Contribuciones a las Ciencias Sociales
Noviembre 2012

SOCIOLOGIA DA DROGA NO SEIO DA FAMILIA MINDELENSE




Jorge Semedo (CV)
jomar@sapo.cv
IESIG/UniMindelo y U.Lusófona

RESUMO:
Este artigo pretende fazer uma análise da situação do meio envolvente da penetração da droga no seio da família cabo-verdiana, tentando analisar as causas próximas e remotas dos fatores socioeconómicos que tiveram na sua origem, bem assim como a constituição da família destruturada. Os hábitos e costumes das mesmas são fator de consumo das drogas ditas leves ou legais tais como o álcool e o tabaco consideradas “drogas portal” ou seja a que, normalmente, se começa a utilizar antes de iniciar nas drogas ditas pesadas. Teóricos como Durkheim, IçamiTibá e Ireneu Gomes colocam a família como a base da construção comportamental do indivíduo e cidadão na sociedade.
PALAVRA-CHAVE: Droga, família, desvio comportamental, crime, anomias sociais.


ABSTRACT:
This article pretends to do analyze of hr environment of the penetration of drugs in the capverdean family. It intends to analyze the next and remote causes of the socio-cultural factors that happened in its origin and the instructurated family constitution.  The habits and costumes of the same induced mainly of the drugs  consume called lights or legally, as the alcohol and the tobacco witch are considered «portal drugs» because, normally, its  begins  to utilize these, before beginning of consume the «heavy drugs». Family is presented for several sociologist and psychologist theoretician, as Durkheim, IçamiTibá, Ireneu Gomes as the responsible for the comport mental construction of the man and the citizen in the society.
KEY WORDS: Family, comport mental deviation , crime, social anomia



Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Semedo, J.: "Sociologia da droga no seio da familia mindelense", en Contribuciones a las Ciencias Sociales, noviembre 2012, www.eumed.net/rev/cccss/22/

Capitulo l
 Localização do Arquipélago de Cabo Verde e sua influência na formação de habitat e do tipo da família.

  • Localização.
  • Cabo Verde é um arquipélago de origem vulcânica embora tenha 3 ilhas de origem sedimentar (Sal, Boavista, Maio), formado por 10 ilhas, sendo 9 habitadas, e uma desabitada, tendo ainda vários ilhéus todos desabitados, fica situado no Oceano Atlântico a 500 milhas da Costa Ocidental Africana, frente ao cabo verde no Senegal, donde provavelmente lhe advém o nome, contrastando esta versão, também com o facto de que a sua origem provável poderá advir de, quando fora descoberta a ilha de Santiago, a 1ª a ser pisada pelos navegadores ao serviço da coroa portuguesa, em 1460, esta se apresentar muito verde, devido a intensa vegetação existente na altura.
    As suas coordenadas geográficas são: entre as latitudes 14º e 23’ e 17º 12’ Norte, e as longitudes 22º e 40’ e 25º e 22’ Oeste.
    Por se situar no grupo Sahel, aonde a pluviosidade é francamente fraca, chegando a ser nula, anos seguidos, determinando assim as tristes e celebres secas, dado aos ventos quentes e seco que sopram do Sahel. Devido a isto, o arquipélago naturalmente se dividiu em dois grandes grupos conforme a predominância dos ventos, a saber:
    Grupo Sotavento, composto pelas seguintes ilhas: Maio (267Km2), Santiago (992Km2), Fogo (477Km2), Brava (65Km2);
    Grupo Barlavento, Santo Antão (752Km2), São Vicente (228Km2), Santa Luzia (34Km2), São Nicolau (342Km2), Sal (215Km2), Boa Vista (622Km2).
    Quase todo o arquipélago é de origem vulcânica apresentando ainda na ilha do Fogo um dos únicos vulcões em atividade, o vulcão do Fogo com cerca de 882 metros de altura, embora, as maiores altitudes no arquipélago, se registem em Topo de Coroa na ilha de Santo Antão com 1979m, e o Pico de Antónia em Santiago com 1.373m.
    O clima é árido ou semiárido, quente e seco, com a temperatura a rondar os 25º C, sendo a época pluviosa, quando existe, entre Julho a Outubro.  
    Possui uma superfície de 4.033 Km2 e uma população flutuante de cerca de 491.875 habitantes, sendo residentes
    Presentes 484.437, residentes ausentes 7.246, sem abrigo 192, população feminina 248.282 correspondente a 50,5%,  masculina, 243.593, correspondente a 49,5% segundo o senso de 2010.     

