Revista: CE Contribuciones a la Economía
ISSN: 1696-8360


TEORIA, METODOLOGIA, CIÊNCIA OU MIMETISMOS? CONCEITOS E CONTEXTOS CRÍTICOS NOS ESTUDOS EM ADMINISTRAÇÃO

Autores e infomación del artículo

Elias José Mediotte*

Universidade Federal de Viçosa (UFV) Brasil

eliasmediotte@gmail.com


RESUMO
O presente artigo tem como objetivo explicitar, a partir de uma perspectiva crítica, as abordagens acerca da aplicabilidade da ciência nos estudos metodológicos em administração. São abordados neste estudo, em sequência, a perspectiva da ciência enquanto conceito e prática dentro do contexto dos estudos acadêmicos em administração, sobretudo no que concerne à razão e à complexidade como não excludentes nos estudos teórico-empíricos ligados, inclusive, ao senso comum. É exposta também uma contextualização histórica sobre a evolução do conhecimento científico através da ciência, fundamentada em três vertentes do pensamento, sendo a intuição, comumente relacionada ao senso comum; a tradição, relativa à manipulação do comportamento e a autoridade, ligada ao conservadorismo e à imposição. São trazidos também, epistemologicamente, os pressupostos sobre os paradigmas nos estudos em administração, bem como a crítica à polarização e dicotomia entre tais paradigmas na construção do conhecimento. Conclui-se o presente estudo fazendo uma inferência sobre a racionalidade interrelacionada à imaginação, emoção e paixão pelos cientistas ao fazer ciência, em detrimento do abstrato e em favor do comportamento de probabilidades e possibilidades entre o intrínseco e extrínseco, tanto no mundo da ciência e da natureza, a partir de técnicas, amostragens e testes, sobretudo, dos métodos científicos.

Palavras-chave: Teoria Científica. Ciência e Senso Comum. Metodologia Científica. Paradigmas na Administração. Pesquisa Científica.

THEORY, METHODOLOGY, SCIENCE OR MIMETISMS? CRITICAL CONCEPTS AND CONTEXTS IN ADMINISTRATION STUDIES

ABSTRACT
This article aims to explain, from a critical perspective, the approaches about the applicability of science in methodological studies in administration. This study deals with the perspective of science as a concept and practice within the context of academic studies in administration, especially concerning the reason for complexity as non-exclusive in theoretical-empirical studies, including common sense. It also exposes a historical contextualization about the evolution of scientific knowledge through science, based on three strands of thought, intuition, commonly related to common sense; tradition, concerning the manipulation of behavior and authority, linked to conservatism and imposition. Epistemologically, the assumptions about paradigms in management studies are also brought, as well as the critique of the polarization and dichotomy between such paradigms in the construction of knowledge. The present study concludes by making an inference about the interrelated rationality of scientists' imagination, emotion and passion for doing science, to the detriment of the abstract and in favor of the behavior of probabilities and possibilities between the intrinsic and extrinsic, both in the world of science and science. nature, through techniques, sampling and testing, especially scientific methods.

Keywords: Scientific Theory. Science and Common Sense. Scientific Methodology. Paradigms in Administration. Scientific Research.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Elias José Mediotte (2019): “Teoria, metodologia, ciência ou mimetismos? conceitos e contextos críticos nos estudos em administração”, Revista Contribuciones a la Economía (octubre-diciembre 2019). En línea:
//eumed.net/2/rev/ce/2019/4/estudos-administracao.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/ce194estudos-administracao


