Mutualismo e Desenvolvimento Econômico no Brasil do século XIX
Por Ronaldo Pereira de Jesus§
Mutualismo e desenvolvimento econômico no Brasil do século XIX[1]
Para que possamos desenvolver nossa análise da experiência mutualista no Brasil da segunda metade do século XIX é necessário que façamos algumas observações preliminares com o intuito de definir precisamente nosso objeto de investigação, especialmente acerca de outras modalidades de associação existentes no período com as quais as sociedades beneficentes conviviam, a fim de se estabelecer o limite preciso de atuação das mutuais no âmbito mais amplo do fenômeno associativo. Tal necessidade reflete o fato de que, embora não completamente inexistente, a investigação histórica do mutualismo no Brasil ainda se encontra em fase bastante inicial se comparada com outros países da América e Europa, sem constituir um campo de estudos consolidado propriamente dito. As confusões e incertezas sobre o mutualismo no Brasil ocorrem, sobretudo, devido à carência de fontes para pesquisa.
A princípio, vale ressaltar que não podemos confundir as sociedades beneficentes (socorros mútuos) com as irmandades leigas. As irmandades, embora parecidas com as associações mutualistas, consistiam em associações laicas de religiosos originadas muito antes das mutuais, que procuravam apoiar a Igreja através da disseminação e do fortalecimento da fé católica. Pode-se dizer que as irmandades contribuíram para a formação e consolidação de uma cultura associativa ao longo do século XIX no Brasil, que propiciou a criação das associações de socorros mútuos, no entanto, não há indícios empíricos de que as mutuais surgiram como desdobramentos das irmandades. Em geral, os dois tipos de sociedades foram contemporâneos.
Além disso, devemos distinguir as mutuais das corporações de ofício, embora fosse comum que uma associação de ajuda mútua reunisse trabalhadores de uma mesma categoria profissional. No entanto, a maioria das mutuais não fazia distinção quanto à ocupação dos associados. As principais funções das corporações de ofício eram a transmissão e proteção de um saber específico, funções que não integravam o conjunto de atividades da maior parte das mutuais conhecidas.
Também não devemos confundir mutualismo com filantropia. As associações filantrópicas, muitas vezes no Brasil do século XIX denominadas “beneficentes”, visavam oferecer socorro aos necessitados sem que da parte destes houvesse contrapartida financeira. Mantinham com seus beneficiados uma relação de solidariedade vertical. Por sua vez, as mutuais funcionavam como organizações cooperativas, marcadas pelos laços horizontais de solidariedade. Mesmo que algumas delas se dedicassem à filantropia, o faziam em benefício não dos associados, mas de indivíduos que dela estivessem excluídos. As associações filantrópicas geralmente possuíam caráter religioso. Por seu turno, as mutuais eram leigas, embora isso não significasse que seus membros não fossem religiosos, e nem que deixassem de fazer referência a Deus ou a santos de proteção em seus estatutos, atividades regulares e festividades. A diferença é que não se ancoravam na Igreja e, raramente, faziam distinção de credo entre os associados.
Precisamos ainda diferenciar as associações mutualistas das sociedades seguradoras. Estas últimas constituíam companhias privadas com fins lucrativos que, embora vendessem serviços semelhantes às mutuais, não compartilhavam quaisquer das características básicas inerentes às sociedades de socorros mútuos. No início do século XX assistimos à proliferação das seguradoras, como decorrência da redução das taxas sobre as operações de seguros e da instituição da Lei de Proteção contra Acidentes de Trabalho (1919). No entanto, as seguradoras tiveram vida curta no Brasil deste período, pois, erigidas com o propósito de serem contratadas pelas empresas para o cumprimento da lei, depararam-se com a falta de clientes e com a opção dos trabalhadores e patrões pelas sociedades de socorros mútuos. E foram progressivamente falindo, sobretudo após os impactos negativos da I Guerra Mundial sobre a economia brasileira.
Por fim, há que se ter cuidado na análise da relação entre as sociedades de socorros mútuos e os sindicatos, pois, observa-se o processo de desdobramento das primeiras nos últimos apenas em casos de raríssima exceção. Nas últimas décadas, a produção historiográfica voltada para o movimento operário no Brasil vem contestando contundentemente a tese (sem comprovação empírica) de que as associações mutualistas constituíam uma espécie de proto-sindicalismo no século XIX, que mais tarde evoluiria para a formação de associações de resistência no âmbito político das esquerdas. As pesquisas mais recentes demonstram que a experiência mutualista foi simultânea à organização dos sindicatos (inclusive os de esquerda) e contribuiu para a formação e o fortalecimento de uma cultura cívica entre os trabalhadores, indispensável ao processo de construção da cidadania no Brasil. Além disso, que a experiência mutualista representou um nível significativo da capacidade de organização da sociedade civil brasileira em torno do direito à proteção social. Uma estratégia de sobrevivência importante entre os trabalhadores no contexto de crise da Monarquia escravista e construção da ordem republicana. O mutualismo funcionava como locus de agregação de identidades e interesses compartilhados, reforçando os laços de solidariedades horizontais, e edificando espaços de sociabilidade e lazer para seus integrantes.
As associações mutualistas eram extremamente diversificadas em sua composição, motivação, temporalidade, clientela e objetivos. As primeiras associações brasileiras datam da primeira metade do século XIX e, embora algumas continuem funcionando até hoje, foram progressivamente esvaziaram-se ao longo das décadas de 1930 e 1940. A maioria tinha como objetivo principal disponibilizar para os associados proteção na ausência dos mecanismos formais de previdência pública. Ofereciam pensões, indenizações, financiavam enterros, forneciam remédios, atendimento hospitalar, entre outros cuidados. O grau de cobertura dependia, naturalmente, dos recursos disponíveis pela associação, que estavam diretamente relacionados ao número e ao poder aquisitivo dos sócios.
Não se pode classificar as associações segundo um padrão unívoco quanto a perspectiva identitária dos associados. Em geral as mutuais tinham base local, sendo minoritárias as de alcance regional ou nacional. Havia aquelas que se organizavam por etnia. Muitas foram erigidas em torno da categoria profissional dos associados, por locais de trabalho, ou indiscriminadamente reunindo trabalhadores de diversos setores. Ao longo do século XIX, sobretudo na segunda metade, foram criadas associações de ofícios e de classe, por exemplo, espalhadas por toda cidade do Rio de Janeiro, reunindo um número significativo de categorias profissionais, entre elas, ourives (1838), tipógrafos (1857), artistas da construção naval (40 membros, 1872), maquinistas (68 membros, 1873), artistas alfaiates (26 membros, 1876) e empregados nas indústrias de fumo (298 membros, 1881)[2].
Na maioria das mutuais prevalecia associados do sexo masculino, com idade média entre 15 e 55 anos. Pressupõe-se que tivessem renda relativamente fixa para arcar com as mensalidades cobradas. Portanto, estariam excluídos os setores que se encontravam à margem dos “avanços” do capitalismo no Brasil. No século XIX, em sua grande maioria as sociedades cobravam 1$000 (mil reis) de mensalidade, ou a anuidade de 12$000 (doze mil reis). O valor médio das jóias para entrada nas associações variava mais do que as mensalidades. Geralmente, estabelecia-se diferenciação por faixas etárias, na primeira faixa de idade (até 30 anos) a jóia em média variava entre cinco e quarenta mil reis, sendo 20$000 o valor mais comumente cobrado pela maioria das associações[3].
Algumas associações possuíam diferentes tipos de sócios além dos beneficiários comuns, tais como beneméritos e remidos. Os chamados beneméritos eram aqueles que despendiam contribuições significativas para a associação e não precisavam usufruir as benesses conferidas aos demais associados. A vantagem que desfrutavam residia no status a eles conferido ou no reforço de seu poder junto à comunidade na qual se inseriam. Ser o presidente de uma associação de socorro mútuo era um sinal inequívoco de prestígio social. Muitos diretores, por esta razão, mantinham-se indefinidamente no controle das mesmas.
