Contribuciones a las Ciencias Sociales
Junio 2012

A INFLUÊNCIA DOS VALORES PROTESTANTES NA POLÍTICA EXTERNA ESTADUNIDENSE



Esther Solano Gallego (CV)
prof.esther.solano@gmail.com
Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande, Brasil
Everlam Elias Montibeler (CV)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil



RESUMEN
El presente artículo pretende mostrar la influencia de los valores protestantes (misión sagrada, excepcionalísimo) en la construcción de la nación estadunidense y la retórica política del George W. Bush. El uso politizado de alegorías y figuras religiosas se enmarca dentro de un contexto de larga tradición histórica, visando comprender la religión como un factor de identidad y cohesión ideológica.

PALABRAS CLAVE: excepcionalismo, política, discurso.




Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Solano Gallego, E. y Montibeler, E.: "A influência dos valores protestantes na política externa estadunidense ", en Contribuciones a las Ciencias Sociales, Junio 2012, www.eumed.net/rev/cccss/20/

INTRODUÇÃO

A expressão de religiosidade na política estadunidense é uma constante, nos mais variados assuntos e pelos mais diversos tipos de figuras políticas, de diferentes ideologias e de diferentes períodos históricos. Durante o governo de George W. Bush se torna evidente a utilização da retórica religiosa no seu discurso político, inúmeras menções a Deus e a um destino especial reservado para os Estados Unidos perante o mundo. Este caráter de excepcionalidade da nação é muito importante para entender a sua política externa. E é interessante notar que determinadas alegorias religiosas utilizadas por Bush e por outros políticos estadunidenses, tem raiz na formação da nação por colonos puritanos vindos da Inglaterra, que viam na América uma nova Canaã, uma terra prometida por Deus. Ao longo dos anos estas influências foram se modificando, foram se tornando seculares. A influência puritana, em sua forma presente, se destaca fundamentalmente na visão de que os Estados Unidos constituem não só mais um pais, senão também um experimento político(o mais bem-sucedido de todos) e que possui o dever de levar esta forma de governo ao máximo à todos os outros povos. Só aí então, estará completa a sua missão.

OS IDEAIS E MITOS PROTESTANTES

Fonseca (2007) se utiliza de uma análise construtivista para explicar “o papel das normas, idéias, valores e identidades de um país como determinante de escolhas em política externa.” Dentro dessa interpretação fica destacada a questão do excepcionalismo, ou seja, “a convicção de que os Estados Unidos da América (EUA) são uma nação excepcional, produto de uma trajetória histórica única, e com um papel no mundo (a que muitos se referem como “missão”) igualmente extraordinário.” (Fonseca, 2007)
Os valores e idéias do excepcionalismo estadunidense podem ser interpretados de diversas formas; interpretações seculares e/ou religiosas, uma vez que, dependendo da fonte, o país é fruto “do liberalismo lockiano, do capitalismo liberal, da democracia republicana ou da providência divina” (FONSECA, 2007).
A vertente secular do excepcionalismo enfatiza, o modelo político construído no país, “por vezes advogando a necessidade de promovê-lo (e reproduzi-lo) mundo afora”(FONSECA,2007). Também é destacado o papel da história, as características do sistema colonial inglês, os princípios presentes na Carta Magna e na declaração de independência e o isolamento continental que permitiu ao país se desenvolver isoladamente das ameaças e influências de outras nações.
O execpcionalismo religioso, por outro lado destaca o papel notável da fé, de valores morais e de mitos fundacionais protestantes na formação de “uma identidade nacional tipicamente norte-americana, sobre a qual se firmará, em seguida, a percepção de um papel especial para os EUA no mundo” (FONSECA, 2007).
Fonseca (2007), debate sobre o papel da religião na interpretação do excepcionalismo e sua influência na formatação da política externa dos Estados Unidos da América, partindo do principio que os valores e os ideais que constroem uma nação, influenciam na sua política externa.
 [...] a contribuição dos primeiros colonos puritanos para a construção de uma identidade nacional norte – americana – e nesse sentido, também para a definição de um comportamento no plano internacional, posto que este comportamento é reflexo de uma percepção de si mesmo. (FONSECA, 2007, p. 151)

Para Fonseca (2007), a religião é determinante essencial, vista que foi “constantemente invocada pelo próprio presidente George W. Bush, cujo fervor religioso é fato amplamente conhecido e divulgado.”

Os puritanos que colonizaram o território estadunidense, viram na “descoberta” de América, um obra divina e abraçaram essa fuga da Inglaterra, como uma  “fuga do caos e da corrupção do velho mundo e uma tentativa de estabelecer a verdadeira ordem [...]em um Novo Mundo”( FONSECA, 2007).
A viagem rumo aos Estados Unidos toma um sentido simbólico, criando-se um pararelo com fuga dos hebreus do Egito (Inglaterra), rumo a “Terra Prometida”(EUA). “Fiel a essa leitura, a sociedade colonial estabelecia-se na dupla convicção de haver sido imbuída de missão divina e de ser detentora da verdade transcendental [...]” (FONSECA, 2007).
“Foi nesse contexto, nas primeiras décadas do século XVII, que um conjunto de mitos religiosos fundacionais surgiu entre os colonos puritanos, com o objetivo de emprestar à audaciosa iniciativa sentido espiritual, oferecendo assim a seus participantes estímulo e conforto” (FONSECA, 2007, p. 157 ).

