Revista: CCCSS Contribuciones a las Ciencias Sociales
ISSN: 1988-7833


A EDUCAÇÃO ENQUANTO CONSTITUINTE DA RELAÇÃO INDIVÍDUO E SOCIEDADE NO PENSAMENTO DE DURKHEIM

Autores e infomación del artículo

Jonas Fernandes Costa*

Félix Lélis da Silva**

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA, Brasil

E-mail: jonascss@hotmail.com


RESUMO

A relação entre o indivíduo e a coletividade e sua intermediação ontológico via educação que forma valores e cria laços é a questão central desse debate, pois nas sociedades pautadas pela solidariedade orgânica o homem se torna mais consciente de si e começa a questionar valores; condicionados por uma maior individualização.Partindo da análise do trabalho de Èmile Durkheim, examinar a intima relação entre indivíduo, sociedade e educação; apontando para uma nova percepção acadêmica e política de sua contribuição pedagógica, que já foi taxada de conservadora e ultrapassada, mas que parece estar renascendo justamente após o centenário de sua morte. Este trabalho tem por objetivo, traçar uma análise sobre a teoria de Èmile Durkheim reconhecendo a contribuição de seus pensamentos para a educação e a sociedade.

Palavras chave: Indivíduo, sociedade, educação, Durkheim.

ABSTRACT

The relationship between the individual and the community and their ontological intermediation via education that shapes values ​​and creates links is the central issue of this debate, because in societies guided by organic solidarity man becomes more aware of himself and begins to question values; conditioned by greater individualization. Starting from the analysis of the work of Èmile Durkheim, to examine the intimate relation between individual, society and education; pointing to a new academic and political perception of his pedagogical contribution, which has already been classified as conservative and outdated but seems to be reborn just after the centenary of his death. The aim of this paper is to analyze the theory of Emile Durkheim by recognizing the contribution of his thoughts to education and society.

Key words: Individual, society, education, Durkheim.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Jonas Fernandes Costa y Félix Lélis da Silva (2020): “A educação enquanto constituinte da relação indivíduo e sociedade no pensamento de Durkheim”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (marzo 2020). En línea:
https://www.eumed.net/rev/cccss/2020/03/educacao-individuo-sociedade.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss2003educacao-individuo-sociedade

  1. INTRODUÇÃO

Em 2017 completou um século da morte de Emile Durkheim, um filósofo, pensador e pesquisador que atualmente é lembrado como pai da sociologia, seu status de fundador se deu por ter elaborado os contornos metodológicos da disciplina, além é claro de seus trabalhos de características mais empírico como o suicídio e de caráter mais antropológico como as formas elementares da vida religiosa; o fato é que Durkheim é estudado em praticamente todos os cursos na aérea de humanas, sua influência na sociologia, no direito, na antropologia, na psicologia e na pedagogia é imensurável, certamente está entre os autores mais pesquisados. Consequentemente a importância de se fazer uma pesquisa sobre Durkheim é quase uma obviedade, na medida que se apresenta nos currículos e sua influência nas ciências humanas é tão forte, que é praticamente impossível tocar no assunto sem passar por Durkheim, seja para enaltecê-lo ou criticá-lo. Já esteve na moda e já foi visto como ultrapassado, acredito que após passado um século de sua morte ele será analisado com novos olhares, especialmente no Brasil.
Durante a segunda metade do século XX a teoria social brasileira tinha forte teor marxista, e o contexto social e político propiciava isto. Vivia-se numa ditadura militar que era fortemente associada ao positivismo, que por sua vez remetia a imagem de Durkheim, neste sentido era visto como um reacionário. Porém, o século 21 inicia com a vitória da esquerda para presidência no Brasil, ficam 12 anos. Atualmente boa parte da teoria social desacredita do pensamento social de cunho marxista e vê-se uma forte onda de conservadorismo, neste contexto Durkheim ressurge como aquele injustiçado pela teoria social de esquerda, questionam-se Paulo Freire que recebe acusação de propor uma pedagogia de esquerda, ineficiente e fantasiosa e exalta-se a metodologia mais disciplinadora típica do positivismo. No entanto, a educação pra Durkheim é a própria condição existencial da sociedade e dos indivíduos, ele faz um vínculo ontológico esses três pontos se preocupando muito mais com a educação enquanto processo de socialização, enfatizando a necessidade da integração, coesão e da força da sociedade sobre o indivíduo.
Como bem frisou Philippe Corcuff, a sociologia “foi particularmente marcada, desde seus primeiros momentos, pela oposição entre o coletivo e o individual, a sociedade e o indivíduo” (Corcuff, 2001, p.19). Assim sendo, justifica-se um trabalho que terá como objetivo discutir a relação entre indivíduo e sociedade na qual a educação se mostra como o link responsável pela ligação ontológica entre indivíduo e sociedade. A educação em Durkheim pode ser dividida em: formal ou informal, a primeira se refere as instituições modernas de ensino típico das sociedades industriais onde há intensa divisão do trabalho, a segunda é mais ampla e se encontra em todas as culturas enquanto sinônimo de socialização, ou seja, é o trabalho social para formar o indivíduo preparado para viver em determinada sociedade.
Segundo Durkheim é uma ilusão achar que criamos os filhos de acordo com nossas vontades individuais, mas sim para que eles respondam expectativas sociais, neste sentido, fica evidente uma hipótese que ele defenderá em todas suas obras: a sociedade é uma entidade mais poderosa que o indivíduo e é por via da educação que a sociedade molda os indivíduos para corresponder às expectativas sociais.
Neste sentido, este trabalho tem por objetivo, traçar uma análise sobre a teoria de Èmile Durkheim reconhecendo a contribuição de seus pensamentos para a educação e a sociedade, de modo, permitir uma reflexão sobre a suposta dicotomia indivíduo e sociedade no pensamento Durkheimiano, na medida em que a educação, entendida como socialização, é o link que vincula ontologicamente os dois polos.

