Vania Silva de Souza Bilert*
Cristiane Mansur de Moraes Souza**
Universidade Regional de Blumenau (FURB), Brasil
Email: vaniabilert@hotmail.com
RESUMO: O estudo objetiva realizar um levantamento da produção nacional sobre “Extensão Universitária e Meio Ambiente”, no período entre 2007 a 2016. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa exploratória e classifica-se como uma revisão sistemática. Para a operacionalização da análise, a pesquisa utilizou as publicações científicas disponíveis no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A partir dos resultados obtidos, percebeu-se que os estudos sobre “Extensão Universitária e Meio Ambiente” devem ser explorados com mais ênfase, visando subsidiar a necessidade do crescimento científico e abarcando novos canais informacionais, principalmente frente a tendência multi e interdisciplinar que a temática fomenta, de forma a consolidar o estabelecimento de evidências científicas.
Palavras-chave: Universidade, Extensão Universitária, Meio Ambiente, Sociedade, Conhecimento científico.
ABSTRACT: The study aims to perform a survey of the national production on "University Extension Programs and Environment", in the period between 2007 to 2016. This is a qualitative exploratory research and is classified as a systematic review. For the operationalization of the analysis, the research used the scientific publications available in the database from CAPES’ (Coordination of Superior Level Staff Improvement). From the results obtained, it was noticed that the studies on "University Extension Programs and Environment" should be explored with more emphasis, aiming to subsidize the need for scientific growth and covering new informational channels, mainly in face of the multi and interdisciplinary tendency that thematic in order to consolidate the establishment of scientific evidence.
Key-words: University, University Extension Programs, Environment, Society, Scientific knowledge.
RESUMEN: El estudio objetiva realizar un levantamiento de la producción nacional sobre "Extensión Universitaria y Medio Ambiente", en el período entre 2007 a 2016. Se trata de una investigación de naturaleza cualitativa exploratoria y se clasifica como una revisión sistemática. Para la operacionalización del análisis, la encuesta utilizó las publicaciones científicas disponibles en el banco de datos de la Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)). A partir de los resultados obtenidos, se percibió que los estudios sobre "Extensión Universitaria y Medio Ambiente" deben ser explorados con más énfasis, visando subsidiar la necesidad del crecimiento científico y abarcando nuevos canales informacionales, principalmente frente a la tendencia multi e interdisciplinaria que la temática fomenta, para consolidar el establecimiento de evidencias científicas.
Palabras clave: Universidad, Extensión universitária, Medio ambiente, Sociedad, Conocimiento científico.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Vania Silva de Souza Bilert y Cristiane Mansur de Moraes Souza (2019): “Extensão universitária e meio ambiente: uma revisão sistemática”, Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, (febrero 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/cccss/2019/02/extensao-universitaria-meioambiente.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1902extensao-universitaria-meioambiente
1 INTRODUÇÃO
A Extensão Universitária no Brasil, teve seu início em meados do século XX. Sua institucionalização foi dotada de processos de ressignificações, materializada pela disseminação e transmissão da informação à sociedade. Num segundo momento, discorre-se sobre os mecanismos para a sua constituição baseado nos enlaces entre a universidade e a sociedade, envolvendo uma relação com o predomínio de troca de saberes, gestão e compartilhamento do conhecimento com a comunidade (NOGUEIRA, 2001).
Nesse sentido, o debate adentra-se na articulação de uma extensão universitária enquanto prática acadêmica, no tocante ao desenvolvimento de ações para o cumprimento da função social da universidade, aproximando e estreitando as relações da universidade com os problemas sociais. Tem-se, desse modo, uma nova concepção da Extensão Universitária, proposta pela Política Nacional de Extensão Universitária, que evoca uma Extensão Universitária como “um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade” (FORPROEX, 2012, p.15).
Admitida a importância da extensão universitária em prol da transformação social, fundamentada no diálogo e interação com a comunidade, torna-se essencial pensar em uma universidade “[...] um pouco menos lecionadora e um pouco mais articuladora dos diversos espaços do conhecimento que existem em cada localidade, em cada região” (DOWBOR, 2009, p. 28). Essa ótica, reforça uma extensão universitária voltada para potencializar a “prática acadêmica que objetiva interligar a universidade, em suas atividades de ensino e de pesquisa, com as demandas da sociedade” (FORPROEX, 1999, p. 5).
