Nizamar Aparecida de Oliveira (CV) y Luiz Octávio de Lima Camargo (CV)
INTRODUÇÃO
O gerenciamento de riscos faz parte de uma nova filosofia de administração
empresarial, lastreada em noções atuariais e de seguros em geral, propondo, de
um lado, levantar esses riscos e, de outro, transferi-los de forma consciente
para uma seguradora, o que acarreta benefícios, além de credibilidade. Da
associação de ambos os problemas, resulta a questão central deste artigo que
pode ser assim explicitada: de que forma o gerenciamento de riscos compreende e
busca prevenir ou minimizar os efeitos causados por esses riscos quando os
mesmos ocorrem,sobretudo nos meios de hospedagem?
A importância deste estudo é não apenas de trazer os resultados de uma pesquisa
sobre o tema como de trazer as fontes que podem ser consultadas em projetos de
pesquisa de maior envergadura. Afinal, os riscos ocorrem não apenas em meios de
hospedagem como também nos diferentes âmbitos do sistema turístico. Diga-se,
ainda, sobre a oportunidade deste tema que ele é apenas marginalmente tratado na
literatura sobre o turismo. Aliás, a pesquisa que embasa este texto, faz parte
exatamente de um projeto mais amplo que busca identificar e analisar os riscos
em todas as etapas da área.
Os únicos autores existentes já são colocados de início como referências
teóricas: Matos,V.(2006); Matos e Barcellos(2010). Até agora, contudo, eles
parecem interessados mais na análise dos problemas de saúde na viagem e não na
viagem como um problema de saúde. Também como marcos teóricos, foram utilizados
autores do campo da hospitalidade Camargo(2003); Montandon(2003). Mencionem-se
ainda autores que tratam da segurança em outros meios de hospedagem como
cruzeiros como Brida, Aguirre e Velasquez(2010). bem como os que discorrem sobre
gerenciamento, segurança e manutenção de hotéis além da gestão e negócios em
hotelaria - Beni( 2006), Dias e Pimenta (2005) e Cavassa (2001); e Hope (2002)
que estuda o Gerenciamento de Riscos no âmbito de seguros.
A metodologia consistiu no estudo de caso de um hotel, ora fechado, cujo
ex-gerente foi o único a se dispor a falar sobre os riscos embutidos na recepção
hoteleira e em que estes riscos atingem não apenas os hóspedes como os próprios
funcionários . A entrevista foi conduzida com base em três categorias para a
análise dos resultados: (a) riscos para o hotel; b) riscos para o hóspede; e c)
riscos para os funcionários,
Com os resultados preliminares desta pesquisa, foi possível verificar a
necessidade de uma maior conscientização de todos os envolvidos em uma viagem; o
turista, o setor turístico, e a cidade em sua política de saúde.
O VIAJANTE
Do ponto de vista antropológico, a viagem e, por extensão, o turismo é a busca
de uma nova paisagem, de um novo ritmo e de um novo estilo de vida. Aí reside o
seu prazer. No imaginário das pessoas, a viagem desperta prazeres como estar
diante da Torre Eiffel (para se tomar o exemplo mais banal) ou visitar o Louvre,
andar mais lentamente e sossegado, acordar no ritmo normal, bem como conhecer as
diferentes formas de vida cotidiana dos locais, o gosto específico da comida e
bebida encontrável apenas no país de destino. Todos esses prazeres podem ser
destruídos por uma anomalia estomacal, uma gripe, etc.
Ademais, a pessoa que sai de sua localidade de residência, para outra
localidade, seja esse local seu próprio país ou não, sozinho ou acompanhado, a
trabalho ou a lazer, passa a desenvolver algumas necessidades básicas como
alimentação, segurança e hospedagem. O viajante não sabe exatamente, como será a
recepção, se encontrará uma cena hospitaleira ou se haverá uma atitude de
hostilidade. Dias e Pimenta (2005, p. 177) afirma:
Um indivíduo que se desloca de seu domicílio para outra localidade em caráter
provisório, por qualquer motivo que seja, torna-se cliente de uma estrutura do
sistema turístico a qual denominamos setor hoteleiro, composto por uma série de
hotéis de diferentes tipos e classificações, atendendo aos mais diversos tipos
de necessidades de viajantes. Esse conceito é parte integrante de um outro
maior, o da hospitalidade, que envolve todo um conjunto de agentes de uma
comunidade voltados a prestar assistência a um tipo especial de cliente: o
consumidor turista.