  1. DURKHEIM E A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

O primeiro trabalho de grande envergadura de Durkheim foi sua tese de doutoramento em 1893, intitulada Da Divisão do Trabalho Social. Nesta obra, fica evidenciado a preocupação em entender a formação do coletivo, em outras palavras, por que as pessoas vivem em sociedade? Por que a sociedade forma uma realidade que parece possuir vida própria? Durkheim vai responder a estas questões, referindo-se aos seus estudos sobre integração social e sua clássica distinção das duas formas de solidariedade: mecânica e orgânica, que correspondem a formas de educação diferenciadas para responder a expectativas sociais distintas.
Aquilo que faz com que os indivíduos se unam ao grupo e entre si é chamado de solidariedade, são laços que os ligam, esses laços são formados via educação-socialização. Assim sendo, a primeira forma de solidariedade que expõe é aquela baseada nas semelhanças, onde as pessoas pouco ou nada se diferenciam umas das outras. Quando este tipo de solidariedade predomina em determinado grupo a pessoa está ligada diretamente à coletividade formando um conjunto muito organizado e homogêneo de sentimentos e crenças comuns a todos os membros do grupo. Assim, essa forma de organização existe pelo consenso decorrente da semelhança dos indivíduos, é como se a educação preponderante nessa sociedade formasse indivíduos semelhantes e extremante ligados uns aos outros como, por exemplo, nas tribos indígenas ou sociedade pré-modernas.
Em um outro polo, Durkheim coloca uma forma de solidariedade baseada na diferenciação dos membros, isto é, o consenso, a unidade coerente da coletividade, resulta não mais das similitudes, mas das diferenças. A esse tipo de solidariedade Durkheim chama orgânica, nesse caso, por analogia com os órgãos de um ser vivo, que mesmo todos sendo diferentes são igualmente indispensáveis à vida, cada um na sua função. Neste caso, a educação social trabalha para formar indivíduos diferentes, na medida que uma sociedade complexa exige isso pela sua natureza complexa ocasionando uma variedade de funções e ato grau de divisão do trabalho. Conseqüentemente, essas duas formas de solidariedade correspondem a duas formas opostas e extremas de organização social; a mecânica seria aquela típica de sociedades mais simples e a orgânica das sociedades industriais.
Outro conceito, utilizado por Durkheim em Da Divisão, que trata da chave para compreensão da educação, tem-se a consciência coletiva, que seria “o conjunto das crenças dos sentimentos comuns à média dos membros de uma sociedade” (Durkheim, 1967, p.74). A consciência coletiva só existe em função das crenças e sentimentos contidos nas consciências individuais, porém esse conjunto forma um determinado sistema que possui vida própria. Assim, a consciência coletiva se distingue, no mínimo analiticamente, das consciências individuais, porque evolui segundo suas próprias leis e não é expressão ou o efeito das consciências individuais. Portanto, um fato social como o crime não pode ser explicado por questões individuais, pois o crime é um ato proibido pela consciência coletiva. Nesse sentido, a função da pena seria satisfazer a consciência pública abalada pelo ato cometido por algum dos membros da coletividade. Percebe-se que na sociologia funcionalista de Durkheim a educação tem sua função social que é de preparar o sujeito para viver na sociedade na qual ele está sendo socializado.
Neste livro (da divisão do trabalho social) Durkheim chega a considerações importantes que pautarão suas obras posteriores. Por exemplo, se a solidariedade mecânica precedeu a orgânica historicamente, isso quer dizer que não se pode explicar os fenômenos da diferenciação social e da solidariedade orgânica a partir dos indivíduos. É uma questão de lógica, pois se o indivíduo nasce da sociedade, e não o contrário, como explicar o segundo pela primeira. Daí a necessidade de explicar os fenômenos individuais pelo estado da coletividade, assim a educação é o elo que demonstra a maior força da sociedade em relação ao indivíduo, seria a prova concreta, ao modelo do método positivista, de que os indivíduos são produtos de uma realidade sui generis.
É interessante perceber que Durkheim utiliza-se de muitas páginas para mostrar que a divisão do trabalho não pode ser explicada pela busca de maiores prazeres, de felicidade, etc. Talvez essa fosse a explicação preponderante na sua época, porém a divisão do trabalho é um fenômeno social que só poderá ser explicado por outro fenômeno social. Então, Durkheim chega a uma combinação de volume, densidade material e moral e ainda recorre ao conceito darwiniano de luta pela vida, para tentar explicar a passagem de uma sociedade à outra. Sendo assim, ele diz que quanto mais numerosos os indivíduos que procuram viver em conjunto, mais intensa a luta pela vida, assim, a diferenciação social permite a um número maior de indivíduos sobreviverem, então deixa de ser necessário eliminar alguns indivíduos quando eles deixam de ser semelhantes, pois diferentes cada um colabora com o que lhe é próprio, para vida de todos.
Então, o que é a educação? Nada mais que a socialização da geração que está chegando pela geração acima, a escola seria muito importante na formação do indivíduo para integrá-lo no grupo e cumprir uma função bem aos moldes do funcionalismo e do estruturalismo. Assim, a sociedade poderia ser beneficiada pela escolarização eficiente tanto profissionalmente, quanto moralmente.

