Observatorio Economía Latinoamericana. ISSN: 1696-8352


A PRODUÇÃO CIENTÍFICA POR GÊNERO ENTRE 2015 E 2017 EM UM PERIÓDICO DE ECONOMIA

Autores e infomación del artículo

Francisco Ivander Amado Borges Alves *

Universidade Federal do Ceará, Brasil

ivandborges@alu.ufc.br

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RESUMO:

A produção do conhecimento científico é em maior parcela por homens comparativamente às mulheres. Este trabalho objetivou analisar a produção científica de uma revista em economia, por gênero entre 2015 e 2017. Realizou-se uma pesquisa quali-quantitativa, descritiva, através da bibliometria de 110 artigos científicos. Os achados da pesquisa apontam uma maior participação masculina nos artigos; que há uma maior participação feminina quando a quantidade de autores por artigo aumenta. A amostra é de autores de maior nível acadêmico, apesar que a participação feminina reduziu nos níveis acadêmicos maiores. Por último, o Equador, Brasil e México foram os países de maior representatividade, e estes três foram os que a diferença entre a participação masculina e feminina foi menor, apesar de ainda não serem igualitárias as participações.
PALAVRAS-CHAVE: Gênero, Produção científica, Bibliometria, Periódico, Economia.

ABSTRACT:

The production of scientific knowledge is in greater proportion by men compared to women. This work aimed at the scientific research of a journal in economics, by gender between 2015 and 2017. A qualitative and descriptive research was carried out through the bibliography of 110 scientific authors. The research findings point to a greater male participation in the articles; that there is greater female participation when a number of authors per article increase. A sample of authors of greater academic severity, despite a reduced female participation in the higher academic levels. Finally, Ecuador, Brazil, and Mexico are the most representative countries, and these three are a difference between male and female participation, but they are not equivalent to participation.
KEY WORDS: Gender, Scientific production, Bibliometrics, Periodicals, Economics.


Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Francisco Ivander Amado Borges Alves (2018): "A produção científica por gênero entre 2015 e 2017 em um periódico de economia", Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, (febrero 2018). En línea:
//www.eumed.net/2/rev/oel/2018/02/produccion-cientifica-genero.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/oel1802produccion-cientifica-genero


1 Introdução

O conhecimento científico está constantemente em expansão, sendo produzido em todo o mundo e disseminado nos canais de divulgação científica, tais como os congressos e os periódicos. Dessa forma, estudar as características da produção científica possibilita conhecer como está se dando a produção do conhecimento, tais como o gênero dos autores, a frequência de publicação, a existência de centros de produção de conhecimento, dentre outras.
O conhecimento científico veio sendo produzido e divulgado em maior parcela por homens comparativamente às mulheres. Essa hegemonia patriarcal da ciência reflete diversas condições desfavoráveis à produção feminina, como a menor oferta de bolsas de pesquisa (GUEDES; AZEVEDO; FERREIRA, 2015), o menor acesso das mulheres ao ensino superior e outras características. Dessa forma, este artigo objetivou analisar a produção científica por gênero entre 2015 e 2017, na revista Contribuciones a La Economía.
O presente trabalho está dividido em cinco seções, sendo esta introdução a primeira delas, o referencial teórico está descrito na seção dois; por sua vez a seção três é dedicada à descrição da metodologia empregada na consecução do objetivo; por sua vez, a quarta parte é dedicada aos resultados e discussão deles; sendo a última seção dedicada à considerações finais, na qual são apresentadas as principais conclusões, as limitações da pesquisa e sugestões para pesquisas futuras.