O viajante, contudo, sabe que, por não estar em seu ambiente pessoal, corre
riscos conhecidos e desconhecidos. Para um melhor entendimento, faz-se
necessário, a priori, definir risco. Risco significa incerteza sobre a
ocorrência ou não de uma perda ou prejuízo, ou, é a possibilidade de ocorrência
de um evento aleatório que cause dano de ordem material, pessoal ou mesmo de
responsabilidade. E os riscos são muitos. Deve-se lembrar que o turista está
exposto aos mais variados riscos quando não se encontra em seu ambiente natural
ou quando esses riscos trazem desconfortos e constrangimentos, que aumentam na
razão direta da distância de sua casa: quedas, fraturas, assalto, desvio de
bagagem, acidentes de trânsito, doenças epidêmicas, DST entre tantos riscos.
Matos e Barcellos (2010) abordam a responsabilidade do turista em relação à
prevenção da saúde.
Para a OMS, a prevenção na saúde do turista não poderia ser responsabilidade
somente do governo; essa responsabilidade deveria recair também sobre o
indivíduo, que precisa buscar informações sobre o local a ser visitado.
Portanto, a responsabilidade seria dividida entre o setor saúde, o setor de
turismo e o próprio turista. (p.132)
Se de um lado, o anfitrião não sabe que hóspede estará recebendo, por outro
lado, o hóspede não conhece seu anfitrião. Portanto, cabe a ele, tomar também,
medidas preventivas quando decide fazer uma viagem. Montandon bem define essa
situação citando Ulisses: Como quando Ulisses aporta a uma nova costa, vem a
mesma pergunta, incessantemente: Encontrarei brutos, selvagens sem justiça, ou
homens hospitaleiros, tementes aos deuses? (Montandon, 2003, p.131).
O viajante sabe, de antemão, que não pode contar com a hospitalidade humana nos
locais de destino. Como lembra Camargo (2003, p.86)
Os motivos arrolados (para as crises de demanda turística) são os epidérmicos:
terrorismo, guerras, violência, epidemias, falta de confiança na tecnologia de
transportes. Esses problemas existem e são efetivamente os causadores do que se
chama de forte sensibilidade do fluxo turístico, ao sabor desses eventos. Não é
desses problemas que se quer falar aqui. Essas conjunturas vêm e vão (...) até
que se ataque à verdadeira doença do turismo, a inospitalidade dos locais de
destino.
Frequentemente, o turista não tem a quem recorrer. O hóspede de uma cidade,
portanto, deve entender que cabe a ele cuidar-se. A única solução que lhe cabe e
que é, de resto, obrigatória num número cada vez maior de países, é o
seguro-viagem. Assim, pelo menos ele se libera de parte do ônus decorrentes dos
acidentes. A ele, infelizmente, cabe tornar essa cena mais hospitaleira e
aprazível.
Contudo, poucos têm conhecimento, ou simplesmente ignoram o seguro viagem,
necessário não apenas nos vôos internacionais como dentro do país. Há mesmo
instituições e empresas que adotam a praxe de um seguro de viagem permanente
para os profissionais que viajam mais. Outra preocupação que o viajante deve ter
está relacionada às vacinas que devem ser tomadas, antes da viagem e os prazos
para a imunidade de cada uma delas. Silva (2006), em sua dissertação, faz um
amplo estudo em relação a estes cuidados.
O advento da Internet é um facilitador para o viajante, que pode obter
informações sobre o local a ser visitado em uma breve navegação, no entanto, as
agências de turismo e as operadoras de viagem também devem prestar ao viajante
as informações relacionadas aos riscos que ele poderá correr em sua viagem. Cabe
ainda, à cidade, alertar sobre epidemias locais, segurança, e todos os riscos e
não apenas apresentar seus atrativos turísticos.