  • Povoamento, modelo da família.
  • O povoamento das ilhas de Cabo-Verde não foi feito simultaneamente, podendo-se considerar 3 momentos. A ilha de Santiago, mais precisamente a localidade de Ribeira Grande, vulgarmente conhecida por Cidade Velha, teve a primazia do povoamento.
    Com efeito, povoada desde 1462 por genoveses, portugueses do continente e ilhas adjacentes, foi em 1466, que, com a carta régia emanada por D. Afonso V, que a ilha passou a conhecer a presença de vários representantes de etnias africanas (mandingas, balantas, bijagós, felupes, beafadas, pepeis, quissis, brâmes, banhuns, fulas, jalofos, bambará, bololas, manjacos1 com a autorização concedida para «trautos e resgates» na costa da «Guiné», que eram aproveitados na produção agrícola, artesanal e como serviçais domésticos.
    Sendo raramente acompanhados pelas esposas, os europeus bem cedo se envolveram com as jovens ou mulheres africanas, além dos próprios homens e mulheres de etnias diferentes também se envolverem, originando com isso um processo de miscigenação física e cultural. De ressaltar o facto de, os europeus portugueses usados no povoamento já serem de per si produtos de uma evolução miscigenada cuja coesão vinha formando-se desde as origens da nacionalidade portuguesa.
    O envolvimento entre europeus e africanas a princípio deu-se através das «relações sexuais livres», embora, mesmo existindo esposas, nada o impedisse de ter amásias africanas temporárias.
    O povoamento das ilhas passou assim a ser garantido não só pelos europeus, como pelos africanos deslocados do continente como escravos ou livremente (banhuns, cassangas, brames), que livremente acompanhavam os comerciantes ou capitães dos navios, e pelos mestiços nascidos da fusão europeu/africana e africano/africana.
    Ao longo da evolução, outros povos contribuíram para a caracterização física e familiar do povo das ilhas, a destacar, a ação dos espanhóis, ingleses, franceses, holandeses, italianos, judeus (origem marroquina) coreanos, japoneses em determinadas ilhas, de entre as quais se destaca São Vicente.
    São Vicente é uma das últimas ilhas a serem povoadas, (século XVIII/XIX) e aonde se pode encontrar uma valiosa amostra do caldeamento de povos que enformaram o emergente povo cabo-verdiano.
    Contraditoriamente, a sociedade que se forma nas ilhas, embora de notória influência física africana, é culturalmente portuguesa.
    Caracteristicamente cristã, o modelo de família é oficialmente monogâmico, tendo por base famílias simples (mãe, pai, filhos). Contudo, encontra-se ao longo dos tempos famílias simples formadas por união de facto, e famílias poligínicas disfarçadas, (uma vez que reúne num mesmo pai várias «mulheres e filhos» que não habitam o mesmo espaço físico e não se relacionam ou, se os filhos o fazem, é algo de difícil gestão, visto que a esposa legítima (produto do casamento real e legal) não aceita as «comboças2 » e isso se reflete na relação com os filhos destas. Ademais também se formaram famílias uni parentais, em que os filhos eram considerados como portadores de pais incógnitos.
    A família, enquanto agrupamento social constituído por pai, mãe, filhos, vivendo e coabitando numa mesma casa, em Cabo-Verde, não é uma categoria social uniforme, uma vez que também significa agrupamento social constituído por mãe e filhos, não pelo falecimento do pai, mas pela sua não existência, enquanto elemento social participativo do grupo.
    A mulher mãe, no último caso é a chefe de família e é a entidade provedora do sustento e da educação do grupo, embora se trate de uma sociedade patriarcal.