2 referencial teórico

O conhecimento científico está constantemente em expansão, sendo produzido em todo o mundo e disseminado nos canais de divulgação científica, tais como os congressos e os periódicos. Oliveira et al. (2017) afirmam que a investigação da produção científica é um campo fértil para pesquisas, pois é necessário saber como essa produção está ocorrendo, se há grandes centros que concentram a produção científica e as características desta produção e de seus autores.
A bibliometria é uma técnica muito recorrente quando da análise da produção científica. Conforme Pritchard (1969), a bibliometria trata-se da aplicação de métodos estatísticos e matemáticos na análise de produções. Sendo que Guedes e Borshiver (2005) consideram que ela se refere a ferramenta estatística que permite o mapeamento e a criação de indicadores para o tratamento e administração da informação, bem como a análise dos meios de divulgação científica e da produtividade de uma determinada comunidade.
Do esforço em investigar as características da produção científica surgiram Leis que tentam explicar comportamentos desta produção. Havendo três Leis que tiveram destaque, sendo que nelas “[...] estão o método de medição da produtividade de cientistas de Lotka (1926), a lei de dispersão do conhecimento científico de Bradford (1934) e o modelo de distribuição e freqüência de palavras num texto de Zipf (1949)” (ARAÚJO, 2006, p. 13). A Lei de Lotka preceitua que A quantidade de autores que publicam n artigos em uma determinada área científica, é aproximadamente 1/n2 dos que publicam apenas 1 artigo (LOTKA, 1926); por sua vez, a Lei de Bradford mesura a freqüência do aparecimento das palavras em vários textos (RESENDE et al., 2012; BRADFORD, 1934) e; a Lei de Zipf mede a produtividade dos periódicos, estabelecendo os núcleos e as áreas de dispersão sobre um certo assunto em um mesmo conjunto de revistas (RESENDE et al., 2012; ZIPF, 1949).
Chueke e Amatucci (2015, p. 2) afirmam que “[...] nas ciências sociais aplicadas os estudos bibliométricos se concentram em examinar a produção de artigos em um determinado campo de saber, mapear as comunidades acadêmicas e identificar as redes de pesquisadores e suas motivações [...]”. Há um esforço da pesquisa bibliométrica na área de ciências sociais aplicadas em investigar estes aspectos da produção científica e, uma quantidade de autores considerável vêm realizado estudos bibliométricos e sempre considerando algum aspecto da produtividade científica que não havia sido identificado suficientemente bem, anteriormente.
A exemplos dos estudos bibliométricos na área de economia, cita-se o trabalho de Silva (2008) que realizou um estudo bibliométrico sobre a produção científica em Economia e Gestão da Inovação e Tecnologia (EGIT) entre 1947 e 2007 na Research Policy; os autores puderam concluir que os temas que mais têm crescido  são ‘Open innovation, Copyrights e IPR, Open software’, ‘Relações Universidade-Empresa e Transferência de Tecnologia e Conhecimento’ e ‘Empreendedorismo, Incubação, Spin-offs, Universidades Empreendedoras’. Da análise das quase 60.000 citações verificou-se que a Economia é a área que mais contribuiu para alimentar os fluxos de conhecimento em EGIT. Constatou-se que os autores mais influentes estão associados à corrente evolucionista, Richard R. Nelson, e à abordagem europeia da inovação - Keith Pavitt e Chris Freeman. A obra mais citada foi o livro Technical Change and Economic Theory.
Por sua vez, Alves et al. (2016) realizou uma análise bibliométrica dos trabalhos brasileiros sobre economia solidária no período de 2001 a 2013, nas publicações em periódicos da base da SciELO e SPELL, constatando que os artigos avaliados demonstraram que as publicações são oriundas de diferentes grupos de pesquisas sobre o tema, contudo, verificou-se que ainda há a necessidade de periódicos próprios sobre Economia Solidária.
Paula et al. (2017) analisou indicadores bibliométricos (principais autores, países, períodos, áreas e instituições que mais publicam) sobre o tema ‘economia ambiental’ na base de dados Scopus, obtendo como resultados que os Estados Unidos é o país que mais publica, sendo o Brasil o 16º. O Brasil apresenta taxa média de crescimento no número de artigo bem superior à média mundial. Dentre as dez instituições que mais publicaram, três são dos EUA, três do Reino Unido e duas da Holanda. A área que mais concentra as publicações é a de Ciências Ambientais, seguida da área de Ciências Sociais.
Em outra linha, Santos et al. (2017) verificaram o tema ‘economia solidária’, de 2000 a 2015, nos trabalhos publicados nos eventos da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD) e Scientific Periodicals Electronic Library (SPELL). As conclusões dos autores são que há um número progressivo de publicações no período analisado, com predominância dos estudos empíricos, de natureza exploratória e abordagem qualitativa, sendo os objetos de pesquisa os empreendimentos solidários, associações e cooperativas. Sob a perspectiva qualitativa, os temas correlatos de maior ocorrência foram gestão social, autogestão, sustentabilidade e políticas públicas.
