Débora Aquino Nunes*
Pryscila Albuquerque de Souza**
Bianca Caterine Piedade Pinho***
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), Brasil
Correo: debora.aquino@ifpa.edu.br
RESUMO
A educação popular nasceu fora da escola, no seio das organizações populares. Seus princípios e metodologias, com bases emancipatórias, tiveram uma grande repercussão na sociedade que acabaram cruzando fronteiras, influenciando práticas educativas nos espaços escolares e espaços não escolares. Desta forma, foram identificadas e analisadas as práticas de educação popular em movimentos sociais, tendo como estudo de caso os encontros do Levante Popular da Juventude da cidade de Parauapebas-PA. Para isso, laça-se mão dos seguintes procedimentos metodológicos: a) levantamento bibliográfico sobre temas, teorias e categorias pertinentes a pesquisa; b) observação participante; c) analise e sistematização dos resultados. Demonstra-se, então, a importância da construção de uma educação a partir do conhecimento do povo e com o povo que é base para a formação dos militantes do Levante Popular da Juventude em Parauapebas.
Palavra-chave: Educação Popular; Movimento Social; Levante Popular da Juventude; Educação Libertadora; Parauapebas
ABSTRACT
Popular education started out of the school scenario. It origins in the bosom of popular organizations. Its principles and methodologies have emancipatories bases and a great repercussion in society. This education type ended up crossing borders and influencing educational practices in school spaces and non-school spaces. In this study, the practices of popular education in social movements were identified and analyzed,also including a case study regarding the meetings of the Levante Popular da Juventude, in the city of Parauapebas-PA. The following methodological procedures were applied: a) bibliographical survey on topics, theories and categories pertinent to the research; b) participant observation; c) analysis and systematization of results. In conclusion, it is demonstrated the importance of the construction of an education based in the knowledge of the people and to the people. This sort of education is the basis for the formation of Levante Popular da Juventude's militante, in the Parauapebas city.
Keyword: Popular Education; Social movement; Levante Popular da Juventude; Liberating Education; Parauapebas
RESUMEN
La educación popular nació fuera de la escuela. Ella posee su génesis ligada a las organizaciones populares. Sus principios y metodologías tienen bases emancipatorias y una gran repercusión en la sociedad. Tal educación cruzó fronteras e influenció prácticas educativas en los espacios escolares y no escolares. De esta forma, fueron identificadas y analizadas las prácticas de educación popular en movimientos sociales, teniendo como estudio de caso los encuentros del Levante Popular da Juventude de la ciudad de Parauapebas-PA. Para ello, se utilizaron los siguientes procedimientos metodológicos: a) levantamiento bibliográfico sobre temas, teorías y categorías pertinentes a la investigación; b) observación participante; c) análisis y sistematización de los resultados. Así, se demuestra la importancia de la construcción de una educación a partir del conocimiento del pueblo y con el pueblo. Esta es la base para la formación de los militantes del Levante Popular da Juventude en Parauapebas.
Palabra clave: Educación popular; Movimiento Social; Levante Popular da Juventude; Educación Libertadora; Parauapebas
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Débora Aquino Nunes, Pryscila Albuquerque de Souza y Bianca Caterine Piedade Pinho (2019): “Popular e movimento social: construindo a práxis militante do levante popular da juventude-PARAUAPEBAS”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (julio 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/caribe/2019/07/popular-movimento-social.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1907popular-movimento-social
INTRODUÇÃO
A educação, no atual contexto da ideologia neoliberal, tem sido vista, pelo viés da Economia, como formação do capital humano. Segue-se um modelo de formação de sujeitos produtivos para o mercado, que se torna hegemônico, constituído pelas competências necessárias à empregabilidade (MACIEL, 2011).
Moura (2016), afirma que a educação profissional é adequada a uma classe burguesa brasileira cujo projeto político, econômico e social é de associar-se de forma subordinada ou como sócios do grande capital. Nesse sentido, afirma que a educação profissional, de certa forma, sempre esteve ligada às classes menos favorecidas socialmente, desde o período de colonização brasileira, com finalidade de produzir a domesticação dos indígenas e dos escravos na colônia e no império, perpassando pela destinação aos órfãos e desvalidos da sorte no espaço urbano na república; visando à preparação restrita para o trabalho.