A extensão universitária emerge, com uma vertente voltada para as demandas sociais, baseada “na participação ativa na construção da coesão social, no aprofundamento da democracia, na luta contra a exclusão social e a degradação ambiental, na defesa da diversidade cultural” (SANTOS, 2010, p.73). Sob esse prisma, a extensão universitária se consolida como um espaço de criação de condições para a produção do conhecimento, rompendo com a concepção de extensão como atividade fragmentada do ensino e da pesquisa.
Assim, buscando fomentar reflexões sobre a produção do conhecimento científico em extensão universitária, dentro do contexto da temática ambiental, o estudo ora apresentado se propôs a realizar um levantamento da produção nacional sobre “Extensão Universitária e Meio Ambiente”, no período entre 2007 a 2016. A partir desta introdução, apresenta-se uma breve contextualização sobre a extensão universitária e a produção de conhecimento. Na sequência, expõe-se os procedimentos metodológicos, os resultados e discussão. Por fim, apresenta-se as principais considerações acerca do estudo e as referências utilizadas.
1.1 A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO
A Reforma Universitária de 1968, buscou a reestruturação da educação superior nas universidades brasileiras. Influenciada fortemente pelos impactos do Processo de Bolonha, ocorreu pautada em diversos caminhos, indo desde a mercantilização do ensino até a necessidade de ressignificação da função social da universidade. Especificamente sobre o debate da responsabilidade social da universidade, a reforma universitária assume como função definir o itinerário da universidade, permeado pelas distintas configurações sociais e desafios globais; sobretudo pelas imposições do neoliberalismo, a partir da década de 1980 (SANTOS, 2010).
Em meio ao contexto, o modelo de conhecimento produzido na universidade, foi pautado na ciência moderna, com ênfase na formação profissional. Desse modo, a construção do conhecimento científico encontrou discursos dicotômicos, muitas vezes se distanciando da sociedade, da política e da cultura. Esse isolamento fez com que a universidade experimentasse o conhecimento hierarquizado, fragmentado e sustentado na especialização.
A busca por uma ciência em que o eixo articulador fosse o diálogo da universidade com os problemas sociais é um fenômeno recente, e que se firmou pela via das ações extensionistas. Todavia, compreende-se que quando se aborda a produção de conhecimento, tem-se que tratar a integração do conhecimento, principalmente a partir da instauração de uma organização hierárquica sem segregação entre as funções de Ensino, Pesquisa e Extensão.
Nessa perspectiva, a ação extensionista sistematiza a “produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade” (FORPROEX, 1999, p. 5). Assim, pôde-se pressupor que a legitimação da extensão universitária é constituida pela difusão do conhecimento, que deve ser associada a produção e a transmissão de conhecimento, propiciando a interação entre Ensino, Pesquisa e Extensão.
Considera-se que, operacionalizar o intercâmbio e a interlocução entre universidade e sociedade, é uma tarefa que precisa ser equacionada e pautada pelas diretrizes que orientam a formulação e implementação das ações de Extensão Universitária, e que foram organizadas pelo Plano Nacional de Extensão Universitária – PNEU. O Plano Nacional de Extensão estabelece as Diretrizes para a Extensão Universitária, que devem estar presentes em todas as ações de extensão. A seguir, apresenta-se uma síntese das diretrizes, tendo como base as orientações do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras - FORPROEX (FORPROEX, 2012).
a) Interação dialógica - compreendida como uma diretriz que busca seguimentar as relações entre a universidade e a sociedade, orientada pelo “diálogo e troca de saberes” (FORPROEX, 2012, p. 30). Fundamenta-se na produção de um conhecimento em que prevaleça a interação entre os envolvidos, sem predomínio de saberes e hegemonia acadêmica. “Não se trata mais de “estender à sociedade o conhecimento acumulado pela Universidade”, mas de produzir, em interação com a sociedade, um conhecimento novo” (FORPROEX, 2012, p. 30).
