Observatorio Economía Latinoamericana. ISSN: 1696-8352


O MÉTODO DIALÉTICO

Autores e infomación del artículo

Ricardo Heli Rondinel Cornejo*

Universidade de Santa Cruz do Sul, Brasil

Email: ricardorondinel73@hotmail.com


Resumo
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre o método dialético. O ponto de partida é a dialética de Hegel. A dialética de Hegel era idealista, para ele o conhecimento era o resultado da Ideia Absoluta. Posteriormente Marx e Engels formulam a dialética materialista. Para esta a realidade conhecida pelo homem, não seria mais o resultado de uma ideia absoluta e sim o resultado da representação no pensamento do concreto, mas como concreto pensado. Na dialética de Marx e Engels o conceito de trabalho é central para entender o modo de produção capitalista. Também se discute o conceito de totalidade que não é apenas uma soma de partes. Ela tem que ser vista como resultado da história, analisada em movimento e constante transformação. Finalmente, apresentam-se as leis da dialética com as contribuições originais de Engels e as posteriores de Stalin.
Palavras-Chave: Dialética – Método dialético – Totalidade – Leis da dialética – Metodologia.
JEL: B14 - B41 – B51
Unesco: 530801 – 720102 – 720302

Resumen
Este artículo presenta una revisión bibliográfica sobre o método dialéctico. El punto de partida es la dialéctica de Hegel. La dialéctica de Hegel era idealista, para este el conocimiento era el resultado de la Idea Absoluta. Posteriormente Marx y Engels formularon la dialéctica materialista. Para esta la realidad conocida por el hombre, no sería más el resultado de una idea absoluta y si el resultado de una representación en el pensamiento de lo concreto, pero como concreto pensado. En la dialéctica de Marx y Engels el concepto de trabajo es central para entender el modo de producción capitalista. También se discute el concepto de totalidad, que no es apenas una suma de las partes. Ella tiene que ser vista como un resultado da historia, analizada en movimiento y constante transformación. Finalmente, se presentan las leyes de la dialéctica con las contribuciones originales de Engels y las posteriores de Stalin.
Palabras-Clave: Dialéctica – Método dialéctico – Totalidad – Leyes de la dialéctica – Metodología.
JEL: B14 - B41 – B51
Unesco: 530801 – 720102 – 720302

Abstract
This paper presents a bibliographical review about the dialectical method. The starting point is Hegel's dialectic. Hegel's dialectic was idealistic, for him knowledge was the result of the Absolute Idea. Later Marx and Engels formulate the materialist dialectic. For this reality known to man would no longer be the result of an absolute idea but the result of representation in the thought of the concrete, but as concrete thought. In the dialectic of Marx and Engels the concept of labor is central to understanding the capitalist mode of production. Also discussed is the concept of wholeness that is not just a sum of parts. It has to be seen as a result of history, analyzed in movement and constantly changing. Finally, the laws of dialectic are presented with the original contributions of Engels and the later ones of Stalin.
Keywords: Dialectic - Dialectical method - Totality - Laws of dialectic - Methodology.
JEL: B14 - B41 – B51
Unesco: 530801 – 720102 – 720302

Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Ricardo Heli Rondinel Cornejo (2019): "O método dialético", Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, (octubre 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/oel/2019/10/metodo-dialetico.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/oel1910metodo-dialetico


  1. INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre o método dialético. A dialética tem suas origens na filosofia grega, posteriormente o filósofo idealista Hegel vai estruturar aquilo que se conhece como dialética idealista. A dialética de Hegel era idealista, para ele o conhecimento era o resultado da Idéia Absoluta. Posteriormente Marx e Engels formulam a dialética materialista. O objetivo desses autores não era fazer uma nova metodologia do conhecimento, mas sim estudar as leis do desenvolvimento do capitalismo e para isso era necessário um método. Assim, Marx e Engels retomam a idéia de dialética de Hegel e a colocam de cabeça para baixo, invertem seu sentido e assim fica sobre seus próprios pés. Deste modo o pensamento, a realidade conhecida pelo homem, não seria mais o resultado de uma idéia absoluta e sim o resultado da representação no pensamento do concreto, mas como concreto pensado.
Apresenta-se também o significado da dialética e a importância do conceito de trabalho na relação homem-natureza. Esse conceito é central para entender a dialética de Marx e Engels. É com o trabalho que o homem se realiza no modo de produção capitalista. Deste modo o entendimento das leis da sociedade atual, passa por entender o papel que tem o trabalho nos processos de produção de mercadorias e de reprodução da humanidade.
Finalmente são apresentados os conceitos de totalidade e as leis da dialética. O conceito de totalidade é importante, pois ela condensa a visão de unidade na diversidade. A totalidade não é apenas uma soma de partes, essa tem que ser vista como resultado da história, analisada em movimento e constante transformação. As leis da dialética também são apresentadas, com as contribuições originais de Engels e as posteriores de Stalin.