Entende-se que os grupos sociais ao produzirem seu espaço modificam a natureza para atender às suas necessidades. Nessa relação de transformação, o ser humano constrói o
processo de ensino-aprendizagem. Marx (1989), afirma que o trabalho é quando o homem
através de seu corpo, a fim de apropriar-se e transformar a natureza, produz objetos mais
úteis à reprodução da sua própria vida. Nesse processo, o homem e a natureza se transformam dialeticamente. Desta forma, compreende-se também que trabalho e educação caminham dialeticamente juntos. Através do trabalho o homem modifica o espaço, aprende, ensina, transformando-o e transformando-se. Destaca-se que através do trabalho o homem modifica o espaço, aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, ou seja, construindo o processo de ensino-aprendizagem. Entende-se que trabalho e educação caminham dialeticamente juntos (SAVANI, 1994).
Nesse sentido, considera-se que a educação não se dá apenas de maneira formal. Muitos reduzem-na ao trabalho desenvolvido no âmbito institucional, mais precisamente em escolas, faculdades, universidades e instituições educacionais em geral. Para outros, educação relaciona-se ao nível de civilidade, cortesia e urbanidade. Nessa perspectiva, a educação restringe-se aos elementos da subjetividade individual (ECCO; NOGARO, 2015).
Para além dessas análises reducionistas, Freire (1996, 1987, 1983) considera que o verdadeiro significado de educar é humanizar. Dialogando com as suas ideias, a educação popular, construída principalmente nos movimentos sociais e com o objetivo de contribuir para a transformação e o fortalecimento do senso crítico da sociedade, é o resultado de práticas sociais diversas em diferentes espaços e momentos. A educação popular se baseia na conscientização e análise do funcionamento da atual sociedade, do trabalho alienado e da dominação que sustenta o capitalismo, visando a análise e a ruptura do status quo atual (CASTRO, 2012).
Diante dessa problemática, pergunta-se: como se constrói e se reconstrói as práticas de educação popular do Levante Popular da Juventude da cidade de Parauapebas-PA? Assim, nesse trabalho buscamos identificar e analisar as práticas de educação popular em movimentos sociais, tendo como estudo de caso os encontros do Levante Popular da Juventude (LPJ) da cidade de Parauapebas-PA. Para isso lançamos mão das seguintes técnicas de pesquisa: a) levantamento teórico-conceitual de temas referente a pesquisa, a saber: educação popular, educação libertadora e movimento social; b) observação sistemática do processo de produção do ensino-aprendizagem através da educação popular; c) análise de conteúdo das poesias recitadas nos encontros do Levante Popular da Juventude-Parauapebas. d) sistematização e análise dos dados.
Esse trabalho se justifica pela necessidade de se debater e construir práticas de educação popular que contribuam na práxis dos sujeitos sociais envolvidos. A transformação da atual realidade social perpassa também por uma educação comprometida com a construção de caminhos e conhecimentos contra hegemônicos, levando em consideração o processo coletivo de ensino-aprendizagem e as vivências dos militantes.
1. EDUCAÇÃO LIBERTADORA E POPULAR E MOVIMENTO SOCIAL
Complica-se pensar a educação como apenas educação formal. A necessidade profissional de compreender e explicar sistemas e estabelecer regras e metodologias de seu funcionamento obriga o educador, pouco a pouco, a pensar a sua própria prática dentro de domínios restritos: “o sistema de ensino de 1° grau”, “a universidade brasileira”, “a educação de adultos”, “a supervisão escolar”, a “alfabetização”.
Em nossos dias, com alcance dos programas de governo para a qualificação profissional, a maior finalidade é ensinar uma profissão aos filhos dos pobres e formar uma classe trabalhadora que atenda tecnicamente ao mercado, despreocupada com as bases tecnológicas necessárias para a consolidação dos saberes relacionados à produção e com a formação social (BRANDÃO, 2002).
Nesse contexto, reflete-se que: separando a educação do mundo e dos domínios sociais e culturais onde ela concretamente existe, ou associando-a diretamente a amplas e longínquas “determinações sociais” formais, o pensamento do educador não raro esquece de ver a educação no seu contexto cotidiano, no interior de sua morada que é também a cultura — o lugar social das ideais, códigos e práticas de produção e reinvenção dos vários nomes, níveis e faces que o saber possui (BRANDÃO, 1983).