 SOB ORIENTAÇÃO DE DEUS
Os primeiros colonos tinham certeza de estar agindo sob orientação direta de Deus, essa idéia se fez mais clara ainda por causa da imagem de providência divina, “um dos mais importantes e antigos símbolos a determinar a autocompreensão norte–americana” (FONSECA, 2007, p. 158). Em 1609, uma expedição que foi enviada em auxilio à colônia, naufragou perto do continente. Todos os tripulantes sobreviveram para se juntar aos colonos. Estes acontecimentos, o naufrágio, a sobrevivência da tripulação, a resistência da colônia aos índios, à fome e ao frio constituíam provas claras, de que a proteção divina pairava sobre os colonos puritanos. Evidenciava que Deus “guardava para aquele Novo Mundo um futuro especial, marcado por provações, mas também por vitorias – e ao qual reservava lugar especial em seus desígnios” (FONSECA, 2007, p. 159)

A NATUREZA SELVAGEM E A MISSÃO SAGRADA
Outro mito dos primórdios da colonização diz respeito à missão na natureza (errant into the wilderness), ou seja, ao assombro sentido pelos colonos perante a imensidão  desconhecida, a natureza selvagem (FONSECA, 2007). Pela óptica puritana dos primeiros colonos, a natureza consistia, em um:
[...] vácuo moral, um espaço caótico, amaldiçoado, no qual corpo e alma se perdem. Portanto [os colonos] sentiam, no fundo, que sua labuta cotidiana naquelas regiões selvagens não dizia respeito somente à sobrevivência física, mas a um projeto maior que envolvia seu país, sua raça e seu Deus. Civilizar o Novo Mundo significava iluminar as trevas, ordenar o caos, transformar o mal em bem (NASH, 1967, p. 24 apud FONSECA, 2007, p. 159)

A CIDADE SOBRE O MONTE
Logo após se estabelecerem em solo americano, os puritanos como afirma Nash, (1967, p. 34 apud FONSECA, 2007, p. 160) viam a si mesmos como “[...] dissidentes que desafiavam a selvageria do mundo pra impor-lhe a ordem de Deus”. Devendo transformar a natureza selvagem em civilização, de tal modo que “o resultado da empreitada fosse [...] um tributo à obra de Deus, um modelo de caridade cristã que seria visto por todos” (FONSECA, 2007, p. 160).
Partindo deste principio, John Winthrop, governador de Massachussets, afirmava que era necessário que os colonos fossem justos, piedosos, humildes, permanecerem unidos, como se fossem um único ser. Precisariam abrir mão de coisas supérfluas, lamentarem juntos, trabalharem juntos e sofrerem juntos, para que Deus não condene sua missão ao fracasso e abandone os colonos a sua própria sorte. (WINTHROP, 1997).
Se obtivessem êxito, eles então perceberiam, que Deus os abençoariam, para que eles pudessem ver muita mais de sua bondade, verdade, sabedoria e poder, do que estavam acostumados.
“Nós perceberemos que o Deus de Israel,  esta entre nós, quando dez de nós poderão resistir à mil de nossos inimigos; quando ele fará de nós um elogio e motivo de glória, e os homens poderão dizer sobre plantações de sucesso, “ que o Senhor faça como a de Nova Inglaterra.” Pois deveremos considerar que seremos sobre uma colina. Os olhos de todos estão sobre nós” (WINTHROP, 1997, p. 52).

“A imagem da “cidade na colina” (the city upon a hill) é tema recorrente na teologia pública norte – americana e peça central do conceito de excepcionalismo” (FONSECA, 2007, p. 162) e foi retirada da Bíblia, mas precisamente O Sermão da Montanha (Mateus, 5:14) “ Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte”.
Essa metáfora de uma cidade em cima de um monte, de um lugar especial, remete a pureza espiritual da comunidade criada sobre a base de uma espécie de contrato com Deus, contrato que exigia a dedicação dos homens, como requisito para receber as bênçãos divinas.
Entretanto, na medida em que esse contrato também envolvia um acordo entre os colonizadores, os compromissos assumidos em seu nome diziam respeito não apenas a assuntos da alma, mas também aos da política. A constituição de um organismo político civil, essencial para o sucesso da comunidade, era parte integral – ainda que apenas implícita – do contrato (FONSECA, 2007, p. 162)

Em 1620, a bordo do navio Mayflower, foi firmado um acordo que estabeleceria os princípios a serem seguidos na constituição do primeiro sistema de governo em solo estadunidense. Este acordo ficou conhecido como Mayflower Compact, e nele se definia que a viagem até a América e que a política de administração da colônia era “uma tarefa subordinada primeiramente a Deus e à fé cristã, e apenas subsidiariamente ao poder secular do rei da Inglaterra” (FONSECA, 2007, p. 163)
De acordo com o texto do acordo, o país seria fundado para a glória de Deus, e para a honra do rei (1998) 1.