As associações de ajuda mútua cumpriam um importante papel na promoção de atividades culturais. Constituíam espaços para lazer e congraçamento dos associados e dos demais moradores das cidades. Promoviam festas, quermesses e missas. Recebiam companhias circenses e teatrais. Organizavam cerimônias com as mais variadas motivações. Muitas dessas atividades serviam para arrecadar fundos, pois algumas sociedades almejavam construir sede própria, construir hospitais ou comprar uma farmácia. Os recursos para tais empreendimentos eram captados junto à sociedade civil, ao poder público e junto aos associados. Em geral, prestavam socorros exclusivamente aos associados, embora houvesse sociedades beneficentes que destinassem recursos para assistência aos desvalidos que delas não faziam parte.
Além das associações que se sustentavam exclusivamente com recursos privados, havia sociedades de socorros mútuos que recebiam subvenções do Estado. As relações com o poder público eram, em geral, marcadas por demandas de cunho social e apoio na obtenção de reconhecimento da sociedade como um todo. Requeriam subvenções, pediam permissão para a realização de festividades, solicitavam serviços públicos dos mais diversos matizes e almejavam isenção de impostos. Portanto, seria difícil caracterizar as sociedades de socorros mútuos como instituições de caráter público ou privado tão somente, pois, no cotidiano tais instâncias se diferenciavam com pouca nitidez. O próprio poder público não sabia como reconhecê-las. Algumas eram consideradas filantrópicas e recebiam subvenções, a outras era negado qualquer tipo de apoio por serem consideradas instituições de caráter privado.
O tempo de vida de uma mutual era variável. Algumas eram criadas e quase imediatamente depois extintas. Pode-se dizer que duravam em média cerca de 20 anos, havendo casos excepcionais de associações longevas que permanecem funcionando desde o início do século passado até hoje. As mutuais formadas por imigrantes, e/ou seus descendentes, tendiam a ser mais duradouras, tendo em vista o objetivo prioritário de consolidar e difundir as identidades étnicas, além de disponibilizar espaços de sociabilidade e lazer que relegavam à proteção social um caráter secundário. De tal forma, a instituição do Estado previdenciário não implicaria em seu esvaziamento de imediato. Por sua vez, as mutuais formadas por trabalhadores de variados ofícios tendiam a durar menos. De modo geral, pode-se afirmar que o principal fator responsável pela extinção das mutuais, precoce ou não, residia na incapacidade técnica das lideranças em calcular os riscos que envolviam a manutenção da associação, resultando na inadimplência dos sócios e na falência generalizada[4]. Por outro lado, na medida em que a principal função das sociedades de ajuda mútua era conferir socorro na ausência da proteção estatal, assim que a proteção foi instituída pelo Estado a tendência ao esvaziamento inevitavelmente cresceu.
A investigação histórica do mutualismo no Brasil tem como referência decisiva o trabalho pioneiro de Tânia Regina de Luca, O sonho do futuro assegurado (1990), no qual se evidencia de modo contundente a fragilidade da tese segundo a qual as sociedades de socorros mútuos representavam uma fase inicial e curta do movimento operário, sucedida pelo aparecimento dos sindicatos. Pelo contrário, de acordo com o estudo que faz das cidades de São Paulo e Santos, o mutualismo teria crescido entre os trabalhadores urbanos desde o final do século XIX até meados da década de 1920, período em que São Paulo se industrializava rapidamente, como resposta à ausência de mecanismos institucionais que regulassem a relação capital-trabalho, atuando ao lado dos sindicatos.
Outro trabalho importante pelo pioneirismo é Baile de máscaras (1996) de Beatriz Kushnir, que analisa as associações de ajuda mútua em que se reuniam prostitutas e cafetinas judias no Rio de Janeiro, observando os mecanismos de sociabilidade e solidariedade desenvolvidos pelas “polacas”, assim como as “visões do grupo sobre si” enquanto segmento marginal dentro da comunidade judaica e da sociedade como um todo, em luta constante pelo direito de exercer suas convicções religiosas, dimensionando suas associações como referência na construção de uma “vida digna” e na separação entre o tempo de trabalho e de lazer. As trajetórias das histórias de vida e das associações revelam para a autora a teatralidade da vida de modo geral e, particularmente, aquela exercitada por esse grupo de mulheres em ações coletivas, cujo objetivo maior era construir e manter uma identidade positiva fundada na especificidade de serem judias.
Por sua vez, a pesquisa feita por Cláudio Batalha acerca do movimento operário e do fenômeno associativo no Rio de Janeiro aparece como outra referência decisiva para a investigação da historia do mutualismo no Brasil. Primeiramente, no volume especial do periódico Cadernos do AEL (1999), dedicado ao estudo das sociedades operárias, Batalha ressalta a necessidade de se romper com a visão tradicional que separava a ocorrência das associações mutualistas e sindicais em etapas distintas que se sucediam, contestando a idéia de que as associações de resistência teriam substituído ás mutuais. Sugere que as ações de ambos os tipos de associação de trabalhadores se confundiram durante um período de tempo. Ou seja, as mutuais incorporavam ações de resistência e os sindicatos promoviam ações assistencialistas. Há também em sua análise atenção aos elos de continuidade entre as mutuais e as corporações de ofício. Supõe que a proibição das corporações (1824) teria levado à proliferação das mutuais que abrigariam, a partir de então, a tarefa de transmissão de conhecimentos relativos aos ofícios. Para além disso, as mutuais incorporariam também ações de resistência, o que de certa forma anteciparia funções próprias das associações sindicais. De tal modo, conclui que as mutuais teriam sido os únicos mecanismos legalmente possíveis de agregação dos trabalhadores entre o final do século XIX e início do XX, sem o qual dificilmente o movimento sindical teria se desenvolvido.
Mais recentemente, no livro Culturas de Classe (2004), Cláudio Batalha volta-se para a análise da cultura própria dos diferentes tipos de associações de trabalhadores, partindo da distinção básica entre “cultura militante”, “cultura associativa” e “cultura de classe”. Destaca que a década de 1920 teria sido palco do advento de uma cultura operária, em grande parte fruto do desdobramento da cultura militante anarquista, paradoxalmente no momento em que o movimento operário encontrava-se em refluxo, impedindo assim o advento de uma cultura de classe consolidada entre os trabalhadores. Além disso, realça os rituais e celebrações dos trabalhadores, principalmente em torno das comemorações do Primeiro de Maio que, nas décadas anteriores a 1890, permaneciam a cargo das sociedades mutualistas.
Vale a pena ressaltar o espaço que Sidney Chalhoub reservou para a análise das sociedades que agregavam ex-escravos e “homens de cor” no Rio de Janeiro imperial, em seu Machado de Assis: historiador (2003). A partir deste texto, pode-se vislumbrar o fenômeno associativo entendido como resultado das práticas de “solidariedades horizontais”, analisadas historicamente como experiência de ação cotidiana e cultural, sustentadas originalmente por homens e mulheres, no contexto econômico, social, político e ideológico da sociedade monárquica escravista, em um período histórico específico, caracterizado como de crise da hegemonia política e cultural dos mecanismos de dominação da ideologia senhorial (pós 1871).