  1. AS ORIGENS DA DIALÉTICA

De acordo com Politzer ([1954?], p.30) a palavra dialética vem diretamente de dialegein que significa discutir e essa ação leva a uma luta de ideias contrárias.
O início da dialética se dá com os filósofos gregos. Eles tinham a concepção do mundo como uma totalidade1 em transformação constante. De acordo com Politzer ([1954?], p.29) ao dizer que “jamais entramos no mesmo rio” o filosofo Heráclito dizia que o todo estava em constante transformação.
Para Politzer ([1954?], p.33) os filósofos gregos formularam certo número de regras universais que o pensamento deveria seguir para evitar o erro. O conjunto dessas regras recebeu o nome de lógica. A lógica tem por objeto de estudo os princípios e regras que o pensamento deve seguir na pesquisa da verdade. Essas regras são: 1) O princípio da identidade: uma coisa é idêntica a si mesma, por exemplo, A é A; 2) O princípio de não contradição: uma coisa não pode ser ao mesmo tempo ela e seu contrário, por exemplo, A não é A; 3) O princípio do terceiro excluído: entre duas possibilidades lógicas não há lugar para uma terceira, por exemplo, não há possibilidade intermediária entre a vida e a morte. A lógica formal é valida, porém insuficiente, ela atinge apenas o mais imediato da realidade. Para a dialética não existem dois A exatamente iguais, sempre há uma possibilidade intermediaria, porque a análise se dá no tempo, ou seja, há um processo de transformação. Por exemplo, desde que o homem nasce ele morre, ele morre todos os dias, porque células nascem e morrem todos os dias. Na medida em que o homem envelhece, mais células morrem que nascem, até que finalmente vence a morte. Mas a pesar da morte do corpo ainda há vida, ainda há células, que irão se decompor ao longo do tempo e se transformar em uma nova matéria.
Konder (1981, p. 14) menciona o filósofo italiano Giambattista Vico (1680-1744) que ajudou a dialética se fortalecer.  Vico achava que o homem não podia conhecer a natureza feita por Deus e somente este podia conhecê-la. Mas o homem poderia conhecer sua própria história, já que a realidade histórica é obra humana. Este pensamento foi um estímulo à busca de um método adequado para a correta compreensão da realidade histórica.
Segundo Konder (1981, p. 15), Mointaigne (1533-1592) dizia que todas as coisas estão sujeitas a passar de uma mudança à outra; a razão, buscando nelas uma substancia real, só pode frustrar-se, pois nada poderia apreender-se de permanente, já que tudo ou está começando a ser – e absolutamente ainda não é – ou já esta começando a morrer antes de ter sido. O mesmo autor antes mencionado, também afirmava que os pensadores do século XVII viviam e pensavam, de certo modo, numa situação de isolamento em relação à dinâmica social, em relação aos movimentos políticos da época. Os contatos que eles mantinham eram com personalidades e não com organizações ou tendências que refletissem o que se passava nas bases da sociedade.
Para Konder (1981, p. 16) somente na segunda metade do século XVIII com o Iluminismo é o pensamento começou a mudar. Os iluministas compreendiam que o mundo feudal estaria em extinção e pretenderam construir um pensamento mais racional. Foi Denis Diderot (1713- 1784) o maior dos filósofos iluministas que trouxe alguma contribuição para a dialética, pois compreendeu que o individuo está sempre girando ao redor das mudanças da sociedade.
Na opinião de Konder (1981, p. 18) foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que deu a maior contribuição à dialética na segunda metade do século XVIII. Rousseau não confiava na razão humana, preferia confiar na natureza. Não confiava na ideologia da ordem. Ele defendia um contrato social que permitisse aos indivíduos ter na vida social uma liberdade. As pessoas estavam escravizadas no egoísmo delas e eram necessárias mudanças sociais profundas, que seriam tumultuadas.
Para Politzer ([1954?], p.30) foi Hegel (1770-1831) o verdadeiro pai da dialética. Ele realizou uma revolução no campo das idéias ao contrapor-se ao pensamento metafísico. Para Hegel a verdade não é um conjunto de princípios definitivos. A verdade é um processo histórico, na qual é necessário passar de graus inferiores a superiores do conhecimento. O conhecimento não é eterno, ele sempre é superado e seus resultados são modificados na medida em que a realidade muda.
Entretanto, de acordo com Politzer ([1954?], p.30) a dialética Hegeliana é uma dialética idealista, o que significa dizer que a natureza e a história humanas são resultados da Idéia Absoluta, ou seja, a consciência do homem determina o ser.
Para Politzer ([1954?], p.30) Marx rejeitou a parte idealista das idéias de Hegel e retomou a dialética na sua base racional. No segundo prefácio do Capital (janeiro de 1873) Marx escreveu:

“Meu método dialético, não só difere basicamente do método hegeliano, como também é, exatamente, o oposto dele. Para Hegel, o movimento do pensamento que ele representa sob o nome de idéia, é o ‘demiurgo’ da realidade, que, por sua vez, não é mais do que a forma fenomenal da idéia. Para mim, ao contrário, o movimento do pensamento não é senão o reflexo do pensamento real, transportado e transposto para o cérebro do homem”.