b) Interdisciplinaridade e interprofissionalidade – o foco dessa diretriz situa-se na compreensão de que a realidade social é dotada de especificidades, por isso, toda intervenção ou ação, necessita ao mesmo tempo combinar as visões holísticas e visões especializadas. “O suposto dessa diretriz é que a combinação de especialização e visão holísticas pode ser materializada pela interação de modelos, conceitos e metodologias oriundos de várias disciplinas e áreas do conhecimento [...]” (FORPROEX, 2012, p. 32).
c) Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão - referenciada no pressuposto de que “as ações de extensão adquirem maior efetividade se estiverem vinculadas ao processo de formação de pessoas (Ensino) e de geração de conhecimento (Pesquisa)” (FORPROEX, 2012, p. 32). No âmbito da relação Extensão e Ensino, essa diretriz “coloca o estudante como protagonista de sua formação técnica” (FORPROEX, 2012, p. 30). A proposta visa atribuir autonomia e uma maior participação no processo.
A Extensão e Pesquisa, é amparada na produção do conhecimento, a partir da articulação entre Universidade e a sociedade. “A Extensão Universitária sustenta-se principalmente em metodologias participativas, no formato investigação-ação (ou pesquisa-ação), que priorizam métodos de análise inovadores, a participação dos atores sociais e o diálogo” (FORPROEX, 2012, p. 33). Um aspecto interessante dessa diretriz é a importância da contribuição dos atores sociais junto aos problemas enfatizados em suas comunidades, e, principalmente, da necessidade de clareza sobre os conceitos analíticos, teóricos e metodológicos, que notearão os impactos sociais almejados.
Ainda sobre o contexto da Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, o Plano Nacional de Extensão Universitária – PNEU, propugna que as ações extensionistas estejam presentes no desenvolvimento de dois processos na vida acadêmica, sendo o primeiro a incorporação da extensão universitária junto “aos programas de mestrado, doutorado ou especialização, o que pode levar à qualificação tanto das ações extensionistas quanto da própria pós-graduação.” (FORPROEX, 2012, p. 34). O segundo refere-se ao desenvolvimento da “produção acadêmica a partir das atividades de extensão, seja no formato de teses, dissertações, livros ou capítulos de livros, artigos em periódicos e cartilhas, seja no formato de apresentações em eventos, filmes ou outros produtos artísticos e culturais” (FORPROEX, 2012, p. 34). Sem dúvida, são dois processos que auxiliariam fortemente na contribuição da produção do conhecimento em extensão universitária.
d) Impacto na Formação do Estudante – estabelece regras sobre a participação dos estudantes nas ações de Extensão Universitária, e se concretiza a partir de “iniciativas que viabilizem a flexibilização curricular e a integralização de créditos logrados nas ações de Extensão Universitária” (FORPROEX, 2012, p. 34), conforme cita a Constituição de 1988 e regulamentado pelo Plano Nacional de Educação(PNE)2001-2010. A atividade de extensão proporciona o enriquecimento de experiências, teóricas e metodológicas, aos estudantes.
Visando a aplicação das diretrizes de Extensão Universitária, além do diálogo necessário para reafirmar o relacionamento da extensão universitária com a sociedade, é necessário o diálogo interno nas universidades, com “órgãos destinados ao fomento das ações extensionistas, com os colegiados de gestão acadêmica da graduação e da pós-graduação” (FORPROEX, 2012, p. 35). O PNEU contextualiza, ainda, que essa estruturação normativa e legal deve ser guiada pelo “estabelecimento de regras relacionadas ao campo de estágio, composição de grade curricular, correlação entre carga horária e créditos atribuídos ou previsão de cronogramas de disciplinas e regras disciplinares” (FORPROEX, 2012, p. 35).
e) Impacto e Transformação Social – essa diretriz busca reafirmar a Extensão Universitária “como o mecanismo por meio do qual se estabelece a inter-relação da Universidade com os outros setores da sociedade” (FORPROEX, 2012, p. 35). É norteado pelos princípios de atuação transformadora, do processo de (re)construção, direcionada para os anseios e interesses da sociedade, com vistas ao desenvolvimento social e regional, além de direcionar o aprimoramento de políticas públicas.