A TRANSFORMAÇÂO DOS MITOS
No período inicial de colonização, os colonos não enxergavam nas colônias, a possibilidade da criação uma nação. Viam-se como uma união de comunidades e igrejas, um exemplo para a  cristandade. Alguns fatores contribuíram para dar a essas comunidades, um caráter nacional e “a dimensão de uma religião civil que, em sua projeção internacional, seria a um tempo providencialista (abençoada e orientada pela providência divina) e messiânica (salvacionista)” (FONSECA, 2007). Esses fatores, foram a influência do Grande Despertar (Great Awakening), que deus caráter messiânico aos valores da América, a influência do iluminismo e o processo de independência com seus documentos políticos.
O Grande Despertar foi um movimento religioso do começo do século XVIII, que tinha como  um dos principais expoentes, o pregador Jonathan  Edwards. Ele mantinha a idéia de que a América seria o basteão da cultura ocidental e da renovação dos valores cristãos. Essa visão de mundo encontra ecos em fontes não religiosas, “ao reafirmarem, em formas e estilos diferentes, a idéia de que a ‘mão da providência’ guiava o destino do país [...] a percepção de que a América [...] estava fadada a brilhar como nova fonte de ordem e poder (sagrado e secular) [...]” (FONSECA, 2007, p. 167).
De acordo com Fonseca (2007, p. 168) “[...] durante os anos da revolução norte – americana, a idéia de um destino ou papel especial para o país ganhava tons crescentes seculares, graças às influências do Iluminismo e à febrilidade política que dominava um país à beira da revolução.”
Em resumo, ao longo do século XVIII, o que se vê é a consolidação de um “mito norte – americano” baseado em fontes originalmente religiosas, e posteriormente transformado por um secularismo de derivações políticas. Durante esse período, os mitos “fundacionais” puritanos (Providência Divina, Cidade na Colina, Missão na Natureza etc), reaquecidos no frenesi messianico do Great Awakening e “racionalizados” na interrupção do pensamento iluminista, transformar-se-ão paulatinamente, vindo a cosntituir a base de uma teologia pública 9ou religião civil0 nacional.(FONSECA, 2007, p. 169)

A NAÇÂO E A RELIGIÃO CIVIL
Um país é uma “comunidade imaginada” (ANDERSON, 1983, p. 98 apud FONSECA, 2007), um conjunto de ideais, idéias e “eventos idealizados, mitos de origem, histórias heróicas e valores proclamados” (COLES 2002, p. 410 apud FONSECA, 2007). Este conceito pode ser aplicado para qualquer país, no entanto, é extremamente importante para se entender os valores que subjazem ao exercício político norte – americano (FONSECA, 2007).
A falta de unidade étnica e histórica influenciou a formação da identidade estadunidese, posto que o país definiu-se “em termos cívicos e idealísticos” (MONTEN, 2005, p. 125 apud FONSECA, 2007.) Estes idéias políticas e civis foram essenciais para formar a base estrutural dos EUA.
Em 1967, Robert Bellah se utilizou dos conceitos de Gunnar Myrdal (An American dilema) sobre o “credo americano” (MYRDAL 1996, p. 37 apud FONSECA, 2007, para desenvolver a idéia de “religião civil”, este conceito primeiro visto em Rousseau (O contrato social), como “um conjunto institucionalizado de crenças religiosas relativas à nação norte – americana” ( BELLAH, 1998, p. 98 apud FONSECA, 2007). Para Fonseca (2007), seria o “somatório de mitos organizados à maneira de “instrumento discursivo”, que vinculava política e moralidade e, assim fazendo, facilitava o consenso social e oferecia sentido à existência da comunidade.2
De acordo com Huntington (2004 apud FONSECA, 2007, p. 155) o modelo de governo americano tem bases religiosas, explicando assim em parte, a existência de símbolos e metáforas religiosas no discurso político nacional, “nos rituais e nas cerimônias cívicas; e, por outro, a crença de que os americanos são o ‘povo escolhido por Deus’[...]” (FONSECA, 2007).
A religião civil colabora para que os estadunidenses possam unir secularismo político e religiosidade social, juntando Deus e pátria, dando um caráter religioso ao sentimento patriótico, e adicionando nacionalismo às crenças religiosas. Assim obediência ao país se torna obediência a Deus, misturando dois conceitos a ponto de não ser possível distinguir um aspecto do outro. Então, valores morais, econômicos e sociais que são comuns a grande parte dos estadunidenses passam a ter legitimidade religiosa.
Após essa união de valores, ser estabelecida dentro da comunidade, isso começa a definir o comportamento desta, para com outras comunidades ao seu redor.
É nesse sentido que os vários temas associados à religião civil são particularmente úteis para interpretar o entendimento que os norte – americanos têm do papel de seu país no mundo e, em conseqüência, para entender alguns dos princípios de sua política externa (FONSECA, 2007, p. 155)
Assim, pois questões ordinárias passam a ser revestido por este manto sagrado de religiosidade patriótica, isso sendo cabível tanto para questões internas, como para questões externas (COLES 2002, p. 404 apud FONSECA, 2007, p. 155)