Em se tratando de estudos sobre a participação feminina na produção científica as pesquisas ainda são escassas. Dentre os poucos estudos pode citar o trabalho de Resende et al. (2012) que analisou 506 artigos do tema Finanças, publicados nos evento científico EnANPAD’s, entre 2000 e 2010. Os resultados indicaram que 27 artigos são de autoria exclusivamente feminina e 184 de autoria mista. Porém, houve o gênero masculino teve maior representatividade. A maior preferência feminina foi pela subárea de finanças corporativas. Nas pesquisas em conjunto o mainstream foi em finanças corporativas; mercados financeiros e de capitais; de investimentos; derivativos e gestão de riscos e; finanças internacionais. A análise da produtividade dos autores, por gênero, revelou que, tanto feminina quanto masculina, não tiveram aderência à distribuição de Poisson e à Lei. Parece haver uma tendência de crescimento positivo da participação das mulheres nas publicações em finanças.
Outro estudo é o de Luca et al. (2011) analisa a participação feminina em 1.294 artigos em Contabilidade publicados nos anais EnANPAD, dos Congressos USP de Controladoria e Contabilidade e da ANPCONT. Verificando-se a participação feminina em 755 artigos, sendo 97 de autoria exclusivamente feminina e 658 de autoria mista. A participação feminina na produção científica contábil é significativamente pequena em relação à do gênero masculino, e que sua evolução relativa costuma acompanhar a da quantidade total de autores, sendo que nos últimos anos assinalou uma queda no tocante aos eventos da USP e da ANPAD, e um aumento no ANPCONT.
Ferreira e Pinto (2017) deram sua contribuição ao investigarem gênero e mulher publicados no evento EnEO entre o período de 2006 a 2014, de forma que empregou-se a bibliometria a 26 artigos neste evento científico. Os autores concluíram que a maioria dos artigos é escrito por dois autores, sendo a maior parte deles do sexo feminino. Os autores e coautores não reaparecem em pesquisas posteriores, indicando que o relacionamento de coautorias parece ser pouco motivado e explorado. Além disso, a maioria das publicações é de abordagem qualitativa, de natureza teórico-empírico e composta por estudos transversais. A técnica de análise dos dados foi bastante diversificada, não havendo uma preponderância de nenhuma delas.
No seu artigo, Camargo e Hayashi (2017) investigaram a coautoria feminina e a participação das mulheres no corpo editorial de periódicos científicos brasileiros da área de cirurgia publicados entre 2010 e 2014. Foram analisados 920 artigos publicados em quatro periódicos científicos: Acta Cirúrgica Brasileira (ACB), Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (ABCD), Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (RBCCV) e Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (RCBC). Os resultados apontaram que os artigos foram escritos por 5.649 coautores. Os homens aparecem como coautores em 63,5% (n=585) dos artigos, enquanto que as mulheres comparecem como coautoras em 23,8% (n=219). Em relação à participação das mulheres nos corpos editoriais dos periódicos, os resultados revelaram que apenas no periódico ABCD a presença feminina é única e exclusiva.
Guedes, Azevedo e Ferreira (2015) identificaram que há um desequilíbrio na quantidade de grupo de pesquisadores bolsistas produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) entre 2001 e 2012. Concluindo que a proporção entre homens e mulheres conforme a área de conhecimento, e ao fenômeno da juvenilização, que ocorreu em todas as áreas e favoreceu os homens a obterem maior quantidade de bolsas de produtividade do CNPq.
Portanto, a literatura científica tem identificado que a participação feminina na produção de artigos científicos é inferior à masculina, bem como o gênero masculino obtém a maior proporção das bolsas de pesquisa em produtividade; o que demonstra que as pesquisadoras têm uma menor participação na produção do conhecimento, bem como a sociedade patriarcal impera mesmo no campo da ciência.
Longe de uma guerra de sexos, é necessário haver uma maior igualdade na participação dos gêneros, regiões, etnias e outras características dos ‘grupos’ humanos; devendo as políticas públicas possibilitarem a independência dos grupos historicamente marginalizados e desassistidos, permitindo que os mesmos tenham maior acesso ao Ensino Superior (principalmente na Pós-Graduação), bem como maior condição de obterem os financiamentos governamentais de pesquisa, e assim seja possível reduzir essa discrepância entre os gêneros na produção científica.