Outro importante avanço proporcionado pelo FORPROEX foi a sistematização das ações de extensão. Para isso determinou a criação de classificações, por área de conhecimento, área temática e por linhas de extensão. O objetivo dessa classificação foi facilitar a ordenação do desenvolvimento da extensão universitária brasileira. Desse modo, as ações de extensão universitária devem ser classificadas em áreas do conhecimento, definidas pelo CNPq: (a) Ciências Exatas e da Terra; (b) Ciências Biológicas; (c) Engenharia / Tecnologia; (d) Ciências da Saúde; (e) Ciências Agrárias; (f) Ciências Sociais; (g) Ciências Humanas; (h) Lingüística, Letras e Artes. Essa classificação deve ser preestabelecida pela instituição e constar em todos os documentos relacionados (FORPROEX, 1999).
O Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras - FORPROEX (1999), também definiu as áreas temáticas para a classificação das ações de Extensão Universitária, a saber: comunicação; cultura; direitos humanos e justiça; educação; meio-ambiente; saúde; tecnologia e produção; e trabalho. Desse modo, todas as ações de extensão deverão ser classificadas segundo a área temática, que deverão observar o objeto ou assunto que é enfocado na ação extensionista. Todavia, mesmo que não se encontre no conjunto das áreas uma correspondência absoluta com o objeto da ação, a mais aproximada, tematicamente, deverá ser a escolhida. A finalidade da classificação é a sistematização, de maneira a favorecer os estudos e relatórios sobre a produção da Extensão Universitária Brasileira, segundo agrupamentos temáticos, bem como a articulação de indivíduos ou grupos que atuam na mesma área temática (FORPROEX, 1999).
Nesse contexto, dentre as oito áreas temáticas institucionalizadas para a classificação das ações de extensão, destaca-se a área Meio Ambiente - temática de discussão nesse artigo -, e que é sistematizada como uma prática educativa que integra ações para a
Preservação e sustentabilidade do meio ambiente; meio ambiente e desenvolvimento sustentável; desenvolvimento regional sustentável; aspectos de meio ambiente e sustentabilidade do desenvolvimento urbano e do desenvolvimento rural; capacitação e qualificação de recursos humanos e de gestores de políticas públicas de meio ambiente; cooperação interinstitucional e cooperação internacional na área; educação ambiental; gestão de recursos naturais, sistemas integrados para bacias regionais (FORPROEX, 1999).
Como instância mediadora para aprofundamento das dimensões e debates sobre as práticas de extensão universitária, a ação extensionista torna-se o intercâmbio entre universidade e sociedade. Partindo do pressuposto de que o debate e vinculo entre universidade e sociedade, deve ser compreendido dentro de um contexto entre produção de conhecimento e prática social, a próxima seção abordará os procedimentos metodológicos que subsidiam a investigação sobre a produção de conhecimento em “Extensão Universitária e Meio Ambiente”.
2 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
O estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva e exploratória. Com vistas a pesquisa descritiva, justifica-se sua caracterização por descrever as principais características do fenômeno estudado, buscando relações entre as variáveis (HAIR JR. et al., 2008). Enquadra-se como pesquisa exploratória por propiciar o desenvolvimento de conceitos e ideias, buscando formular hipóteses, problemas, além de apresentar uma visão mais ampla sobre o contexto delimitado (Hair Jr. et al., 2008).
Objetivando organizar e integrar as diferentes perspectivas investigadas, o estudo classifica-se como uma revisão sistemática. Na perspectiva de Noronha e Ferreira (2000), a revisão sistemática permite compreender o aporte significativo sobre um tema específico; desse modo, proporciona o reconhecimento e identificação da produção científica, buscando revelar diferentes enfoques e perspectivas.
Para a identificação da produção científica sobre “Extensão Universitária e Meio Ambiente”, realizou-se busca no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), mais especificamente o Portal de Periódicos e o Portal de Teses e Dissertações, com ênfase nos periódicos científicos, dissertações e teses que tratassem sobre o tema delimitado. Convém citar que o estudo concentrou-se somente na produção cientifica nacional. A pesquisa compreendeu o período de 2007 a 2016 e foi realizada em setembro de 2017.
Com relação a produção cientifica sobre “Extensão Universitária e Meio Ambiente” gerada pela pós-graduação brasileira, a pesquisa apurou um total de 139 dissertações e 38 teses. Especificamente sobre os artigos, após a exclusão dos artigos repetidos, foram encontrados 76 artigos na categoria revisado por pares. Logo, com a aplicação das estratégias de busca, foram lidos todos os resumos da produção científica localizada. Destas publicações, foram identificados um total de sete estudos, sendo um estudo em formato de artigo, cinco dissertações e um estudo em formato de tese.