Segundo Konder (1981, p. 51) é compreensível que até hoje existam muitas discussões sobre a dialética de Marx, pois ele não chegou a escrever um livro sobre dialética. Marx diferenciou sua dialética daquela de Hegel. Para Hegel a Idéia Absoluta assumiu a imperfeição da matéria, desdobrou-se em uma serie de movimentos que a explicitavam e realizavam, para, afinal, com a trajetória ascensional do ser humano, iniciar o retorno a si mesma.

  1. O SIGNIFICADO DA DIALÉTICA

Para Prado Jr. (1979, p. 13-15) a palavra dialética pode ser usada em dois sentidos. O primeiro como comportamento geral da natureza, como aquilo que ela tem de mais natural, a mudança permanente de suas feições e a permanente transformação delas. O segundo sentido é o da dialética como método lógico, como maneira de se abordar e considerar os fatos da natureza, como posição ou ângulo em que se há de colocar o pensamento frente a eles.
De acordo com Engels apud Politzer ([1954?], p.28) “A dialética considera as coisas e os conceitos no seu encadeamento; suas relações mútuas, sua ação recíproca e suas recorrentes modificações mútuas, seu nascimento seu desenvolvimento, a sua decadência”.
Na análise de Prado Jr. (2001, p. 8), não tendo Marx escrito sobre o método dialético cabe se basear na obra de Hegel que escreveu sobre a dialética, mas do ponto de vista do idealismo. Ainda Prado Jr., manifesta que autores como Louis Althousser tem colocado dúvidas se o pensamento de Marx estava inspirado em Hegel.
Para Politzer ([1954?], p.30) foi Marx, para ele um discípulo de Hegel, que formulou a dialética em bases diferentes, não baseada no princípio da Idéia Absoluta, mas sim no mundo real. Para Marx a origem do pensamento está na base material, no mundo real. Para conhecer é necessário partir do mundo real, porque os homens fazem parte desse mundo real, daí o nome de dialética materialista, contraposta à dialética idealista de Hegel.
A dialética implicaria na realização de um processo de análise e síntese como parte de um processo. De acordo com Prado Jr. (2001, p. 47-48) a análise consistiria em separar e decompor o todo em suas partes. Para Marx, pelo contrário, analisar seria encontrar relações que expliquem como as partes se relacionam com o todo. Para Prado Jr. não há análise sem síntese e vice-versa. Segundo Prado Jr. o conceito de análise foi tirado de um Dicionário da língua filosófica de Paul Fulquier, e ali na definição da análise consta a decomposição do objeto analisado em suas partes e sua recomposição.
Para Politzer ([1954?], p.31-32) foram três as descobertas que tiveram um papel determinante na consolidação da dialética. Primeiro, a descoberta da célula viva, a partir da qual se desenvolvem os mais complexos organismos. Segundo, a descoberta da transformação da energia: o calor, a eletricidade, o magnetismo e a energia química seriam formas qualitativamente diferentes da mesma realidade material. Finalmente, a teoria de Darwin sobre a origem das espécies que mostrou que todos os seres vivos, inclusive o homem, são produtos de uma evolução natural.

  1. A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO NA RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA E A DIALÉTICA