A NECESSIDADE DO GERENCIAMENTO DE RISCOS
Atentos a essas situações, o setor hoteleiro busca como forma de prevenção,
transferir esses riscos para uma seguradora, com a finalidade de minimizar seus
prejuízos e, principalmente, para não macular sua imagem no mercado. Para que os
seguros relacionados ao setor tenham custos mais acessíveis, torna-se
conveniente tomar medidas de gerenciamento de riscos, entendido como um conjunto
de técnicas e estratégias que visam reduzir ao mínimo os efeitos das perdas por
acidente: danos pessoais, materiais, ao meio ambiente e à imagem da empresa. É
uma nova filosofia de administração empresarial. É uma nova filosofia de
administração empresarial. Gerência de Riscos é o processo de planejar,
organizar, dirigir e controlar os recursos humanos e materiais de uma
organização, no sentido de minimizar os efeitos dos riscos sobre essa
organização, ao menor custo possível.
Um meio de hospedagem deve ser analisado como uma empresa e como tal, está
exposta a inúmeros riscos. Notícias de incêndio, acidentes com funcionários ou
hóspedes, são mais comuns do que se pode imaginar. Só após a ocorrência de um
acidente que se costuma avaliar se o local oferecia segurança, se havia ou não
uma manutenção preventiva e quem é o verdadeiro culpado do acidente.
Paulatinamente, os brasileiros foram tomando conhecimento do Código de Defesa do
Consumidor e aprenderam a exigirem seus direitos. Por outro lado, ao analisar os
riscos relacionados aos funcionários, é importante lembrar que os sindicatos são
pontuais em relação à segurança. Por isso, a importância de um gerenciamento de
riscos.
Cavassa (2001) e Hope(2002) sugerem métodos e procedimentos para análise dos
acidentes, dos riscos existentes e dos procedimentos inseguros. Buscando-se
compatibilizar as linguagens de ambos, pode-se dizer que as medidas de prevenção
dividem-se em: Técnicas, Legislativas, Médicas e Administrativas. Em seguida,
deve-se implantar o sistema de prevenção, supervisão e controle. Trata-se de um
estudo bem detalhado, tendo um capítulo de sua obra Hotéis: Gerenciamento,
Segurança e Manutenção, totalmente dedicada a este estudo.
ETAPAS DA GESTÃO DOS RISCOS
Para que o meio de hospedagem possa contratar um seguro, por vezes, faz-se
necessária a contratação de um gerente de riscos que irá adequar o ambiente de
acordo com as normas de segurança exigidas por lei. Após uma análise, será
realizado um processo de tomada de decisões dividido em sete etapas, para uma
melhor administração dos riscos. Abaixo, as sete etapas:
Identificação das exposições a perdas
Uma vez realizadas as considerações prévias ao processo (atividades
pré-processo), a primeira etapa do processo consiste na identificação das
exposições a perdas da organização. Define-se a identificação de exposições a
perdas como o conjunto de atividades que têm por objetivo procurar, selecionar,
listar e caracterizar (classificar) os diferentes elementos que compõem as
exposições a perdas de uma organização. Essa definição nos obriga a definir o
que é a exposição a perda de uma organização como a possibilidade de perdas
(financeiras, humanas, etc.) que uma organização sofre como resultado da
materialização de um evento potencial (denominado perigo), que afeta um elemento
em particular ou grupo de elementos e o(s) qual (is) tem um(ns) valor (es)
determinado (s) para tal empresa.
Avaliação das exposições a perdas
A segunda etapa do processo consiste na avaliação das exposições a perdas.
Define-se a avaliação das exposições a perdas como o conjunto das atividades que
tem por objetivo determinar o perfil atual e emitir uma opinião tecnicamente
fundamentada sobre o comportamento futuro dos elementos que compõem a exposição
à perda de uma organização.