2.2  AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO

            Neste primeiro manual de como se fazer sociologia, Durkheim quer mostrar que a sociologia é uma ciência positiva do mesmo estatuto das ciências da natureza, com objeto e método próprios. O objeto é chamado de fato social:

Toda maneira de agir fixa ou não suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral numa extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter. (DURKHEIM, 1975, p. 10).

            Essa definição já diz bastante no que se refere à relação indivíduo e sociedade, pois o fato social é exterior ao indivíduo, sendo assim independente da vontade individual, consequentemente é internalizado pelo processo de educação, Além disso, é coercitivo, ou seja , esse processo educacional de internalização das normas sociais soa forcados pressionando os indivíduos a seguirem as normas sociais, a educação, então mostra seu lado conservador e até mesmo tirânico; o fato social também é  geral em determinado grupo social e possui vida própria, a desobediência é sempre acompanhado por uma sanção social que pode ser moral ou legal; em suma a educação é o instrumento pelo qual a sociedade se impõe aos indivíduos.
Após definir o fato social Durkheim mostra como se deve estudá-lo; e a primeira regra e mais elementar é tratá-lo como coisa. Coisas se refere a tudo que nos é dado à observação, toda realidade observável do exterior.
Percebe-se que a unidade analítica da sociologia não é o indivíduo, pois os fenômenos que constituem uma dada sociedade possuem origem na coletividade e não em cada um dos seus participantes, assim:

As consciências particulares, unindo-se, agindo e reagindo uma sobre as outras, fundindo-se, dão origem a uma realidade nova... uma coletividade tem as suas formas especificas de pensar e de sentir, as quais os seus membros se sujeitam, mas que diferem daqueles que eles praticariam se fossem abandonados a si mesmo. (Durkheim, 1975, p. 117).