Para Fonseca, esses valores unificados, interferem na política externa estadunidense na medida em que, a nação leva em conta não só as questões pragmáticas de primeira ordem, mas também tende a ser influenciada por uma percepção de si própria, sua história e seus ideais arraigados no próprio âmago da mesma.
O conceito de excepcionalismo é o principal determinante da identidade nacional norte – americana tal como expressa em política externa. Nesse sentido, ele pode importar tanto quanto os interesses materiais que porventura conduzam o país a essa ou àquela posição. Ele importa [...] a forma como o país determina seu comportamento internacional (o uso da persuasão em lugar da força, do soft power em lugar de hard power etc.)é definida não apenas em razão dos interesses em jogo, mas também da maneira como o país percebe a si mesmo, seu lugar no mundo, sua “missão” (FONSECA, 2007, p. 156)

O excepcionalismo estadunidense tem por base, questões religiosas que remontam diretamente aos mitos protestantes da época da colonização, como a providência divina (divine providence), da cidade na colina (city upon a hill), do povo escolhido (chosen people) e da missão na natureza selvagem (errand into the wilderness), propagados pelos primeiros puritanos nos EUA (FONSECA, 2007).

A REVOLUÇÃO E A DEMOCRACIA
A transformação dos mitos originais, se utilizando de influências seculares foi uma etapa decisiva na constituição da crença de que os Estados Unidos eram um país, dentro desta questão se encontra “a noção de democracia, que passou a ocupar papel-chave na arquitetura conceitual do excepcionalismo” (FONSECA, 2007, p. 170) que iria tomar o lugar da promoção da fé cristã, que antes fazia parte da agenda dos EUA.
Os direitos democráticos começaram a ser citados em dois importantes documentos políticos, elaborados pelo povo: o “Book of the general lawes and libertyes” (1648), que reduziu parcialmente o poder de magistrados e o Massachussets body of liberties (1641), que listava liberdades e direitos populares a serem protegidos contra o governo (FONSECA 2007).
Por trás de ambos os documentos, surgia a idéia, revolucionária para a época, de que forma apropriada de governo era aquela que, se ordenada pela virtude de Deus, não obstante era organizada segundo a vontade do povo, cujos direitos deveriam ser respeitados. Essa interpretação evoluiria, durante o século XVIII, graças em grande medida ao pensamento iluminista, que dava ênfase à idéia de direitos individuais e privilegiava as fontes seculares de legitimidade política sobre as sagradas (FONSECA, 2007, p. 171)

Mas mesmo com essa configuração, nova e secular, a república continuaria a ser associada com referências religiosas. A democracia ia sendo aos pouco se tornando sagrada para o povo americano. “Em sua nova concepção, o ‘modelo norte – americano’, baseado na promoção da democracia e da liberdade, ver-se-ia como divino ou providencial não mais por ser ordenado diretamente por Deus, mas pelo povo, cujos direitos eram, estes sim, sagrados e universais” (FONSECA, 2007, p. 171).
A Declaração da Independência é base fundamental para essa “teologia” norte-americana. Neste documento os mitos protestantes são reinventados, mas não se baseando mais em um “contrato com Deus”, mas se baseando em princípios considerados universais.
Verdades inspiradas na reverencia a Deus (há quatro referencias diretas a Deus na Declaração) e no respeito ao direito natural, mas também em princípios de humanidade e razão, sobre os quais se construiria um “experimento político” a um tempo nacional e universal, novo e excepcional (FONSECA, 2007, p. 172).

DESTINO MANIFESTO
Após conseguirem a independência e estabelecerem uma democracia baseada em principios universais e liberdade religiosa, os Estados Unidos haviam se tornado a “cidade na colina”, um modelo de progresso, um exemplo para a humanidade, cumprindo assim a vontade dos primeiros colonos.
A partir do momento em que o país passou a se desenvolver e crescer cada vez mais apesar dos revezes, a crença primaria de inspirar as outras nações pelo exemplo deu lugar a visão de uma nação que transformaria o mundo através de sua própria expansão. Transmitir o modelo estadunidense tornou-se o Destino Manifesto do país, conceito esse que foi utilizado primeiramente para justificar a expansão para o oeste, passaria a ser utilizado para justificar “fronteiras cada vez mais distantes, tanto em termos geográficos como, anos mais tarde, ideológicos” (FONSECA, 2007).
O termo “Destino Manifesto” foi citado pela primeira vez por um jornalista chamado John O’Sullivan, em que se utiliza da expressão para defender a anexação do Texas, e ficaria mais conhecido, quando os Estados Unidos reivindicaram o Oregon.
Nas décadas seguintes se estabeleceu um debate, para averiguar a obrigação americana de estender seu modelo democrático para o resto do mundo. Durante a década de 1890, os Estados Unidos entrou em guerra com a Espanha e tomaram controle de Cuba e Porto Rico, logo em seguida adquiriram as Filipinas. Algum tempo depois os Estados Unidos fariam de Cuba em uma espécie de protetorado americano, com a incorporação da Emenda Platt na Constituição cubana. As Filipinas permaneceram território americano até depois da Segunda Guerra Mundial e Porto Rico passou a ser um estado-livre associado no século XX.
O ponto principal sobre o debate, “não era tanto saber se os EUA iriam espalhar seu poder e influência para além de suas fronteiras, pois isso era considerado óbvio, mas sim como isso seria feito” (HENRY, 1979, p. 91 apud FONSECA, 2007, p. 174). De um lado estavam aqueles que defendiam que os EUA deveriam transformar o mundo pelo exemplo e que consideravam a anexação de territórios como uma decisão imprudente e inconstitucional. Enquanto enxergavam que o país deveria transformar o mundo através de intervenções diretas e físicas (FONSECA, 2007).
O Senador Albert Beveridge, defendia a anexação, e em um dos seus discursos proclamou os moldes sobre os quais se sustentariam o futuro império americano: “não podemos recuar de nenhum território onde a providência divina desfraldou nossa bandeira; é nosso esse território para salvar em nome da liberdade e da civilização” (BEVERIDGE, 1898, apud FONSECA, 2007, p. 175).
Do seu ponto de vista, na medida em que os Estados Unidos eram produto da providência divina, qualquer ação empreendida pelo país seria necessariamente agraciada com as bênçãos dos céus. Decorre daí que, caso os Estados Unidos decidissem conquistar territórios em outras partes do mundo, estariam na realidade resgatando-os de seu destino sombrio e abençoando-os com aliberdade e a civilização (FONSECA, 2007, p. 175)