Seleção das técnicas de controle de riscos
A terceira etapa desse processo consiste na seleção das técnicas de controle de
riscos. Define-se como uma técnica de controle de riscos uma atividade
específica que tenha sido desenhada com o objetivo de minimizar ou manter a
freqüência ou severidade do perfil de uma exposição a perda específica. Para
selecionar as técnicas de controle de riscos, a empresa deverá fixar os
critérios de seleção que se utilizarão durante esta etapa do processo.
Seleção das técnicas de financiamento de riscos
A quarta etapa desse processo consiste na seleção das técnicas de financiamento
de riscos. Define-se como técnica de financiamento de riscos um mecanismo
específico de financiamento que tenha sido implementado a priori com o objetivo
de financiar as perdas ocasionadas pela materialização de um evento potencial ou
série de eventos pertencentes a uma exposição específica. A empresa deverá fixar
os critérios de seleção que se utilizará durante esta etapa do processo.
Estruturação do programa de gerência de riscos
A quinta etapa do processo consiste na estruturação do programa de gerência de
riscos. Define-se como estruturação do programa de gerência de riscos o conjunto
de atividades que se realizam com a finalidade de integrar todas as técnicas de
controle e financiamento de riscos previamente selecionadas em um só portfólio
de manuseio de riscos tanto técnicos como financeiros. O objetivo dessa
integração é lograr tanto o funcionamento harmônico como a coexistência de todas
as técnicas diferentes previamente selecionadas, assim como a sua racionalização
com os mesmos critérios. Adicionalmente se busca otimizar todos os recursos que
a organização tenha posto à disposição para o manuseio dos mesmos. A empresa
deverá fixar os critérios de estruturação e integração que se utilizarão durante
esta etapa do processo.
Implementação do programa de gerência de riscos
Esta etapa consiste na implementação do programa de gerência de riscos. Podemos
defini-la como o conjunto de atividades que têm por objetivo a instalação e o
colocar em funcionamento o programa de gerência de riscos previamente
estruturado, para toda a organização e também para a área de influência externa
(fornecedores, etc). A organização deverá fixar os critérios de implementação e
as linhas de autoridade hierárquicas de que se utilizará durante esta etapa do
processo.
Monitoramento e melhoria do programa de gerência de riscos
Após a implementação deve-se monitorar e se necessário, melhorar o programa, em
um acompanhamento contínuo (caso dos cortadores de cana, hotel corte de
carne). Através das melhoras obtidas no monitoramento do programa, define-se as
devidas melhorias no processo de gerenciamento de riscos.
Em uma visita ao hotel que ora encontra-se desativado, o gerente se propôs a
fornecer informações sobre os riscos que rondam um hotel e as medidas que foram
tomadas para minimizar ou excluir esses riscos, na ocasião em que o
estabelecimento se encontrava em atividade.
Os riscos foram divididos entre: Empresa (Hotel), Funcionários e Hóspedes. Para
a Empresa foram apontados os seguintes riscos:
a) Processo por Responsabilidade Civil;
b) Perda de Mercadoria por falta de energia elétrica;
c) Incêndio provocado por cigarros e ferros elétricos nas Unidades
Habitacionais;
d) Danos a equipamentos elétricos;
e) Reutilização de Alimentos;
f) Briga entre funcionários;
g) Processos trabalhistas.
As medidas tomadas, respectivamente foram:
a. Contratação de Seguro Patrimonial com cobertura adicional de Responsabilidade
Civil;
b. Aquisição de um gerador para que os alimentos não se deteriorassem em caso de
falta de energia elétrica;
c. Quanto aos cigarros, não há como prevenir, é um risco que se corre, ainda que
o hóspede seja informado do perigo de adormecer com o cigarro aceso. Em relação
ao ferro elétrico, que o hóspede geralmente deixa ligado em cima da cama ao sair
do quarto, foram instalados disjuntores que se desligam após determinado prazo
de uso de equipamentos dessa espécie nos quartos;
d. Manutenção periódica dos equipamentos;
e. Trituração das sobras de alimento;
f. Treinamento para os funcionários e;
g. Equipamentos de segurança, exames médicos periódicos e rigoroso controle de
horário da jornada de trabalho.