  1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que ao se tratar do termo ciência, a ideia conceitual é um senso comum no que tange ao pensamento de que todo cientista é dotado da verdade incontestável, inteligência excepcional, especialista supremo no que concerne aos anseios das pessoas ‘normais’.  Dizer que ciência é um refinamento de potenciais comuns a todos leva a um questionamento sobre a aptidão, cujo termo é ignorado devido à generalização desse contexto. Portanto, pergunta-se: A aptidão de uma pessoa não é cognitiva? Em um grupo de pessoas há os que gostam de matemática e outros de português. E nesse caso não caberia dizer que os potenciais são iguais. Uns são providos de mais ou menos potenciais a determinadas áreas, e por isso a especialização nas áreas de interesse e aptidão intrínseca acabam se sobressaindo no momento de se fazer ciência. Não se sugere a especialização como medida final, pois existem os fatores extrínsecos da ciência que devem ser tão observados e organizados quanto a especialização em uma determinada área, isto é, é preciso não se render a apenas um contexto, e sim, manter-se 360º disponível para se fazer ciência. Um cientista não pode fazer ciência sem que possua predisposição para um determinado contexto científico, no qual se especializou. É bem verdade que a ciência é um processo de evolução do senso comum, e que cientista algum está acima ‘do bem ou do mal’. Ainda que essa seja uma visão muito – infelizmente – atribuída ao cientista, inclusive por ele próprio: ‘o que uma pessoa vestida de branco (como é retratada a imagem de um cientista popularmente) fala, todos devem obedecer sem questionar’ (ALVES, 2000).
Sendo assim, entende-se que a ciência deva ser o senso crítico do senso comum, e que as suas raízes não devam ser descartadas. Refletindo, o senso comum acredita sem saber as razões, e a ciência conhece, através dos métodos de pesquisas, e prova as razões. Pelo menos, é assim que deveria ser, uma ruptura de pensamentos. Uma pessoa comum faz ciência sem perceber, e o cientista deve refinar essa ciência, e neste caso entra-se em um solo pantanoso quando se diz que a ciência a partir de um contexto histórico esteja ameaçando a nossa sobrevivência, pois se não exemplifica-se em que situação, costuma-se generalizar, o que é errado principalmente na ciência.
Entende-se que é preciso compreender a ideologia de como algo deve ser feito e/ou evoluído – esse é o problema a ser resolvido – e posteriormente, descobrir as possíveis soluções para resolvê-lo, testar as hipóteses. Portanto, o cientista deve usar a imaginação para criar – descobrir – a partir da observação. Mas o que pode ser entendido como uma criação, uma descoberta, a formulação de uma teoria ou lei se não há um problema no jogo da ciência? É preciso provocar o despertar pelo desejo em realizar algo, resolver o problema. Sem isso, não se faz ciência, e sim copia-se e se mantém uma teoria refutável (CROCHÍC et al., 2015; ALVES, 2000). Portanto, organizar ideias, agir e pensar com clareza – sem deixar que a razão seja absoluta, excluindo-se a emoção – são fundamentais.
Quanto aos fatos, os que não são produtos finais da ciência, acredita-se que eles não se argumentam por si próprios. Eles advêm de um questionamento ou da necessidade de se apontar uma subjetividade, hipótese, crença, e por fim auxiliar na produção de uma teoria ou lei. É preciso acreditar que mesmo que não haja nunca como dizer que temos a verdade em nossas mãos, a ciência deve se aproximar mais da realidade que do simplismo do senso comum. Isso não é ter supremacia. É preciso humildade para deduzir que existe um talvez quando se quer dizer sim ou que uma verdade é incontestável; mas é sempre verdade e será sempre sim quando houver um não ou quando se conclui uma falsificabilidade – uma teoria não verdadeira (ALVES, 2000). Portanto, torna-se fundamental ter a ideia de que não somos ou seremos revolucionários, e sim contestadores em busca do que é refutável – provar a falsificabilidade de uma teoria –, e não do que acredita-se ser inteiramente verdadeiro.
É o que muitos acreditam na ciência: que uma teoria seja irrefutável, principalmente se ela for pautada por grandes cientistas/pesquisadores, e publicadas em revistas conceituadas. Não se pode afirmar ciência pelo fato de ter inúmeras publicações em plataformas renomadas, e isso parece ter se tornado uma rotina no mundo científico. Esqueceram-se da ciência e preocupam-se com a vaidade. Uma triste realidade! Cabe ressaltar que a teoria só se torna válida e universalmente reconhecida quando ela pode ser demonstrada/constatada, caso contrário ela não passa de argumentos indutivos, espelhos refletindo sem colaboração científica, apenas imitações dos fatos e dados já existentes. Lembrado que acrescentar novos fatos não torna um objeto de uma pesquisa científica compreensível, há apenas o acúmulo de dados em inteira desordem. Devemos concordar, portanto, que a credibilidade científica não é a solução em si, mas sim a resposta à trajetória que ela percorre para se chegar à solução, isto é, ao método utilizado que servirá como argumento aos fatos que levaram à constatação de uma teoria.
Quanto à generalização da pretensão dos cientistas acreditarem ser mais que os demais mortais devido aos seus devaneios com a objetividade, pergunta-se se essa afirmação também não poderia se adequar a outras situações/áreas fora da ciência, como a pretensa objetividade pela fé e conservadorismo em ‘coisas’ que podem não existir? Ao incluir a ciência nessa afirmação, é preciso aceitar também que tudo aquilo que pode não existir está mais propenso à pretensão do que aquilo que pode estar ao alcance de ser provado, uma vez que o poder da dúvida e a paixão pelo questionamento são alicerces para o desenvolvimento de uma mente criadora. A partir daí inicia-se a obsessão pelo conhecimento e a limitação da ignorância.
Isto posto, com base nessa contextualização, o presente artigo tem como objetivo explicitar, a partir de uma perspectiva crítica, as abordagens acerca da aplicabilidade da ciência nos estudos metodológicos em administração.

