Cleonilde Ribeiro De Souza Costa*
Elair De Carvalho**
Universidade do Estado de Mato Grosso-Campus, Brasil
Correo: dagorj1@gmail.com
RESUMO
O presente estudo aborda questões constitutivas da literatura moçambicana no período de pós-guerra, com ênfase nos contos publicados em Cada Homem é uma raça (2013),de Mia Couto. A pesquisa é um estudo realizado no final do curso em Letras, oferecido pela Universidade do Estado de Mato Grosso, em 2016. Baseou-se nos estudos críticos literários de ABDALA JUNIOR (2007); BOSI (2013); SANTOS (2014); LEITE (2013); MAQUÊA (2005) estes autores ajudaram- na compreensão da obra, tecermos um olhar sobre à escrita de Couto, na construção das personagens femininas sendo formas de sensibilizar memórias conturbadas pela guerra civil em Moçambique após 1975. A abordagem Historiográfica de CABAÇO (2009); MOSCA (2005); MARTSINHE (2011) foi para compreender o contexto de Moçambique. Contudo, foi importante perceber que Mia Couto destacou traços femininos e políticos que auxiliam na compreensão sociocultural moçambicano, foi um dos intelectuais à frente das lutas em defesa dos direitos humanos.
Palavra Chaves: Literatura – Política – Moçambique – Conto - Feminino.
RESUMEN
El presente estudio aborda cuestiones constitutivas de la literatura mozambiqueña en el período de posguerra, con énfasis en los cuentos publicados en cada hombre es una raza (2013), de Mia Couto. La investigación es un estudio realizado al final del curso en Letras, ofrecido por la Universidad del Estado de Mato Grosso, en 2016. Se basó en los estudios críticos literarios de ABDALA JUNIOR (2007); BOSI (2013); SANTOS (2014); LECHE (2013); (2005) estos autores ayudaron a entender la obra, hacer una mirada sobre la escritura de Couto, en la construcción de los personajes femeninos siendo formas de sensibilizar memorias conturbadas por la guerra civil en Mozambique después de 1975. El abordaje Historiográfico de CABAÇO (2009); MOSCA (2005); MARTSINHE (2011) fue para comprender el contexto de Mozambique. Sin embargo, fue importante percibir que Mia Couto destacó rasgos femeninos y políticos que auxilian en la comprensión sociocultural mozambiqueña, fue uno de los intelectuales al frente de las luchas en defensa de los derechos humanos.
Palabra Claves: Literatura - La política – Mozambique – Tale - Femenina.
SUMMARY
The present study deals with the constitutive issues of Mozambican literature in the postwar period, with emphasis on the stories published in Mia Couto's Every Man is a Race (2013). The research is a study carried out at the end of the course in Letters, offered by the State University of Mato Grosso, in 2016. It was based on the literary critical studies of ABDALA JUNIOR (2007); BOSI (2013); SANTOS (2014); MILK (2013); MAQUÊA (2005), these authors helped us to understand the work, to take a look at Couto's writing, in the construction of the female characters, and to sensitize the troubled memories of the civil war in Mozambique after 1975. CABAÇO'S Historiographic Approach (2009); MOSCA (2005); MARTSINHE (2011) was to understand the context of Mozambique. However, it was important to realize that Mia Couto highlighted female and political traits that help Mozambican sociocultural understanding, was one of the intellectuals at the forefront of human rights struggles.
Key Words: Literature – Politics – Mozambique – Tale - Female.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Cleonilde Ribeiro De Souza Costa y Elair De Carvalho (2019): “Crime e sensibilidade feminina no apocalipse privado do Tio Geguê, de Mia Couto”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (julio 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/caribe/2019/07/crime-sensibilidade-feminina.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1907crime-sensibilidade-feminina
INTRODUÇÃO
O poeta e crítico literário Erza Pound em seu livro o ABC da Literatura (2006) que “não existe literatura no vácuo”, ou seja, a literatura como atividade essencialmente humana se constrói em um contexto. Neste sentido ela como toda a arte carrega consigo, em sua tessitura, as marcas de um tempo e de um espaço. Ao construir as suas histórias o narrador não deixa apenas as suas marcas no texto, como bem nos lembra Walter Benjamim(1987) em seu antológico texto a respeito do narrador em baseia-se na obra do escritor russo Nikolai Leskov, ele imprimi também marcas de um tempo e espaço em que ele acessa o mundo.