Segundo Konder (1981, p. 21), Imanuel Kant (1724-1804), percebeu que a consciência humana não registra apenas os fatos do mundo exterior, mas ela é a consciência de um ser que interfere na realidade e que isso complicava o processo de conhecimento humano. Era necessário definir: o que é o conhecimento? Esse seria o centro da filosofia. Kant fixava sua atenção na “razão pura” e percebeu que nela existiam certas contradições -as antinomias- que nunca poderiam ser expulsas do pensamento humano.
Para Konder (1981, p. 22) Georg W. F. Hegel (1770-1831) sustentava que a questão central da filosofia era a questão do ser e não a do conhecimento. Hegel concordava com Kant em que o sujeito humano é essencialmente ativo e está sempre interferindo na realidade.
De acordo com Konder (1981, p. 23) Hegel descobriu observando a realidade da Alemanha que: “O homem transforma ativamente a realidade, mas quem impõe o ritmo e as condições dessa transformação ao sujeito é, em ultima análise, a realidade objetiva”. Hegel percebe que o trabalho era a mola que impulsionava o desenvolvimento humano.
Na análise de Konder (1981, p. 24) se não fosse o trabalho, não existiria a relação sujeito-objeto. No trabalho se acha tanto a resistência do objeto como o poder do sujeito. A diferença entre o homem e o animal é que o animal atua por instinto enquanto o homem pode antecipar o resultado do seu trabalho sobre a natureza.
Para Konder (1981, p. 26) o trabalho é conceito importante para entender o que é uma superação dialética. Hegel usa a palavra alemã “aufheben” que significa suspender. Para Hegel a superação dialética é simultaneamente a negação de uma determinada realidade, a conservação de algo essencial que existe nessa realidade e a elevação dela a um nível superior. Hegel era idealista e o movimento era resultado da Idéia Absoluta.
Segundo Konder (1981, p. 27-28) Karl Marx (1818-1883), inverteu a posição da dialética. Para Marx a dialética hegeliana estava de cabeça para baixo e decidiu colocá-la sobre seus próprios pés. Para Marx, Hegel não conseguiu se dar conta da alienação que ocorria com o trabalho numa sociedade capitalista.
De acordo com Prado Jr. (2001, p. 8-9) o traço fundamental da teoria do conhecimento de Marx é a natureza construtiva do conhecimento. O conhecimento para Marx resultaria da construção efetuada pelo pensamento e que consiste numa representação mental do concreto (realidade exterior) efetuada a partir da percepção e a intuição. O que é apreendido e incorporado ao pensamento, faz-se pelo conhecimento.
Segundo Prado Jr. (1979, p. 34-35) quem deu forma à lógica dialética foram Marx e Engels. Ambos preocupados em formular uma interpretação da história da humanidade, acabam tomando por base a dialética de Hegel, que era uma dialética Idealista baseada na Idéia Absoluta. Assim ambos formularam uma nova interpretação da história baseados no conceito de totalidade, luta de contrários, transformações qualitativas e relações entre as coisas. A preocupação de Marx não era formular um método para filosofia, não era resolver o problema do conhecimento. O problema de Marx era dar uma interpretação à história da humanidade e para onde ela caminharia. A lógica dialética de Marx e Engels tem uma determinada função histórica, que foi de servir de método de análise da natureza com um determinado fim. Nessa formulação o conceito de trabalho tem uma grande centralidade2.
Na análise de Konder (1981, p. 29) para Marx é através do trabalho que o homem domina a natureza, é uma atividade pela qual o homem se cria a si mesmo. A deformação do trabalho ocorre porque há uma divisão social do trabalho que nasce junto com a propriedade privada dos meios de produção. Com isto se introduziu um novo tipo de contradição. O homem não dispunha mais do resultado do seu trabalho. O homem se aliena no trabalho, não se enxerga mais nele.
Para Konder (1981, p. 31) a única forma de acabar com a alienação do trabalho seria levar em conta a luta de classes e fazer a revolução socialista. Para Marx sem uma visão totalizante seria impossível entender as leis de desenvolvimento do capitalismo.

  1. A TOTALIDADE E O CONCRETO

             De acordo com Kosik (1976, p. 51) existem três concepções fundamentais de totalidade apoiadas sobre diferentes bases epistemológicas:

1) a concepção atomístico-racionalista, de Descartes até Willgennstein, que concebe o todo como totalidade dos elementos e dos fatos mais simples;
2) a concepção organicista e organicístico-dinâmica, que formaliza o todo e afirma a predominância e a prioridade do todo sobre as partes (Schelling, Spann);
3) a concepção dialética (Heráclito, Hegel, Marx) que concebe o real como um todo estruturado que se desenvolve e se cria.

Assim, para a dialética marxista o conceito de totalidade é fundamental. A totalidade é uma totalidade concreta, resultado de um movimento histórico que está em constante transformação. O todo não é apenas a soma das partes. É mais do que isso, as partes relacionadas enriquecem o todo e são mais do que simples soma aritmética das partes. Também há relação dialética entre as partes de um todo e entre o todo e cada uma de suas partes.
Segundo Konder (1981, p. 36), o todo é mais que a soma das partes que interagem. As partes estão no todo e no todo estão as partes. Só é possível entender as partes entendendo o todo. Uma parte vista isoladamente dá uma imagem equivocada do todo.
Na análise de Konder (1981, p. 39-40), a modificação do todo se realiza, de fato, após o acumulo de mudanças nas partes que o compõem. Processam-se alterações setoriais, quantitativas, até que se alcança o ponto critico de transformação qualitativa. É a lei dialética da transformação da quantidade em qualidade. Cada totalidade tem sua maneira diferente de mudar.
A totalidade concreta como concepção dialético-materialista do conhecimento real, de acordo com Kosik (1976, p. 61) significa um processo indivisível que tem três partes: a) a destruição da pseudoconcreticidade, ou seja, da aparência do fenômeno e o conhecimento de sua objetividade; b) o reconhecimento do caráter histórico do fenômeno no qual se manifesta a dialética do individual e do humano em geral; c) o conhecimento do conteúdo objetivo e do significado do fenômeno, de sua função e o lugar que ocupa no corpo social. A totalidade materialisticamente entendida é criação da produção social do homem.
De acordo com Konder (1981, p. 44) a análise, portanto, só poder ser orientada com base em uma síntese (mesmo precária) anterior. Um acerta compreensão do todo precede a própria possibilidade de aprofundar o conhecimento das partes do todo.
Para Marx ao fazer análise se decompõe e recompõe o conhecimento indicado que serviu de ponto de partida. A viagem do conhecimento se dá do mais complexo (ainda abstrato) ao mais simples e feito o retorno do mais simples ao mais complexo (já concreto). Assim o concreto seria o resultado de um trabalho. Para Marx: “O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, é unidade na diversidade”. KONDER (1981, p. 36).
Segundo Konder (1981, p. 67) para Georg Lukács (1885-1971); “Não é a predominância dos motivos econômicos na explicação da história que distingue decisivamente o marxismo da ciência burguesa: é o ponto de vista da totalidade”. Aqui se ressalta o papel da totalidade, das relações entre as coisas no tempo3.
Na análise de Konder (1981, p. 48-49) o conceito de contradição é importante. As conexões íntimas que existem entre realidades diferentes criam unidades contraditórias. A contradição é reconhecida pela dialética como principio básico do movimento pelo qual os seres existem.
De acordo com Schaeffer (1985: p. 37) Prado Jr. reduz o método dialético à pesquisa das relações. Estas trazem a luz tanto o movimento, a passagem de um estado qualitativo a outro mais alto, a existência de contradições, como também a unidade de tudo, a totalidade, a interconexão dos fatos, o encadeamento da conceituação, reflexo e produto em nossa consciência daquela unidade e daquela dialética do Universo.