            Então, podemos inferir que a sociedade ultrapassa o indivíduo, na em medida que é mais forte que ele, nesse sentido o segundo pouco pode contra a primeira e para exemplificar, Durkheim fala dos obstáculos que enfrenta quem não obedece a uma convenção social, como violar uma regra moral, resistir a uma lei, não utilizar o idioma ou a moeda local. Isso não significa que o indivíduo seja completamente impotente diante das regras sociais. É o caso de Sócrates, que foi de encontro a regras sociais estabelecidas, como resultado foi condenado à morte. No entanto, sua ação serviu para mudar todo um conjunto de comportamentos. Durkheim faz questão de dizer que casos assim não são isolados na história:

Ora, o caso de Sócrates não é isolado; reproduz-se periodicamente na história. A liberdade de pensamento que gozamos atualmente jamais teria podido ser proclamada se as regras que a proibiam não tivesse sido violada antes de serem repudiadas. Naquele momento, porém, a violação constituía crime, pois tratava-se de ofensas contra sentimentos ainda muito vivos na generalidade das consciências. (Durkheim, 1974, p.62).

Vê-se que apesar das grandes dificuldades impostas pelas regras sociais, há indivíduos com comportamentos inovadores, e as instituições sociais são passíveis de mudanças. Assim, o crime pode ser considerado um instrumento de transformação social e não apenas de manutenção e restabelecimento da ordem1 . Todavia, é preciso ter em mente que a teoria sociológica de Durkheim se fundamenta na afirmação de que a sociedade é uma realidade de natureza diferente das realidades individuais e que todo fato social tem como causa outro fato social e nunca um fato da psicologia individual, assim se entende que:

Segundo o direito ateniense, Sócrates era criminoso e sua condenação não deixou de ser justa. Todavia seu crime... Servia para preparar uma moral e uma fé novas de que os atenienses teriam necessidade então, por que todas as tradições nas quais tinham vivido até aquela época não estavam mais em harmonia com suas condições de existência. (Durkheim, 1974, p.62).

            Interpretação frequente nos manuais sociologia afirma que Durkheim anula o indivíduo em nome da sociedade e que Weber faria o oposto, parte do indivíduo e desconsiderada a existência da sociedade. No entanto, nos parece mais plausível não ser esse o caso, Durkheim deixa espaço, mesmo que pequeno, para análise da ação individual, contudo como o homem é um ser social nenhuma ação seria integralmente individual, a questão então parece se referir a aspectos epistemológicos. Durkheim não negligenciaria o indivíduo em nome do grupo, mas apenas parte do coletivo enquanto unidade analítica e objeto de ciência e reconhece o poder formador do social via processo de educação, que ao passo que forma e moldo o indivíduo também contribui com a formação do pensamento crítico e inovador como exemplificado no caso Sócrates.