  1. A CIÊNCIA COMO CONHECIMENTO E PRÁTICA NO CAMPO DA ADMINISTRAÇÃO

O novo conceito de Ciência Moderna é marcado pelo início do século XX através de duas vertentes de pensamento sobre ciência. A primeira é a de que ela evolui ininterruptamente, e a segunda é a de que ela apresenta oscilações – rupturas – durante seu processo evolutivo (JAPIASSU, 2007).
Contrário ao pensamento generalista de que a ciência é uma especialização do pensamento puramente racional, compreende-se que o conhecimento científico é o aperfeiçoamento do senso comum – embasado nas crenças populares do cotidiano – uma vez que o pensamento científico é o processo de rupturas na evolução da ciência, tal qual a imaginação e a observação são fundamentais para se testar hipóteses e consequentemente formular teorias. Cabe ressaltar que a ciência está abarcada de paradigmas, sendo que a passagem entre eles, com buscas às respostas infere que a racionalidade do pensamento lógico e contínuo se contrapõe com a descoberta psicossocial, presente no contexto múltiplo do pensamento, ou seja, há o rompimento do paradigma continuísta científico (JAPIASSU, 2007; HÜHNE, 2002).
A partir dessa constatação, a ciência moderna sugere que a razão e a complexidade não se excluem, elas se complementam ao sugerir o comportamento crítico através do livre pensamento. Portanto, entende-se que a ciência não está interligada apenas à ideologia racional, mas também ao seu contexto histórico, isto é, ao senso comum (ALVES, 2000; CHAUÍ, 2006).
Historicamente, a ciência moderna tornou-se separatista no sentido de que a metodologia pela racionalidade se sobrepunha à ideia subjetiva do dogmatismo religioso, passando a venerar a objetividade dos números matemáticos. Platão, neste caso, enxergava a matéria como algo real, existente e visivelmente mensurável. Ao contrário, Aristóteles defendia a sensibilidade da dedução para se conjeturar a ciência na busca da verdade. A esses pensamentos, observa-se a razão matemática e a inferência científica através dos aspectos metodológicos quantitativos e qualitativos, respectivamente. Entende-se, portanto que através da descontinuidade científica, observa-se que ciência não sucede a um caminho regular e homeostático, pois a presença da dicotomia do pensamento científico sugere confrontações das inquietudes teóricas, de tal modo que essas discordâncias ocorram parcial ou integralmente (JAPIASSU, 2007; LAVILLE; DIONNE, 1999; ALVES, 2000).
A partir do século XVII, com a ascensão da economia e do capitalismo, a ciência moderna alimenta-se do cotidiano comercial para atender aos anseios de uma sociedade pluralizada pelo crescimento urbano, cada vez mais individualista e contrapondo-se ao conservadorismo religioso, ainda que potencialmente figurativo, porém declinante (JAPIASSU, 2007).
Em uma sociedade em constante evolução, torna-se cada vez mais necessária a busca pelo conhecimento, do qual entende-se ser um processo cognitivo de integração consciente entre sujeito e objeto, além do entendimento de pertencer ao mundo. Compreende-se que o processo de gerar conhecimento obedece à lógica cognitiva, respeitando a complexidade intrínseca e extrínseca do pensamento humano e a sua capacidade de absorver novos conhecimentos. Para a ciência, o pensamento crítico é o caminho do conhecimento pela busca da probabilidade científica, lembrando que a expressão de um pensamento científico baseado na opinião, reforça a conjectura do ‘achismo’ e não remete ao concreto, ao real, e sim à ideologia superficial e simplista. Neste caso, confere-se ao senso comum a ineficiência do pensamento crítico, resultante das inquietudes provenientes das contradições causadas por sua praticidade ideológica (HÜHNE, 2002; CHAUÍ, 2006; ALVES, 2000).
Ainda, com relação ao pensamento sobre o conhecimento, cabe contestar a teoria inferida por Parmênides, que “conhecer é alcançar o idêntico, imutável”. Entende-se que o próprio conhecimento é um impulsionador para o desconhecido e que toda forma de conhecimento depende de fatores não idênticos, repetidos ou imutáveis, pois ao evoluir um conhecimento, provoca-se mudanças na forma de agir, enxergar e pensar, isto é, a evolução do pensamento em conhecimento é uma força de mudanças internas e externas, portanto, mutável (JAPIASSU, 2007; ALVES, 2000).