Os riscos mais comuns a que os Hóspedes estão sujeitos:
a) Intoxicação por alimentos;
b) Quedas e fraturas;
c) Roubo de bens;
d) Contaminação por água;
e) Ficar no elevador em caso de quebra ou falta de energia;
f) Queimadura no chuveiro.
As medidas tomadas pelo hotel foram:
a) Orientar o hóspede a contratar um seguro viagem para assistência médica;
b) Sinalizar quando houver piso escorregadio;
c) Instalação de câmeras em todos os corredores e contratação de cobertura de
roubo de bens de hóspedes no seguro empresarial;
d) Orientar o hóspede a consumir apenas água mineral ou potável;
e) Interfone no elevador para acionar a recepção e capacitar funcionários para
liberar passageiros que estejam presos no interior do elevador e;
f) Sinalizar corretamente como atingir a temperatura correta do chuveiro ao
utilizá-lo.
Em relação aos funcionários, os riscos mais recorrentes são:
a) Queimadura no manejo de alimentos;
b) Corte profundo no manejo com alimentos;
c) Quedas enquanto faz limpeza em vidros ou locais altos;
d) Choques com a energia elétrica;
e) Doenças respiratórias por acesso às câmeras frigorificas;
f) Cortes com serra elétrica;
g) Queimaduras com solda e;
h) Ferimentos graves em equipamentos rotativos.
As medidas de segurança tomadas foram:
a) Luvas de proteção, calçados especiais;
b) Luvas de metal para corte de alimentos e calçados especiais caso haja a queda
de material cortante;
c) Equipamentos de proteção, cordas de segurança para andaimes, escadas seguras,
cintos de segurança;
d) Luvas e calçados especiais para manuseio com energia elétrica;
e) Roupa de proteção para acesso às câmeras frigorificas;
f) Luvas especiais para utilização de serra elétrica e treinamento contínuo para
o uso correto;
g) Máscaras faciais especiais para uso de solda e;
h) Roupas e cuidados especiais para uso desses equipamentos.
O ex-gerente frisou a necessidade de treinamento e capacitação contínua dos
funcionários para que os acidentes sejam minimizados. É necessário também que
exames médicos sejam realizados periodicamente, de acordo com as exigências
sindicais.
Mas, apesar de todos os riscos a que estão sujeitos os hospedeiros, o viajante
será o maior prejudicado na maioria das situações. Será ele quem terá todos os
seus sonhos e desejos transformando-se em um pesadelo caso tudo não ocorra de
acordo com o planejado.
CUIDADOS DO VIAJANTE
O indivíduo que planeja viajar deve ter uma preocupação especial com sua saúde e
tomar conhecimento prévio dos riscos de doenças infecciosas que pode adquirir em
determinados destinos. Que problemas de saúde podem afetá-lo deve ser de seu
conhecimento. O ato de viajar implica em sair de sua rotina, de seu lugar
habitual e o viajante se expõe a riscos relacionados à saúde, violência,
transmissão de doenças contagiosas, acidentes, contaminações por água,
intoxicação por alimentos, queimaduras solares, entre outros.
Em seu artigo O olhar do turismólogo para os riscos à saúde dos turistas: uma
experiência no curso de graduação em turismo da UFF. Matos (2008) alerta sobre
o equívoco em acreditar que apenas os países em desenvolvimento apresentam
riscos de saúde e que para os países desenvolvidos, o risco seja inexistente. No
mesmo texto, citando Spira2003, p.41 apresenta alguns dados sobre riscos em
viagens internacionais tanto durante ou após a viagem. Segundo ele,
A cada 100 mil viajantes que se dirigem a países em desenvolvimento, 50 mil
apresentam algum tipo de problema de saúde, 8 mil procuram por um médico, 5 mil
necessitam de repouso, 1100 viajantes ficam incapacitados para o trabalho, 300
são hospitalizados e um morre.