Entre os estudos que se dedicam ao fenômeno do mutualismo no Brasil, considerando o período que vai do final do século XIX ao início do século XX, o trabalho de Adhemar Lourenço da Silva Jr. merece destaque pela abrangência, embora sua análise dimensione prioritariamente a realidade do Rio Grande do Sul. Nos primeiros apontamentos de pesquisa, Silva Jr. analisa a relação das associações mutuais com as elites econômicas, os potentados locais e o Estado, identificando o movimento de troca de benefícios e proteção por apoio político. Mais adiante, prioriza a abordagem da regulamentação das associações de socorro mútuo pelo Estado Brasileiro, desde as primeiras incursões do Império até as mudanças formais introduzidas pelo advento da República, com destaque para a ação do Estado rumo à criação de um mercado previdenciário nacional, que levaria ao esvaziamento das mutuais nas décadas de 1930 e 1940.
O trabalho mais recente de Adhemar Lourenço da Silva Jr., As sociedades de socorros mútuos: estratégias privadas e públicas. Estudo centrado no Rio Grande do Sul – Brasil, 1854-1940 (2005), revela-se, certamente, o estudo mais consistente até agora realizado sobre o mutualismo no Brasil. Mais que isso, o trabalho serve como referência fundamental para se acompanhar o debate em torno do tema fora do Brasil (Inglaterra, França, Espanha, Itália, principalmente). O objetivo da pesquisa consistiu em verificar se as formas de organização das mutuais – voltadas para a implementação de estratégias privadas – poderiam favorecer a implementação de estratégias públicas. Muito embora a pesquisa realizada tenha sido muito ampla, o autor afirma não ter conseguido responder a esta questão.
Atualmente, o estudo do fenômeno associativo no Brasil, e especialmente do mutualismo, tem se disseminado com relativa intensidade. As pesquisas aprofundam o debate sobre a relação entre as corporações de ofício do século XIX, as irmandades, as associações de auxílio mútuo e beneficentes e o moderno movimento operário, no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Entre os estudos em curso, as diferenças são mais de abordagem teórico-conceitual do que propriamente empíricas. Trabalhos como o de Cláudia Viscardi (2004 e 2005) demonstram, por exemplo, a preocupação em ressaltar que a experiência mutualista resultou de escolhas estratégicas de diferentes atores sociais, na busca dos mais diversificados interesses de ascensão social – ou prevenção contra o descenso – que não excluíam, por sua vez, a utilização de estratégias complementares e coetâneas, tais como a militância sindical ou a prática e/ou o usufruto da filantropia. Há grande adesão ao enfoque teórico oferecido por E. P. Thompson, aliado à introdução de preocupações oriundas da Antropologia. A noção de reciprocidade, nas suas diferentes variações, tem sido útil na abordagem das relações de troca que motivam associados e líderes a se envolverem nas organizações mutuais. A percepção das associações como espaços de manifestação de solidariedades horizontais, em contraposição à ideologia que preconizava relações verticalizadas, entre o século XIX e o século XX, constitui uma alternativa importante introduzida na abordagem do fenômeno associativo.
Nesse contexto, o panorama historiográfico propõe dois desafios para o estudo das associações beneficentes, de ajuda mútua, profissionais, de classe e étnicas erigidas no Brasil entre os finais do século XIX e início do século XX. Em primeiro lugar, a premência em se observar as associações independentemente da atração que sobre este tema exerce a questão da formação da classe trabalhadora e do movimento operário e sindical. Quer dizer, a necessidade de se partir de referências teórico-metodológicas e históricas próprias, específicas para o estudo do mutualismo em um plano mais abrangente que meramente a história do sindicalismo, por exemplo. A questão da cidadania, dos movimentos sociais, na cidade e no campo, e as solidariedades horizontais se afiguram como temáticas correlacionadas de importância evidente. E, em segundo lugar, conseqüentemente, a urgência de se traçar o esboço de uma periodização mais detalhada para o fenômeno associativo, para além dos contornos atualmente conhecidos e considerando as especificidades regionais.
É nesse sentido que propomos aqui repensar uma questão importante levantada já em 1990 por Tânia Regina de Luca, qual seja, que as sociedades de mútuo socorro, atuando ao lado dos sindicatos, funcionavam como “forma de resistência a um padrão de exploração que condenava a classe trabalhadora a viver de maneira sub-humana”. Ou ainda, que foi o desenvolvimento do capitalismo e a conseqüente instalação de uma nova “questão social” que “ensejou o florescimento das sociedades de socorros mútuos” [5].
Embora pareça razoável sustentar a hipótese que relaciona o mutualismo ao desenvolvimento do capitalismo, sobretudo quando se trata da cidade de São Paulo na virada do século XIX para o século XX, a pesquisa que realizamos, procedendo o levantamento sistemático da documentação relativa às sociedades beneficentes da cidade do Rio de Janeiro, amplia em muito os horizontes da investigação do mutualismo, apontando a necessidade de se buscar hipóteses mais complexas, para além da simples relação entre o fenômeno associativo e desenvolvimento econômico.
Vejamos os dados que conseguimos relativos à capital do império do Brasil especificamente no período entre 1860 e 1887.
A lei 1.083, modificada pelo decreto 2.711, ambos de 1860, estabeleceram os procedimentos através dos quais seriam organizadas quaisquer associações no império, fossem científicas, beneficentes, profissionais, recreativas ou religiosas, compostas de súditos ou cidadãos de qualquer segmento social, obviamente com exceção dos escravos. De acordo com as disposições normativas, depois de solicitada a autorização para realizar reuniões, os interessados em criar as associações promoveriam os encontros necessários para confeccionar os estatutos e fundar a sociedade, grêmio, clube ou irmandade, conforme o caso. As atas das sessões fundadoras e os estatutos deveriam ser enviados para apreciação na Seção dos Negócios do Império do Conselho de Estado. Tal processo orientava a criação e o funcionamento das chamadas “sociedades”, inclusive as que haviam sido criadas anteriormente à vigência da lei. Embora a lei 3.150 de 1882 tivesse colocado fim ao procedimento iniciado em 1860, há registros no Conselho de Estado de entidades fundadas, ou que tiveram seus estatutos modificados, até o ano de 1887.
Os originais e/ou as cópias manuscritas das atas das assembléias de fundação e os estatutos das associações criadas, majoritariamente na cidade do Rio de Janeiro, encontram-se no Arquivo Nacional (RJ), como parte da documentação do fundo Conselho de Estado. Os códices do Conselho de Estado vêm sendo consultados sistematicamente desde os anos de 1990, principalmente por pesquisadores interessados na temática do mutualismo[6]. No entanto, o aumento sistemático da pesquisa das associações junto à documentação do Conselho de Estado esbarra na dificuldade em se fazer o levantamento inicial das fontes, apenas parcialmente identificadas nos instrumentos de suporte à pesquisa disponíveis no Arquivo Nacional.
Para superar tais dificuldades, procedemos à localização, identificação sumária e classificação primária dos documentos relativos às denominadas “sociedades”, acondicionados em 85 caixas do Fundo Conselho de Estado, relativas ao período entre 1860 e 1887. Foram arrolados 485 registros de sociedades existentes na cidade do Rio de Janeiro, fundadas ou que tiveram seus estatutos modificados no período. A identificação preliminar dos registros permitiu agrupar as associações em conjuntos com características comuns, delineando os seguintes tipos:
Tabela I
Tipologia das Associações
1. |
Sociedades Beneficentes |
2. |
Irmandades |
3. |
Sociedades Religiosas |
4. |
Sociedades Literárias e de Instrução |
5. |
Sociedades Científicas |
6. |
Sociedades Dramática, Recreativas e Desportivas |
7. |
Caixas Previdenciárias e Montepios |
8. |
Seguradoras e Cooperativas |
Considerando a totalidade dos registros de criação ou modificação dos estatutos das associações, pode-se visualizar a porcentagem de incidência de registros para cada tipo de associação (Gráfico I). Fica evidente o predomínio das associações beneficentes, também chamadas de mutuais ou de socorros mútuos.