  1. A TEORIA DIALÉTICA DO CONHECIMENTO E A LÓGICA DIALÉTICA

Para Prado Jr. (1979, p. 40) “A lógica dialética se propõe assim claramente, e trata-se de precisá-la definitivamente, caracterizá-la plenamente como processo científico do pensamento, como instrumento lógico a ser aplicado sistemática e metodicamente na observação, análise e interpretação dos fatos, isto é, na elaboração do Conhecimento bem como na sua aplicação prática em função da qual o Conhecimento se constitui. Trata-se em suma de completar e sistematizar a Lógica Dialética que se há de aplicar como método plenamente caracterizado à interpretação da dialética da Natureza”.  Assim, acredita Prado Jr., que o método dialético tem aplicação não somente para os fatos sociais, mas também para todos os fatos da Natureza.
Para Prado Jr. (2001, p. 20), o conhecimento não é de coisas, entidades, seres, a sua essência (como propõe a metafísica) e sim das relações que se estabelece entre elas, que se trata de descobrir, apreender e representar mentalmente, isso seria conhecimento.
De acordo com Schaeffer (1985: p. 89), a teorização do conhecimento passa por duas etapas, a teorização metafísica e outra dialética. Com Hegel finda a metafísica e começa a dialética. Os defeitos “idealistas” presentes em Hegel serão removidos por Marx e Engels, que dão à dialética um conteúdo materialista.
Na análise de Schaeffer (1985: p. 91), na forma dialética de pensar, deve-se considerar sempre o sistema anterior que está sendo remodelado de uma maneira mais ou menos profunda e completa cada vez que ao pensamento são fornecidos novos dados. Assim que o pensamento relaciona os novos dados com os precedentes e surge um novo conhecimento ou então um novo conjunto relacional.
De acordo com Prado Jr. (2001, p. 20), o ponto de partida, de Marx, do método científico correto estaria na análise que ele fez dos Economistas do Século XVII, que partiriam do concreto, da população, da nação do Estado e partir de aí construiriam relações gerais abstratas, que são categorias como divisão do trabalho, dinheiro e valor, etc. Uma vez estabelecidas as categorias, estruturam-se os sistemas econômicos a partir de noções simples como o trabalho, a divisão do trabalho, a necessidade, o valor de troca, e assim se eleva até o Estado, a troca entre as nações e o mercado mundial. Aqui se poderia dizer que o pensamento segue o sentido concreto real, logo abstrato e volta ao concreto pensado. Este concreto pensado é diferente do concreto real (o mundo real) é o concreto apropriado pelo pensamento, é uma representação do mundo real no pensamento4.
Para Schaeffer (1985: p. 93) Prado Jr. não condena absolutamente a Lógica Formal. Quando não se trata de criar conhecimentos novos e sim de expressar, memorizar e utilizar conhecimentos anteriores se deve utilizar a lógica formal. O problema da lógica formal estaria na falta de relacionamento lógico entre os fatos e os conceitos.
De acordo com Schaeffer (1985: p. 94) a relação entre o Objeto e o Sujeito do conhecimento é muito importante. Para o pensamento metafísico o sujeito e o objeto estão separados, o Pensamento (e o sujeito pensante) fica fora e acima da Realidade. Para a interpretação dialética, o Sujeito pensante é parte da Realidade e está no interior dela.  Para entender como se dá a relação objeto e sujeito tem que entender como se dá o processo pensante.
O processo pensante é formado por três etapas de acordo com Schaeffer (1985: p. 94-95). Na primeira etapa, o Sujeito e o Objeto do pensamento se apresentam confundidos e indiferenciados. Ainda não há pensamento propriamente dito: não existe uma Realidade exterior pensada. Seria um estado pré-prensante. O sujeito toma contato com o objeto sensível através de observações, mas ainda não toma consciência dessas impressões. Na segunda etapa, existe uma oposição entre o Sujeito do pensamento e seu Objeto quando as impressões sensíveis são consideradas pelo sujeito. Ali começa o processo pensante. Aqui tem que se compararem as impressões anteriores e as atuais do sujeito que está conhecendo. Só é diferente o que de alguma forma se relaciona.  Finalmente, na terceira etapa a diferença entre Sujeito e Objeto do conhecimento começa a ser suprimida, isto é, quando eles se passam a igualar. Agora sujeito e objeto do pensamento se confundem num plano superior de conhecimento. A supressão da diferença entre sujeito e objeto se dá pela interpenetração entre ambos, o que se chama de movimento do pensamento.
Na análise de Schaeffer (1985: p. 96-97), de uma Realidade objetiva, ainda desconhecida, passamos à uma Realidade pensada que seria a Verdade. Mas a verdade é sempre relativa. A Realidade pensada constitui de fato um processo de elaboração conceptual. O sujeito do conhecimento constrói conceitos a partir dos relacionamentos observados no objeto do conhecimento. Assim, o conceito é aquele relacionamento, efetuado pelo pensamento, das partes num conjunto que expresse o fato ocorrido e experimentado pelo indivíduo e transposto no estado mental dele. Através de identificações e relacionamentos ocorre o processo de elaboração dos conhecimentos.