A posição contraria, teve defensores como o democrata William Jennings Bryan, secretário de Woodrow Wilson e três vezes candidato a presidência. Bryan era moderado e defendia “postura mais tradicional com relação ao papel dos Estados Unidos no mundo-embora em nenhum momento duvidando do destino de seu país” (FONSECA, 2007, p. 175) e acreditava que a nação conquistara seu espaço através da ordem interna. Ao aperfeiçoarem-se internamente, os Estados Unidos irão redimir e metamorfosear o mundo. “Ao rejeitar altruisticamente a grandeza imperialista, conquistarão o amor, a admiração e a confiança de outras nações menos avançadas moralmente” (BRYAN, 1987, p. 107 apud FONSECA, 2007, p. 176).

Enquanto alguns republicanos defendiam o que hoje é chamado de hard power, ou seja, o uso da força para impor valores superiores a outros povos e nações. Democratas por sua vez eram favoráveis a influencia através de exemplo e cultura, para povos menos desenvolvidos, o chamado soft power. No entanto ambos eram cientes da importância e do papel único dos Estados Unidos neste processo.

Um sentido de missão, indisfarçavelmente religioso em seu caráter, sempre acompanhou de perto os passos da política externa norte-americana, quer ela se manifeste na boa vontade da ajuda econômica ou na arrogância do uso da força. Incontaveís alocuções presidenciais, ao longo de todo todo o século XX e agora no XXI, refletem esse sentimento. De puritanos como Kelvin Cooligde a católicos como John Kennedy e evangélicos como Jimmy Carter e George W. Bush; de beatos como Edgard Hoover e Dwight Eisenhower a céticos como Franklin Roosevelt e Lyndon Johnson: todos os presidentes norte-americanos desse período fizeram uso, em um momento ou outro, da rationale religiosa para explicar, justificar, legitimar ou simplesmente descrever o papel do país no mundo (FONSECA, 2007, p. 177).

OS VALORES PROTESTANTES E A POLÍTICA EXTERNA DE GEORGE W. BUSH

No seu discurso de posse em 2001, o presidente George W. Bush disse:
“Nós [os norte-americanos] temos lugar cativo em uma longa história [...] a história de um mundo novo que se tornou amigo e libertador do velho [...] que se tornou servidor da liberdade [...], que foi ao mundo para proteger, mas não para possuir, para defender, mas não para conquistar” (BUSH, 2001 apud FONSECA, 2007).
Durante outro discurso, o presidente reiterou o papel dos Estados Unidos no mundo: “Queremos uma nação que sirva a objetivos maiores do que ela mesma. Foi-nos oferecida uma oportunidade única, e não devemos deixar esse momento escapar” (BUSH, 2002 apud FONSECA, 2007).
Para se entender a real influência da religião na política externa dos Estados Unidos durante o governo Bush, deve-se destacar os grupos de influência presentes em seu mandato e analisar a retórica religiosa empregada no discurso de George W. Bush.

THINK TANKS
Para se entender a influência de ideais, valores e costumes de certos grupos na política de facto de certo país, é necessário compreender os grupos que gravitam entorno do poder, e que fazem parte dele. Sejam lobistas, acadêmicos, conglomerados de empresas etc. No caso dos Estados Unidos se faz necessário conceituar um tipo de organização que está entranhada na política americana, os Think Tanks.
Pecequilo define os Think Tanks como “agrupamentos privados que se dedicam a pensar e produzir [...] idéias, separados da administração pública, congregando pensadores das mais diversas origens, em especial intelectuais do mundo acadêmico” (TEIXEIRA, 2007).
Think Tank pode ser traduzido livremente como um tanque de pensamentos, de idéias. Esse é o papel destes grupos, disseminar e na medida de seus interesses, restringir certas idéias, já que a independência ideológicas muitas vezes não existe. Para Teixeira, (2001, p. 46) “é difícil separar a influencia das idéias da dos interesses[...]”. As idéias, os valores estão intrínsecos a pessoa, mesmo que aparentemente algo parece ser simples lógica, poder ser influenciada por algo bem mais complexo já pré-existente a determinado problema, e assim vice-versa.

