavra albergue num site de busca provavelmente não terá tanto sucesso quanto aquela que procurar pela palavra hostel.
Identificou-se também que a maioria dos hóspedes é formada por jovens de 18 a 30 anos. Segundo os entrevistados, eles são de origem estrangeira e sua grande maioria vem da Europa. Uma pequena parcela são jovens oriundos de outras cidades brasileiras, quem se hospedam em albergues pelo bom custo beneficio, e vêm por diversos motivos, desde busca por cursos, lazer, congresso, eventos esportivos até pela parte cultural que a cidade oferece (shows, teatros, Virada Cultural, etc.).
Atualmente o desconhecimento desse meio de hospedagem talvez se refira a uma cultura das viagens no Brasil, mais voltada ao crescimento das pousadas e pequenos hotéis e mesmo acampamentos. Na verdade, os campings nas regiões de praia e montanha talvez constituam a forma mais popular de acomodação que os jovens conhecem e praticam, segundo os entrevistados. Acredita-se, pelas respostas aos questionários, que há um grande desconhecimento da filosofia e cultura alberguista e como ela se desenvolveu em outros países desenvolvidos. Como se notou pelo histórico desses meios de hospedagem, eles têm uma forte vinculação com as necessidades ditadas pelas dificuldades das duas guerras mundiais etc. A maneira como o turismo tem se desenvolvido no Brasil, os tipos de turismo mais desenvolvidos, a facilidade dos campings, etc., talvez expliquem o desconhecimento dos jovens brasileiros pela prática do alberguismo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A grande contribuição deste trabalho é o entendimento da demanda dos albergues da juventude na cidade de São Paulo, a aplicação da filosofia alberguista, os tipos de turismo que praticam os jovens universitários de universidade particular; e, principalmente, que os jovens não conhecem os albergues da juventude e este é o principal motivo pelo qual eles não os utilizam como meio de hospedagem.
Lembrando que todos os 167 questionários foram entregues a alunos da Universidade Anhembi Morumbi, localizada na Vila Olímpia, e por ser uma universidade particular, frequentada por alunos de classe média, média alta, obtivemos resultados característicos, como 33% dos respondentes terem afirmado que ficam hospedados em hotéis, 29% em casa de amigos, 26% em pousadas. Isso indica que eles têm condições financeiras para isso, e acabam por não se interessar em se hospedar em albergues; apenas 4% disseram que utilizam os albergues como meio de hospedagem em suas viagens.
A maioria dos respondentes, mais exatamente 57%, disseram não conhecer o albergue da juventude como meio de hospedagem e 27% não acham agradável, muito provavelmente porque também não conhecem este meio de hospedagem.
O fato de 76% dos jovens viverem com sua família, e sua idade média ser de 22,7 anos de idade indica que este não é o perfil de um frequentador de albergue, um jovem independente com espírito aventureiro. Também não faz parte da cultura do brasileiro, que não está acostumado em dividir quarto e banheiro com desconhecidos
Outro fato que deve ser levado em conta é que não existem incentivos por parte do governo em se investir nesse tipo de hospedagem, um dos motivos pelos quais os jovens universitários brasileiros não aderiram ao movimento alberguista e não existam tantos albergues no Brasil e na cidade de São Paulo.
Com as entrevistas pode-se observar que existe espaço no mercado para o crescimento do número de albergues em São Paulo e no Brasil; isso pode acontecer, a partir do momento que o governo e empreendedores perceberem a necessidade de atender este segmento do turismo jovem e que o retorno, além de financeiro, será a favor da formação cultural do jovem brasileiro.
Assim como os proprietários dos albergues, a maioria dos jovens que conhece e se hospedou em albergue foi porque se hospedou em um hostel fora do país e aderiu ao meio de hospedagem. Quando se hospeda em um albergue da juventude, além da economia, o jovem está interessado em aumentar sua bagagem cultural através do intercâmbio de experiências e convivência com pessoas do mundo inteiro.
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