  1. AS LEIS DA DIALÉTICA

De acordo com Prado Jr. (1979, p. 243), a lógica Hegeliana descreve uma interconexão de sistemas conceptuais que compõem o conhecimento e a ciência. Hegel não se preocupa com os fatos da realidade objetiva e sim com a representação mental desses fatos pela pessoa pensante. Na lógica de Hegel há duas leis: a interpenetração de contrários e a negação da negação. Pela interpenetração dos contrários os conceitos utilizados são sempre opostos uns aos outros, são diferentes, por isso são contrários. Por exemplo, capitalista e operário. Pela segunda lei, a negação da negação, os conceitos uma vez formulados e integrados, compõem um novo sistema conceitual distinto dos anteriores e se englobam numa unidade e novo conceito que deste modo se configura. Os conceitos por serem distintos e contrários se negam mutuamente. A supressão dessa negação se realiza no novo conceito, que harmoniza aqueles anteriores.
Para Schaeffer (1985: p. 15), os traços característicos da dialética expostos por Stalin são: (a) Tudo se relaciona, na totalidade e seus relacionamentos; (b) Tudo se transforma. O movimento, a mudança, a transformação e o desenvolvimento incessante; (c) A conversão da quantidade em qualidade; (d) A unidade e luta de contrários. As contradições internas, motor do movimento.
Segundo Konder (1981, p. 72) no trabalho de Stálin Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico (1938) ele sustentou que método dialético não tinha três leis fundamentais, mas sim quatro traços fundamentais: 1) a conexão universal e interdependência dos fenômenos; 2) o movimento, a transformação e o desenvolvimento; 3) a passagem de um estado qualitativo a outro e, 4) a luta dos contrários como fonte do desenvolvimento. Stalin teria enfatizado os efeitos práticos da síntese, ela deveria ser qualitativamente distinta da tese, e devia assumir um caráter nitidamente positivo para poder ser utilizada como propaganda na luta política. A preocupação do Stálin era manter o poder socialista.
Segundo Konder (1981, p. 58-59), para Engels as leis da dialética podem ser resumidas em três: 1) lei da passagem da quantidade para a qualidade (e vice-versa). 2) lei da interpenetração dos contrários. 3) lei na negação da negação. Pela primeira lei as coisas mudam, mas não sempre no mesmo ritmo, mas em determinado momento acontecem mudanças significativas (qualitativas). Após uma grande mudança voltam as mudanças lentas.
A segunda lei também é conhecida como de unidade e luta de contrários. De acordo com esta lei tudo está relacionado. Os fatos não podem ser compreendidos isoladamente e têm um lado e outro da sua realidade e constituem uma unidade. Finalmente, a terceira lei diz que o movimento geral da realidade faz sentido, a afirmação engendra sua negação, porém a negação não prevalece como tal. Tanto a afirmação e a negação são superadas, o que acaba por prevalecer é uma síntese, é a negação da negação que é por sua vez uma afirmação qualitativamente superior.
Para Prado Jr. (1979, p. 15-16), Stalin formulou os “traços característicos” do que se deve entender por dialética como método do pensamento, como lógica:

  1. Tudo se relaciona no todo: Os objetos e fenômenos formam parte de uma totalidade aonde estes se relacionam e dependem entre si e se condicionam reciprocamente.
  2. Tudo está em movimento: A natureza esta em movimento, em mudança incessante e permanente, onde algo nasce e se desenvolve e algo se desagrega e desaparece.
  3. A passagem da quantidade para a qualidade: O desenvolvimento não é um simples processo de crescimento. A realidade muda paulatinamente e aos poucos, depois há uma mudança qualitativa que é rápida e súbita, operando como saltos, que são os saltos qualitativos.

A base do movimento é a luta dos contrários. Em todo fato ou fenômeno sempre há dois lados opostos, uma luta entre o antigo e o novo, entre o que nasce e o que morre. Deste modo as contradições são a base do movimento.