Os dados embora não atuais, são alarmantes e todo viajante deve considerá-los.
Daí a importância da gerência de ricos, como o processo de planejar, organizar,
dirigir e controlar os recursos humanos e materiais de uma organização, no
sentido de minimizar os efeitos dos riscos sobre essa organização, ao menor
custo possível.
A Fundação Oswaldo Cruz, em sua publicação eletrônica Série Doenças, relaciona
as 29 principais doenças existentes no Brasil, como são transmitidas, formas de
prevenção e seus sintomas e podem ser consultadas em seu sítio : Aids, Antraz,
Candidíase, Dengue, Doença de Chagas, Doenças Sexualmente Transmissíveis,
Escabiose, Esquistossomose Mansônica, Febre Amarela, Filaríase por Wuchereria
Bancrofti, Gonorréia, Gripe, Hanseníase, Hepatites Virais, Herpes, Herpes
Simples, Leishmaniose, Leptospirose, Malária, Meningites, Pediculose, Raiva,
Rubéola, Sarampo, Sífilis, Tétano, Toxoplasmose, Tuberculose e Verrugas
Genitais.
Em sua dissertação, Silva (2006 p.49-79), divide as doenças a que os viajantes
estão expostos nas categorias:
Doenças transmitidas por via respiratória
Gripe Influenza,
Sarampo,
Síndrome Respiratória Aguda Grave SARS,
Tuberculose,
Rubéola,
Caxumba,
Varicela,
Difteria,
Doença Meningocócica.
Doenças transmitidas por insetos e carrapatos
Malária,
Febre Amarela,
Dengue,
Febre Maculosa,
Doença de Chagas.
Doenças sexualmente transmissíveis (DST)
Aids,
Hepatite B,
Outras Doenças sexualmente transmissíveis como Sífilis, condiloma acuminado
(transmitido pelo HPV), herpes genital, gonorréia, cancro mole, donovanose e
linfogranuloma venéreo.
Doenças transmitidas através do contato com a água
Leptospirose,
Esquistossomose.
Infecções associadas a ferimentos e acidentes com animais
Tétano,
Raiva.
Contaminação por água ou alimentos
Diarréia do viajante,
Cólera,
Febre tifóide,
Hepatite A.
Outros agravos à saúde do viajante
Enjôo de movimento
Jet lag
Violência urbana,
Alterações psíquicas,
Stress,
Sensação de anonimato,
Acidentes.
RISCOS DO HOTEL
Da mesma forma que o viajante deve tomar medidas de prevenções ao planejar sua
viagem, em relação à saúde, transporte, segurança e meios de hospedagem, o seu
anfitrião, aqui representado pelo hotel, também devem ter consciência de seus
direitos e principalmente, suas obrigações.
O Código de Defesa do Consumidor trouxe à luz, os direitos que todo cidadão tem.
As pessoas estão atentas aos direitos e não aceitam mais serem prejudicadas sem
tomarem medidas judiciais.
No dia 15 de fevereiro de 2002, no Hotel Resort de Salinas de Maragogi, em
Alagoas, a menina Victória Basile Zacharias de 9 anos, perdeu a vida em um
passeio monitorado a cavalo. A menina foi montada em um animal grande,
inadequado ao seu tamanho, e com sela para adulto. Os pés da menina, por não
alcançarem o estribo foram presos, pelo monitor, por uma tira de couro que
sustenta o estribo, (loro). Em um determinado momento, o cavalo assustou-se e
disparou. A sela, que estava mal arriada, girou do corpo do animal derrubando
Victória que, por estar presa na tira de couro, foi arrastada por cerca de 300
metros. Em março de 2008, o hotel foi condenado a pagar uma reparação
financeira, por danos morais, no valor nominal de R$ 4 milhões, pela morte da
pequena hóspede. A condenação envolve também o reembolso dos dispêndios
materiais (R$ 28.463,30). Somadas as duas rubricas, corrigidas e com juros, a
cifra total chega a R$ 5.613.191,45. O hotel foi condenado, também, a pagar a
honorária de R$ 600 mil. Após esse acidente, os pais de Victória fundaram a
Organização não Governamental Associação Férias Vivas, uma instituição que tem
por objetivo a educação para o turismo seguro e responsável . No sítio desta
associação, é possível verificar várias ocorrências de acidentes, ler artigos
relacionados ao turismo divididos em quatro seções: Conhecimento Turístico,
Conhecimento Jurídico, Gerenciamento de Risco e Normatização.