Os texto que buscamos trabalhar neste artigo tem em um Moçambique que tem no espaço da história e da política o seu maior efervescência, numa atmosfera de guerra civil pos libertação. A proposta de trabalho é compreender a ficção nos contos publicados na obra Cada Homem é uma raça (2013), de Mia Couto, especificamente, no conto “O apocalipse privado do tio Geguê”, sob a perspectiva histórica e política ocorrida em Moçambique no ensejo da luta pela Independência do país e a guerra civil logo após 1975 e, assim, verificar como o elemento feminino na narrativa foi usado como sensibilizador da memória masculina marcada pelas lembranças da guerra.
Os estudos historiográficos de José Luís Cabaço (2009) abordam o processo de sistematização política ocorrido em Moçambique durante a guerra civil, enfaticamente as conturbações que os sujeitos moçambicanos enfrentaram para conseguir se estabilizar enquanto país livre de Portugal, no entanto, ainda após a Independência, continuou a buscar uma política que construísse direções favoráveis para o desenvolvimento tanto na educação quanto na saúde, e diante disso, compreendemos a influência que esses aspectos conflituosos tiveram em relação às literaturas produzidas neste âmbito e principalmente no que se refere à escrita de Mia Couto.
Os estudos críticos de Benjamin Abdala Junior (2007) afirmam a importância de compreender o processo em que se estabeleceram os sistemas literários dos países africanos de Língua Oficial Portuguesa, pois esses sistemas passaram por um processo demorado de consolidação. O crítico destaca ainda que, cada um deles teve sua maneira de se constituir, mas que a autonomia ocorreu quando os escritores africanos buscaram conhecer as literaturas produzidas em outros sistemas literários diferentes dos deles, como por exemplo, o sistema literário brasileiro foi referência para os escritores e serviu de base para que eles encontrassem a maneira própria de expressar aquilo de particular de suas culturas.
Em se tratando ainda de crítica literária, as fontes críticas de Alfredo Bosi (2013), de Ana Mafalda Leite (2013) fizeram-se necessárias também porque foi através delas que endossamos o conhecimento científico, uma vez que os estudos críticos se ampliam na direção de compreender a literatura moçambicana e sua relação com outras literaturas de Língua Portuguesa.
Do mesmo modo, as abordagens críticas literárias de Vera Maquêa (2005) e de José Dílson dos Santos (2014) apontam para as especificidades da escrita de Mia Couto porque elas trazem conhecimentos que vão do geral ao particular do escritor. Nesse sentido, afirmamos que o conto “O apocalipse privado do tio Geguê” nos aponta uma história que desperta a curiosidade de desvendar o que o narrador demostra em cada linha que descreve desde a tessitura da personagem o “menino sobrinho” ao próprio Tio Geguê quando o velho demostra a importância do passado militar como alicerce para a sobrevivência do seu sobrinho, pois o menino está diante de uma realidade que não tem nada a oferecer, a não ser a violência, no entanto, o jovem sente a falta de uma família já que foi criado pelo tio como órfão, e não pôde conhecer outro parente.
2. Literatura e Política em Moçambique.
A escrita literária de Mia Couto insere-se no contexto de luta referente a um país de políticas partidárias que passou por vários conflitos em relação à guerra ocorrida entre Portugal e Moçambique, pois este último era Colônia de Portugal. Essa luta atingiu muitos países africanos, e a independência de Moçambique só ocorreu no ano de 1975. O país saiu de uma economia planificada1 , socialista para a economia de mercado, capitalista, por isso, foram inevitáveis as transformações flagelantes que o país foi submetido. O período de conflitos provocou implantação de novas políticas em função do desejo de implantar uma economia que fizesse com que o país saísse da desestabilização. Além disso, a seca foi outro fator que prejudicou o país, do mesmo modo, ocorreu quando o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), levaram os países ocidentais a comandarem Moçambique por causa da pobreza e do endividamento.