2.3 O SUICÍDIO

Neste livro, Durkheim retoma várias discussões iniciadas em Da Divisão do Trabalho Social, sobretudo no que se refere a questões morais de integração social, principalmente nas sociedades nas quais a solidariedade orgânica domina, onde os indivíduos possuem maior autonomia. No entanto, aparentemente, os indivíduos não se sentem mais felizes neste tipo de organização social, o aumento da frequência de suicídios pode ser considerado, ao ver de Durkheim, sua comprovação empírica.
Nas sociedades onde a solidariedade mecânica predomina os lugares e posições sociais já estariam marcados nos berços das pessoas, então, nenhum sujeito reivindicaria qualquer coisa que se referisse apenas a méritos individuais, pois nessas sociedades o individualismo não é um princípio no qual as vidas das pessoas estejam fundamentadas. Os membros da comunidade não se sentem diferentes uns dos outros, há uma certa unidade e coesão moral. Já nas sociedades onde a solidariedade orgânica domina, os indivíduos podem querer reivindicar tudo que acreditam ter direito, então, Durkheim começa a ver uma discrepância, nas sociedades modernas, entre desejos e as condições objetivas de realizá-los.
A relação entre o indivíduo e a coletividade e sua intermediação ontológico via educação que forma valores e cria laços é a questão central desse debate, pois nas sociedades pautadas pela solidariedade orgânica o homem se torna mais consciente de si e começa a questionar valores; condicionados por uma maior individualização. O que Durkheim afirmava é o que o indivíduo começa a cobrar da sociedade algo que ela não poderia lhe dar, daí surge uma desintegração moral entre o indivíduo e a coletividade. Durkheim retorna a essa questão no prefácio da segunda edição de Da Divisão do Trabalho Social, apontando para as organizações de grupos profissionais, como sendo instituições capazes de reintegrar laços de solidariedade. Ao ver de Durkheim as instituições sociais socializadoras por excelência nas sociedades de solidariedade mecânica eram a família, a igreja e a própria comunidade; após a revolução industrial tais instituições não mais conseguem cumprir sua função com a mesma eficácia gerando um estado de certa anomia social, que só pode ser solucionado com outras instituições encaixadas com a nova sociedade industrializada que surge, seria necessário uma nova educação pra formar um sujeito encaixado com a nova sociedade.
O tema do suicídio gira em torno deste diagnóstico feito por Durkheim. Assim o estudo desse problema da sociedade moderna mostra, de maneira mais crua, a relação entre indivíduo e sociedade e até que ponto os indivíduos são impulsionados por forças sociais.
Durkheim, bem ao seu estilo, começa com a definição do termo suicídio “todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima e que ela sabia que deveria produzir esse resultado” (DURKHEIM, 2000, p. 103). Por essa definição, suicídio não é apenas aquele ato positivo de pegar um revólver e efetuar um disparo contra a própria cabeça, mas também, ficar em um navio em chamas por causa de seus companheiros ou aceitar ser jogado de cima de um precipício ao atingir determinada idade. Após a definição do problema cria uma tipologia dos suicídios (egoísta, altruísta e anômico).
De maneira bem resumida, o suicídio egoísta pode ser definido como sendo aquele provocado pela pouca vinculação do indivíduo com o grupo; o suicídio altruísta seria, justamente o oposto, o indivíduo está tão integrado ao grupo e por esse motivo pratica o ato de tirar a própria vida; o anômico, que é o mais característico das sociedades modernas, é revelado por uma correlação estatística entre a frequência de suicídios e os ciclos econômicos.
Durkheim faz uma diferenciação entre o suicídio como fenômeno individual com aquilo que ele relata como sendo taxa de suicídio; que é uma determinada frequência referente a uma época especifica que pode ser considerado como normal – essa discussão é muito parecida com a do crime, onde uma determinada porcentagem de crime é considerada normal em uma sociedade singular, porém é patológico se essa taxa, por exemplo, ultrapassa muito o número médio de suicídios. O ponto crítico é, justamente, a relação entre o fenômeno individual e a taxa de suicídio.
A argumentação segundo o qual o suicídio é condicionado por uma predisposição psicológica era muito comentada na época. Durkheim até admite essa psicopatologia, contudo acredita que a força que determina o suicídio é social, daí o fato do debate ficar polarizado, de um lado as predisposições de ordem psicológica, e de outro as determinações sociais. Durkheim refuta a teoria psicológica mostrando que não há correlação entre a frequência dos estados de psicopatologias com a de suicídio. Um indivíduo que possui essa predisposição não necessariamente cometerá suicídio, somente cometerá caso forças sociais atuem sobre ele. Essa ideia já está implícita, inclusive, na sua própria tipologia, pois nem o suicídio egoísta é isento de fatores sociais.
Então, a tese de Durkheim afirma que há sociedades com uma certa disposição a formar indivíduos com maior possibilidade de cometer suicídio e o fator preponderante são a força ou fraqueza dos laços sociais que correspondem ao suicido altruísta e egoísta, quanto mais forte os laços menores as chances de suicídio. Essa predisposição social ao suicídio é fruto de certa forma de socialização, ou seja, educação informal e formal.
Percebe se que para Durkheim a educação é ponto central em todo conjunto de sua obra, pois é por via dela que se internaliza os valores sociais e se prepara indivíduos capazes de viver no grupo social no qual está inserido, nas sociedades de solidariedade mecânica só existe educação informal praticada diretamente pela comunidade, já nas sociedades de solidariedade orgânica surge a educação formal, chamada também de escolarização que não deixa de ser forte elemento de socialização responsável por preparar os indivíduos para se encaixar na sociedade mais complexa, seria impossível a sociedade industrial sem a educação formal; assim mostra se o caráter ontológico da educação e sua função enquanto elo que liga os indivíduos à sociedade.
É incrível perceber que Durkheim não elaborou uma proposta pedagógica formal, métodos pedagógicos, um currículo, etc.,no entanto, seu pensamento é sempre consultado para se pensar a educação. A preparação física, mental e moral da criança para servir a sociedade no futuro pode nos parecer uma proposta demasiada opressora, no entanto, é importante lembrar que para o autor francês a satisfação do indivíduo está atrelada ao seu encaixe ao grupo social, e só uma educação mais rígida garantiria mais facilmente o sucesso nessa empreitada, e evitaria estados de anomia social, ou seja, de desencaixe , rebeldia ou revoluções que levam ao caos, que para Durkheim é sempre a pior situação social. Ser conservador, liberal ou marxista (pensando do ponto de vista pedagógico) é uma postura fruto de interesses e valores, que por sua vez, são construídos socialmente. A educação positivista, vista como a grande vilã da pedagogia contemporânea vem sendo revisitada e enaltecida por alguns setores da sociedade brasileira; em um cenário de caos na educação, de violência desenfreada, de escândalos de corrupção, dentre outros problemas que atingem nossa sociedade, a educação disciplinadora emerge como um possível caminho plausível, pelo menos na resolução desses problemas históricos específicos, que era justamente o grande objetivo da educação segunda Durkheim.