No tópico acidentes, além de relatórios divididos em Turismo de Lazer, Turismo
Ecológico, Turismo de Aventura, Turismo de Atrações, Turismo Náutico e Turismo
de Eventos e todos os acidentes que a Associação teve conhecimento, inclusive da
filha dos fundadores, há a possibilidade de narrar um acidente em que o
visitante do sítio vivenciou. Para todas as modalidades de Turismo acima citada,
há a estatística dos acidentes, conforme gráficos abaixo:
As estatísticas citadas fazem parte do banco de dados de acidentes de turismo e
lazer e foram compilados pela Associação Férias Vivos, através de arquivos de
jornais, jurisprudências e relatos sociais. Portanto, não podem ser considerados
oficiais, mas apenas informativos. Entretanto, são dados que devem ser
amplamente utilizados e divulgados como alerta aos inúmeros acidentes que
ocorrem nos períodos em que as pessoas encontram-se viajando.
Para o Hotel, contratar seguros patrimoniais, de responsabilidade civil, seguros
de pessoas, seguro saúde para seus funcionários é de fundamental importância.
Incentivar seu hóspede a contratar um seguro viagem, além de trazer muitos
benefícios ao contratante, proporciona ao anfitrião, na figura do hotel, maior
segurança. Há um mito de que todos os seguros são muito onerosos, as pessoas
tomam por base, sempre o seguro mais popular, que é o seguro de automóvel, que é
de fato, um seguro muito caro em nosso país. No entanto, os demais seguros
ofertados no mercado, possuem um custo muito menor que o benefício oferecido.
Cabe ao hotel se conscientizar também que, não basta contratar seguros, é
necessário que se tenha um programa de gerenciamento de riscos, rigoroso e
permanente.
O mesmo vale para outros meios de hospedagem como cruzeiros e seus problemas
específicos de segurança, como o lembram Brida, Arruda e Velásquez(2010, p.15),
afirmando que junto a las instituciones pertinentes y los gobiernos
locales,(hay que) lograr convertir estas áreas em sitios atractivos y dinámicos,
con la seguridad necesaria para hacer que los turistas puedan salir del puerto
por sus propios médios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados preliminares desta pesquisa apontaram para os seguintes riscos: a)
para o hotel: processo por responsabilidade civil por perda de mercadoria,
inclusive por queda de energia, danos a equipamentos elétricos, reutilização de
alimentos, briga entre funcionários e processos trabalhistas. b) para o hóspede:
intoxicação por alimentos e contaminação por água, quedas e fraturas, roubo de
bens, ficar retido no elevador ou sofrer uma queda porque o elevador não se
encontra no andar, incêndio por uso inadequado do ferro elétrico, incêndio com
cigarro no apartamento e queimaduras no chuveiro; c) para o funcionário: doenças
pulmonares e respiratórias devido à baixa temperatura das câmaras frigoríficas,
queimaduras com o uso de solda elétrica, quedas ao utilizar andaimes, cortes
profundos na manipulação de alimentos, choques em energia elétrica, cortes com
uso de serra elétrica.
Todos esses riscos podem ser cobertos por seguros, e esta não é somente despesa
como também investimento em melhoria de imagem e na diminuição de desgastes que
não afastem o gestor de seus verdadeiros problemas. Nem por isso, contudo,
pode-se virar as costas à reflexão acima de Camargo(2003). Afinal, na velha
hospitalidade genuína, era o anfitrião que se ocupava dos acidentes dos seus
hóspedes. É uma relação humana substituída por uma hospitalidade encenada.