Entendemos, então, que a educação não se dá apenas de maneira formal, nem restrita
à subjetividade ou às necessidades do mercado. Muitos reduzem-na ao trabalho desenvolvido no âmbito institucional, mais precisamente em escolas, faculdades, universidades e instituições educacionais em geral. Para outros, a educação relaciona-se ao nível de civilidade, cortesia e urbanidade. Nessa perspectiva, a educação restringe-se aos elementos da subjetividade individual e, muitas vezes, à padronização das relações de acordo com as demandas do capital (ECCO; NOGARO, 2015).
A educação popular nasceu fora da escola, no seio das organizações populares, mas seus princípios e sua metodologia, com bases emancipatórias, tiveram uma repercussão tão grande na sociedade que acabaram cruzando fronteiras e os muros das escolas, influenciando práticas educativas, tanto as que acontecem nos espaços escolares, como as que ocorrem em outros espaços educativos, como nos sindicatos, nas ONGs, Associações de Moradores, Reuniões do Orçamento Participativo (OP), nos conselhos populares etc. (FONTELLA; MACHADO, 2016).
Segundo Maciel (2011), a Educação Popular está ligada diretamente ao legado do educador Paulo Freire (1921-1997). Ele trouxe importantes reflexões sobre educação e os sujeitos postos à margem da sociedade do capital. As décadas de 30/40, período da juventude de Paulo Freire, foram marcadas como um período em que questões relacionadas à Educação passaram a ser fortalecidas no país. Até a segunda Guerra Mundial, a educação popular era vista como extensão da educação formal para todos os habitantes das periferias e das zonas rurais (FONTELLA; MACHADO, 2016).
Destaca-se que a educação que favorece a manutenção da sociedade de classe é, muitas vezes, esvaziada dos conteúdos sociais, preenchendo o conhecimento com informações decorativas e pouco críticas. Para esse tipo de educação, Freire (1987) construiu a concepção de educação “bancária”. Esta, é baseada na hierarquia autoritária do saber, no qual o processo de ensino-aprendizagem é conduzido apenas por um único indivíduo, o professor, detentor do conhecimento. Os educandos são, então, depósitos e arquivos de informações. Nesta visão de educação, não há espaço para criatividade e produção do saber, e sim para a construção de indivíduos aptos a obedecer e a se adaptar passivamente a realidade social.
Freire (1996, 1983) propôs uma educação libertadora. Esta toma como ponto de partida o pensar e o viver do povo. O conteúdo desta educação é construído a partir de situações concretas e existenciais das pessoas e grupos sociais. Deve-se buscar as raízes das problemáticas vividas. A educação é construída, nesse sentido, através do diálogo, tendo como objetivo analisar de maneira crítica a realidade e agir conscientemente nela (FREIRE, 1996). Assim,
A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se na práxis, com sua transformação; o segundo em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação (FREIRE, 1987, p. 44).
Contribuindo e dialogando com a pedagogia da libertação, a educação popular também é uma prática pedagógica que visa transformar a realidade, contribuindo para a formação de cidadãos mais humanos, críticos e ativos na sociedade. Ela é uma ação coletiva organizada. Tal ação visa conscientemente contrapor e superar as contradições produzidas pelo capitalismo (CASTRO, 2012).
Destaca-se que as ações coletivas que configuram a prática da educação popular são construídas através da dialogicidade que transforma, por meio da práxis, o indivíduo. Este vai se descobrindo cada vez mais enquanto responsável e sujeito ativo capaz de transformar a sua realidade (CASTRO, 2012).
Também é importante frisar que a educação popular é principalmente tratada e trabalhada nos movimentos sociais. Os movimentos sociais são organizações que questionam de maneira aprofundada os problemas nacionais e internacionais e as estruturas do capitalismo. Eles visam entender a essência do funcionamento da sociedade para, então, transformá-la (SOUZA; RODRIGUES, 2006).
Para Pereira e Pereira (2010) falar em Educação popular é falar do conflito que move a ação humana em um campo de disputas de forças de poder. É falar da maneira como o capitalismo neoliberal vem atuando de forma perversa, causando dor e sofrimento humanos, bem como do princípio da participação popular, a solidariedade rumo à construção de um projeto político de sociedade mais justo, mais humano e mais fraterno.