3 metodologia

Esta pesquisa é classificada quanto ao tipo  como descritiva, pois investiga e descreve os fatos e condições relacionadas ao fenômeno em estudo, participação feminina nos artigos publicados na revista Contribucciones a La Economía, apresentando dessa forma uma descrição profunda das características do fenômeno investigado (GIL, 2014).
O estudo é do tipo quali-quantitativo quanto ao problema, pois trata de analisar de fatos que necessitem de uma análise mais completa, bem como o emprego de técnicas estatísticas como médias, e que o fenômeno seja estudado em seu contexto real, uma vez que a participação feminina na produção científica apresenta informações para o planejamento de políticas voltadas a reduzir a discrepância entre os gêneros (MARCONI; LAKATOS, 2010).
Os artigos científicos foram coletados diretamente do Website da revista Contribucciones a La Economía entre 2015 e 2017 (coleta até o dia 16/12/2017). A busca resultou em 114 artigos, entretanto quatro deles tiveram que ser descartados pela indisponibilidade do PDF dos arquivos no Website, desta forma a amostra final foi de 110 artigos (sendo 39 deles publicados no ano de 2015; 33 no ano de 2016 e, 38 no ano de 2017) de 69 diferentes instituições de afiliação dos autores e, 13 países.
Para a análise dos dados procedeu-se a análise bibliométrica visando verificar as características da produção científica da amostra estudada, principalmente no aspecto da participação do gênero feminino, utilizando como auxílio a análise descritiva para detalhar os dados da pesquisa (VERGARA, 2012). A bibliometria foi realizada da seguinte forma: (1) coletou-se os artigos diretamente do website do periódico, (2) em seguida os dados foram tabuladas no software Microsoft Excel® 2010, (3) depois de tabulados, os dados foram analisados através de contagens e médias das frequências das informações.
As variáveis de interesse dessa pesquisa foram: (1) a quantidade de autores; (2) a participação dos gêneros na amostra; (3) a participação dos gêneros ao longo dos anos analisados; (4) a quantidade de autores por artigo; (5) a participação média dos gêneros na quantidade de autores por artigo; (6) os 10 autores mais produtivos; (7) o gênero dos 10 autores mais produtivos; (8) a titulação da amostra; (9) a titulação por gênero; (10) As instituições mais representativas; (11) a distribuição por gênero da participação de autores destas instituições; (12) Os países de maior representatividade e; (13) a participação dos gêneros em cada país. Na seção a seguir são apresentados os resultados da pesquisa, através da apresentação de gráficos, tabelas e descrições mais detalhadas de aspectos das características dos artigos, além de apresentar conjuntamente uma discussão dos mesmos.