Neoconservadores
Após a crise mundial nos anos 70, os Estados Unidos passaram por um período de enfraquecimento do seu poder. Durante o governo de Jimmy Carter, o país passou por problemas como, a invasão soviética ao Afeganistão em 1979, a tomada da embaixada americana em Teerã, a queda do Xá do Irã  e  crise econômica interna.
Reagan surgiu, então, para estabelecer a confiança da América nela mesma - com afirmação moral e religiosa, sim, mas sem a fraqueza vista em Carter – seguindo o credo neoconservador. Tratava-se, pois, de afirmar que a América era o “Bem” e seus adversários, o “Mal”, ou no caso da URSS, o “Império do Mal” (Teixeira, 2007, p. 145).
Ao final do mandato de Reagan, em retrospectiva, o que pode ser observado foi o fato de o país estar enfrentando uma séria recessão, com um déficit gigantesco os EUA passou de credor do mundo a um de seus maiores devedores (TEIXEIRA, 2007). Vale ressaltar que o programa econômico de Reagan era sustentado em parte por economistas da Heritage Foundation.  No campo externo, o que se viu foi um recrudescimento da política internacional estadunidense, no que diz respeito ao combate a expansão do comunismo e a União Soviética. Uniu um liberalismo político com um anticomunismo ferrenho (TEIXEIRA, 2007)
No entanto, a eleição de Reagan foi apropriada para os conservadores que se fortaleceram muito nesse período. Houve também uma grande proliferação de Thinks Tanks e outros institutos de caráter conservador, por uma simples necessidade de embasar as decisões governamentais, nas mais diversas questões, sejam internas ou externas (TEIXEIRA, 2007).
Dentre desses institutos conservadores, estariam presentes aqueles que fariam parte do movimento neoconservador (neocon) no futuro, mais precisamente no governo Bush.
Nos anos 80 houve aconteceu a ascensão dos conservadores no espaço político dos Estados Unidos, que eram formados por republicanos tradicionais, novos republicanos, a direita cristã e os neoconservadores. Dentre os grupos que ascenderam na direita, existia o grupo de “neocons”, deste grupo que no futuro terá papel importantíssimo na política americana durante o governo Bush. Dentro do governo Reagan é que obtiveram acesso a poder e aos círculos importantes do pode até chegarem a ocupar cargos importantes dentro do governo, “os neoconservadores passaram a pensar dois temas centrais: a segurança internacional e a política externa dos EUA” (FINGUERUT, 2007).
Neste período eles puderam se organizar em vários Think Tanks importantes em Washington e Nova Iorque. Alguns deles foram o Institute for Educational Affairs e The Project for the New American Century (PNAC); outros já estabelecidos ganharam força,como o American Entepise Intitute (AEI), Hudson Intitute, Claremont Institute, Heritage Foundation e Hoover Institution ( este em Londres).
Durante o governo de George H. W. Bush e de Bill Clinton, os neoconservadores não tiveram um papel tão grande, durante este período eles se focaram em fortalecer seus laços com os conservadores e organizar a rede de Think Tanks. Dentro desta rede os neoconservadores e alguns republicanos importantes debatiam os mais variados assuntos, “propondo, entre outras coisas, uma postura externa mais agressiva, com mais iniciativa, mais gastos militares, mais atenção para os temas da segurança e da defesa e, fundamentalmente, a construção de uma ordem internacional guiada pelos valores dos EUA” (FUIGUERUT, 2007)
Mas afinal o que propõem os neoconservadores? Quais idéias defendem? De acordo com Figuerut (2007)
Os neoconservadores, buscam fundir o poder americano, entendido tanto como econômico, cultural e fundamentalmente militar, com os princípios americanos entendidos a partir do estudo dos pais fundadores e dos federalistas e deste quadro podemos destacar quadro pontos: 1) o caráter pactuante de ser americano, 2) a forte relação histórica entre as instituições republicanas americanas e a fé, 3) o estilo de vida americano guiado – ou não –fortemente influenciado pela religiosidade, e 4) uma visão realista da natureza humana (FIGUERUT, 2007).

Dentro destes objetivos, os neoconservadores “reconhecem uma crise na sociedade americana, uma crise que pertence à modernidade, e se apresentam como capazes de, pela ação, mudar este quadro e tirar os EUA dessa crise” (FIGUERUT, 2007).
Para os neoconservadores o mundo ideal é aquele em que,

[...]a liderança dos Estados Unidos é inquestionável e onde se exerce a diplomacia se possivel, à força se necessario, recorrendo-se a coalizões ad hoc e a ações unilaterais  se preciso for, além de ataques preemptivos e preventivos, para evitar novas ações hostis dos inimigos americanos-sejam Estados ou não (TEIXEIRA, 2007, p. 183).