  1. Tudo se relaciona, na totalidade e seus relacionamentos

Para Stalin apud Politzer ([1954?], p.36) a lei da ação recíproca e da ação universal: tudo se relaciona pode ser expressa assim:
“Em contraposição à metafísica a dialética olha a natureza, não como um amontoado natural de objetos destacados uns dos outros, isolados e independentes, mas como um todo unido, coerente, em que os objetos e os fenômenos são organicamente ligados entre si dependendo uns dos outros, e se condicionando reciprocamente.
É por isso que o método dialético considera que nenhum fenômeno da natureza pode ser compreendido, quando encarado isoladamente, fora dos fenômenos circundantes; porque, qualquer fenômeno não importa em que domínio da natureza, pode ser convertido num contra-senso quando considerado fora das condições que o cercam, quando destacado dessas condições; ao contrário, qualquer fenômeno pode ser compreendido e explicado, quando considerado do ponto de vista de sua ligação indissolúvel com os fenômenos que o cercam, quando considerado tal como ele é condicionado pelos fenômenos que o cercam”.

De acordo com Stalin apud Politzer ([1954?], p.45-46) em oposição à metafísica, a dialética vê a natureza, não em estado de repouso é imóvel, mas em estado de movimento, de mudanças contínuas de renovação e desenvolvimento incessante, onde qualquer coisa nasce e se desenvolve, qualquer coisa se desagrega e desaparece. Assim para a dialética os fenômenos devem ser vistos não somente como relacionados, mas também em movimento, em mudança, em transformação constante, do ponto de vista de seu aparecimento e seu desaparecimento.
Para Engels apud Politzer ([1954?], p.49) “o movimento é a maneira de ser da matéria. Jamais, em parte alguma, houve matéria sem movimento, nem poderá haver. [...] A matéria , sem movimento, é tão inconcebível como o movimento sem matéria”.

  1. Tudo se transforma: a transformação universal e o desenvolvimento incessante

Para Politzer ([1954?], p.45-56) a transformação universal e o desenvolvimento incessante é uma lei que envolve o conceito de dinâmica. A dinâmica é o contrário da estática. Pela estática os fenômenos são de uma forma e assim o serão sempre, não há possibilidade de transformação. Para a dialética tanto a natureza quanto a sociedade estão em transformação constante, e quem faz essa história é o homem, quando ele muda a natureza no processo de produção, no processo de ocupação do território. A sociedade vista de uma forma dialética, significa que as formas de organização social e os modos de produção não são eternos.

  1. A conversão da quantidade em qualidade

Na análise de Politzer ([1954?], p.57-69), existem dois tipos de mudanças quantitativas e qualitativas. Chama-se de mudança quantitativa o simples aumento da quantidade de um fato ou fenômeno. Já a mudança qualitativa implica numa transformação do fato ou fenômeno em algo diferente qualitativamente. As mudanças qualitativas se dão em saltos. Poder-se-ia assim falar num salto qualitativo quando um fato ou fenômeno muda sua composição, sua forma física, transforma-se em algo diferente, às vezes qualitativamente superior. Esta concepção de mudança ou desenvolvimento implica em que não há mudanças qualitativas continuas, mas sim mudanças quantitativas que são seguidas de saltos qualitativos. O exemplo clássico é o exemplo da água que ao ferver, muda quantitativamente, e que ao atingir os 100 graus centígrados muda qualitativamente passando de estado liquido para gasoso.
Uma observação importante de Politzer ([1954?], p.69), é que não se deve separar a quantidade da qualidade, nem a qualidade da quantidade, como fazem os metafísicos, para os quais a quantidade é matéria pura e a qualidade é o espírito. Assim o idealista entende a qualidade se dá na mente, na idéia absoluta e que apenas a quantidade é material. Para a dialética tanto a quantidade quanto a qualidade pertencem ao mundo real. A percepção e o conhecimento do mundo real pelo homem permitem-lhe entender que fatos e fenômenos, ao longo do tempo e espaço mudam quantitativamente e qualitativamente.

  1. A luta dos contrários

Para Politzer ([1954?], p.70-106) a luta dos contrários é o motor da mudança. Na sociedade todos os fatos e fenômenos estão relacionados e em constante transformação. Transformações que implicam a passagem de um estado a outro, ou seja, mudanças qualitativas. Mas qual o motor dessas mudanças? Para a dialética o motor das mudanças é a luta dos contrários.  Assim todo fato ou fenômeno tem sempre dois lados. O processo de conhecimento pressupõe uma luta, uma oposição entre, por exemplo, minha ignorância e a consciência de que devo superar essa ignorância.
Somente haverá superação da minha ignorância do conhecimento do método dialético, se eu for consciente que preciso estudar para conhecer sobre dialética. Neste caso temos uma luta dos contrários entre minha ignorância e a consciência. Ao final do processo um dos contrários sairá vencedor. O movimento, o processo de conhecimento, é assim o resultado de uma luta de contrários. O conhecimento se dá por etapas. Como é impossível conhecer tudo, poder explicar o que significa dialética e poder aplicá-la a um processo de pesquisa, já é um avanço qualitativo.
Para Schaeffer (1985: p. 38) o conceito de relação pode ser considerado de fato o centro da filosofia hegeliana, o núcleo de seu método de investigação, essa forma suprema de pensamento (Engels) que é a dialética. O conceito de relação permitiu a Hegel estabelecer relação entre os fatos e os fenômenos. E é baseado no conceito de relação que Hegel alcança a explicar a existência das contradições, motor da história e do espírito; a luta entre as contradições, a negação, a superação; o caminhar dinâmico de tudo ara seu fim através do choque das contradições, que culminam em violenta crise e rompem o equilíbrio precário interno; após a ruptura, o equilíbrio interno se restabelece sob forma qualitativa diferente.