4 resultados e discussão

O estudo da participação dos gêneros na produção científica representa uma grande contribuição à ciência, na medida em que possibilita conhecer como está se dando a produção do conhecimento, bem como possibilita o desenvolvimento de políticas públicas para a equidade na produção científica entre os gêneros.
Dessa forma foram analisados 110 artigos científicos publicados na revista Contribuciones a La Economía, para os anos de 2015 (39 artigos), 2016 (33 artigos) e 2017 (38 artigos). A pesquisa resultou em total de 172 diferentes autores de artigos publicados na revista analisada, sendo o total de autorias de 219 (pois um mesmo autor pode ter publicado mais de uma vez na revista). Quanto ao gênero das autorias (219 autorias), o Gráfico 1 apresenta sua configuração.
Verifica-se uma maior representatividade do gênero masculino na amostra de artigos (68% das autorias de trabalho) em comparação ao feminino (32%). Quando a análise é realizada com os autores sem repetição (172 autores), as proporções se mantiveram (67% para masculino e 33% para o feminino).
Como não houve relevante discrepância será adotada a análise pelas autorias (219 autorias), sendo mencionada explicitamente quando for adotada a análise por autores sem repetições (172 autores). Em termos gerais, a amostra analisada indica que a participação feminina ainda é tímida, corroborando com os resultados de Camargo e Hayashi (2017), Resende et al. (2012), Luca et al. (2011). Em seguida realizou-se uma análise histórica da participação dos gêneros ao longo dos anos verificados, conforme Gráfico 2.
Apesar do masculino ainda ter uma sobreposição acentuada sobre o gênero feminino, historicamente visualiza-se que houve uma redução nesta discrepância entre os anos de 2015-2016, permanecendo uma estabilização no período posterior (em torno dos 60%).
O resultado indica que as pesquisadoras estão conseguindo maior espaço para publicar seus trabalhos nos últimos anos; este indicativo também vem com uma época em que temas como gênero, identidade de gênero ‒ na Assembleia legislativa do estado do Ceará, Brasil, este foi um dos temas mais discutidos em 2017 (MAZZA, 2017) ‒, jornada de trabalho da mulher, a participação feminina na política e feminismo estão em alta ‒ o dicionário da editora Merriam-Webster's, nos Estados Unidos, elegeu ‘feminismo’ como a palavra do ano (G1, 2017). Verificou-se a quantidade de autores por artigos e a participação dos gêneros nestas quantidades, descrito nos Gráfico 3 e Gráfico 4.
Em sua grande maioria, os pesquisadores publicam artigos individualmente (58 artigos) resultado divergente do encontrado por Ferreira e Pinto (2017) que encontraram a preferência por artigos serem produzidos em dupla. Outra quantidade relevante são os artigos produzidos por três autores, os quais figuraram 24 artigos; houve ainda uma publicação produzida por sete autores, sendo esta uma quantidade incomum. A análise destas quantidades conforme o Gênero é apresentada no Gráfico 4.
É observado no Gráfico 4 que quando a quantidade de autores por artigo foi menor, a participação feminina também reduziu (a exceção dos trabalhos em trio e em sete autores, que ao invés de aumentar a participação feminina, na realidade houve uma redução). Este dado indica que a maior quantidade de autores possibilita que as mulheres possam ter seus nomes atrelados a artigos publicados; o que contribui para a dependência feminina de necessitar estar em uma pesquisa com mais autores para conseguir publicar. Em seguida levantou-se o ranking dos autores mais produtivos, conforme Tabela 1.