Para corroborar com a formação do conhecimento, a comunicação em forma de linguagem, confere aos seres humanos uma forma de relacionamento social, que segundo Platão a dialética ideológica é analisar uma teoria por diversas formas para confrontá-la até que se prove a falsificabilidade ou sua eficiência. Cabe aqui não mencionar a expressão ‘verdadeira’, pois como se sabe uma verdade não é absoluta. Portanto, assim como Bacon e Descartes, para nos livrar dos defeitos do conhecimento, é preciso uma mudança no pensamento científico, com legitimidade às novas concepções sociais e políticas. Sob esse cenário de mudanças, Locke é o precursor da teoria do conhecimento ao analisar as variáveis formas do homem em sua postura de agir, pensar e se comportar perante à sociedade (CHAUÍ, 2006).
A evolução do conhecimento científico fundamenta-se em três vertentes do pensamento, mas antes de mais nada é preciso reforçar que o conhecimento também é baseado em experiências cognitivas. Prosseguindo, a intuição: comumente relacionada ao senso comum; a tradição: à manipulação do comportamento; a autoridade: ao conservadorismo e imposição – geralmente baseados no conhecimento sem legitimação – muito apreciada pelas religiões. Por fim, o conhecimento científico é apresentado como um conceito do ‘Saber Racional’, ou inquietude pela busca metódica do conhecimento que expresse confiabilidade, tendo como base o ‘sujeito’, que busca o conhecimento; e o ‘objeto’, que será fonte dos estudos do sujeito na busca pelo conhecimento (ALVES, 2000; HÜHNE, 2002; LAVILLE; DIONNE, 1999).
Para alcançar a ordem, é preciso entender a complexidade daquilo que não enxergamos, mas que existe. E está presente na imprevisibilidade do nosso cotidiano, ansiando por respostas. Isso é fazer ciência. Não se faz ciência sem imaginação. Assim como não é possível voar sem ter asas, pelo menos por enquanto. Um cientista que não é capaz de idealizar jamais saberá o que poderá encontrar sobre as nuvens (ALVES, 2000).
É importante ressaltar que o processo de imaginação é um precursor. Ele levará à ciência quando houver métodos científicos geradores de conhecimento, baseados em hipóteses que possam ser testadas. Tais métodos não devem buscar comprovação do que é verdadeiramente absoluto, mas sim, aproximar-se da verdade. E entender que ela existe tão somente quando comprovada a sua falibilidade frente a uma teoria “autenticamente” difundida. O homem busca pelo conhecimento desde os primórdios, seja para sobrevivência, seja para obter sucesso em seus relacionamentos sociais, e ainda para progredir na vida. Contudo, o conhecimento tradicionalista, baseado no simplismo do senso comum não serve (pelo menos não deveria servir) de propulsor para empreender ciência (ALVES, 2000; KOCHE; 1997; LAVILLE; DIONNE, 1999).
O senso comum é uma âncora que reforça as teorias mais conservadoras, atracando-se em suas proposições mais autoritárias. Muito se discute sobre a ciência baseada no empirismo devido a sua possível obtenção do saber racional através do conhecimento de ordem prática provenientes da experiência. Percebeu-se, futuramente, essa forma de conhecimento científico como limitada, tendo em vista a multidisciplinaridade e complexidade da construção do processo de gerar e obter conhecimento (ALVES, 2000; HÜHNE, 2002; CHAUÍ, 2006). Sendo assim, infere-se que para entender a profundidade do saber, as ciências humanas buscaram, historicamente – mais precisamente no século XX – compreender, explicar e prever respostas à sociedade, às quais perpetuam até os dias atuais como nos conhecimentos auferidos pela Sociologia (BAZARIAN, 1980).
Mas afinal, o conhecimento científico é um mito ou algo simplesmente descartado devido à sua complexidade? Concorda-se que o mito é parte do senso comum, e quando ele é vinculado à ciência, compromete-se à sua neutralidade. Vale destacar que o mito esteja, provavelmente, vinculado ao conhecimento primário do homem enquanto ser humano e inserido em sociedade, atribuindo a sua existência às forças da natureza, alma e divindades, como qualidades e defeitos inerentes à sua própria semelhança. Portanto, o método científico, ou metodologia científica, tem se destacado como mecanismo de conhecimento, e ainda que o mito persista em algumas culturas e grupos sociais, ele é (e deve continuar sendo) confrontado pela racionalidade.