    1.3-A família cabo-verdiana na atualidade
    Entende-se por família, um grupo de pessoas unidas por laços de parentesco, no qual os adultos responsabilizam-se pelos filhos ou crianças.
    A relação de parentesco é estabelecida através do casamento ou através dos laços criados pela consanguinidade, no sentido ascendente ou descente da linhagem.
    O ser familiar de alguém pode também provir dos laços do casamento, uma vez que, os familiares de cada um dos cônjuges passam a também ser considerados familiares do outro.
    A família cabo-verdiana, evoluiu ao longo dos tempos e deu um salto positivo após a independência nacional.
    Com efeito, o movimento de libertação da mulher preconizado pelo estado na busca incessante de uma igualdade de géneros, apoiado pelas organizações OM (Organização da Mulher) e MORABI, induziram as mulheres a uma tomada de posição quanto a seus direitos e deveres e quanto à sua participação no desenvolvimento, através da capacidade de garantir o seu auto sustento e o da sua prole, bem como na participação em cargos políticos.
    A mulher, mãe de família (simples ou monoparental) abraçou a escolarização, o emprego fora do seu seio familiar.
    O efeito desta nova postura, traduziu-se imediatamente numa nova compreensão dos papéis a desempenhar como os de mãe, esposa, trabalhadora com uma carreira profissional, cidadã e pessoa humana.
    Se anteriormente a mulher mãe concentrava os seus objetivos na educação dos filhos, agora, ela os deixa para ir trabalhar e, se não existem empregados domésticos que deles cuidem, no período não escolar, ficam entregues à sua sorte (os maiores cuidando dos menores), enquanto a mãe ou ambos os pais regressam.
    Para colmatar a ausência da mãe ou dos pais, equipou-se a casa com televisores, aparelhos de som, jogos, computadores, permitindo aos filhos o acesso a toda sorte de informações e contactos, sem restrições e, nas famílias muito carenciadas, os filhos, além de tarefas domésticas a desempenhar, ficam na rua ou em alguns casos mais difíceis, são obrigados a pedinchar pelas ruas, tendo, em qualquer dos casos, contacto com informações e posturas às vezes pouco corretas, que podem gerar desvios comportamentais.
    O medo de virem os pais a ser considerados não modernos, o facto de também se sentirem culpabilizados pela ausência diária do ambiente familiar devido à vida laboral, induziu-os a uma atitude de permissividade em relação aos filhos, em qualquer nível social. Com efeito, deixou-se de controlar a leitura, os filmes, as saídas, os companheiros, e passou-se a ser «compreensivo porque no país tal as crianças são assim, etc».
    A globalização fez os seus efeitos imediatos nas famílias e na sociedade. Induziu à mudança na forma como o mundo se nos apresenta e como olhamos para ele, trazendo de forma acelerada novos riscos, pela adoção de novos padrões de comportamento alheios aos até então socialmente aceites em Cabo-Verde, como: gestos, modos de falar, sabedoria de rua, vestuário, penteados, objetos de decoração pessoal, produtos do contacto através dos média, com outras sociedades ou culturas.
    A adoção dessas novas posturas ou atitudes vem-se refletindo na interação pais/filhos, família/sociedade, escola/família, cidadão/ cidadão.
    A moda de «produção independente», ou seja, criação e educação de filhos sem que os progenitores masculinos saibam da sua existência, propagada nas duas últimas décadas do século XX, aumentou o número de famílias monoparentais, geralmente chefiadas pelas mulheres; a gravidez precoce, os casamentos entre jovens com pouca maturidade; a separação dos casais por motivo de emprego devido ao caráter ilhéu do arquipélago, a busca de novos parceiros matrimoniais para a recomposição da família, quer através de uniões de facto, quer através de tentativas de uniões, também confluíram para a desestruturação familiar e a penalização, ainda que não pretendida, dos filhos que, são postos em curto espaço de tempo perante novos grupos familiares com os quais muitas vezes não se identificam, gerando atitudes de revolta.
    A fim de proteger os interesses dos membros da família cabo-verdiana, principalmente a dos filhos ou do progenitor que deles encarrega-se, o país passou a ter um código de família.
    Este código, a par de considerá-la como uma sociedade, produto do casamento 3( união voluntária de um homem e de uma mulher, nos termos da lei, a fim de fazerem vida em comum) estabelece regras a serem cumpridas por cada membro e sua responsabilização social.
    Contudo, apesar disso, ainda não se atingiu na plenitude o defendido por Talcott Parsons, «as duas grandes funções da família, a saber, a socialização primária e a estabilização da personalidade», uma vez que, as características de que atualmente se reveste parte da família cabo-verdiana, não permitiram uma assistência emocional eficaz às crianças ou jovens, uma vez que permitiu ou criou condições para que em alguns casos houvesse desajustamentos sociais, e desvios comportamentais.

