César Augusto Costa
csc193@hotmail.com
O tema da esperança é constante na obra do filósofo francês Gabriel Marcel
(1889-1973). De certa forma, podemos afirmar que a filosofia da existência em
geral, e a de Marcel, procura relacionar pensamento e vida. Mas em linhas gerais,
o que entendemos por esperança? De modo breve, podemos assinalar que para
Gabriel Marcel é a luz que penetra nas trevas de nossa existência,
preservando-nos do desespero, sem saber para onde nos conduz. Pois o filósofo
não parte de uma definição ou de um princípio-esperança para decompô-lo passo a
passo. Marcel parte da experiência concreta do “eu espero” constituindo um
elemento estrutural do ser humano na história. Talvez por isso, a esperança seja
um dos temas mais estudados, na filosofia e cultura contemporânea. Partindo
destas considerações, nos questionamos: não seria irracional a confiança no
futuro? Como esperar viver quando se está condenado à morte? Qual seriam os
fundamentos da esperança?
Para Marcel, a esperança funda-se no invisível. Passando de um “eu espero que” para um “eu espero” absoluto, ou “eu espero em”. No fundo de todo ato de esperar, há uma espécie de apelo, uma resposta do ser ao infinito.
Sob certo aspecto, esperar é um dar, onde a fé e esperança estão ligadas entre si. A fé num tu absoluto faz com que eu considere o desespero uma traição. Sendo que esperar é permanecer fiel, no meio das trevas, pois a esperança pressupõe dar um crédito à realidade, à sua força criadora. A plenitude da esperança somente acontece no intercâmbio espiritual, ou seja, na participação do amor. Esta participação supõe na ordem fraterna do nós, e não do eu isolado. Na visão de Marcel, um ser sem amor, não pode ter esperança.
Em resumo, amor e esperança fazem juntos o homem superar a tentação de isolamento salvando-o de um esvaziamento empírico. A metafísica consiste em exorcizar o desespero! Assim pode-se concluir com Marcel que as condições de possibilidade da esperança coincidem com as do desespero. A morte como trampolim de uma esperança absoluta. Num mundo sem morte, a esperança só existiria em estado embrionário.
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