Para a extração dos dados dos artigos, dissertações e teses, elaborou-se as seguintes categorias de análises: ano, autoria, instituição de vínculo do autor, população-alvo e local do estudo, forma de operacionalização e principais resultados. Na próxima seção, apresenta-se de forma descritiva a análise dos estudos encontrados.
3 PRINCIPAIS RESULTADOS
A pesquisa identificou um total de sete estudos, sendo um estudo em formato de artigo, cinco dissertações, e um estudo em formato de tese. Na tabela 1, pode ser observado a síntese do artigo identificado.
O artigo discute a Extensão Universitária e a Racionalidade Ambiental. Busca tecer uma crítica a forma de organização da extensão universitária, que institucionalizou a extensão como um segmento que leva a sociedade o conhecimento produzido na acadêmica. Para os autores, a dinâmica da atividade da extensão universitária conduz, notoriamente, a uma forma cartesiana de se apropriar do conhecimento científico e refutá-lo na sociedade. O artigo compreende que a extensão universitária, feita a partir da racionalidade ambiental, se apresenta a partir do viés da horizontalização da relação social, e, desse modo, a produção do conhecimento se abre para o diálogo e respeito, sem ordem de importância entre os saberes.
Sobre a agenda de pesquisa, os resultados indicaram a publicação de cinco dissertações no período analisado. Na tabela 02, pode ser visualizado o ano, autoria, instituição, programa e título das publicações.
O trabalho “Montanha do Tchizo-Cabinda/Angola: Práticas de Extensão Universitária a partir de um Olhar sobre o Ambiente”, analisou as práticas de extensão universitária junto à comunidade do entorno da Montanha do Tchizo, situada na cidade de Cabinda, na Angola. O objetivo do trabalho foi compreender a integração dos conhecimentos acadêmicos e tradicionais, buscando estratégias para o enfrentamento da problemática ambiental, e sua relação com a saúde da população local. Para facilitar a socialização do conhecimento, a pesquisa direcionou esforços para elaborar um instrumento de divulgação cientifica, em forma de cartilha, que oportunamente seria um mecanismo de comunicação para auxiliar professores da comunidade.
Ao analisar a dissertação “O Desenvolvimento Sustentável nas ações do núcleo de agroecologia da unidade acadêmica de Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco”, observou-se que a ênfase do estudo foi analisar a perspectiva do desenvolvimento sustentável nas ações do Núcleo de Agroecologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco – unidade Garanhuns. A pesquisa caracteriza-se com um estudo de caso, que utilizou entrevistas e análise documental como procedimento de coleta de dados. O projeto analisado caracteriza-se como uma atividade de extensão rural, que busca levar as comunidades contempladas, experiências e práticas de agricultura sustentável. A partir dos levantamentos o estudo apresenta favorecer a melhoria da qualidade de vida dos agricultores, troca de experiências e integração comunidade-universidade.
O trabalho “Extensão Universitária e Associativismo Popular: um estudo a partir da Educação Ambiental Crítica”, concentrou-se em discutir as relações entre as associações populares que norteiam a economia solidária e a extensão universitária realizada pelo Núcleo de Desenvolvimento Social e Econômico – NUDESE, da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Trata-se de um trabalho que foi realizado na região de Rio Grande-RS, com o objetivo de enfatizar a inter-relação entre o núcleo e as associações. Como ferramenta metodológica o autor optou pela entrevista, totalizando seis entrevistados participantes da pesquisa. Os dados indicam que o núcleo em questão, concentra-se seus estudos em torno do desenvolvimento de trabalho e renda, com vistas ao uso sustentável dos recursos naturais.
A publicação intitulada: “Análise da atividade de extensão 'Mergulho Fora d'Água': implicações nas concepções de estudantes do ensino fundamental sobre o ambiente marinho”, teve como objetivo analisar a concepção dos estudantes de ensino fundamental acerca do ambiente marinho. O lócus da pesquisa foi uma escola estadual no município de São Paulo. Para atingir os resultados da pesquisa, foram aplicados questionários junto aos estudantes, antes e após participarem da exposição interativa 'Mergulho Fora d'Água'. O resultado final da pesquisa demonstrou que mesmo após o projeto, o percentual de estudantes que conseguiram estabelecer relações do ambiente marinho com seu cotidiano é relativamente baixo, aumentando em torno de 30%, quando comparado as concepções do antes e após o projeto; desse modo, esses projetos devem ser atividades de aprimoramento contínuo para se conseguir melhores resultados. O estudo aponta que as concepções de meio ambiente são condicionadas as situações na qual os estudantes estão expostos.