    Capitulo ll
    A droga como fator estruturante, o ciclo da droga no seio familiar, os desvios.
    2.1 – A droga como fator estruturante.
    A droga, nomeadamente o tabagismo e o álcool, está presente ao longo da vida do Cabo-Verdiano, formando um ciclo retro alimentador e estruturador do “Modus vivendi”.
    Com efeito, o álcool, o tabaco, não são vistos pela sociedade cabo-verdiana como drogas e seu consumo (bebidas alcoólicas) faz parte das manifestações culturais há vários séculos.
    Tudo gravita em torno deste mal social e cultural, responsável pela destruturação de grande número de famílias, motivada pelo divórcio, pela separação das uniões de facto, pela violência doméstica verbal ou física, pela insuficiência financeira familiar, além de problemas de saúde de foro físico e ou psicológico, problemas sociais, que acabam por também refletir-se na família.


    2.2 – O ciclo da droga no seio familiar.
    Normalmente o nascimento de uma criança na família cabo-verdiana é sempre motivo de alegria e, é celebrado com uma festa feita sete dias após, conhecido como “SETE”. Nesse dia à noite, realiza-se um convívio, para o qual não se fazem convites. São bem-vindos os que aparecerem. Come-se, fuma-se, bebe-se (nunca faltando entre as bebidas a aguardente, o ponche, os licores caseiros feitos à base de aguardente) e à meia-noite entoam-se canções para afastar as «bruxas», enquanto a criança é rodeada de mil cuidados.
    Ainda fazendo parte dos ritos de passagem, estando sempre presente o consumo do álcool e do tabaco, seguem-se o batizado, as festas do aniversário, a festa do debutante, o casamento e a morte, para fechar o ciclo. O fenómeno da morte é visto como uma grande perda familiar, com implicações sociais, pelo que, é caracterizado por uma cerimónia de acolhimento dos amigos e parentes que acompanham os atingidos pela dor do desaparecimento físico ou morte do membro do núcleo familiar. Celebrado normalmente no dia durante as exéquias, é seguido da esteira (sete dias seguintes ao enterro do féretro) e concluída com a “Missa do sétimo dia”, período em que se pratica abundantemente o consumo do álcool e do tabaco.
    A trajetória do consumo da droga mostra-nos que, o início do eu consumo é propiciado pelas condições surgidas no seio familiar, por ser nela que se realizam os primeiros contactos através das práticas culturais.