  1. Conclusão

A dialética é um método de pesquisa que consiste em analisar um problema visto como uma totalidade concreta, resultado de um processo histórico e em constante transformação.
Para o método dialético o processo de conhecimento é continuo e nele o homem parte do concreto real e através de abstrações formula conceitos simples. Esses conceitos, posteriormente são juntados e se volta ao concreto, que não é mesmo concreto real inicial, mas sim um concreto pensado. Esse processo do pensamento se dá através de duas negações sucessivas, a negação da negação que leva a uma afirmação qualitativamente superior. Essa afirmação qualitativamente superior seria o resultado de múltiplas determinações, que nada mais são que as variáveis de uma pesquisa.

Referências bibliográficas

Konder, Leandro (1981): “O que é dialética”. Editorial Brasiliense, São Paulo.
Kosik, Karel (1976): “Dialética do concreto”. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro.
Politzer, George; Besse, Guy; Caveing, Maurice (1954?): “Princípios fundamentais de filosofia”. Editora Hemus, São Paulo.
Prado Jr., Caio (1979): “Introdução à Lógica Dialética (notas introdutórias)”. Editora Brasiliense, São Paulo.
Prado Jr., Caio (2001): Teoria marxista do conhecimento e método dialético marxista. Edição Ridendo Castigat Mores. Disponível em: www.ebooksbrasil.org/adobeebook/caio.pdf. Acesso em 01/08/2019 a 12:30
Schaeffer, Sérgio. A lógica dialética. Um estudo da obra filosófica de Caio Prado Júnior. Porto Alegre: Movimento, 1985.

Notas

1 O conceito de totalidade é um dos fundamentais da dialética. Trata-se de ver um fato o fenômeno como um todo, composto por partes, interligadas, interagindo, em contradição e em constante transformação.
2 A explicitação do pensamento dialético como método está no Prefácio da Contribuição a Crítica da Economia Política de Karl Marx, publicada em 1859. Nesse Prefácio se formula a concepção materialista da história, baseada no método dialético. A frase é o ser social que determina a consciência social é uma das representações do diferencial da dialética de Marx em relação à dialética Hegeliana.
3 Uma das críticas que se faz ao materialismo histórico é o caráter determinista que tem a infraestrutura em relação à superestrutura. Para Marx sobre a infraestrutura, a base econômica, levanta-se a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas da consciência social. Os críticos de Marx sustentam que isso seria um determinismo econômico. Tudo seria determinado pela economia. 
4 O fio condutor dos estudos de Marx usando o método dialético está expresso no Prefácio da Contribuição a Crítica da Economia Política de 1959: “na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura económica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas da consciência social. O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência. Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de revolução social. Com a transformação do fundamento económico revoluciona-se, mais devagar ou mais depressa, toda a imensa superestrutura. Na consideração de tais revolucionamentos tem de se distinguir sempre entre o revolucionamento material nas condições económicas da produção, o qual é constatável rigorosamente como nas ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em suma, ideológicas, em que os homens ganham consciência deste conflito e o resolvem. Do mesmo modo que não se julga o que um indivíduo é pelo que ele imagina de si próprio, tampouco se pode julgar uma tal época de revolucionamento a partir da sua consciência, mas se tem, isso sim, de explicar esta consciência a partir das contradições da vida material, do conflito existente entre forças produtivas e relações de produção sociais. Uma formação social nunca decai antes de estarem desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais é suficientemente ampla, e nunca surgem relações de produção novas e superiores antes de as condições materiais de existência das mesmas terem sido chocadas no seio da própria sociedade velha. Por isso a humanidade coloca sempre a si mesma apenas as tarefas que pode resolver, pois que, a uma consideração mais rigorosa, se achará sempre que a própria tarefa só aparece onde já existem, ou pelo menos estão no processo de se formar, as condições materiais da sua resolução. Nas suas grandes linhas, os modos de produção asiático, antigo, feudal e, modernamente, o burguês podem ser designados como épocas progressivas da formação económica e social. As relações de produção burguesas são a última forma antagónica do processo social da produção, antagónica não no sentido de antagonismo individual, mas de um antagonismo que decorre das condições sociais da vida dos indivíduos; mas as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para a resolução deste antagonismo. Com esta formação social encerra-se, por isso, a pré-história da sociedade humana.”

*Doutor em Desenvolvimento Regional (Universidade de Santa Cruz do Sul), Mestre em Planejamento Urbano e Regional (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Especialista em Formulação e Avaliação de Projetos e Bacharel em Ciências Econômicas (Universidade Nacional Maior de São Marcos de Lima). Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria, Brasil. E mail: ricardorondinel73@hotmail.com

Recibido: 15/10/2019 Aceptado: 21/10/2019 Publicado: Octubre de 2019

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