  1. EPISTEMOLOGIAS METODOLÓGICAS, PESQUISAS CIENTÍFICAS E PARADIGMAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

A objetividade na ciência é uma interrogação, bem como sedutora, pois o senso comum enxerga os as pesquisas científicas desprovidas de subjetividade e complexidade, enquanto os próprios cientistas são atraídos pelas possibilidades que a racionalidade prática e objetiva os elevam a níveis superiores nas escalas sociais. Portanto, questiona-se: é possível que os cientistas abdiquem do empoderamento que lhe concede a pesquisa científica para tratar da objetividade em constante mutação, através de metodologias que possam corresponder ao processo crítico do conhecimento científico?
Primeiramente, não há que se falar em ciência suprema, pois ela se pluraliza em diversos ramos do conhecimento, quando um mesmo esforço gera produtos/resultados diferentes. Atualmente infere-se que a ciência ‘abandonou’ seu caráter filosófico para dedicar-se operacionalmente a modificar o mundo em vez de interpretá-lo. Segundo HÜHNE (2002) foram abordados três processos metodológicos que segundo a autora, servirão de delimitação entre poder para fazer e poder para não fazer ciência: o Empirismo, o Racionalismo e o Materialismo Histórico Dialético, defendido por Marx como método científico correto. Sendo assim, mesmo que haja uma tendência para o modelo científico ‘correto’, acredita-se que o melhor método dependerá da situação entre a análise sujeito/objeto. Um ponto pertinente a ser discutido no âmbito metodológico é a pesquisa qualitativa, trazido por REY (2005) como um processo subjetivo na construção da informação. Contrário ao instrumentalismo positivista no processo de produzir conhecimento, o método qualitativo baseia-se na epistemologia como forma de interpretar a construção do conhecimento através de uma perspectiva teórica de caráter especulativa. Entende-se que o pensamento teórico é rodeado por imaginação e criatividade, e, portanto, não deve ser isolado da metodologia.
Cabe ressaltar que não se propõe aqui uma defesa explicita ao método qualitativo, e sim uma reflexão do seu processo na construção do conhecimento que muitas vezes é descartada pela atração do positivismo, ignorando a subjetividade do pensamento cientifico e a relatividade da interpretação da realidade material e imaterial do conhecimento. Sendo assim, defende-se a abordagem dinâmica e pluralista com um viés na comunicação como ferramenta epistemológica, a fim de reconhecer a subjetividade das configurações do pensamento e comportamento humano, bem como as situações objetivas com as quais o homem é exposto em sua vida.
Em um universo representado por constantes mudanças, seja na diversificação e na dinâmica do pensamento, comportamento e informação, é possível observar também o enfraquecimento da postura respaldada na certeza absoluta e no estruturalismo da formulação de uma teoria. Neste caso, concorda-se com a afirmação de CABRAL (2002), em relação à postura do cientista frente a essa realidade pautada de visão e argumentação crítica e reflexiva e menos positivista, engessada e extremista. Porém, discorda-se com esse autor no que diz respeito à condução para a resolução de uma pesquisa baseada na visão de mundo e no contexto em que o pesquisador está inserido. Partindo desse pressuposto, não seria então uma forma de tendenciar a formação metodológica a seu meio social em vez de atribuir a condução da sua pesquisa de modo imparcial?
Neste caso, corroborando com MORGAN (2005), seria mais evidente para o processo de gerar conhecimento se a razoabilidade das conclusões fosse entendida como imparciais ou relativas no que se diz verdade certa e absoluta. Portanto não há que se afirmar o método certo ou melhor no processo de pesquisa científica, pois depende-se da situação que requeira a aplicabilidade de um ou outro método, ou ambos. Ainda nessa veia positivista é possível inferir esse termo a algo extremamente usual na literatura acadêmica. Contudo, o interpretativismo vem emergindo consideravelmente. É importante salientar que o positivismo foi grande influenciador do racionalismo com aporte ao encontro do real pela experiência. Entretanto, o interpretativismo possibilita a forma de pensar conscientemente frente às situações reais da vida e sua complexidade. Em algum momento dos estudos da literatura proposta, infere-se a relevância e a importância que o positivismo e o interpretativismo exerçam um para o outro e que caminham ou devam caminhar juntos, pois ambos se complementam. Pode ser apenas divagação, contudo essa observação torna-se latente, consideravelmente.
