Karoline Batista Gonçalves
estiloartesc@hotmail.com
RESUMO
As primeiras trajetórias migratórias de brasileiros para o Paraguai iniciaram-se por volta de 1960, onde atraídos pela possibilidade de conquistarem terras e uma ascensão financeira milhares de brasileiros migram ao país vizinho, entretanto muitos ao chegarem lá encontraram uma realidade oposta e não conseguindo adaptar-se em um novo território a única opção que lhe restou foi retornar para o seu país. E é a partir desse retorno que surge um sujeito da migração denominado Brasiguaio que passou a ter um papel fundamental na reconstrução de identidades sociais e no reordenamento territorial na fronteira entre ambos os países. O Brasiguaio não é simplesmente aquele que migrou para o Paraguai, como muitos brasileiros fizeram, mas ele é aquele migrante que retornou a sua terra de origem e teve que passar por um processo de reterritorialização, ou seja, o mesmo teve que construir uma nova vida em terras brasileiras, entretanto passando por grandes desafios advindos da escolha de retornar, pois ao retornar esse migrante já não será nem brasileiro, nem paraguaio, ele será Brasiguaio.
Palavras-Chave: Território, Migração e Brasiguaios.
ABSTRACT
The first migratory trajectories of Brazilians to Paraguay began around 1960, where he attracted by the possibility of winning a rising financial and land thousands of Brazilians flock to the neighboring country, though many on their arriving there they found an opposite reality and unable to adapting a new territory the only option that remained was to return to their country. And it is from this return that there comes a subject of migration that called Brasiguaios now has a key role in the reconstruction of social identities and territorial reorganization at the border between both countries. The Brasiguaios is not simply one who migrated to Paraguay, as many Brazilians have done, but is that migrants who returned to his homeland and had to go through a process of repossession, or it had to build a new life in Brazilian lands, however going through major challenges arising from the choice of return because the return that migrants will no longer be neither Brazilian nor Paraguayan, it will Brasiguaios.
Keyword: Territory, Migration and Brasiguaios.
A ciência geográfica conta com diversas categorias dentre elas podemos destacar o território, que com a modernidade tem sido objeto de intensa discussão por parte de historiadores, geógrafos e cientistas sociais. Na tentativa de enfatizar as recentes abordagens feitas em relação ao conceito de território e pontuar a formação de novas territorialidades, apresentar-se-á um paralelo das principais discussões feitas sobre o mesmo, correlacionando-o com as trajetórias migratórias dos Brasiguaios, que com o intuito de conseguirem terras e ascensão financeira migraram ao país vizinho e não conseguindo o que era esperado retornaram ao Brasil. Historicamente, o território tem sido pensado, definido e delimitado a partir das relações de poder. De acordo com Raffestin (1993) o território é um espaço onde se projetou um trabalho, mas não qualquer tipo de trabalho, e sim um trabalho que está marcado pelas relações de poder, pois o território se apóia no espaço, mas não é o espaço, é uma produção a partir do espaço. De forma a complementar Lefebvre (1969) dialoga com a ideia de que é a partir do espaço que a sociedade se reproduz. Deste modo o que tem de essencial nessas análises é a compreensão de que o território é composto por ação e poder que se manifestam por pessoas ou grupos. Assim, o território é um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder, e esse poder não se restringe ao Estado e não se confunde com violência e dominação, mas de acordo com Souza (2007) o conceito de território deve abarcar mais que o território do Estado Nação, ou seja, as relações que são estabelecidas dentro do mesmo . Já Haesbaert (2004) afirma que o território não é simplesmente um espaço geográfico, mas uma referência identitária de sujeitos seja no aspecto econômico, político e social, pois o mesmo pode ser visto como resultado da cópula entre as relações sociais e o controle pelo espaço, pelo fato de possuir relações de poder que podem ser consideradas tanto concretas através da dominação, como de uma forma mais simbólica através de um tipo de apropriação. Para Santos (1998) o território não é apenas um conjunto de sistemas de coisas superpostas, mas o território tem que ser entendido como o território usado. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer aquilo que nos pertence. Dessa maneira, utilizaremos essa definição para discutir o drama dos Brasiguaios na fronteira Brasil-Paraguai, salientando como esses migrantes ao retornarem ao Brasil se reterritorializaram em terras brasileiras construindo assim, uma nova identidade fruto da dinâmica da migração de brasileiros para o Paraguai.