A dissertação “Efeitos de diferentes estratégias não formais na sensibilização de adolescentes a conservação da biodiversidade: uma associação entre pesquisa e extensão universitária”. O objetivo do estudo é a formação de estudantes sobre o tema valoração da biodiversidade da Caatinga, de uma escola pública do estado do Rio Grande do Norte. Apresenta a concepção de que a problemática ambiental exige um novo redirecionamento, tanto na produção como na disseminação do conhecimento. Para execução da pesquisa os estudantes organizaram e apresentaram um workshop sobre o tema biodiversidade na Caatinga, além de responderem um questionário que buscava identificar a concepção deles sobre o mesmo tema.
Dando prosseguimento a análise das publicações, apresenta-se na tabela 03, as informações relativas a tese classificada nesse estudo.
A tese intitulada “Avaliação das ações e da efetividade de projetos socioambientais: uma análise do Projeto Mogi-Guaçu”, teve como objetivo avaliar o processo de desenvolvimento e os resultados das ações implementadas pelo projeto socioambiental Mogi-Guaçu – inserido no Programa Petrobrás Ambiental, visando promover ações com ênfase a redução dos impactos ambientais. O projeto analisado foi desenvolvido junto a bacia do Rio Mogi-Guaçu, com a participação de 18 municípios no Estados de Minas Gerais e São Paulo, sendo mais especificamente a região nordeste do Estado de São Paulo e a região sudoeste do Estado de Minas Gerais. Para atingir os objetivos do estudo, realizou-se a coleta de dados com a aplicação de questionários e entrevistas, por amostragem, junto aos envolvidos no projeto, haja vista que o número de participantes foi superior a 20 mil pessoas.
O estudo apontou que para a execução do projeto, foram realizadas oficinas, palestras e workshops com a participação da comunidade local, divididos por núcleos de atuação: Núcleo de Proteção às Nascentes; Núcleo de Saneamento Básico Rural; Núcleo de Agrotóxicos e Agricultura Alternativa; Núcleo de Vegetação; Núcleo de Piscicultura; Núcleo de Turismo; Núcleo de Educação Ambiental. A partir da análise, constatou-se que ocorreu uma forte mobilização e sensibilização dos diversos segmentos da sociedade, com propostas de parcerias públicas e privadas. É importante destacar, também, que o estudo enfatiza que o sucesso do projeto ocorreu devido a grande adesão da comunidade local.
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Com base na análise dos resultados identificados sobre “Extensão Universitária e Meio Ambiente”, pode-se considerar que o volume de publicações sobre o assunto ainda é incipiente. Nota-se que, apenas uma dissertação e uma tese, teve como objetivo analisar e/ou avaliar as ações de extensão universitária desenvolvidas na perspectiva ambiental. A dissertação concentrou-se em analisar as estratégias para o enfrentamento da problemática ambiental; enquanto que a tese concentrou-se em avaliar as ações de um projeto na redução dos impactos ambientais em uma determinada bacia hidrográfica.
Em conformidade com os dados extraídos, entende-se que o artigo apresentou uma revisão com ênfase aos aspectos conceituais e teóricos. As dissertações e a tese, consistem em investigação empíricas, ou seja, sobre as ações desenvolvidas por projetos de extensão específicos. Desse modo, é possível observar que a maior parte da produção científica é configurado como estudo caso, apresentando metodologias flexíveis e detalhada sobre os objetos de análises, representada por questionários e entrevistas.
Destaca-se, que uma dissertação foi orientada na avaliação das atividades de extensão rural, e não enfatizou os resultados na dimensão ambiental. Uma dissertação enfatizou o uso sustentável dos recursos naturais, mas com um olhar mais expressivo sobre os resultados do trabalho e renda para a comunidade estudada. A preocupação, nesse caso, é o isolamento ou sobreposição das dimensões econômicas e sociais, frente a dimensão ambiental; não considerando o aspecto multidimensional da questão ambiental. Outra preocupação é a possibilidade de prevalecer uma percepção subjetiva dos sujeitos sobre o vasto leque de consequências da problemática ambiental.