É preciso esclarecer também, em concordância com BRUYNE et al. (1991), que não há um método científico único a ser aplicado em qualquer situação. Primeiro, depende do contexto e da análise crítica do cientista para se aplicar o método mais conveniente à pesquisa. E segundo, que deve-se levar em conta a diversidade dos procedimentos eventualmente considerados úteis e que provavelmente serão negligenciados quando não se aplica a metodologia adequada. Importante reforçar a expressão metodologia adequada e não específica. Portanto, a epistemologia auxiliará o sujeito no processo metodológico baseada na multiplicidade e diversidade dos seus princípios adequados ao objetivo da pesquisa.
Outro aspecto importante no estudo do conhecimento, especificamente das organizações são os paradigmas e as metáforas descritas a este campo. Entendendo a polarização paradigmática apontada por MORGAN (2005) e também discutida por CALDAS (2005), percebe-se que as metáforas organizacionais são heranças das escolas de pensamento como meio de estudar uma realidade. São trazidos quatro modelos de paradigmas, quais sejam: o Funcionalista, o Interpretativista, o Humanista Radical e Estruturalista Radical. Toma-se então no presente estudo a crítica aos paradigmas, pois a polarização não permite a inserção de comunicação entre ambos, evitando assim a absorção das muitas variáveis incrementais de fomento ao conhecimento e estudos de pesquisas científicas, tão carentes na atualidade.
Destarte, a objetividade em constante mutação na pesquisa científica é um processo complexo e pode ser apresentado por diversas vertentes metodológicas. Neste caso, cabe aderir à crítica e à reflexão em conjunto com a racionalidade a que o empoderamento possa fornecer ao cientista. É preciso portanto, entender que não há melhor ou mais correta metodologia, seja quantitativa ou qualitativa, mais do que isso, é necessário aceitar que o próprio processo do conhecimento não é único ou específico, e nestes casos o poder dado ao pesquisador deve ser utilizado com competência, observando o momento certo para a aplicação da metodologia da qual o ambiente de pesquisa necessita.
A partir da observância de que um paradigma se forma a medida que uma pessoa ou grupo passa a aceitá-lo e compartilhá-lo, e tomando-o para si como modo de pensar e se comportar correto, descartando completamente outras formas que não sejam as suas, pela razão de adaptabilidade àquele paradigma, inclusive não havendo questionamento sobre essa maneira a qual ele está inserido, questiona-se se é possível, frente ao positivismo, garantir a identidade autoral dentro de um paradigma ou apenas render-se ao seu caráter imutável, polarizado e frequentemente produtivista.
Em relação ao conceito de paradigmas na administração é uma armadilha conceituá-los de forma tão polarizada, pois esse conceito em vez de afastar-se do positivismo acaba aproximando-se dele, pelo simples fato de seu conservadorismo. Contudo, segundo BURREL (1998), essa sugestão foi importante para desmitificar o conceito soberano empregado por Weber durante o Modernismo, pressupostamente funcionalista.
É importante salientar que além do Funcionalismo, é possível perceber inclusive a presença de novas abordagens, como o Estruturalista Radical – ambos com força no positivismo – e o Interpretativista e o Humanista Radical – ambos com força no subjetivismo. Contudo, o fato mais marcante na ilustração dos paradigmas tenha havido através da apresentação das metáforas, de MORGAN (2005). Essa abordagem simbólica e criativa proporciona uma visão mais coerente de entender a influência dos paradigmas nos estudos científicos de administração, com destaque às metáforas: da máquina – presente na teoria da administração tradicional/clássica, e do organismo, presente na teoria da administração contemporânea.
O fato é que segundo BURREL (1998), em uma construção dos estudos organizacionais, o que importa é manterem-se compartilhados tanto a linguagem e o projeto em si, ao invés da separação do que é mais correto ou menos correto entre os grupos. Ou seja, o importante não é a construção de uma torre de Babel em cada polo, e sim uma construção única, com todos os participantes em sinergia, independentemente da sua linguagem.
Chama atenção previamente à crítica ao positivismo o fato de que todo o processo de organização do século XX ter se orientado a um fato histórico brutal à sociedade – os campos de extermínio de Auschwitz – e que tenha sido perpetuado, não em seu sentido literal, mas como forma de se obter lucro e expansão organizacional pelo MC Donald’s, Ford entre outros, por métodos de execução rápida e barata, provenientes de abatedouros indiscriminadamente (BURREL, 1998). Contudo, mesmo com a afirmação de SANTOS (2004) sobre os paradigmas não serem suficientes para explicar o progresso de conhecimento, uma vez que não se pode contextualizar fragmentos desse progresso em polos divergentes, tendo em vista que as abordagens na teoria da administração convivem juntas, se complementam e não se contradizem, há ainda uma predominância dos paradigmas, principalmente com tendência positivista dentro das organizações, na vida cotidiana das pessoas, e inclusive no meio acadêmico.