  1. Considerações finais

Toda obra de Durkheim possui uma intenção clara, fundar uma nova ciência, nesta empreitado é necessário estabelecer um objeto a ser e um método a seguir, daí a produção de As Regras do Método sociológico, livro metodológico por excelência. Tem seus capitulo inicial só para definir o objeto da nova ciência e os outros explicando como proceder na pesquisa sociológica. Entretanto, o leitor percebeu que a primeira grande obra de Durkheim foi sobra a divisão do trabalho, especificamente sobre a nova divisão que emerge com a industrialização, provavelmente só após este livro que Durkheim conseguiu delinear claramente os contornos da ciência que ele estava acreditando fundar. Depois de seu livro metodológico, Durkheim busca aplicar tais regras em casos empíricos, daí vem sua obra prima de sociologia O Suicídio. Como tentou-se mostrar no artigo, o suicídio é uma consequência das considerações da divisão do trabalho social, já com o rigor metodológico de as regras do método sociológico, está fechado o projeto fundador da ciência, tanto no plano metodológico quanto empírico.
Além da coerência metodológica, há também um rigor conceitual no plano do encaixe logico-racional, como fundador de uma nova ciência, o autor não pode negligenciar o rigor conceitual, assim dedica capítulos para conceituar fato social, suicídio, solidariedade, entre outros. E na hora de relaciona-los também segui o rigor da coerência; individuo, sociedade e educação estão ligados de tal forma, que ao falar de um fica implícito a relação com os outros, daí a importância da educação em toda sua construção sociológica, por que a própria sociedade inexistiria sem ela.
Percebe-se, então, que para Durkheim a educação é ponto central em todo conjunto de sua obra, pois é por via dela que se internaliza os valores sociais e se prepara indivíduos capazes de viver no grupo social no qual está inserido, nas sociedades de solidariedade mecânica só existe educação informal praticada diretamente pela comunidade, já nas sociedades de solidariedade orgânica surge a educação formal, chamada também de escolarização que não deixa de ser forte elemento de socialização responsável por preparar os indivíduos para se encaixar na sociedade mais complexa, seria impossível a sociedade industrial sem a educação formal; assim mostra se o caráter ontológico da educação e sua função enquanto elo que liga os indivíduos à sociedade.
É incrível perceber que Durkheim não elaborou uma proposta pedagógica formal, métodos pedagógicos, um currículo, etc., no entanto, seu pensamento é sempre consultado para se pensar a educação. A preparação física, mental e moral da criança para servir a sociedade no futuro pode nos parecer uma proposta demasiada opressora, no entanto, é importante lembrar que para o autor francês a satisfação do indivíduo está atrelada ao seu encaixe ao grupo social, e só uma educação rígida garantiria mais facilmente o sucesso nessa empreitada, e evitaria estados de anomia social, ou seja, de desencaixe , rebeldia ou revoluções que levam ao caos, que para Durkheim é sempre a pior situação social. Ser conservador, liberal ou marxista (pensando do ponto de vista pedagógico) é uma postura fruto de interesses e valores, que por sua vez, são construídos socialmente.
Por fim, A educação positivista, vista como a grande vilã da pedagogia contemporânea vem sendo revisitada e enaltecida por alguns setores da sociedade brasileira; em um cenário de caos na educação, de violência desenfreada, de escândalos de corrupção, dentre outros problemas que atingem nossa sociedade, a educação disciplinadora emerge como um possível caminho plausível, pelo menos na resolução desses problemas históricos específicos, que era justamente o grande objetivo da educação segunda Durkheim.

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*Sociólogo, Mestre em Sociologia, Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Campus Castanhal - e-mail: jonascss@hotmail.com
** Doutor em Ciencias Agrárias - Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA Campus Castanhal - e-mail: felix.lelis@ifpa.edu.br
1 Isso porque o crime também pode ser visto como instrumento de manutenção, na medida em que o ato punido pela consciência coletiva serve, também, para que as coisas permaneçam como estavam.


Publicado: 25/03/2020

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