César Augusto Soares da Costa (*)
csc193@hotmail.com
Para Habermas, a idéia formulada sobre o “agir racional com respeito a fins” compreende a duas formas de racionalização incidentes no mundo moderno e capitalista, a saber: um é decorrente a das mudanças procedidas “de baixo pra cima” na esfera da produção e circulação de mercadorias, a outra, corresponde a modificações ocorridas de “cima para baixo”, a qual legitima a dominação mediante a ideologia justificada pela técnica da ciência moderna. A repercussão dessas formas de racionalização no mundo moderno aparece nos mecanismos institucionais criados pelo Estado, os quais contribuem para “burocratizar” e para a “despolitizar” a vida social. Segundo Habermas de que forma o agir comunicativo como um agir-com-respeito-a-fins pode reverter o quadro de institucionalização do mundo da vida? Apartir dessa premissa fundamental procuramos neste breve ensaio, assinalar alguns pontos fulcrais do pensamento do autor alemão.
Para Habermas, na sociedade capitalista do mundo moderno as relações são
impessoais e mediadas pelo contrato, pelo trabalho. Nesta sociedade, os homens
devem agir orientados conforme determinados fins, e o trabalho é uma maneira
para se atingir esses fins, que na sociedade capitalista é a produção e o lucro.
Isto gera segundo Habermas, uma racionalidade que irá determinar as relações
econômicas e sociais, e estabelecer uma dominação burocrática, que justificará
determinados usos e um modo de perceber a sociedade. Então as sociedades
envolvidas neste processo sofrerão um processo de racionalização que irá
submeter os diversos setores sociais a padrões de decisões racionais, criando
assim, um quadro de institucionalização do mundo da vida, onde a subjetividade e
os valores seguirão escolhas e alternativas, orientadas por uma repressão
objetivamente supérflua.
No entender de Habermas, a mudança desse quadro será possível por meio da interação. O Agir comunicativo proposto por Habermas, é uma interação mediatizada simbolicamente, regidas por normas que definem expectativas de comportamento recíproco e que necessitam ser compreendidas por pelo menos dois sujeitos. Entretanto, as normas são regidas por sanções que se objetivam pela comunicação e mediadas pela intersubjetividade das intenções dos sujeitos em reconhecê-las. Pois a violação destas regras amplia várias conseqüências na vida das pessoas. Sendo assim, as regras apreendidas com respeito a fins nos equipam com disciplina das habilidades, normas interiores que permitem resolver problemas e agir conforme as normas. O quadro institucional da sociedade consiste de normas que guiam as interações verbalmente mediatizadas, mas existem subsistemas como o Estado onde são institucionalizadas ações racionais com respeito a fins. Do mesmo modo, percebemos outros subsistemas como família que estão ligadas a tarefas e habilidades, mas que repousam sobre as regras normais de interação. Pois as ações no modo institucional são dirigidas e impostas ao comportamento, sendo que nos subsistemas do agir racional com respeito a fins, se moldam ao esquema “instrumental e estratégico”. Contudo, é pela institucionalização que pode ter garantia de que seguirão regras técnicas buscando estratégias satisfatórias.
Assim, esta forma de “despolitizar” os sujeitos, impondo questões de ordem técnica faz com que os sujeitos percam suas funções, ao passo que o quadro institucional da sociedade continua oposto do agir racional com respeito a fins, porque para o Estado as questões práticas são suprimidas, representando interesses privados. Visto que o agir comunicativo coloca os indivíduos no mesmo patamar, sendo os agentes que constituem seus interesses, sua própria forma de operar.
Os movimentos sociais, segundo Habermas, se configuram como interlocutores da interação, porque eles se constituem uma forma reivindicatória de suas idéias. Logo, é pela interação que os movimentos ganham força por estarem de uma forma fora do sistema do agir racional onde a razão técnica é preponderante. Apartir daí é pela linguagem que os movimentos adquirem uma personalidade capaz de estabelecer ainda dentro dos subsistemas um corpo próprio e autônomo. Mas à medida que os movimentos, ou seja, a interação se legitima, o esquema se molda ao agir comunicativo e instrumental ganhando novas técnicas que os institucionalizam. Sendo assim, a interação corta, cinde a razão formal colocando os interesses de seus sujeitos num mesmo nível. No caso dos movimentos sociais, a razão técnica opera bloqueando os sujeitos se configurando aos sistemas.
Respaldado pelas relações sociais, é possível subverter a ação racional-com-respeito-a-fins institucionalizado, onde o agir comunicativo Habermasiano, se caracteriza também como um espaço e oportunidade para a discussão das diferenças e existindo reciprocidade de buscarmos um entendimento em relação às várias questões do mundo da vida, que interferem na forma de despolitizar os sujeitos e somente impõe problemas de ordem técnica!
Referências bibliográficas
HABERMAS, J. Técnica e ciência enquanto “ideologia”. In: BENJAMIN, W, HORKHEIMER, M, HABERMAS, J. Textos Escolhidos. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 313-43.
* Sociólogo, Educador e Professor. Mestre em Ciências Humanas/PUCRS
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