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observando esse breve contexto, é possível inferir que a racionalidade não deve ser criticada quando houver uma dose de imaginação, emoção e paixão. Porém, devemos compreender que a evolução de uma sociedade não se restringe às ilusões, emoções e fantasias. É preciso sim ter fé, no real e não no abstrato – desse espera-se um comportamento de probabilidades e possibilidades, em vez da subjetividade. Precisamos cada vez mais de cientistas que entendam do intrínseco e do extrínseco (no mundo da ciência e da natureza), e se um dos dois for descartado haverá um falso conhecimento, não haverá ciência. Nada mais justo do que entender o efeito de uma descoberta quando dela se inicia pela observação e pelos métodos para se chegar ao novo.
Não se faz ciência sem técnicas, amostragens, testes. Assim como não se faz técnicas sem métodos. Contudo, é preciso ampliar os horizontes e não restringir ciência à racionalidade técnica e científica. Deve-se olhar além, entender, perceber a psicologia dos fatos, o contexto social – ou sociocultural – dos elementos observados. Cabe aqui reforçar que ao se restringir o conhecimento baseado somente em publicações de autores renomados – não que deva ser descartada, pois ela reforça um contexto referencial –, restringe-se um novo pensamento. Quando não se questiona uma teoria, limita-se a ciência a um pensamento único, engessado, uniforme, imutável, imitável.
Neste caso, entende-se que o homem em sociedade deve optar pelo livre pensamento não ultrapassando os limites da ética e da moral, e que a sua conduta enquanto pessoa remete à responsabilidade de seus atos. E cabe a todos nós, cientistas ou não, questionarmos a “verdade” (frequentemente imposta ou pré-julgada) que não é absoluta, além de entender que autoridade não se mantém com autoritarismo conservador. Todavia, compreender que o senso comum é a base para o desenvolvimento do conhecimento científico.
Conclui-se, portanto, que a provocação explícita nesses argumentos nos faz olhar para a ciência e cientistas modernos como receosos a contestar uma teoria refutável, temerosos a caírem no descrédito. Quando há essa possibilidade, parecem alterar o sentido dos atos que falsificariam o ‘senso comum’ científico, permanecendo a perpetuar os gansos, e ‘exibindo’ os fansos, garantindo a (des)ordem universal da ciência. Mas ainda há esperanças no universo da ciência! E que sejamos nós, os novos cientistas, os novos olhares, as novas críticas, inconformistas, a (re)transformarmos essa realidade!!