AS PRIMEIRAS TRAJETÓRIAS MIGRATÓRIA DE BRASILEIROS PARA O PARAGUAI
Incipiente, por volta de 1954 iniciava-se um novo governo no Paraguai, ocupado pelo general Alfredo Stroessner , fato esse que coincidiu com a migração dos primeiros brasileiros para as terras paraguaias, cuja maioria dos mesmos era pequenos agricultores, oriundos de todos os cantos do país.
Após assumir o governo o general Alfredo Stroessner teve como prioridade conseguir o apoio do Partido Colorado, que juntamente com as Forças Armadas lhe proporcionaram sustentação política. De acordo com Wagner (1990) após ajeitar a casa o general Stroessner como era conhecido, começou a colocar em prática um plano de modernização econômico denominado "Plano de Crescimento para Fora", que visava aumentar a presença paraguaia no mercado externo, exportando o que até ali o Paraguai produzia como a pecuária, a erva-mate e o algodão.
O forte da economia paraguaia sempre foi a agricultura, e para colocar em prática seus planos para a economia o governo Stroessner escolheu o Alto do Paraná para receber os primeiros investimentos a fim de desenvolver a agricultura, isso pelo fato da região ser próxima ao porto marítimo do Paraná, implementando assim em 1960 no Paraguai a Marcha em Direção ao Leste:
O Projeto Nacional de Marcha para o Leste, por meio de acordos políticos e econômicos, criou as condições materiais para a expansão da fronteira agrícola capitalista no Leste do Paraguai. Com efeito, a república do Paraguai, a partir da segunda metade do século XX, foi transferindo-se do raio de ação argentino para a órbita de influência geoeconômica e cultural do Brasil. BÁRBARA (2005, p.335).
Percebe-se que a Marcha em direção ao Leste visava ocupar a fronteira leste do país com camponeses paraguaios. Entretanto, paralelamente a marcha em 1963, o general Stroessner modificou o Estatuto Agrário de 1940 permitindo a partir de então a venda de terras a estrangeiros, fato esse que segundo Riquelme (2005) abriu o caminho para a venda de terras fértil do país a brasileiros e corporações transnacionais.
Os primeiros brasileiros a chegarem ao Paraguai em concordância com Wagner (1990) foram os moradores das regiões Norte e Nordeste do Brasil, devido fato de serem desprovidos de posse, e naquele momento os paraguaios necessitavam de mão-de-obra para derrubarem as matas e prepararem a terra:
No Paraguai, esses agricultores desmataram áreas imensas de selva, limparam os terrenos, construíram suas casas, tiveram seus filhos e produziram, durante anos e anos de arrendamento, sucessivas lavouras de café, algodão e hortelã, entre outros produtos comerciais, que algumas vezes eram vendidos nas cidades brasileiras fronteiriças. O contato com a população paraguaia dependia da localização dos imóveis. Poderia ser inexistente, para aqueles que trabalhavam na fronteira seca, ou intensa, com a escolarização dos filhos de brasileiros em escolas paraguaias. Muitas dessas crianças já nasceram no Paraguai, mas eram registrados também em cartórios dos Estados do Paraná ou de Mato Grosso do Sul, como se fossem brasileiros. SPRANDEL (1998, p. 115).
Entretanto, no final da década de 60 o governo Stroessner alterou sua política para o Alto do Paraná, pois naquela época as maiores partes das terras já estavam desmatadas e adquiriu grande valor, de acordo com Wagner (1990) o esquema publicitário montado para atrair os agricultores do Norte e Nordeste foi desativado, e o principal objetivo passou a ser atrair para o Paraguai os camponeses que viviam no sul do Brasil, ou seja, pessoas dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul utilizando a seguinte propaganda "com a venda de um hectare no Brasil é possível comprar mais de cinco lá no Paraguai".