    2.3 – O desvio comportamental, casa, escola, rua e sítios públicos de diversão.
    Dos estudos e investigações feitas, chegamos a conclusão que os focos do desvio comportamental dos jovens têm a sua origem no seio da própria família, uma vez que são os próprios pais, que, às vezes num gesto de carinho e sem intenção dolosa, iniciam os filhos no consumo do álcool. Por exemplo, há o gesto frequente de os pais meterem os dedos das crianças no copo de bebida alcoólica que estão bebendo e pô-los na boca das crianças para provarem ou ainda medicamentarem as crianças por qualquer resfriado ou mal-estar com aguardente ou ponche que é uma mistura de aguardente com mel, fazer dormir as crianças induzindo-os a ingerir pequenas quantidades de bebida alcoólica ou usar soporíferos sem autorização médica, criando-lhes alguma dependência ou induzindo-os à habituação com os sabores.
    As crianças tendem a imitar em parte o comportamento dos pais em relação ao consumo de bebidas e outras substâncias psicoativas lícitas e também aos grupos de pares que frequentam.
    Nas festinhas de pré adolescentes, em determinadas famílias, se permite o uso de bebidas alcoólicas, tais como «estamperód» 4, Cerveja, ponche5 .
    Nas escolas, aparecem colegas e ou amigos que sempre dão um jeito de aparecerem com cigarros ou bebidas alcoólicas que são consumidos às escondidas durante o intervalo ou no fim das aulas, muito embora seja proibida a venda de bebidas alcoólicas aos menores de 18 anos de idade.
    Outro lugar de eleição para o consumo é sem sombra de dúvida a rua, principalmente nas menos movimentadas, aonde se reúnem grupos para se confraternizarem.
    Sem sombra de dúvida, que os locais mais propícios são as festas populares que são espaços muito concorridos e com fiscalização deficiente aonde as crianças e jovens interagem com os adultos principalmente na compra de bebidas alcoólicas.
    O consumo do álcool e do tabaco, embora sejam drogas permitidas em quase todas as sociedades, começa por ser feito sempre em grupos para só se individualizar entre os adultos.
    A maioria dos desvios comportamentais dos pré-adolescentes, jovens ou adultos, que se manifestam no seio familiar e na sociedade em geral está ligado ao consumo excessivo do álcool e do tabaco, uma vez que estas duas substâncias minam o autocontrolo do indivíduo, indu-lo a ter posturas que sobriamente não teria, fá-lo sentir-se ilusoriamente forte, e corajoso, fá-lo perder o sentido do decoro, da ética, do autorrespeito e do respeito pelas normas sociais.
    Consumido continuamente, leva-o a práticas sociais condenáveis, que muitas vezes requerem a intervenção da polícia e do hospital, tais como a violência doméstica (seja entre pais e filhos, seja entre marido e mulher), violência em lugares públicos, roubos, furtos, atentados à integridade física do outro com armas brancas, trazendo maiores custos para a sociedade em geral.

    Capitulo lll
    O desvio comportamental e suas teorias
    3.1- O desvio comportamental à luz da teoria de Emile Durkhweim
    Normalmente ao proceder-se a abordagem sociológica do desvio comportamental, chegaremos irremediavelmente ao crime, pelo que didaticamente, convém fazer um estudo conjunto.
    Contudo não vamos fazer uma abordagem com explicações biológica e nem psicológica, embora não possamos nos afastar das seguintes teorias:
    Teorias sociológicas sobre o crime e o desvio: teorias funcionalistas, integracionistas, do conflito, “a nova criminologia” e do controlo social;
    Durkheim introduz a noção de anomia que sugeria que nas sociedades modernas as normas e os modelos tradicionais desaparecem sem serem substituídas por outros novos. Assim sendo, a anomia dá-se quando não há modelos claros de comportamento a seguir numa determinada área da vida social, pelo que, as pessoas sentem-se desorientadas e ansiosas. O crime e o desvio passam assim a ser vistos como factos sociais, inevitáveis e essenciais característicos das sociedades modernas, pelo facto de maior liberdade de escolha, o que as induz também ao inconformismo.
    Nesta ótica, o desvio é algo necessário para a sociedade, desempenhando a função adaptativa impulsionadora de mudanças através de novas ideias e desafios sociais, além de promover a manutenção de limites entre o mau e o bom comportamento social.


    3.2- O desvio comportamental à luz das teorias de Içami Tiba.
    Içami Tiba é psiquiatra e psicodramatista, defensor da Teoria de Integração Relacional, defende a ética no relacionamento alertando para o facto “o que é bom para um, não pode ser ruim para outro”. Por essa Teoria, o comportamento humano tem bases biológicas, psicológicas, relacionando o social, tendo em atenção sempre os cinco pilares que são: disciplina, gratidão, religiosidade, ética e cidadania….
    A família atual vive os relacionamentos com novos paradigmas. Devido à fragilidade dos casamentos ou das uniões de fato, a figura do chefe de família passou a ser substituída pela do líder rotativo, ou seja, aquele que possui mais desenvoltura em determinada área lidera-a e coordena os relacionamentos a ela referentes.
    A educação tem por objetivo a formação do cidadão, pelo que o comportamento ou as relações em casa devem pautar-se por aquilo que também pode ser aceite pela sociedade. É em casa que se prepara o futuro cidadão, através da cidadania familiar. Todos devem ajudar-se entre si, admirar-se, associar-se, reconhecendo os graus de desenvolvimento uns dos outros. Assim, se o jovem for temerário e o adulto preservador, da integração relacional de ambos, o jovem poderá vir a ser temerário com prudência e o adulto preservador com ousadia.
    Só assim poder-se-á controlar ou evitar a embriaguez relacional, em que, quando as pessoas estão reunidas cooperativamente, poderão praticar atos que, sozinhas jamais praticariam.