Gráfico I
Percentual de Registros de Associações por Tipo
Eliminados os registros duplicados, que demarcam o envio de estatutos de associações que foram criadas e tiveram posteriormente os estatutos modificados, chega-se a um total de 310 associações fundadas na corte entre 1860 e 1887, entre as quais permanece em cerca de 50% o predomínio das associações beneficentes.
A categoria das Sociedades Beneficentes pode ainda ser subdividida nos seguintes tipos, sob os quais arrolamos alguns exemplos de nomes de associações:
Tabela II
Tipologia das Associações Beneficentes
1. |
Sociedades Beneficentes – Mutuais (Gerais) |
2. |
Sociedades Beneficentes de Ofício (Categorias Profissionais) |
3. |
Sociedades Beneficentes de Classe (Vários Ofícios) |
4. |
Sociedades Beneficentes de Libertos (Ex-Escravos) |
5. |
Sociedades Beneficentes de Imigrantes e/ou Comemorativas |
6. |
Sociedades Beneficentes Regionais |
7. |
Sociedades Beneficentes Filantrópicas |
8. |
Sociedades Beneficentes de Empresários e Comerciantes |
Como resultado final do levantamento e classificação dos registros de sociedades junto ao Conselho de Estado obtivemos o seguinte quadro:
Tabela III
Tipologia Geral e Relação dos Registros de Associações no Conselho de Estado
1. SOCIEDADES BENEFICENTES - MUTUAIS (GERAIS)
1861 |
Sociedade Brasileira de Beneficência |
1861 |
Sociedade Beneficente Bons Amigos União do Bonfim |
1862 |
Sociedade Perfeita Amizade |
1864 |
Sociedade União Beneficente das Famílias Honestas |
1864 |
Sociedade Brasileira de Beneficência |
1864 |
Sociedade Brasileira Perfeita Amizade |
1867 |
Sociedade de Beneficência Acadêmica |
1867 |
Sociedade Beneficência Acadêmica |
1868 |
Sociedade de Beneficência Brasileira na cidade de Lisboa |
1868 |
Sociedade Conciliação |
1868 |
Associação Popular de Socorros Mútuos |
1868 |
Sociedade Proteção |
1871 |
Sociedade Beneficente Bons Amigos União do Bonfim |
1871 |
Sociedade Beneficente 31 de Outubro - Amor ao Trabalho |
1872 |
Sociedade Brasileira de Beneficência |
1872 |
Sociedade Brasileira de Beneficência |
1873 |
Sociedade Beneficente União e Fraternidade |
1873 |
Sociedade Beneficente Amparo da Virtude |
1873 |
Sociedade de Beneficência Perfeita Amizade |
1873 |
Sociedade de Beneficência e Socorros Mútuos Redenção |
1873 |
Sociedade Beneficente União e Fraternidade |
1873 |
Sociedade União Beneficente das Famílias Honestas |
1873 |
Sociedade Beneficente União Familiar Perfeita Amizade |
1873 |
Sociedade de Beneficência Santa Sé |
1873 |
Sociedade União Beneficente Acadêmica |
1873 |
Sociedade de Beneficência Perfeita Amizade |
1873 |
Sociedade de Beneficência e Socorros Mútuos Comércio |
1873 |
Sociedade Beneficente Amparo da Virtude |
1873 |
Sociedade de Beneficência e Socorros Mútuos A Redenção |
1874 |
Sociedade União Familiar Perfeita Amizade |
1874 |
Sociedade de Socorros Mútuos Igualdade e Beneficência |
1874 |
Associação de Socorros Previdência |
1874 |
Sociedade de Socorros Mútuos Igualdade e Beneficência |
1874 |
Sociedade de Beneficência Império das Famílias |
1874 |
Sociedade Amigos Reunidos |
1874 |
União Beneficente das Famílias Honestas |
1874 |
Sociedade Beneficente União e Fraternidade |
1874 |
Sociedade Beneficente União e Fraternidade |
1874 |
Sociedade de Beneficência Amparo das Famílias |
1874 |
União Beneficente das Famílias Honestas |
1874 |
Sociedade Amigos Reunidos |
1874 |
Sociedade Beneficente Amparo das Famílias |
1874 |
Sociedade União Familiar Perfeita Amizade |
1875 |
Sociedade Beneficente União e Fraternidade |
1875 |
Sociedade Beneficente União e Fraternidade |
1875 |
Sociedade de Socorros Mútuos Igualdade e Beneficência |
1875 |
Sociedade Protetora do Bem |
1875 |
Sociedade Beneficente União Familiar Perfeita Amizade |
1875 |
Sociedade de Socorros Mútuos Igualdade e Beneficência |
1875 |
Sociedade União |
1875 |
Sociedade de Beneficência União Familiar Perfeita Amizade |
1875 |
Associação Auxiliadora dos Sorteados |
1875 |
Sociedade Promotora do Bem |
1876 |
Sociedade União e Beneficência |
1876 |
Sociedade União Beneficente das Famílias Honestas |
1876 |
Sociedade União e Beneficência |
1876 |
Sociedade União Beneficente das Famílias Honestas |
1876 |
Sociedade União e Beneficência |
1876 |
Sociedade União e Beneficência |
1877 |
Sociedade de Beneficência Segredo |
1877 |
Sociedade Brasileira de Beneficência |
1877 |
Sociedade Beneficente 31 de Outubro - Amor ao Trabalho |
1877 |
Sociedade Instrução e Beneficência |
1877 |
Associação Mutualidade |
1877 |
Associação Rio de Janeiro |
1878 |
Sociedade de Beneficência Perfeita Amizade |
1879 |
Sociedade de Beneficência União e Fraternidade |
1879 |
Sociedade de Beneficência União e Fraternidade |
1880 |
Sociedade Brasileira de Beneficência |
1880 |
Sociedade União e Beneficência |
1880 |
Sociedade Beneficente Filhos da Luz |
1880 |
Sociedade Concórdia Fluminense |
1880 |
Sociedade Beneficente Perfeita Amizade |
1881 |
Sociedade Previdência |
1881 |
Associação Previdência |
2. SOCIEDADES BENEFICENTES DE OFÍCIO – CATEGORIAS PROFISSIONAIS
1861 |
Sociedade dos Seculares Empregados de Igreja |
1861 |
Sociedade União Beneficente dos Guardas Nacionais |
1861 |
Sociedade Beneficente dos Artistas da Construção Naval |
1861 |
Sociedade Auxiliadora das Artes Mecânicas Liberais e Beneficente |
1861 |
Caixa Auxiliadora das Corporações das Composições Dramáticas e Musicais |
1861 |
Sociedade Musical de Beneficência |
1862 |
Sociedade Beneficente da Guarda Nacional da Corte |
1862 |
Sociedade de Socorros Mútuos do Comércio |
1862 |
Sociedade Beneficente Protetora dos Guardas Nacionais |
1864 |
Sociedade União Beneficente Comércio e Artes |
1867 |
Sociedade Musical de Beneficência |
1867 |
Sociedade Musical de Beneficência |
1867 |
Sociedade Musical de Beneficência |
1867 |
Sociedade Musical de Beneficência |
1868 |
Associação dos Compositores do Jornal do Commercio |
1871 |
Associação Dramática Beneficente dos Artistas Portugueses |
1871 |
Sociedade de Socorros Mútuos Protetora dos Artistas Sapateiros e Profissões Correlativas |
1873 |
Sociedade de Beneficência dos Artistas da Construção Naval |
1873 |
Sociedade Filantrópica dos Artistas |
1873 |
Sociedade de Beneficência dos Artistas da Construção Naval |
1873 |
Associação Cooperadora dos Empregados da Tipografia Nacional |
1873 |
Sociedade Beneficente dos Maquinistas |
1873 |
Sociedade de Beneficência dos Artistas da Construção Naval |
1874 |
Imperial Sociedade Auxiliadora das Artes Liberais e Beneficentes |
1874 |
Sociedade Protetora dos Barbeiros e Cabeleireiros |
