César Augusto Soares da Costa (*)
csc193@hotmail.com
Resumo: O objetivo deste ensaio é apresentar algumas considerações acerca da
importância da Antropologia da Saúde, no que se refere aos seus principais
postulados. Sendo assim, saúde, enquanto fenômeno humano global, é também objeto
da Antropologia, considerando esta sob dois pontos de vista fundamentais: como
reflexão filosófica sobre a peculiaridade da natureza humana, que considera o
Homem como o ser que, na unidade da sua corporeidade animada, existe no mundo
historicamente, concretamente, olhando assim o Homem doente e os problemas
existenciais conexos com as vicissitudes da saúde; como projeto de aplicar o
conhecimento do Homem enquanto ser cultural – ou que cria a cultura para
responder aos desafios do ambiente e é por ela modelado – à saúde e à doença na
vida humana, assim como às instituições sanitárias criadas por cada cultura
especÃfica. Assim, da década de 90 até os dias atuais surgiu uma nova
preocupação na Academia em estudar a saúde considerando o homem, seus
relacionamentos sócio-culturais, sua maneira de lidar com o mundo e consigo
próprio, com sua psiquê e comportamento em seu meio.
Palavras-chave: Antropologia, saúde, doença.
Abstract: The purpose of this essay is to present some considerations about the importance of the Anthropology of Health, in relation to its main postulates. Thus, health as human global phenomenon, is also object of anthropology, considering that in two fundamental points of view: as a philosophical reflection on the peculiarity of human nature, which considers the human being as that in the unity of its animated corporality there in the world historically, specifically looking at the human patient and the existential problems related to the vicissitudes of health, as a project to apply the knowledge of the human being as a cultural - or establishing a culture to meet the challenges of the environment and is therefore it shaped - to health and disease in human life and to health institutions created by each culture. Thus, of the 90s until the present day came a new concern in the academy to study the health considering the men, their socio-cultural relationships, their way of dealing with the world and with itself, with his psyche and behavior in their environment.
Keywords: anthropology, health, disease.
O objetivo deste ensaio é apresentar algumas considerações acerca da importância da Antropologia da Saúde, no que se refere aos seus principais postulados. Sendo assim, saúde, enquanto fenômeno humano global, é também objeto da Antropologia, considerando esta sob dois pontos de vista fundamentais: o primeiro, como uma reflexão filosófica sobre a peculiaridade da natureza humana, que considera o Homem como o ser que, na unidade da sua corporeidade animada, existe no mundo historicamente; o segundo como projeto de aplicar o conhecimento do Homem enquanto ser cultural – ou que cria a cultura para responder aos desafios do ambiente e é por ela modelado – à saúde e à doença na vida humana, assim como à s instituições sanitárias criadas por cada cultura especÃfica.
Assim, da década de 90 até os dias atuais surgiu uma nova preocupação na Academia em estudar a saúde considerando o homem, seus relacionamentos sócio-culturais, sua maneira de lidar com o mundo e consigo próprio, com sua psiquê e comportamento em seu meio. Na busca de uma análise sobre a origem do homem, sua forma humana e suas reações diante das doenças, os estudiosos sobre o tema saúde/doença utilizaram-se da interdisciplinaridade entre as teorias produzidas nas Universidades, as pesquisas de campo, visitando famÃlias em domicÃlios, considerando suas experiências oriundas da convivência hospitalar.
A ênfase produzida pelas Ciências Sociais direcionou-se para as questões da saúde pública/coletiva destacando a pessoa, o corpo e a doença. O enfoque deste estudo, é a construção do indivÃduo, do corpo e dos sentimentos ligados aos distúrbios da saúde. A intenção de criar um conjunto de caracterÃsticas próprias e exclusivas para uma antropologia especializada na saúde e doença não é partilhada pela maioria dos cientistas sociais, médicos e agentes da saúde. Ao contrário da opinião fechada das Ciências Sociais na década de 70, a antropologia social, é bem vinda hoje, no campo das ciências médicas em prol da construção de soluções para sanar as demandas sociais da saúde pública.
Neste contexto, conta-se com a pluralidade das diversas disciplinas pensando um caminho melhor para os problemas da saúde coletiva. A antropologia conta com a filosofia, com a sociologia, com a psicologia, com a história e, neste leque de orientações teórico-metodológicas nasce um cuidado com o ser humano, o que incide também num enfoque bioético.