O autor que mais publicou na revista Contribuciones a La Economía foi o José Alberto Acosta Guzmán (6 artigos no período analisado); os sete autores mais produtivos estiveram presente em 26 das autorias de trabalho (estando presentes em 12% das autorias de trabalhos). Nota-se que entre os autores que mais publicaram não há nenhum do gênero feminino (as mulheres só aparecem entre os 32 autores que mais publicam, e apenas em 10 desses autores). Na Tabela 2 analisou-se a titulação dos autores dos trabalhos e sua distribuição por sexo.
Observa-se que a revista Contribuciones a La Economía é interesse de pesquisadores de alto nível de formação acadêmica para publicação, pois 64% das autorias de trabalhos são de pesquisadores com nível a partir de mestre até Pós-doutor (sendo que 46% das autorias são de mestres). Em 26% das autorias não foi estava indicada no artigo ou no Website da revista a titulação. Por outro lado, a participação masculina foi superior em todas as titulações; havendo uma maior discrepância entre os gêneros nos títulos mais altos, como Doutorando (88% masculino), Doutor (75% masculino) e Pós-doutor (89% masculino). Na Tabela 3 discrimina-se a distribuição das autorias pelas instituições de afiliação e uma descrição por gênero.
A Tabela 3 apresenta as 10 instituições de maior representatividade (que juntas representam 63% de todas as autorias de trabalhos), sendo que dentre estas a de maior destaque foi a Universidad de Guayaquil (64 autorias afiliadas, representando 29% das autorias) e Escuela Superior Politécnica de Chimborazo (ESPOCH) (29 autorias, representando 13%), ambas as instituições estão sediadas no Equador. A participação masculina foi superior em todas as instituições, exceto na Universidad Autónoma del Estado de Hidalgo, UAEH (gênero masculino foi metade das autorias afiliadas), na Universidad Autónoma de Tamaulipas (masculino foi 50%) e na Universidad Autónoma de Chiapas, UNACH (apenas um quarto foi masculino).
Este campo das instituições poderia ser objeto de uma pesquisa própria, em que poderia ser analisada a composição do gênero no quadro de professores, e estudantes de pós-graduação nas universidade que mais publicam sobre economia no mundo, pois a composição patriarcal no quadro de pesquisadores dessas instituições já poderia contribuir para a majoritária participação masculina na produção científica. De qualquer forma, este objetivo é uma sugestão para uma futura pesquisa diretamente a um dos fatores que contribuem para a desproporção entre os gêneros na produção científica. A seguir, no Gráfico 5 é realizada uma análise espacial da nacionalidade das autorias dos trabalhos publicados da amostra.
Há uma predominância de países da América Latina nos artigos publicados da amostra, sendo que o Equador teve o principal destaque (59% de representatividade), seguido a uma distância maior pelo Brasil e México (ambos com 11%) e pela Espanha (8%). Esta configuração já era esperada, uma vez que o Equador concentra as instituições que mais publicaram sobre na revista. No Gráfico 6 analisa-se a regionalidade por gênero.