Com a migração dos sulistas brasileiros para o Paraguai os migrantes oriundos do Norte e Nordeste que haviam chegado ao país no início da década de 60 começaram a ser deslocados para as cidades de La Paloma e Salto del Guaíra, ambas fronteiriças com o Mato Grosso do Sul, onde muitos optaram por retornar ao Brasil.
Em comunhão com Wagner (1990), diariamente dezenas de famílias do sul do Brasil transitavam pela aduana paraguaia de Foz do Iguaçu desse modo centenas de máquinas, animais e homens chegavam ao Paraguai, sendo que esses migrantes além de alguns bens carregavam consigo o desejo de obter riqueza e sucesso no país vizinho.
Mas com o passar do tempo a situação dos migrantes brasileiros no Paraguai se tornou um pesadelo, devido fato de que as primeiras dificuldades começaram a surgir, pois ao migrarem para o Paraguai os mesmos possuíam um pequeno capital e se preocupavam em adquirir os documentos de legalização do visto paraguaio o que tornou um povoamento muito difícil. Diante dessa situação, no início da década de 70, com a ajuda de padres e pastores os migrantes brasileiros começaram a ver a dimensão do problema que haviam entrado, na medida em que alguns começaram a plantar a soja e algodão sem cobertura de um seguro agrícola por parte do governo Stroessner, e ao colherem o seu plantio, os preços desabavam e o prejuízo se tornou incalculável. Foi a partir de então que milhares de colonos resolveram retornar ao Brasil, deixando para trás todo o investimento que haviam feito. Com o retorno dos migrantes brasileiros, surge um novo sujeito da migração Brasil-Paraguai:
O mesmo sonho que há mais de duas décadas vem levando milhares de camponeses brasileiros a colonizarem o Paraguai os está trazendo de volta: a chance de conseguir um pedaço de terra para alimentar sua família. Agora eles são conhecidos como Brasiguaios. E as trilhas de volta à casa que construíram estão crivadas de sofrimento. Muitos colonos desapareceram misteriosamente. Religiosos que trabalharam junto aos Brasiguaios, nos dois países são perseguidos. Tudo isso aconteceu frente a um silêncio dos responsáveis pela política externa do Brasil e do Paraguai. WAGNER (1990, p. 23).
Percebe-se então que os migrantes brasileiros que retornaram do Paraguai passaram a ser denominados como Brasiguaios, e esse retorno não ocorre de maneira tranquila, devido fato de que esse migrante trazia consigo uma nova identidade, que não era mais nem brasileira, nem paraguaia e sim de migrante Brasiguaio.
O RETORNO E A CRIAÇÃO DE UMA “NOVA” IDENTIDADE: SER BRASIGUAIO
O processo de retorno do migrante brasileiro iniciou-se não apenas por problemas financeiros, mas outros fatores de ordem social e política contribuíram para que os mesmos decidissem retornar. O migrante Brasiguaio ao migrar tinha como objetivo principal adquirir terras para que através dela o mesmo pudesse reconstruir sua identidade cultural, entretanto ao chegar ao Paraguai esse migrante depara-se com diversas dificuldades, que de acordo com Sprandel (1998) eram: a necessidade e o preço da documentação de migrantes, problemas na produção e comercialização de produtos agrícolas, irregularidades no mercado de terras e a atuação das autoridades paraguaias entre os migrantes brasileiros.
Entretanto, para se compreender como o migrante Brasiguaio passou por esse processo de reterritorialização faz-se necessário conceituarmos a territorialidade que é um conjunto de relações que coletivamente ou individualmente se estabelecem espacialmente:
A territorialidade nossos laços com o território, numa concepção bastante aberta “pode ser definida como o conjunto de relações que desenvolve uma coletividade – e, portanto um indivíduo que a ela pertence – com a exterioridade e/ ou a alteridade por meio de mediadores ou instrumentos”. HAESBAERT (2007, p.23).