Ao tratar educação popular numa perspectiva freiriana, constitui-se uma proposta educativa voltada para a necessidade de construção de uma consciência crítica do indivíduo, no sentido de torná-lo um sujeito ativo na construção e transformação desta realidade e na intenção, não de inseri-lo no mundo, uma vez que dele nunca deixou de fazer parte, mas, de construção de conhecimento no sentido de se fazer reconhecer e também reconhecer os outros. Fazer-se cidadão e parte integrante e indispensável na dinâmica das relações sócio, político-culturais existentes (FREIRE, 1981).
Nesse contexto, nossa análise se baseou nas práticas educativas realizadas nos encontros do Levante Popular da Juventude-Parauapebas. Entendemos que as poesias aqui expostas e trabalhadas são parte da concretização do processo de ensino-aprendizagem de práticas baseadas na educação popular e libertadora dentro do movimento social Levante Popular da Juventude-Parauapebas.
2. EDUCAÇÃO POPULAR E LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE - PARAUAPEBAS
Segundo Lima (2017), o Levante Popular da Juventude é um movimento social que tem sua origem numa iniciativa dos Movimentos de Massa atrelados à Consulta Popular, que é uma organização Política que se autodenomina partido não-institucional e reúne diversos movimentos de massa do campo e da cidade. A autora afirma que, o LPJ reivindica-se juventude do projeto popular autônoma de partido. Este grupo de jovens militantes especificamente, tem seu processo de enfrentamento voltado para a luta de massas em busca da transformação da sociedade.
O Levante Popular da Juventude é um movimento social voltado para a luta de massas em busca da transformação da sociedade. Intitulados de Juventude do Projeto popular, tal movimento se propõe a construir um novo modelo de sociedade, baseado na superação da luta de classe, na soberania popular e no respeito as diferenças e combate às desigualdades e injustiças sociais (LPJ, 2016). Para essa sociedade se constituir é necessário, então, uma inversão de papéis, no qual o valor de uso e a humanidade passem a ocupar o centro das atenções da vida, das práticas sociais e do planejamento e gestão públicas, construindo, dessa forma, uma outra sociedade possível.
O LPJ procura, junto às pautas diversas dos movimentos sociais urbanos e camponeses, organizar jovens de vários espaços para lutar por melhoria na condição de vida da juventude e por um projeto de “poder popular”, categoria muito utilizada por eles. Dentre essas pautas é comum que muitas estejam relacionadas ao lazer, à educação, à cultura, ao transporte público, bem como à luta contra a homofobia, racismo e machismo. Algumas dessas pautas indicam uma valorização da identidade e da diversidade, sem perder o seu caráter questionador e transformador do status quo vigente.
A nacionalização do LPJ sob a deliberação da Consulta só ocorreu, então, em 2012, ocasião em que foi realizado o primeiro acampamento que marcou a gênese do Levante Popular da Juventude enquanto organização nacional. Na oportunidade, cerca de 1200 jovens de diversos estados brasileiros se reuniram em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Lá foram promovidas discussões acerca do Projeto Popular de sociedade que levasse em consideração os problemas da juventude. Ao final do acampamento foi elaborado um documento político de fundação: A Carta Compromisso (LIMA, 2017).
Esse primeiro acampamento nacional, composto por jovens de diversos estados brasileiros, teve como metodologia de organização interna a vivência comunitária, com as distribuições de tarefas lembrando encontros das pastorais da juventude. Algumas características do encontro se davam por apresentações de mística, animações com caráter musical através de batucadas, palavras de ordem, hinos que em melodias se assemelham as músicas entoadas em encontros das pastorais da juventude da igreja católica além de paródias musicais críticas ao sistema vigente (LIMA, 2017).
Outro elemento importante de identidade levantina e que é base para a Educação Popular implementada no movimento, são as experiências trazidas das Pastorais da Juventude (PJ) dos anos 1960 e 1980. O Levante se inspirou no método, na forma de organicidade e nos valores como amizade, troca, compartilhamento da vida e vivências, que marca fortemente a PJ (CASTRO, 2012).
Nesse contexto, o LPJ se organiza em três campos de atuação: territorial, estudantil e camponesa. É importante destacar que em Parauapebas só existe um frente de atuação, a territorial. Esta diz respeito a organização da juventude da cidade que não necessariamente é estudante secundarista ou universitária.
Nesse sentido, a frente territorial de Parauapebas é composta principalmente por jovens desempregados, empregados em subempregos e da juventude assalariada. Isso não significa dizer que dentre os militante não existam estudantes, mas sim que o movimento se organiza principalmente nos bairros da cidade e não em espaços estudantis. Assim, alguns militantes também conciliam estudo e trabalho.