Os resultados auferidos indicam o predomínio de estudos sobre concepções de estudantes e da comunidade local sobre o meio ambiente, além de desenvolverem atividades como oficinas, palestras e workshops sobre o tema em questão, ênfase apresentada por duas dissertações. Aqui observa-se, que prevalece o olhar sobre as consequências da problemática ambiental, ou mesmo a percepção subjetiva sobre a relação entre homem e meio ambiente.
Moreira (2005), pontua que o desenvolvimento de atividades de extensão deve propiciar a mobilização do conhecimento produzido na universidade a favor da solução de problemas sociais. Essa contextualização aponta um modelo de universidade em que às atividades de extensão possibilitem “refletir sobre as grandes questões da atualidade e, a partir da experiência e dos conhecimentos produzidos e acumulados, construir uma formação compromissada com a realidade da população brasileira” (FORPROEX, 2006, p. 46-47).
Nessa direção, Moreira (2005, p. 10), “considera que seria conveniente que a pesquisa e a extensão, indissociáveis da docência, interrogassem o que se encontra fora do ângulo imediato de visão. Ou seja, o conhecimento produzido e ensinado nas universidades deve ser útil para as demandas sociais”. Em face ao incipiente número de trabalhos identificados, a análise aponta que os estudos sobre extensão universitária ainda atuam no caráter da dimensão formativa, ou mesmo sobre o processo de desenvolvimento e formatação em âmbito nacional, principalmente de diretrizes e normas para seu avanço institucional.
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Apesar da amplitude e limitações de uma revisão sistemática, é importante mencionar sua grande contribuição na construção de teorias e metodologias acerca do objeto de pesquisa. Observa-se, que devido ao baixo número de publicações nacionais sobre “Extensão Universitária e Meio Ambiente”, esse estudo não conseguir mensurar informações sobre periódicos, redes de autoria, instituições, programas mais profícuos e regiões; impossibilitando comparações e cruzamentos entre os resultados.
Tendo em vista a necessidade de desdobramentos e enfoques para o tema “Extensão Universitária e Meio Ambiente”, principalmente para atender as prerrogativas da FORPROEX. Os estudos dessa perspectiva devem ser explorados com mais ênfase, visando subsidiar a necessidade do crescimento científico e abarcando novos canais informacionais, principalmente frente a tendência multi e interdisciplinar que a temática fomenta, de forma a consolidar o estabelecimento de evidências científicas.
Ademais, diante dos achados desta revisão sistemática, recomenda-se uma análise sobre como vem se configurando as ações de extensão universitária desenvolvidas na área temática Meio Ambiente, no sentido da dimensão prática. Nesse aspecto, caberia uma análise sobre as formas de operacionalização dessas ações, o que possibilitará conhecer e comparar os resultados frente as outras áreas temáticas, além de orientar no tocante a formulação de estratégias e direcionamento na relação entre a universidade e a sociedade. Uma vez que as experiências educativas em extensão universitária desenvolvidas na área ambiental, poderá revelar como a universidade dialoga na construção dos saberes ambientais, junto ao seu entorno.
Por fim, nota-se que as condições de representação da informação contida nos documentos influenciam os percursos para a recuperação informacional. Nesse âmbito, pode-se inferir que os poucos resultados identificados nesse estudo, pode ter sido afetado negativamente devido a definição das expressões utilizadas no título, resumo e listas de palavras-chave, que são designadas pelo próprio autor do texto. É interessante notar que o controle semântico dos termos, isto é, os termos vocabulares que abrangem o assunto do artigo e seus principais conceitos, é o que, habitualmente, referem-se como o procedimento para indexação nos mecanismos de busca, e, por conseguinte, o acesso ao conteúdo dos documentos, contribuindo para uma maior visibilidade (GONÇALVES, 2008).
6 REFERÊNCIAS
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*Doutoranda do Programa em Desenvolvimento Regional - Universidade Regional de Blumenau (FURB). Professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail: vaniabilert@hotmail.com