1874 |
Sociedade Protetora dos Barbeiros e Cabeleireiros |
1874 |
Sociedade Auxiliadora dos Artistas Mecânicos Liberais e Beneficente |
1874 |
Imperial Sociedade Auxiliadora das Artes Mecânicas e Liberais Beneficente |
1874 |
Imperial Sociedade Auxiliadora das Artes Mecânicas Liberais e Beneficente |
1875 |
Associação Dramática e Beneficente dos Artistas Portugueses |
1875 |
Associação Forense de Beneficência |
1875 |
Sociedade Beneficente dos Marceneiros, Carpinteiros e Artes Correlativas no Rio de Janeiro |
1875 |
Sociedade Beneficente dos Artistas de São Cristóvão |
1875 |
Sociedade União Beneficente Comércio e Artes |
1875 |
Sociedade Beneficente dos Artistas de São Cristóvão |
1875 |
Sociedade Beneficente dos Marceneiros, Carpinteiros e Artes Correlativas no Rio de Janeiro |
1875 |
Sociedade União Beneficente Comércio e Artes |
1876 |
Associação Dramática e Beneficente dos Artistas Portugueses |
1876 |
Sociedade dos Artistas Alfaiates |
1876 |
Associação dos Guarda Livros |
1876 |
Associação dos Guarda-Livros |
1876 |
Sociedade União Beneficente Comercio e Artes |
1876 |
Imperial Sociedade Auxiliadora das Artes Mecânicas e Liberais e Beneficente |
1876 |
Sociedade dos Artistas Alfaiates |
1876 |
Associação Dramática e Beneficente dos Artistas Portugueses |
1876 |
Sociedade União Beneficente Comércio e Artes |
1876 |
Imperial Sociedade Auxiliadora das Artes Mecânicas Liberais e Beneficente |
1877 |
Sociedade de Socorros Mútuos Protetora dos Artistas e Profissões Correlativas |
1877 |
Sociedade Auxiliadora das Artes Mecânicas e Liberais e Beneficente |
1877 |
Club Beneficente dos Guarda Livros |
1877 |
Sociedade Protetora dos Barbeiros e Cabeleireiros |
1877 |
Sociedade Protetora das Artistas Dramáticos |
1878 |
Associação de Beneficência Socorros Mútuos dos Despachantes da Alfândega do Rio de Janeiro |
1879 |
Sociedade de Beneficência dos Artistas da Construção Naval |
1879 |
Imperial Associação Tipográfica Fluminense |
1880 |
Sociedade União Beneficente Comércio e Artes |
1880 |
Associação dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro |
1880 |
Sociedade Beneficente dos Empregados da Gazeta de Notícias |
1880 |
Sociedade Beneficente de Socorros Mútuos dos Empregados das Capatazias da Alfândega de Corte |
1880 |
Sociedades de Socorros Mútuos e Montepio dos Maquinistas |
1880 |
Sociedade Beneficente dos Marceneiros, Carpinteiros e Artes Correlativas |
1881 |
Caixa Beneficente da Corporação Docente do Rio de Janeiro |
1882 |
Sociedade Beneficente dos Empregados no Fumo |
1882 |
União Beneficente Protetora dos Cocheiros |
1882 |
Casa Beneficente da Corporação Docente do Rio de Janeiro |
1882 |
Imperial Sociedade Musical de Socorros Mútuos Recreio de Botafogo |
1882 |
Sociedade Beneficente dos Artistas de São Cristóvão |
3. SOCIEDADES BENEFICENTES DE CLASSE – VÁRIOS OFÍCIOS
1862 |
Sociedade União, Trabalho e Moralidade |
1872 |
Liga Operária |
1882 |
Corpo Coletivo União Operária |
4. SOCIEDADES BENEFICENTES DE LIBERTOS – EX-ESCRAVOS
1862 |
Sociedade Nação Conga |
1871 |
Sociedade União Lotérica Cadeira de Ouro |
1873 |
Sociedade Lotérica Caldeira de Ferro |
1873 |
Sociedade Beneficente Caldeira de Ferro Lotérica |
1874 |
Associação Beneficente Socorro Mútuo dos Homens de Cor |
1874 |
Sociedade de Beneficência da Nação Conga Amiga da Consciência |
1874 |
Sociedade de Beneficência da Nação Conga Amiga da Consciência |
1874 |
Associação Beneficente Socorro Mútuo dos Homens de Cor |
1877 |
Sociedade Libertadora da Escravidão |
1877 |
Companhia Garantia de Emancipação |
5. SOCIEDADES BENEFICENTES DE EMPRESÁRIOS E COMERCIANTES
1865 |
Sociedade Industrial de Beneficência |
1873 |
Associação Industrial de Beneficência |
1873 |
Sociedade Beneficente Comércio |
1874 |
Sociedade Enterpe Comercial |
1874 |
Sociedade Enterpe Comercial |
1874 |
Sociedade Beneficente Comércio |
1874 |
Associação Industrial de Beneficência |
1874 |
Sociedade Beneficente Comércio |
1875 |
Sociedade Beneficente Protetora dos Refinadores de Açúcar |
1875 |
Sociedade Beneficente e Protetora dos Refinadores de Açúcar |
1875 |
Companhia Mútua União dos Lavradores |
1876 |
Associação Beneficente Comercial |
1876 |
Associação Beneficente Comercial |
1877 |
Associação Industrial de Beneficência |
1877 |
Montepio Agrícola |
1880 |
Associação Industrial |
1880 |
Sociedade União Comercial dos Varejistas de Secos e Molhados |
1880 |
Associação Industrial de Beneficência |
1881 |
Sociedade de Socorros Mútuos União Comercial dos Varejistas de Secos e Molhados |
1889 |
Sociedade União dos Fabricantes de Bebidas Alcoólicas |
6. SOCIEDADES BENEFICENTES DE IMIGRANTES E/OU COMEMORATIVAS
1860 |
Sociedade Francesa de Socorros Mútuos |
1861 |
Sociedade Alemã Germânia |
1861 |
Sociedade Belga de Beneficência |
1861 |
Sociedade Portuguesa de Beneficência |
1862 |
Sociedade Alemã de Beneficência |
1862 |
Sociedade Glória do Lavrado |
1862 |
Sociedade Italiana de Beneficência |
1862 |
Associação Nacional Vinte e Quatro de Setembro |
1862 |
Sociedade Francesa de Socorros Mútuos |
1862 |
Sociedade Primeiro de Dezembro |
1862 |
Sociedade Beneficente Estrangeira |
1862 |
Sociedade Suissa de Beneficência |
1862 |
Real Sociedade Amante da Monarquia e Beneficente |
1866 |
Sociedade de Beneficência Britânica |
1866 |
Caixa de Socorros de Dom Pedro 5º |
1867 |
Sociedade Francesa Socorros Mútuos |
1867 |
Sociedade Portuguesa Amor à Monarquia |
1867 |
Sociedade Francesa de Socorros Mútuos |
1867 |
Sociedade Portuguesa Amor à Monarquia |
1867 |
Sociedade Francesa de Socorros Mútuos |
1867 |
Sociedade Francesa de Socorros Mútuos |
1868 |
Sociedade Italiana de Socorros Mútuos |
1871 |
Sociedade Alemã Germânica |
1871 |
Sociedade União Francesa Primeiro de Julho |
1871 |
Sociedade Alemã Germânia |
1871 |
Associação Portuguesa Memória de Dom Pedro 5º |
1871 |
Sociedade Portuguesa Caixa de Socorros de Dom Pedro 5º |
1871 |
Sociedade Francesa de Beneficência |
1872 |
Sociedade Francesa de Beneficência |
1872 |
Sociedade União Israelita do Brasil |
1872 |
Associação Dramática Beneficente Dom Luiz 1º |
1872 |
Sociedade União Beneficente 29 de Julho |
1872 |
Sociedade Espanhola de Beneficência |
1872 |
Sociedade União Beneficente 29 de Julho |
1872 |
Sociedade Espanhola de Beneficência |
1872 |
Sociedade Beneficente Dezoito de Julho |
1873 |
Sociedade Alemã de Auxílio Mútuo Concórdia |
1873 |
Sociedade Francesa de Socorros Mútuos |
1873 |
Sociedade Francesa de Beneficência |
1873 |
Sociedade Francesa de Socorros Mútuos |
1874 |