  1. REFERÊNCIAS

ALVES, R. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e as suas regras. 9ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

BAZARIAN, J. O problema da verdade. São Paulo: Símbolo, 1980.

BRUYNE, P.; HERMAN, J.; SCHOUTHEETE, M. Dinâmica da Pesquisa em Ciências Sociais: os pólos da prática metodológica. Trad. Ruth Joffily. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1991.

BURREL, G. Ciência normal, paradigmas, metáforas, discursos e genealogia da análise. In CLEGG, S. R. et al. Handbook de estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 1998, Vol. 1, p. 439-461.

CABRAL, A. C. A. Reflexões sobre a pesquisa nos estudos organizacionais: em busca da superação da supremacia dos enfoques positivistas. RIMAR – Revista Interdisciplinar de Marketing, v. 1, nº 1, p. 60-73, jan/abr, 2002.

CALDAS, M. P. Paradigmas em estudos organizacionais: uma introdução à série. RAE. Revista de Administração de Empresas, jan/mar, 2005.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2006.

CROCHÍC, J. L.; MASSOLA, G. M.; SVARTMAN, B. P. A ideologia do cientificismo. Psicologia USP, vol. 26, nº 1, p. 1-3, jan/abr, 2015.

HÜHNE, L. M. Metodologia científica: cadernos de textos e técnicas. 7ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 2002.

JAPIASSU, H. Como nasceu a ciência moderna: e as razões da filosofia. Rio de Janeiro: Imago, 2007.

KOCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática de pesquisa. 14ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia de pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

MORGAN, G. Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações. RAE. Revista de Administração de Empresas, São Paulo-SP, v. 45, nº 1, p. 58-71, 2005.

REY, F. G. Pesquisa qualitativa e subjetividade: os processos de construção da informação. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2005.

SANTOS, S. A. Existem paradigmas em administração? Uma análise sobre o uso do conceito. In: SANTOS, S. A.; PASQUALE, P. P. (Org.). Fronteiras da Administração: teorias, aplicações e tendências. 1ª ed. Campinas: Alkademika, 2004.

*Especialista em MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela Universidade FUMEC. Mestrando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – UFV. Membro Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos (GDTeC), Brasil. E-mail: eliasmediotte@gmail.com

Recibido: 12/11/2019 Aceptado: 19/11/2019 Publicado: Noviembre de 2019

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