Pensar a territorialidade é uma tentativa de análise geográfica sobre as identidades culturais, pois a mesma tem uma mistura de elementos culturais, econômico e político, além disso, busca construir uma hegemonia geral sobre uma base territorial. Desse modo, um sujeito em seu território perde sua territorialidade a partir do momento em que adota outras práticas sociais, que tenta destruir sua territorialidade, entretanto, nunca destrói por completo pelo fato de que a mesma possui elementos de resistência, ou seja, sempre o sujeito em algum momento recordará dos costumes e práticas do seu território nacional.
O migrante constrói sua territorialidade em função de um choque entre funções e matérias do passado e do presente. Porém, o mesmo apenas percebe que a história mobilizada dele é apenas de si mesmo quando a imagem deixada não é mais a encontrada, ocorrendo assim um estranhamento por conta do confronto de identidades, e o mesmo percebe que não é mais visto como gente da terra.
Assim o que ocorreu com o migrante Brasiguaio é que o mesmo ao retornar para o Brasil teve que passar por um processo de reterritorialização, ou seja, o mesmo teve que construir seu novo território e uma nova identidade, a identidade Brasiguaio que de acordo com Bárbara (2005) é uma identidade composta por duas nacionalidades, que revela a condição de ambivalência de um indivíduo que pode transitar por dois territórios nacionais. A reterritorialização é um movimento de (re) construção, (re) significância de valores, costumes e culturas. Haesbaert (2004) estabelece que “a vida é um constante movimento de desterritorialização e reterritorialização, ou seja, estamos sempre passando de um território para o outro, abandonando territórios e fundando novos.
Isso posto o retorno do migrante Brasiguaio não é tranqüila, assim como a migração pode ser para o mesmo país, mas nunca para o mesmo lugar, devido fato de que nunca se encontrará o lugar deixado. O retorno é a parte da constituição da migração é sempre uma perspectiva de voltar no horizonte. Além disso, o mesmo não é mais para o lugar deixado, mas para um lugar em movimento, na qual não apenas o lugar foi modificado, mas também o sujeito migrante já não é mais o mesmo, esses fatores justificam as dificuldades e desafios que os Brasiguaios enfrentaram tanto ao saírem do Paraguai, como ao retornarem para o Brasil.
Os depoimentos abaixo são de brasileiros que muito novos migraram para o Paraguai acompanhando seus pais e não obtendo as perspectivas esperadas retornaram e hoje vivem no Assentamento da Fazenda Itamaraty próximo ao município de Ponta Porã/ MS, ao serem questionadas sobre o que é ser Brasiguaio:
“Eu ouvi falar de Brasiguaio pela primeira vez foi numa missa que o Pe. Antenor fez e disse que Brasiguaio não existia aqui no Brasil, que Brasiguaio eram aqueles filhos de brasileiros que nasceram no Paraguai”.
“Há 20 anos no acampamento Amambay começaram a chegar os Brasiguaios. O povo de lá via os Brasiguaios como bichos, e um dia eu ouvi uma criança falando o seguinte: Mãe olha lá os Brasiguaios eles são gente! O povo enxergava os Brasiguaios com medo”.
“Brasiguaios eu penso que é quem foi para o Paraguai e depois voltaram para o Brasil. Essas pessoas é que são os Brasiguaios”.
“Muitos me chamaram para retornar com os Brasiguaios e muitos das colônias brasileiras que tinham no Paraguai foram para o movimento e para os assentamentos, porque nesse período o frio acabou com as plantações de café”.
É perceptível que os Brasiguaios ao retornarem para o Brasil foram recebidos com muito preconceito por parte dos brasileiros, pois ao ativarem a identidade de Brasiguaios, ocorre aquilo que Bárbara (2005) denominou de jogo de aceitação e rejeição que tem ocorrido em situações e por grupos que vão de um extremo ao outro da hierarquia social existente entre os migrantes brasileiros.