    3.3- O desvio comportamental à luz da teoria de Ireneu Gomes
    Ireneu Gomes, acabou por absorver um pouco das teorias anteriores, dando especial atenção ao desenvolvimento da Personalidade e Constituição da Personalidade, votando cuidado especial à família e estruturas familiares. Sabendo que o grosso da família cabo-verdiana é monoparental, acaba por concluir que: As pessoas mais importantes na vida de uma criança, são os pais verdadeiros, (embora, conhecedor da realidade local acaba por acrescentar), os pais adotivos, os tutores ou qualquer outro adulto que assuma o papel que devia caber ao progenitor.
    O ambiente criado pelos pais determinará o tipo de personalidade da criança, moldando-a conforme a vivência familiar. Assim sendo, o filho de um consumidor de drogas ditas legais (Álcool e tabaco), considerados por muito como a droga portal, terá fortes probabilidades de no futuro ser um possível consumo de outras drogas mais pesadas e ilegais, nomeadamente a maconha ou haxixe. Contudo, a adição a qualquer tipo de droga, seja ela legal ou ilegal, depende também da auto disciplina.

    CONCLUSÕES
    A situação geoestratégica do arquipélago de Cabo-Verde, servindo de placa-giratória entre os continentes foi um fator determinante na estrutura das famílias, no uso do álcool e do tabaco (drogas socialmente aceites) como fator socio cultural e da desestruturação familiar.
    O uso dessas drogas é um dos fatores de desvios comportamentais verificados no seio familiar e na sociedade: a violência doméstica, a monoparentalidade (mãe chefe de família), robos, furtos, violência física contra o outro.
    O ambiente criado pelos pais determinará o tipo de personalidade da criança, moldando-a conforme a vivência familiar. Assim sendo, o filho de um consumidor de drogas ditas legais (Álcool e tabaco), considerados por muito como a droga portal vem a ser um possível consumidor de drogas ditas ilegais, nomeadamente a maconha ou haxixe.
    À família cabe a estruturação comportamental do indivíduo e do cidadão. A família, seja ela simples ou monoparental, no seu inter-relacionamento, deve pautar-se pelo socialmente aceite, pelo motivador de uma postura ética e cidadã, na educação das crianças ou adolescentes.

    Bibliografia
    DURHEIM, Émile (2004).As Regras do Método Sociológico, ed. Presença, Lisboa
    GUIDDENS, Anthony (2004).Sociologia, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
    GOMES, Ireneu ( 2007) Psicopatologia Volume I Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro.
    TIBA Içami (2007) Juventude & Drogas: Anjos Caídos, Integrare Editores, S.Paulo
    ANDRADE, Elisa (1996). História das Ilhas de Cabo-Verde-Da Descoberta à Independência Nacional, Ed. Harmattan, Paris
    MUSSINI, Milton (2005) Drogas. Pais e Filhos, editora Ciência Moderna, Rio de Janeiro

    1 Elisa Andrade(1996:38).As Ilhas de cabo-Verdeda«Descoberta à independência Nacional,Harmattan,Paris

    2 Comboças-mulheres que uniram-se clandestinamente a homens casados, tendo deles filhos.

    3 Código de Família de cabo-verde, decreto lei nº 58/81

    4 Bebida alcoólica obtida através da mistura da aguardente com sumo ou refrigerantes.

    5 Bebida alcoólica obtida através da mistura da aguardente,o mel de cana, limão e canela