A área em verde, que representa a participação do gênero masculino, foi superior em todos os países, dessa forma, a discrepância dos gêneros na publicação também é um fator que é verificado independente da nacionalidade, contudo, os países de maior representatividade foram os que esta discrepância apresentou certa minimização, como Equador (feminino representou 38%), Brasil (29%) e México (30%).
Constatou-se que a média de páginas dos artigos é de 17 (é necessário levar em consideração que a revista orienta que os artigos tenham no mínimo cinco páginas por autor no trabalho). Já a média das referências é de 21 referências por artigo.
Nota-se, contudo que a participação do gênero masculino foi superior em todas as características dos trabalhos publicados, desta forma, a necessidade de repensar as bases da pesquisa científica mundial é uma questão real e presente, o discurso feminista deve ser encarado com algo sério, que de fato luta contra uma situação onde as mulheres historicamente possuem menos espaços. Na ciência elas não têm menos espaço porque não querem ser pesquisadoras, e sim porque a base ainda é patriarcal, uma vez que as bolsas científica são em sua maioria destinada a homens e as políticas de gênero na ciência ainda são escassas, principalmente com a constante redução dos orçamentos governamentais para a ciência.

5 considerações finais

Esta pesquisa objetivou analisar a produção científica por gênero entre 2015 e 2017, na revista Contribuciones a La Economía. Para tanto aplicou-se a análise bibliométrica à 110 artigos, produzidos por 172 diferentes autores oriundos de 69 instituições sediadas em 13 países.
Os achados da pesquisa indicaram que a participação do gênero feminino ainda é inferior à masculina na amostra analisada (32% de participação do gênero feminino), corroborando com outros estudos como Camargo e Hayashi (2017), Resende et al. (2012), Luca et al. (2011), apesar que historicamente houve um aumento desta participação, ocorrendo uma estagnação nos dois últimos anos.
A pesquisa verificou que a maioria dos autores publicam artigos sozinhos (58 artigos sem coautores). A participação do gênero na quantidade de autores por trabalhos indicou que o gênero feminino tem maior participação quando a quantidade de autores é maior, o que indica a dependência patriarcal na produção científica, pois as mulheres só conseguem mais espaço na ciência quando participação de trabalhos que detém maior quantidade de autores. Esse resultado chama atenção para a questão que a luta feminista vem travando que é a redução dos espaços disponíveis para o gênero feminino e a dependência em relação ao ‘patriarcalismo’.
Esse fenômeno da ‘dependência patriarcal’ é visto quando os autores mais prolíficos são todos homens, de forma que se indica que mesmo as mulheres que conseguem espaço para publicar trabalhos, não conseguem, tão facilmente, voltar a publicar novamente (a este respeito sugere-se uma investigação sistemática de outros períodos da área de economia em conjunto para se atestar este ponto). Em se tratando da titulação, o gênero masculino teve a maior representatividade em todos os níveis acadêmicos, contudo, os graus acadêmicos mais elevados foram os que esta discrepância foi maior ainda (Doutorando, 88% masculino; Doutor, 75% masculino e; Pós-doutor, 89% masculino).
Apenas uma instituição de afiliação de autores foi representada, percentualmente, em maior escala por mulheres, a UNACH (75% feminino). Em relação aos países, Equador (59% das autorias), Brasil (11%) e México (11%) tiveram maior destaque na produção científica em economia. A distribuição por gênero das nacionalidades indicou que até neste aspecto há uma discrepância dos gêneros, contudo, os países que tiverem maior representatividade foram os que o gênero feminino teve maior participação.
Longe de uma guerra de sexos, atualmente faz-se necessário haver uma maior igualdade na participação dos gêneros, regiões, etnias e outras características dos ‘grupos’ humanos; devendo as políticas públicas possibilitarem a independência dos grupos historicamente marginalizados e desassistidos, permitindo que os mesmos tenham maior acesso ao Ensino Superior, bem como maior condição de obterem os financiamentos governamentais de pesquisa, e assim seja possível reduzir essa discrepância entre os gêneros na produção científica. Adicionalmente vale recordar Haraway (1995, p. 8):

Nós, as feministas nos debates sobre ciência e tecnologia, somos os "grupos de interesse especial" da era Reagan [...], no qual o que tradicionalmente tem vigência como saber é policiado por filósofos que codificam as leis canônicas do conhecimento. E, é claro que um grupo de interesse especial é, na definição Reaganóide, qualquer sujeito histórico coletivo que ouse resistir à atomização desnudadora da Guerra nas Estrelas, do hipermercado, do pós-moderno, da cidadania simulada pela mídia [...].

Dessa forma, a questão do gênero, etnia, nacionalidade, crenças e outras características devem ser considerados como temas que necessitam de políticas públicas e debates na sociedade rumo a uma sociedade equitária. É necessário sair do discurso sem fundamento e ser encarado as ‘diferenças’ como qualidades, como o que somos, seres humanos ‘diferentes’, mas seres humanos que constroem relações e tem suas qualidades nas ‘diferenças’. O machismo, preconceito e a discriminação não tem espaço numa sociedade que evolui, e a ciência e os governos não podem ficar aquém dessas transformações, dessas revoluções.
Esta pesquisa teve suas limitações como ter sido analisado apenas um periódico científico, além da análise ter se restringido ao último triênio de publicações da revista. Como sugestões para futuras é possível realizar um estudo com vários periódicos, não apenas da área de economia, bem como a análise poderia abranger um maior espaço temporal de anos, ainda podem ser realizadas pesquisas para avaliar mais aprofundadamente algumas características como a composição do gênero docente-discente nas principais universidades do mundo que produzem artigos científicos, bem como a distribuição da oferta de bolsas de pesquisa das agências de fomento.

referencias:

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* Formação em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Ceará. Bolsista de Iniciação à Docência pela Universidade Federal do Ceará. Estagiário na Exame Auditoria e Assessoria Contábil.

Recibido: 20/12/2017 Aceptado: 05/02/2018 Publicado: Febrero de 2018

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