1 A Antropologia da Saúde e seus objetivos
Entre os objetivos principais, da Antropologia podemos elencar: sua preocupação em fundamentar a necessidade da reflexão antropológica no contexto das ciências da saúde, nomeadamente da Medicina; a valorização da centralidade da Pessoa, enquanto sujeito cultural e social; o discurso nos processos relativos à prevenção e promoção da saúde e à prestação de cuidados; e por fim, a transmissão e contribuição que a Antropologia Médica, nas suas duas correntes, filosófica e cultural, oferece à Saúde Pública.
Competências da Antropologia da Saúde
• Reconhecimento do caráter antropológico da Medicina, como ciência e como Práxis;
• Aprofundamento da consciência, do significado e das implicações do ser humano – que é sujeito – constituir o seu objeto;
• Compreender o ser humano, como realidade plural, Ãntegra e una, destacando a importância das dimensões cultural e social no âmbito da Saúde Pública;
• Aprender a reconhecer a diversidade de olhares sobre o Homem na sua relação com a saúde e a doença, em contexto de multi-culturalidade, como horizonte de compreensão e instrumento de intervenção em Saúde Pública;
2 A Antropologia da Saúde e Graus de estudos
No que se refere aos graus de estudos podemos observar três:
a) Grau Epistemológico da Antropologia
• Introdução à Antropologia – Conceitos e Métodos. Interdisciplinaridade.
• Antropologia e Antropologias – a especificidade da Antropologia da Saúde. Antropologia FÃsica, Antropologia Cultural e Antropologia Médica.
• Análise crÃtica dos reducionismos antropológicos.
• Grandes paradigmas antropológicos da Cultura Ocidental.
b) Grau Filosófico
• Algumas contribuições fundamentais da Antropologia Filosófica contemporânea. Pluridimensionalidade estrutural constitutiva da Pessoa Humana: relação, corporeidade, interioridade, comunicação, ética, historicidade, indigência, vulnerabilidade, mistério.
• A Pessoa Humana sujeito de cultura e à cultura (cultura e culturas) – vivências e representações de saúde e doença, do sofrimento e morte.
• O Homem entre a evidência e o mistério. O processo de medicalização da vida e da condição humana.
• A Medicina entre o paradigma humanista e o Tecnocosmos;
• Modelos de Humanismo emergentes na Medicina;
• Aplicação Bioética no tratamento de questões primordiais.
c) Grau metodológico
• Antropologia Médica: elementos conceptuais e metodológicos para uma abordagem da saúde e da doença, no âmbito da Saúde Pública Importância dos fatores culturais e sociais na consideração do binômio saúde-doença.
• Aspectos culturais determinantes da interação médico-doente no processo terapêutico. Incidência dos fatores culturais na Epidemiologia.
• Definições culturais de anatomia e de fisiologia.
3 Antropologia: cultura, religião e doença
Na sociedade moderna, o papel da cultura popular, seus significantes e significados, somatizam os elementos de crenças e costumes de vários grupos, acompanhados da mÃdia e de uma variedade de informações responsáveis por interpretações discursivas dos médicos dedicados à causa. O signo de estar doente é entendido como a percepção de sensações e sintomas desagradáveis: cansaço; dor de cabeça; dor no corpo; sono; fraqueza; falta de apetite; febre, e etc. Identificados pelo médico ou pelo paciente, representam a doença como uma construção social, traduzida e culturalmente assumida pelos simpatizantes. Doenças como a Aids, câncer, hansenÃase (lepra), tuberculose, são encaradas diferentemente por homens e mulheres de um mesmo grupo, com ou sem diagnóstico biomédico. Nessa linha, analiticamente, o gênero construiu-se por duas vias: construção social; de forma relacional.
Para entender a sexualidade, a compreensão do processo histórico e seu desenvolvimento no Brasil, é condição, sine qua non, bem como, a ética, a ciência e a polÃtica, componentes responsáveis pela apropriação dos valores e significados dos modelos masculino e feminino de nossa ambiência. Novamente, a antropologia da saúde interfere nas interpretações empÃricas, factuais, prontas e acabadas da construção de sujeito e objeto, norteando os estudos por meio de reflexões, apresentando as incertezas inerentes ao homem, à sociedade e a espécie.