Destaca-se que o Levante Popular da Juventude surge de maneira mais organizada no Estado do Rio Grande do Sul, no início dos anos 2000. Nesse período, a Via Campesina e a Consulta vinham realizando encontros de formação da juventude, com o objetivo de fortalecer a luta desse segmento social nas pautas do projeto popular (LPJ, 2016; CASTRO, 2012)
Surge, dessa maneira, o Levante Popular da Juventude em 2006. Tal movimento se nacionaliza em 2013 e já se encontra espalhado na grande maioria dos Estados brasileiros. Nesse mesmo ano, em Parauapebas surge o grupo de estudos Dina Teixeira, em homenagem a militante que atuou na Guerrilha do Araguaia. Esta foi uma luta armada no interior da Amazônia, que se deu entre os Estados do Pará, Tocantins e Maranhão, visando a derrubada da ditadura militar e a instituição de um Estado Socialista e Popular.
Este grupo composto por jovens da cidade, recebeu ajuda direta da Consulta Popular e em 2015 se transformou em Levante Popular da Juventude – Parauapebas, com auxílio também de outros movimentos como MST e do próprio Levante que já estava instituído em Marabá, polo regional que fica cerca de 170Km de Parauapebas.
Nesse sentido, a formação de militantes do LPJ se dá partir do trabalho de base realizado pelas células. Estas são os espaços onde os jovens militantes se encontram, podendo se realizar nas universidades, no campo ou nos bairros da cidade. Os setores também compõe os espaços de mobilização do movimento, reunindo os militantes segundo os setores de opressão, a saber: mulheres, negritude e diversidade sexual.
Em Parauapebas existem duas células, a Carlos Marighela (foto 01) e a Lorena Lima (foto 02), bem como apenas um setor de auto-organização, o das mulheres. Nesses espaços acontecem os debates. A Educação Popular permeia os encontros. A temática trabalhada em cada encontro parte das necessidades de compreensão do mundo da juventude e dos problemas vividos. O saber pretérito se encontra com novas informações e teorias, recriando o conhecimento. Nunca perdendo de vista as bases que sustentam a atual sociedade capitalista, os debates são permeados pela crítica as estruturas e violências do sistema social atual e pelas perspectivas de transformação.
Assim, identifica-se que há uma preocupação com o ambiente de debate, que é organizado com bandeiras de luta, leituras e livros que possibilitam uma interpretação melhor do capitalismo, do socialismo, do comunismo e de uma sociedade mais humana. No início sempre ocorre uma mística de abertura, preparando os militantes para o debate. As músicas cantadas sempre trazem à tona problemas sociais e apontamentos para transformação social. Tudo isso faz parte de uma Educação Popular que consegue envolver o jovem em discussões baseadas nos anseios da vida social. O foco não é conteudista, mas sim de práxis e uso do conhecimento para atuar mais conscientemente e ativamente na sociedade em que se vive.
A Educação Popular e libertadora permeia os encontros. A temática trabalhada em cada encontro parte das necessidades de compreensão do mundo da juventude e dos problemas vividos. O saber pretérito se encontra com novas informações e teorias, recriando o conhecimento. Nunca perdendo de vista as bases que sustentam a atual sociedade capitalista, os debates são permeados pela crítica as estruturas e violências do sistema social atual bem como pelas perspectivas de transformação social.
Após esses momentos normalmente existem duas pessoas, previamente escolhidas, que mediam o debate. Todos falam, contribuem, perguntam uns aos outros. Alguns fazem anotações. É utilizado, as vezes, a técnica de leituras coletivas ou leituras prévias para preparar mais teoricamente o militante. Após a discussão abre-se o espaço para leituras de poesias, textos ou interpretações teatrais, bem como para o batuque e a música. As palavras de ordem encerram o encontro.
Os encontros também podem ser realizado em conjunto, unindo as duas células. Quando isso ocorre é chamado de encontrão. Ele pode possuir um carácter mais formativo ou de agitação e propagando das ideias e ações do movimento.
É importante destacar que após esses encontros ocorre uma produção intelectual e artística dos militantes espontaneamente. Várias poesias, raps, músicas, cantos e textos são criados. Selecionamos nesse artigo trechos de três poesias que foram criadas após os debates realizados dentro do Movimento ou em formações de outros movimentos, que tiveram origem na vivência prévia e posterior do militante e nos conhecimentos sistematizados a partir de práticas de Educação Popular.