Foi somente no governo de George W. Bush foi que os neoconservadores de fato conseguiram chegar ao núcleo do poder, mais precisamente após os atentados às Torres Gêmeas. Dentro destes aspectos, “os neoconservadores são aqueles que, especialmente após 11\09\01, ofereceram ao governo uma resposta, um plano de ação (FIGUERUT, 2007)

 O 11 DE SETEMBRO E A DOUTRINA BUSH
Em 11 de setembro de 2001, o grupo terrorista Al-Qaeda, ataca Nova Iorque e Washington, numa série de atentados que mataram mais de 2.500 pessoas (KARMAL, 2007). Para Teixeira, (2007, p. 50) este foi o ponto determinante para definir os contornos da política externa americana nos próximos anos
Considera-se, pois, os atentados ocorridos em 2001 nos EUA o momento critico (critical juncture) que funcionou como elemento catalisador e permitiu o fortalecimento dos neocons na administração de George W. Bush, revitalizando e cristalizando uma maior simbiose entre os think tanks mais conservadores e o governo, em especial na moldagem da nova agenda de Politica Externa, que resultou na guerra ao terror, a partir da Doutrina Bush .

O foco da Doutrina Bush é a expansão da força militar estadunidese, com intuito de promover a democracia e a liberdade. Estabelece a supremacia americana através do uso de ataques preventivos e preventivos, como forma de conter a proliferação de armas de destruição e massa e o terrorismo, e desrespeito pelos instrumentos do Direito Internacional.
Para Teixeira (2007), os atentados terroristas representaram o fim de uma crença na invulnerabilidade dos Estados Unidos da América. O inimigo (que antes era a União Soviética) passa a ser o terror , ou seja um inimigo intangível e ilimitado. Um inimigo sem território, que não se identifica com qualquer Estado e que não pode fazer a frente economicamente aos EUA. Um inimigo muito mais fácil de rotular moralmente, uma batalha entre o “bem” e o “mal”. Segundo Teixeira, essa necessidade de rotular, é uma influência interna, uma forma de se justificar ações de seus interesses com uma forma de “capa ideológica”.
“Assim, devido à longa tradição democrática, os norte-americanos rejeitam até o presente uma política externa baseada puramente nos interesses do Estado, precisando do discurso idealista para exercer seu realismo messiânico, ou melhor, de algum tipo de justificativa subterrânea” (TEIXEIRA, 2007, p.54). Assim, os políticos americanos precisam de justificativas ideológicas, para suas ações externas.
Isso pode ser observado no vocativo do grupo de países formados por Irã, Iraque e Coréia do Norte, o eixo do mal. Termo criado pelo neocon David Frum, do think tank conservador Manhattan Institute, que escrevia discursos para Bush. Termo claramente inspirado nos tempo da Segunda Guerra Mundial, fazendo referencia aos países do Eixo (Alemanha nazista, Itália fascista e Japão imperial), numa tentativa de comparar o horror dos terroristas aos crimes cometidos durante a Segunda Grande Guerra (TEIXEIRA, 2007).
De acordo com Teixeira (2007), o 11 de setembro, foi interpretado como perigo nacional, trazendo à tona a ideologia nacional, a religião civil de que Bellah falava, o sentimento de dever quase religioso para com a nação. (LIPSET, 2000, p. 81, 85, 87, 250 apud TEIXEIRA, 2007, p. 57, 58) explica sobre as atitudes dos estadunidenses neste contexto de fé em seu país e no caráter moralista de suas ações
Os norte-americano são moralistas utópicos, que se esforçam para institucionalizar a virtude, destruir os maus e eliminar instituições e práticas malignas[...] Tendem a considerar os dramas sociais e políticos como obras moralizantes, com batalhas entre Deus e o diabo[...] Os Estados Unidos raramente consideram que estão apenas defendendo seus interesses nacionais. Os conflitos com o estrangeiro invariavelmente entranham uma batalha do Bem contra o Mal [...] Os Estados Unidos não vão se aliar com Satanás. Se as circunstancias os obrigam a cooperar com regimes perversos, então os transformam em agentes da virtude [...] A política moralista e de movimento continuou sendo importante nas ultimas décadas do século XX. Tanto conservadores côo liberais vêem seus adversários internos como defensores de medidas políticas imorais[...] Os norte-americanos, tanto de esquerda como de direita, mostraram uma propensão sectária-causada por seu protestantismo- por iniciar cruzadas [..] os que rejeitam os valores norte-americanos estão no mau caminho, são americanos e seus direitos podem ser renegados.

A primeira intervenção americana durante o governo Bush foi a invasão do Afeganistão. Uma intervenção da OTAN liderada pelos EUA, com o objetivo claro de capturar Osama Bin Laden e outros líderes da Al-Qaeda; destruir a rede terrorista e derrubar o regime talibã que dava abrigo aos terroristas e implantar um regime democrático no país.

Em 2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque sobre o pretexto de que o país estaria desenvolvendo armas de destruição em massa. Durante a elaboração de seus argumentos Bush se utilizou da promoção da democracia e da liberdade como duas das várias razões para se justificar a invasão. Mencionava constantemente o dever de levar liberdade ao povo iraquiano

"Existiam alguns em nosso país que duvidavam que o povo iraquiano queria liberdade, ou eles apenas não conseguiam imaginar que ele iria dar boas-vindas à força de libertação. Estavam errados", avaliou Bush. "Sabemos por quê: O desejo de liberdade não é propriedade de uma cultura, ele é a esperança universal dos seres humanos" (BUSH, 2003).