É preciso aceitar, ao menos como hipótese, que tais riscos afastam os turistas e
que são os determinantes para alguns do desinteresse pela viagem. Porém,
diferentemente das maravilhas que se difundem sobre o turismo, não há ainda
pesquisas que tratem de indivíduos com falta de interesse pela viagem. Quem
sabe, porque o senso comum e mesmo especialistas da área, aceitam de pronto a
idéia de que a viagem não acontece apenas por motivos financeiros. Isto é
verdadeiro, à condição de também lembrar que muitas pessoas não apreciam viajar
e isto pode acontecer pelos mais diferentes motivos: gosto de ficar em casa,
previsão de desconforto na viagem, falta de interesse em conhecer novas
paisagens, ritmos e estilos de vida de outras sociedades.
Este estudo visou apresentar os riscos aos quais um meio de hospedagem, os
empregados e os hóspedes estão expostos e a importância da gestão de tais
riscos. Afinal, este setor é parte do sistema turístico, tal como o concebeu
Mário Beni(2006). Apenas depois que um acidente, que pode parecer mínimo, mas
traz graves conseqüências, como pode ser visto no caso da Victória, que custou
uma indenização de grande monta, os hoteleiros percebem que a administração de
riscos é um investimento e não um custo para a gestão, investimento que pode
impedir que o sonho de uma vida transforme-se um pesadelo. Na verdade, como
lembraram Burkowski et al.(2008), a segurança é hoje item básico da avaliação e
classificação dos hotéis:
No aspecto segurança, a ABIH apresenta alguns critérios que devem ser seguidos
por todos os meios de hospedagem. O que vai diferenciar a categoria entre um e
outro é a variação dos itens, em função da aplicabilidade ou não de determinada
condição.
Os itens de segurança abordados pela ABIH começam a serem exigidos a partir dos
meios de hospedagem de três estrelas, sendo que os critérios direcionados aos
meios de hospedagem de uma á três estrelas é o treinamento geral do pessoal em
caso de situação de incêndio e pânico, e a existência de um porteiro.
Férias são momentos de descontração, muitas vezes, planejadas e sonhadas por um
ano inteiro. Portanto, é necessário escolher um hotel adequado às suas
necessidades e anseios, principalmente quando as férias familiares envolvem
crianças, idosos ou portadores de necessidades especiais. Deve-se buscar ao
máximo informações sobre a estrutura oferecida pelo hotel, se há playground,
piscinas, atividades monitoradas, acessibilidade e qual a preocupação com a
segurança em todos os quesitos por parte do hoteleiro.
Não basta apenas planejar uma viagem, é necessário conhecer a estrutura da
cidade que está acolhendo o turista, se há serviços de saúde, se o plano de
saúde oferece cobertura para o local. Caso isto não ocorra, é necessário
contratar um seguro viagem. Há planos com cobertura nacional e internacional. É
necessário verificar quais coberturas adicionais são necessárias contratar para
a viagem, os aqui lembrados desvio de bagagem, lesões em esportes, seguro de
vida por morte acidental, convalescença em hotel, assistência financeira,
assistência jurídica, entre outras, são coberturas que podem proporcionar uma
tranqüilidade em um eventual imprevisto.
Aparentemente, pousadas e hotéis que oferecem o turismo rural, são meios de
hospedagem mais vulneráveis a acidentes corporais. Levando-se em consideração
que tais empreendimentos encontram-se em lugares diretamente ligados à natureza,
acidentes em trilhas, picadas de insetos, ataque de animais silvestres,
cachoeiras com pedras escorregadias, entre tantos, seus proprietários devem ter
atenção redobrada em relação aos riscos e saber gerenciá-los, atitude que é
fundamental para a preservação de seu negócio e também de sua imagem.
Com esta pesquisa, foi possível concluir que, se não é possível eliminar todos
os riscos relacionados aos meios de hospedagem e que segurança absoluta não
existe, pode-se e deve-se conscientizar hoteleiros e hóspedes, de que eles
existem e que cumpre preveni-los.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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