O primeiro poema foi escrito após o debate sobre o avanço do conservadorismo no Brasil e a revolução necessária, trazendo à tona a violência exercida pela direita e a resistência e sonhos dos militantes da esquerda.
A segunda poesia foi escrita no encontro nacional do MAB. Ela narra o sentimento de um militante num grande ato nacional, trazendo o debate sobre as problemáticas sociais e a necessidade da construção de uma soberania popular sobre os nossos recursos.
O terceiro foi escrito após vários encontros da auto-organização das mulheres e foi utilizado em uma formação mista feminista, que reuniu homens e mulheres. Ele traz as problemáticas de gênero que historicamente foram construídas e que permanecem até os dias atuais.
O último poema foi produzido para a mística de uma formação de todos os setores e células, onde a autora questiona as prioridades do município que maquia a realidade do povo, entre centro da cidade e periferia e que em meio a esse caos ainda existe a exposição das mulheres de forma problemática na mídia.
Para todas as produções que se dão durante os processos de formações, células, encontros e espaços direcionados para os jovens que compõem o movimento, é destinado um direcionamento, no qual os materiais tornam-se a resposta destes, que são tratados entre os indivíduos numa dialética entre o conteúdo dos encontros e o novo, a arte e o espontâneo.
As construções se dão de forma autônoma, ou seja, os jovens escrevem, recitam, tocam, interpretam e interagem de acordo com seus limites, vontades e superações. O método da educação popular se relaciona, dessa forma, a liberdade de cada um ser protagonista do seu próprio processo, realizando tudo no seu devido tempo, tornando o jovem mais confiante e desinibido. Contribui-se, então, com a produção de sua vida pessoal, profissional e social.
No Levante Popular da Juventude, a experimentação, traduzida na autonomia, no protagonismo, na organização, nas atividades de enfrentamento e na vivência de valores humanos, é prioridade na prática cotidiana (CASTRO, 2012). Apesar das dificuldades de cunho teórico enfrentadas pelos militantes, como construir espaços próprios de formação, a educação popular alimenta o Levante de Parauapebas. Este se constrói a partir da luta coletiva. O processo de ensino-aprendizagem é baseado na construção dos espaços de debate, no diálogo, nas leituras e nas vivências do grupo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das pesquisas realizadas compreende-se que a educação popular é fundamental para realização dos resultados alcançados, independentemente do espaço, indivíduos e temática na qual este método será aplicado. Observa-se como de fundamental importância o acompanhamento e a contribuição dos movimentos sociais para esse tipo de educação.
Lança-se mão da educação popular como elemento chave na construção do Levante Popular da Juventude de Parauapebas. Nesse sentido, os espaços de encontro sempre são preparados para receber as discussões e os temas escolhidos são produtos de problemáticas do mundo em que vivemos. A organização do espaço, as músicas, as leituras, os diálogos, as interpretações teatrais e as palavras de ordem fazem parte do processo de ensino-aprendizagem e envolvem os jovens nos espaços de formação.
Estas experiências nos permitem refletir sobre a educação popular, pois através do estudo de caso, mostrou-se como é possível a obtenção de perspectivas para além de uma educação reduzida a formação de mão de obra para o mercado, fazendo parte da construção de indivíduos críticos, autônomos e espontâneos, surgidos através da abertura para o debate e metodologias que instiguem o desenvolvimento pessoal dos indivíduos. Assim, por meio dos métodos pelo quais se desenvolvem a educação popular, é possível também proporcionar a superação da fragmentação de conhecimento e da dicotomia de formação intelectual e formação manual, entre ensino propedêutico e ensino profissional.
O resultado da pesquisa demonstra, então, que o Levante Popular da Juventude em Parauapebas constrói sua formação com base na Educação Popular e Libertadora, que visa desconstruir os alicerces da atual sociedade de classe e lutar por uma nova mulher, um novo homem e uma nova humanidade. Destaca-se que o conhecimento é construído através da práxis, levando em consideração o diálogo, a formação teórica e as vivências prévias e posterior de cada militante. Esse processo não é sistematizado em forma avaliativa ou de prova, como no ensino formal (escola). No caso do Levante Popular da Juventude de Parauapebas, normalmente o processo de ensino-aprendizagem se materializa espontaneamente na forma de textos e poesias.
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