Sociedade Portuguesa de Beneficência Memória de Dom Pedro 5º |
1874 |
Associação Portuguesa de Beneficência Memória de Dom Pedro 5º |
1874 |
Associação Dramática Beneficente Recreio Dom Luiz 1º |
1874 |
Sociedade Comemorativa da Independência do Império |
1874 |
Sociedade Beneficência Paulista José Bonifácio |
1874 |
Sociedade Beneficente Paulista José Bonifácio |
1874 |
Associação Dramática Beneficente Recreio Dom Luiz 1º |
1874 |
Sociedade Comemorativa da Independência do Império |
1874 |
Sociedade Portuguesa de Beneficência Memória de Pedro 5º |
1875 |
Sociedade Circle Suisse |
1875 |
Sociedade Circle Suisse |
1876 |
Sociedade Portuguesa de Beneficência Memória de Dom Pedro 5º |
1876 |
Sociedade Beneficente Caixa de Socorros Mútuos Pedro II |
1876 |
Sociedade União Beneficente Dom Pedro II |
1876 |
Sociedade Beneficente Caixa de Socorros Mútuos Pedro II |
1876 |
Sociedade União Beneficente Dom Pedro II |
1876 |
Sociedade Portuguesa de Beneficência Memória de Dom Pedro 5º |
1877 |
Sociedade Beneficente Caixa de Socorros Mútuos Pedro II |
1877 |
Sociedade Portuguesa de Beneficência |
1877 |
Sociedade Portuguesa de Beneficência |
1877 |
Sociedade União Francesa Primeiro de Julho |
1877 |
Sociedade Portuguesa de Beneficência |
1878 |
Sociedade Beneficente dos Calabryos |
1878 |
Sociedade Francesa de Socorros Mútuos |
1879 |
Imperial Sociedade União Beneficente Vinte e Nove de Julho |
1879 |
Associação Beneficente Conde D'Eu |
1880 |
Sociedade Vinte e Oito de Setembro |
1880 |
Associação Dramática e de Socorros Mútuos Dom Luiz 1º |
1880 |
Sociedade Italiana de Beneficência |
1881 |
Associação de Socorros Mútuos Vasco da Gama |
1881 |
Sociedade Beneficente Pedro Alvares Cabral |
1881 |
Sociedade Fraternidade Açoriana |
1881 |
Sociedade União Beneficente 29 de Julho |
1882 |
Associação de Socorro Familiar Homenagem a Serpa Pinto |
1882 |
Associação de Socorros Mútuos Dona Maria Pia |
1882 |
Associação de Socorros Mútuos Açoriana Cosmopolita |
1882 |
Sociedade Portuguesa de Beneficência |
1882 |
Associação de Socorros Mútuos Memória do Marquês de Pombal |
1882 |
Sociedade de Socorros Mútuos Luiz de Camões |
1882 |
Associação Portuguesa de Beneficência Memória de Luiz de Camões |
1882 |
Sociedade de Socorros Mútuos Marquês de Pombal |
7. SOCIEDADES BENEFICENTES REGIONAIS
1862 |
Sociedade Ipiranga |
1862 |
Sociedade Beneficente Rio Grandense |
1871 |
Sociedade Beneficência Mineira |
1873 |
Associação Nacional da Província de Pernambuco |
1875 |
Sociedade Beneficente Cearense e Associação Forense de Beneficência |
1875 |
Sociedade Beneficência Cearense |
1877 |
Sociedade Beneficente Maranhense |
1880 |
Associação Bahiana de Beneficência |
1880 |
Sociedade Beneficência Mineira |
1881 |
Sociedade União Paraense |
1881 |
Associação Progresso Parahibunense |
1882 |
Sociedade de Socorros Mútuos Príncipe do Grão-Pará |
8. SOCIEDADES FILANTRÓPICAS
1861 |
Sociedade de Caridade das Senhoras da Corte |
1861 |
Associação de São Vicente de Paulo |
1867 |
Sociedade Asilo dos Inválidos da Pátria |
1867 |
Sociedade Asilo de Inválidos da Pátria |
1872 |
Associação ASilo da Velhice Desvalida |
1874 |
Sociedade Filantrópica dos Artistas |
1874 |
Sociedade de Beneficência Amparo das Famílias |
1874 |
Associação Cosmopolita União e Caridade |
1874 |
Sociedade Filantrópica dos Artistas |
1875 |
Associação Asilo e Beneficência |
1877 |
Associação de Socorros Mútuos Filantropia e Ordem |
1877 |
Sociedade de São Vicente de Paulo |
1880 |
Imperial Associação Filantrópica Fluminense |
1880 |
Sociedade Beneficente Justiceira da Orfandade e Viuvez |
9. SOCIEDADES RELIGIOSAS
1862 |
Associação da Propagação da Fé |
1862 |
Comunidade Evangélica Alemã |
1864 |
Seminário da Conceição da Diocese da Cuiabá |
1867 |
Comunidade Evangélica Alemã |
1867 |
Comunidade Evangélica Alemã |
1873 |
Sociedade União Católica Alagoana |
1873 |
Associação Católica Fluminense |
1874 |
Associação Católica Fluminense |
1876 |
Associação Sacramento da Capital do Império |
1876 |
Associação Sacramento da Capital do Império |
1878 |
Devoção de Nossa Senhora da Conceição e Dores de São Cristóvão |
1878 |
Grupo Espírita Caridade |
1879 |
Venerável Ordem 3ª da Penitência |
1880 |
Sociedade Fluminense Sagrado Coração de Jesus Amparo das Meninas Desvalidas |
1880 |
Associação de Servas do Senhor |
1885 |
Imperial Devoção de Nossa Senhora da Piedade |
10. IRMANDADES
1862 |
Compromisso de Irmandade São Manoel |
1862 |
Compromisso de Irmandade de Nossa Senhora da Conceição |
1862 |
Compromisso de Administração da Venerável Ordem 3ª de Nossa Senhora do Monte do Carmo |
1864 |
Compromisso de Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Nossa Senhora do Coreto de Jacarepaguá |
1864 |
Compromisso de Irmandade do Senhor do Bonfim |
1865 |
Compromisso de Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguesia de Sant'Ana |
1865 |
Compromisso de Irmandade Santíssimo Sacramento da Freguesia do Senhor Bom Jesus da Ilha de Paquetá |
1865 |
Compromisso de Reforma de Irmandade Ordem Terceira do Patriarca São Domingos Gusmão |
1865 |
Compromisso de Reforma de Irmandade do Príncipe dos Apóstolos São Pedro |
1865 |
Compromisso de Irmandade do Divino Espírito Santo |
1866 |
Compromisso de Irmandade Santíssimo Sacramento da Freguesia de São Cristóvão |
1866 |
Compromisso de Irmandade dos Mártires Santos Crispim e Crispiano |
1866 |
Compromisso de Irmandade de Santa Cruz dos Militares |
1866 |
Compromisso de Irmandade Nossa Senhora da Glória do Outeiro |
1866 |
Compromisso de Reforma de Irmandade do Príncipe dos Apóstolos São Pedro |
1866 |
Compromisso de Irmandade Santo Antônio da Mouraria |
1867 |
Compromisso de Irmandade Santíssimo Sacramento Santo Antônio dos Pobres e Nossa Senhora dos Prazeres |
1867 |
Compromisso de Irmandade do Glorioso Patriarca São José |
1869 |
Compromisso de Irmandade de São José dos Aflitos |
1869 |
Compromisso de Irmandade de Nossa Senhora da Conceição do Engenho Novo |
1871 |
Compromisso de Irmandade da Devoção de Nossa Senhora da Piedade - Igreja da Cruz dos Militares |
1872 |
Compromisso de Irmandade do Glorioso Mártir São Manoel |
1872 |
Compromisso de Irmandade Nossa Senhora da Batalha dos Oficiais da Guarda Nacional |
1872 |
Compromisso de Reforma de Irmandade da Imperial Irmandade de Santa Cruz dos Militares |
1872 |
Compromisso de Reforma Irmandade do Santíssimo Sacramento da Glória |
1872 |
Compromisso de Irmandade São João Batista e Nossa Senhora do Altino |
1873 |
Compromisso de Irmandade do Senhor Bom Jesus do Norte, Nossa Senhora da Aparecida e Santa Tereza |