Há que só observar que para o migrante Brasiguaio admitir que não alcançou o que era esperado do Paraguai, ou até alguns casos foi alcançado, mas foi obstacularizado por problemas burocráticos ou climáticos, não alcançando as perspectivas almejadas, retornar ao Brasil sem ter aquilo que era esperado torna-se um desafio muito grande e ao mesmo tempo ele não tem outra escolha.
Em algumas situações o Brasiguaio é visto como um sinônimo de apátrida, ou seja, um sujeito que não tem território nacional de referência ou de pertencimento. Bárbara (2005) afirma que o mesmo seria uma “identidade-obstáculo, ou seja, eximiria o governo brasileiro de se interessar em facilitar a legalização de sua documentação ou pressionaria o governo Paraguaio para viabilizar a legalização dos migrantes que assim desejarem”. É importante salientar que existe uma diferença muito clara entre Brasiguaios e brasileiros residentes no Paraguai:
Tal vulgarização do uso de “Brasiguaios” para referir-se a todos os brasileiros residentes no Paraguai é um equívoco metodológico (e também político). Não podemos nos esquecer nunca que a expressão “Brasiguaios” surgiu como auto-atribuição, exatamente para diferenciar os camponeses que retornaram em 1985 dos demais setores do movimento social que lutaram também por terra no Brasil, e para se distinguir do restante da população de brasileiros no Paraguai. Os chamados “Brasiguaios” ao utilizarem uma identidade étnica como bandeira de luta souberam reinvidicar um tratamento especial dos órgãos fundiários brasileiros. SPRANDEL (1998, p. 122).
Percebe-se assim que existe uma diferença entre o Brasiguaio e o migrante brasileiro em terras paraguaias. No Brasil, os Brasiguaios, ao servir-se de uma identidade étnica como bandeira de luta, conseguiram um tratamento especial dos órgãos fundiários brasileiros. Estes se diferenciaram dos demais camponeses na luta pela terra, reafirmando sua condição de expatriados, com direitos plenos de cidadania.
Dessa forma à medida que os agentes sociais ou instituições de ambos os países, Brasil e Paraguai, mudam suas estratégias políticas, a figura do Brasiguaio conhece sucessivos arranjos, pois o mesmo é uma opção pela migração que se tornou uma consequência do retorno, sendo resultado do confronto entre perspectivas opostos de manipulações de valores e interesses além de levar consigo ambiguidades e significados, que só o mesmo pode encontrar respostas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dessa rápida relação entre território, identidade e migração de brasileiros para o Paraguai, percebe-se que essa trajetória migratória originou uma nova identidade, ou seja, a figura do Brasiguaio, que ao migrar para o Paraguai deparou-se com uma realidade totalmente adversa aquela que o mesmo estava acostumado a conviver, até porque o mesmo migrou levando consigo um sonho que foi substituído pela decepção de não alcançar aquilo que foi projetado, quando ele decidiu migrar ao país vizinho. A construção da idéia de migrar para o Paraguai em busca de terras e proporcionar uma vida melhor para suas famílias foi à opção feita por muitos brasileiros que não viam em seu território perspectivas para mudanças em suas vidas. Muitos almejavam poder produzir em sua própria terra, o que em sua maioria não foi possível alcançar. Mas o sonho acabou para muitos a partir do momento em que tiveram que retornar porque as dificuldades e desafios se tornaram maiores, devido fato de que ao retornarem para o Brasil os mesmos teriam que construir uma nova vida e muitos estavam totalmente desprovidos de condições financeiras o que dificultou ainda mais o retorno. Desse modo muitos Brasiguaio ao retornarem passaram por um processo de reterritorialização, ou seja, o mesmo teve que construir uma nova vida em terras brasileiras, entretanto passando por grandes desafios advindos da escolha de retornar, pois ao retornar esse migrante já não será nem brasileiro, nem paraguaio, ele será Brasiguaio e a recepção feita a esses migrantes é marcada por um sentimento de diferença e alteridade, o que nos permite afirmar que as trilhas de volta são marcadas de dor e sofrimento.
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