Em um de seus discursos para uma platéia de iraquianos-americanos Bush reafirmou que "Vocês são a prova viva de que o povo iraquiano ama a liberdade e a prova viva de que o povo iraquiano pode prosperar na democracia" (BUSH, 2003)

PNAC E OS NEOCONS NO PODER

O grupo, Project for the New American Century ( Projeto para o Novo Século Americano) é um exemplo de um think tank que teve significativa influência na política externa norte-americana. Fundado em 1997, este pequeno grupo de orçamento modesto, talvez seja o think tank mais efetivo em se relacionar com a Casa Branca. Alguns membros notáveis deste grupo podem ser citados, como o ex-Secretario de Defesa Donald Rumsfeld (2001-2006), o ex-presidente do Banco Mundial (2005-2007) e ex-subsecretário de Defesa (2001-2005) Paul Wolfowitz e o ex-vice-presidente(2001-2009) Dick Cheney (TEIXEIRA, 2007). Em sua Declaração de Princípios que tem a assinatura destes mesmos três, entre outros, deixam claro a necessidade de os Estados Unidos terem “
[..]a posse de um Exército forte e preparado para enfrentar os desafios presentes e futuros, a manipulação de uma política externa que promova os princípios norte – americanos mundo afora e uma liderança nacional que aceite as responsabilidades globais dos EUA (TEIXEIRA, 2007, p. 200)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho procurou investigar a real influência da religião e de seus valores morais na política externa dos Estados Unidos durante o governo de George W. Bush (2000-2008). De que modo a religião foi um fator diferenciador em determinado ato do presidente ou do grupo político ao seu redor? De que modo a religião interfere na identidade americana e o modo como o país se comporta no necessário internacional.
Procurou-se contextualizar a história dos Estados, desde sua colonização puritana até o fim do governo Bush. Observando a influência do pensamento protestante na fundação das bases nacionais da nação. Desde o principio se acreditava que os colonos puritanos (chamados de peregrinos) eram guiados e protegidos por Deus, em direção ao Novo Mundo, assim como os judeus que fugiram do Egito em direção a terra prometida.
Os peregrinos se viam como um povo destinado a algo maior, com uma missão especial de Deus, de servir como uma experiência nova e que iria influenciar toda a cristandade. Um povo com uma missão, guiados por Deus para se tornar um exemplo e levar este exemplo para outros povos.
Este predicado, de povo especial, com valores superiores, tem o nome de excepcionalismo, que amplamente utilizado na retórica de política internacional. Durante a independência princípios do iluminismo que se espalhavam pela Europa influenciaram estes valores protestantes, dando aspectos seculares a estas características antes religiosas. Os americanos ainda teriam o sentimento de serem especiais, mas não por causa da religião e sim por valores  políticos como democracia e liberdade individual.  Os Estados Unidos se tornaria exemplo não só para as nações cristãs, mas para todos os povos que aspirassem valores superiores na esfera política.
No século XIV começava-se a utilizar estas premissas para justificar a expansão americana rumo ao oeste e no século na América Central e no Pacífico. Durante os anos posteriores estes valores americanos seriam utilizados na retórica política como justificativa para intervenções militares e no recrudescimento de políticas  para determinados países.
Estudou-se a influência dos neoconservadores na política externa de Bush, este grupo político que prioriza a manutenção da hegemonia americana como um meio de manter a paz no mundo. Utilizando-se de diplomacia quando puder, e se utilizando de intervenções se for preciso. Importante constatação é a de que este grupo político não expressa abertamente em sua ideologia, a religião. Na verdade se utiliza dos valores tradicionais estadunidenses como democracia e liberdade como uma forma de justificar perante o mundo suas ações políticas.
Constatou-se neste trabalho a dificuldade em se quantificar a interferência direta das crenças dos lideres americanos na política externa de Bush, posto que somente sejam utilizadas em sua retórica. Os valores religiosos se tornam mais uma, entre tantas ou justificativas para ações governamentais. É característico dos Estados Unidos, necessitarem de explicações ideológicas para embasar ações muitas vezes de cunho prático. Não é tradição americana praticar a realpolitik por si só.

BIBLIOGRAFIA

FINGUERUT, A. A Influência do Pensamento Neoconservador na Política Externa de George W. Bush.
FONSECA, C. Deus está do Nosso Lado: Excepcionalismo e Religião nos EUA.
FREITAS, R.S de. A Sociologia da Religião como Recapitulação da Teologia Cristã.
OLIVEIRA, Nelson do Vale. Religião e Estado. Críticas da Teoria Pura à Sociologia Compreensiva
KARNAL, L. et al. (Ed) História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI.
NYE, Joseph S. Paradoxo do Poder Americano
TEIXEIRA, Tatiana. Os Think Tanks e a sua Influência na Política Externa dos EUA: arte de pensar o impensável.


1  http://www2.hn.psu.edu/faculty/jmanis/poldocs/compact.pdf

2 http://www.robertbellah.com/articles_5.htm