1877 |
Compromisso de Irmandade Santíssimo Sacramento da Freguesia Nossa Senhora Candelária |
1877 |
Compromisso de Congregação dos Filhos da Irmandade Senhora das Dores |
1877 |
Compromisso de Irmandade de Nossa Senhora da Conceição e do Santíssimo Sacramento da Freguesia do Ângelo |
1877 |
Compromisso de Irmandade Nossa Senhora da Soledade |
1878 |
Irmandade do Glorioso Patriarca São José |
1880 |
Compromisso de Irmandade do Santíssimo Sacramento da Glória |
1881 |
Irmandade do Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária |
1881 |
Irmandade do Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária |
1881 |
Irmandade Nossa Senhora da Glória do Outeiro |
1881 |
Irmandade Nossa Senhora da Batalha dos Oficiais da Guarda Nacional na Corte |
1882 |
Compromisso Irmandade da Santa Cruz dos Militares |
1885 |
Venerável Irmandade de Nossa Senhora do Rosário |
1885 |
Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária |
11. SOCIEDADES DRAMÁTICAS, RECREATIVAS E DESPORTIVAS
1861 |
Congresso das Irmandades Carnavalescas |
1861 |
Sociedade Dramática Nacional |
1862 |
Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives |
1864 |
Ópera Lírica Nacional |
1864 |
Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives |
1865 |
Opera Lyrica Nacional e Italiana |
1865 |
Instituto de Santa Cecília |
1868 |
Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives |
1869 |
Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives |
1871 |
Sociedade Animadora da Corporação dos Ourives |
1872 |
Club Ginástico Português |
1873 |
Associação Dramática Príncipe Real Dom Carlos |
1873 |
Sociedade Novo Cassino Fluminense |
1874 |
Sociedade Grêmio Musical |
1874 |
Club Ginástico Português |
1874 |
Sociedade Grêmio Musical |
1874 |
Club Ginástico Português |
1875 |
Club Ginástico Português |
1876 |
Club Ginástico Português |
1876 |
Club Ginástico Português |
1877 |
Sociedade Dramática Riachuelense |
1877 |
Associação Jockey Club |
1877 |
Club Ginástico Português |
1877 |
Club Tauromachico |
1877 |
Grêmio Dramático Familiar São João Batista |
1878 |
Grêmio Familiar São João Batista |
1878 |
Club Dramático Musical do Engenho de Dentro |
1878 |
Club de Regatas Guanabarense |
1880 |
Associação do Teatro Guarani |
1880 |
Sociedade Edificadora do Teatro São Cristóvão |
1881 |
Grêmio dos Professores Públicos Primários da Corte |
1882 |
Centro Alagoano |
12. SOCIEDADES LITERÁRIAS E DE INSTRUÇÃO
1861 |
Grêmio Literário Português |
1861 |
Gabinete Português de Literatura |
1864 |
Instituto Literário Maranhense |
1865 |
Sociedade Acadêmica Ateneu Central |
1869 |
Liceu Literário Português |
1871 |
Sociedade Alpha Literária |
1871 |
Associação Municipal Protetora da Instrução da Infância Desvalida |
1873 |
Liceu Literário Português |
1873 |
Sociedade Crepúsculo Literário Português |
1874 |
Associação Protetora da Instrução das Meninas |
1874 |
Gabinete Português de Leitura |
1874 |
Associação Promotora da Instrução |
1874 |
Sociedade Propagadora da Instrução às Classes Operárias da Freguesia de São João Batista da Lagoa |
1877 |
[Instrução dos filhos livres de escravos] |
1877 |
[Instrução dos filhos livres de escravos - fazenda escola] |
1877 |
Sociedade do Ateneu Pedagógico |
1878 |
Liceu Literário Português |
1878 |
Associação Educadora Brasileira |
1879 |
Sociedade Literária Magdalenense |
1880 |
[Instrução de filhos livres de escravos] |
1882 |
Sociedade Literária Liceu Paratinense |
13. SOCIEDADES CIENTÍFICAS
1861 |
Academia Pedagógica |
1862 |
Sociedade Protetora do Magnetismo e do Jury Magnético |
1862 |
Sociedade Médico Pharmaceutica |
1862 |
Instituto Politécnico Brasileiro |
1864 |
Ateneo Médico – Acadêmico |
1864 |
Instituto dos Bacharéis em Letras |
1865 |
Instituto Homeopathico do Brasil |
1865 |
Sociedade Médico Pharmaceutica |
1866 |
Sociedade de Ciências Médicas |
1871 |
Sociedade Francesa de Gramática |
1872 |
Club Politécnico |
1872 |
Instituto Politécnico Brasileiro |
1873 |
Club Politécnico |
1874 |
Club Politécnico |
1874 |
Congresso Gramático Português |
1874 |
Congresso Gramático Português |
1874 |
Club Gramático Português |
1874 |
Club Gramático Português |
1874 |
Club Politécnico |
1875 |
Sociedade de Engenheiros |
1875 |
Club Gramático Português |
1875 |
Sociedade de Engenheiros |
1877 |
Congresso Brasileiro |
1878 |
Sociedade Médica do Rio de Janeiro |
1878 |
Academia Brasileira de Ciências Físicas |
1878 |
Instituto Civil dos Engenheiros Brasileiros |
1879 |
Instituto Hahnemanniano Fluminense |
1879 |
Sociedade Geográfica de Lisboa no Brasil |
1879 |
Congresso Gramático Português |
1880 |
Instituto Hahnemanniano |
1880 |
Instituto dos Advogados Brasileiros |
1881 |
Club de Engenharia |
1881 |
Club de Engenharia |
14. SEGURADORAS E COOPERATIVAS
1870 |
Companhia de Seguros Mútuos União Fluminense |
1877 |
Companhia de Transportes de Mercadorias para o Interior |
1877 |
Companhia A Atividade |
1877 |
Companhia Construtora Mútua e Econômica |
1877 |
Companhia Edificação Econômica |
1877 |
Companhia Previdência e Economia |
1877 |
Companhia Cooperativa de Consumo |
1877 |
Companhia de Socorro Mútuo Contra Fogo |
1877 |
Companhia de Serviço Doméstico |
1877 |
Companhia de Consumo de Pães |
1877 |
Companhia de Seguros Garantia |
1877 |
Companhia Paraense |
1877 |
Companhia Fluminense de Rapé e Tabaco |
1877 |
Companhia Produtora de Cerveja Nacional |
1877 |
Companhia União Mercantil |
1877 |
Companhia Imperial |
1877 |
Companhia Flora |
1877 |
Companhia de Seguros Marítimos e Terrestres - Phenix Pernambucana |
1881 |
Companhia de Seguros Garantia e Proteção Mútua |
15. CAIXAS PREVIDENCIÁRIAS E MONTEPIOS
1861 |
Caixa Municipal de Beneficência |
1862 |
Associação Montepio dos Servidores do Estado |
1862 |
Caixa Municipal de Beneficência |
1865 |
Montepio dos Servidores do Estado |
1865 |
Caixa de Beneficência |
1867 |
Montepio dos Servidores do Estado |
1867 |
Montepio Geral dos Servidores do Estado |
1868 |
Montepio dos Servidores do Estado |
1871 |
Montepio Geral dos Servidores do Estado |
1871 |
Instituto Militar |
1871 |
Montepio Geral dos Servidores do Estado |
1871 |
Montepio Geral dos Servidores do Estado |
1872 |
Montepio dos Artistas da Corte |
1872 |
Montepio Geral dos Servidores do Estado |
1873 |
Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado |
1874 |
Montepio Geral |
1874 |
Montepio Geral dos Servidores do Estado |
1874 |
Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado |
1874 |
Montepio dos Artistas |