Da mesma forma, para acompanhar a evolução de determinado distúrbio da saúde, seguindo rigorosamente o tratamento indicado por especialista ou não (principalmente os alcoólatras e portadores de Aids; distúrbios psicológicos e abandono de parentes), o paciente nutre-se também do apoio religioso.
As religiões de tradição conservadora condenam em sua maioria os doentes, reforçando a idéia de culpa, afirmando, ser a doença, um castigo das ordens superiores pela ausência de compromisso de fé do enfermo para com a crença. A enfermidade mental é estudada por meio de narrativas, depoimentos, estudos de casos de famÃlias ou histórias de vida contadas por familiares ou terceiros.
Esse método pressupõe uma forma de conhecimento prático, diferenciado do saber médico, enfatiza a capacidade de expressão e reflexão do enfermo sobre sua doença, diagnosticando o problema nas fontes patológica e biológica. No entanto, é preciso distinguir o conhecimento erudito do popular, haja vista, o surgimento das formas de comunicação, ressocializações, aprendizagem, ou melhor, da recusa às intervenções.
Portanto, a antropologia da saúde institui e viabiliza práticas entre pensamentos e ações, teorias e experiências de vida dos doentes. Organiza os sÃmbolos e as categorias das doenças, por meio de fontes produtoras de sentido, sejam, biológicas, polÃticas, sociais, econômicas e culturais. Utilizando-se do bom senso entre os paradoxos: coletivo/indivÃduo;vida/morte; ciências médicas/ciências sociais; objetividade/subjetividade. Assim, a antropologia da saúde, procura desvendar caminhos menos convergentes e construtivismos mais eficientes, num futuro próximo.
Referências Bibliográficas
ALVES. PC & Rabelo MCM (Org.) Antropologia e saúde. Traçando identidade e explorando fronteira. Rio de Janeiro: Fio-Cruz, Relume Dumará, 1998.
ALVES. PC & Rabelo MCM (Org.) Repensando os estudos sobre representações e práticas, In: PC Alves & MCM Rabelo (Org.) 1998. p. 107-121.
HOUAISS, Antônio (1915-1999) e Villar, Mauro de Salles (1939-). Minidicionário Houaiss da LÃngua Portuguesa/Antônio Houaiss e Mauro de Salles Villar, elaborado no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da LÃngua Portuguesa S/C Ltda. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LUCAS, Juan de Sahagun (Dir.), Nuevas AntropologÃas del siglo XX, Salamanca: Sigueme 1994
MINAYO, Maria CecÃlia de Sousa, COIMBRA Jr., Carlos E. A. (Org.), CrÃticas e Actuantes – Ciências Sociais e Humanas em Saúde na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005.
MORRIS, David B., Doença e cultura na era pós-moderna, Lisboa: Piaget 2000.
RIVIÈRE, Claude, Introdução à Antropologia. Lisboa: Edições 70, 2007.
ROLOSANA, Carmelo Lisón (Ed.), Introducción a la antropologÃa social e cultural – TeorÃa, método y prática, Madrid: Ediciones Akal, 2007.
ROSELLÓ, Francesc Torralba i, AntropologÃa del cuidar. Barcelona: Institut Borja de Bioética, 1998.
SPISANTI, Sandro, AntropologÃa Médica in LEONE, Salvino, PRIIVITERA, Salvatore, CUNHA, Jorge Teixeira da (Dir.) Dicionário de Bioética. Vila Nova de Gaia: Editorial Perpétuo Socorro 2001.
UCHÔA, Elizabeth, VIDAL, Jean Michel, Antropologia Médica: elementos conceituais e metodológicos para uma abordagem da saúde e da doença, Cadernos de Saúde Pública 10 (4): 497 – 504, Rio de Janeiro, Out/Dez 1994.
* Sociólogo e Pesquisador. Mestre em Teologia/PUCRS, Graduado em Sociologia/UFPEL e em Teologia/UCPEL. Professor convidado no Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina nos cursos de Pós-Graduação em Educação e Bioética na cidade de Pelotas/RS.
|