1874 |
Montepio dos Artistas |
1874 |
Montepio Geral |
1875 |
Montepio Geral dos Servidores do Estado |
1875 |
Montepio Geral dos Servidores do Estado |
1876 |
Montepio Geral |
1876 |
Sociedade Montepio Artístico Familiar |
1876 |
Montepio Geral |
1876 |
Sociedade Montepio Artístico Familiar |
1877 |
Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado |
1878 |
Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado |
1880 |
Sociedade Montepio Militar |
1882 |
Montepio Geral |
1883 |
Montepio Geral |
1883 |
Montepio Geral |
1883 |
Montepio Geral |
1885 |
Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado |
1886 |
Montepio Geral |
1887 |
Instituto Geral de Economia dos Servidores do Estado |
16. SEM CLASSIFICAÇÃO
1864 |
Biblioteca Fluminense |
1877 |
Sociedade Campista de Agricultura |
1877 |
Associação Predial da Cidade de Merrebes |
1878 |
União Financeira 1º de Julho |
1886 |
União Internacional |
Através da análise dos registros de associações no Conselho de Estado pode-se observar, especificamente, o padrão de crescimento do número de associações beneficentes, de socorros mútuos, ao longo do período de 1860-1887 (Gráfico II). Demarcamos a soma do número de sociedades existentes em cada década dentro de um total de 177 entidades. Além disso, podemos definir a percentagem de cada tipo de associação dentro do quadro geral das Sociedades Beneficentes, a partir do somatório das associações de cada categoria dentro do número acima (Gráfico III). Em ambos os procedimentos foram retirados os registros repetidos.
Gráfico II
Percentual de Associações Beneficentes Criadas por Década
1860-1887
Gráfico III
Percentual de Associações Beneficentes
Criadas por Década Divididas por Tipo
1860-1887
Mesmo que superficialmente, os gráficos permitem inferir algumas conclusões.
Em primeiro lugar, parece razoável supor que o advento da lei de 1860 tivesse não somente estimulado a criação de novas sociedades, mas também incitado à organização do mundo do trabalho. Principalmente diante do aumento de quase 50% no número de associações fundadas na década de 1870.
Em segundo, quando comparadas, as percentagens das associações de ofício e das sociedades de imigrantes/comemorativas, identificadas respectivamente pelas cores vermelha e verde, indicam um mercado de trabalho em constante disputa entre nacionais e estrangeiros, no momento da transição para formas assalariadas de produção, acirrada, sobretudo, pela intensificação da política de imigração, como pode ser visto nos cerca de 25% de associações de imigrantes.
A documentação do Conselho de Estado permite ressaltar que vários grupamentos da sociedade monárquica escravista, em seu segmento urbano, tais como trabalhadores livres, operários, empresários, industriais, comerciantes, escravos libertos e artistas, organizaram e fundaram associações, grêmios ou clubes entre 1860 e 1887, em número significativo, muito além do que comumente se supunha. Entre estes, as sociedades beneficentes, numericamente majoritárias, segundo pudemos observar, apresentavam uma composição complexa e diversificada, evidenciando arranjos por etnia, categorias profissionais, locais de trabalho ou mesmo regionalmente.
Como conclusão, podemos afirmar que Rio de Janeiro e São Paulo foram os pólos mais importantes onde o fenômeno do mutualismo se disseminou de modo mais intenso entre as últimas décadas do século XIX e o início do século XX. Em ambos os casos, o mutualismo deve ser entendido como pertencente ao conjunto das experiências que se manifestaram concretamente em práticas de solidariedades horizontais, aglutinando homens e mulheres (em geral pobres e trabalhadores) e gerando uma cultura emergente, diante das transformações econômicas, sociais, políticas e ideológicas que marcaram o período. Para além do peso do fenômeno mutualista nos dois centros, fica evidente o “caráter precoce”, em termos comparativos, do surgimento das mutuais na cidade do Rio de Janeiro, já na primeira metade do século XIX. Portanto, se soa razoável pensar que em São Paulo o mutualismo nasceu e cresceu sob a égide das condições “sub-humanas” em que o desenvolvimento do capitalismo colocava os trabalhadores no início do século XX, como afirma Tânia Regina de Luca, tal assertiva parece pouco plausível se aplicada à cidade do Rio de Janeiro. Talvez a hipótese mais razoável, tendo em vista o estado atual das pesquisas, seja considerar que o mutualismo no Rio de Janeiro nasceu, ou pelo menos ganhou força, com a crise dos mecanismos políticos e culturais de dominação da classe senhorial escravista, a partir de 1860, como sugere o raciocínio de Sidney Chalhoub.
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§ Universidade Federal de Ouro Preto – (UFOP) (BR) Instituto de Ciências Humanas e Sociais - Departamento de História - R. do Seminário s/n , Centro - 35420-000 Mariana – MG - Fone: 55(31)3557-9406 - jp.ronaldo@uol.com.br
[1] Este texto é resultado parcial do projeto Solidariedades Horizontais no Império: o fenômeno associativo no Brasil monárquico escravista e a crise dos mecanismos de domínio senhorial (1860-1889), junto ao Núcleo de Pesquisa Impérios e Lugares no Brasil (Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto). Projeto que conta com recursos do Programa de Apoio Financeiro a Projeto de Pesquisa do CNPq (2005/2006) e do Programa Infra-Estrutura para Jovens Doutores da FAPEMIG (2005/2006). Coordenadores: Ronaldo Pereira de Jesus (UFOP) e Cláudia M. R. Viscardi (UFJF); Bolsista de Iniciação Científica do PIBIC/CNPq-UFOP: David P. Lacerda.
[2] JESUS, Ronaldo P. de. O Povo e a monarquia: a apropriação da imagem do imperador e do regime monárquico entre a gente comum da corte (1870-1889). Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da USP. São Paulo: 2001. Capítulo III: p.125-170.
[3] BATALHA, Cláudio H. M. Sociedades de trabalhadores no Rio de Janeiro do século XIX: algumas reflexões em torno da formação da classe operária. Cadernos do AEL. Campinas, UNICAMP/IFCH, v.6, n.10/11, p.41-68, 1999. p.60.
[4] SWAAN, Abram de. In care of the state: health care, education and welfare in Europe and the USA in the modern era. Cambridge: Polity Press, 1988. p.146.
[5] Luca, Tânia R. de. O sonho do futuro assegurado; o mutualismo em São Paulo. São Paulo: Contexto, 1990. p.172.
[6] Ver, por exemplo: Batalha, Cláudio H. M. Op. Cit., 1999. p.41-68; Jesus, Ronaldo P. de. Op. Cit., 2001; e Chalhoub, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo Companhia das Letras, 2003.