As mudanças políticas e econômicas emergidas durante décadas em Moçambique vêm transformando seu espaço em um novo mundo, um lugar capaz de desenvolver novas estratégias para melhorar a sua atual situação. É este processo de mudanças e perspectivas que podemos interpretar a subjetividade das obras de Mia Couto porque ele escreve baseando-se nos fatos vivenciados, já que o escritor presenciou o período de guerra civil logo após o período de colonização e diante de diversos fatores o autor destaca-se pelo seu talento na escrita, por ter uma visão referente a fatos literários que demostra para o leitor o processo de estabelecimento das literaturas tanto as produzidas em Moçambique quanto as escritas nos outros quatro países, Angola, Cabo Verde, São Tome e Príncipe e Guiné Bissau.
Mia Couto, mais precisamente, António Emílio Leite Couto, nascido na cidade de Beira, em 5 de julho de 1955, filho de portugueses que emigraram para Moçambique nos meados do século XX. Nasceu e foi escolarizado na Beira. Com catorze anos de idade, teve alguns poemas publicados no jornal Notícias da Beira e três anos depois, em 1971, mudou-se para a cidade, capital de Lourenço Marques, atual Maputo. Iniciou os estudos universitários em medicina, mas abandonou esta área no princípio do terceiro ano, passando a exercer a profissão de jornalista depois dos 25 de abril de 1974. Trabalhou na Tribuna até à destruição das suas instalações pelos colonos em setembro de 1975.
A partir da independência do país em 1975, ingressou na atividade jornalística, chegando a exercer os cargos de diretor da agência de informação de Moçambique e de coordenador da revista semanal Tempo e do jornal Notícias de Maputo. Foi nomeado diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM) e formou ligações de correspondentes entre as províncias moçambicanas durante o tempo da guerra de libertação. A seguir, trabalhou como diretor da revista Tempo até 1981 e continuou a carreira no jornal Notícias até 1985. Em 1983 publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho, que inclui poemas contra a propaganda marxista militante. Dois anos depois se demitiu da posição de diretor para continuar os estudos universitários na área de Biologia.
As obras do escritor moçambicano são exaltadas não só pelo conteúdo social que ele escreve e trata a vida cotidiana em seu país, mas, principalmente, pela inventiva poética da sua escrita, que mescla o português “culto” com palavras de dialetos da população local. Mia couto também demostra muita preocupação com os problemas do país africano, como, por exemplo, quando denunciou o crescente número de sequestros em Moçambique na época.
Alguns dos seus livros foram adaptados para o cinema, como é o caso de O último voo do flamingo, e de Terra sonâmbula. O seu primeiro romance Terra sonâmbula, publicado em 1992, ganhou o Prêmio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995 e foi considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX por um júri criado pela Feira do Livro do Zimbabué. Atualmente é empregado como biólogo no Parque Transfronteiriço do Limpopo é sócio correspondente da Associação Brasileira de Letras.
Couto é um dos escritores que recria suas obras a partir dos critérios que o favorece, pois na sua escrita ele não se preocupa em encontrar um termo que se adeque ao seu contexto, os principais fatores que ele utiliza é a sua leitura de mundo em conformidade com os fatos vivenciados em sua terra, ou seja, ele adequa-se aos personagens e não os personagens a ele, assim como o cenário e o clima da narrativa sempre retirando as características precisa para desenvolver suas obras. É de forma natural que o autor descreve fatos que são passados de geração para geração, uma das ferramentas de linguagem que “Couto utiliza para sua escrita é a sabedoria daqueles que não sabem ler e nem escrever, mas sabem o valor cultural que vem sendo transmitido para o desempenho da escrita sobre as culturas existentes neste período de independência de Moçambique” (MANZONI, 2004, p.10).
Desta maneira é importante ressaltar que o processo que Mia Couto defende em sua escrita nada mais é, do que a reprodução da história contada por alguém que talvez não tenha o domínio da escrita, mas carregam na memória grandes histórias que vem sendo passadas a diante. Na obra Cada homem é uma raça (2013) o autor traz a temática para descrever a violência política em que as pessoas foram submetidas, ou seja, sua escrita chama atenção pela delicadeza da narrativa, seja pela exuberância da paisagem e da linguagem, desta forma nota-se nas escritas de couto a criatividade de usar mais de uma língua para expressar uma cultura que se refaz ao longo dos tempos por haver o contato de outras culturas.
Conforme os estudos de Alcione Manzoni Bidinoto o processo de escrita que Couto utiliza nas suas obras é de acordo com o padrão de escrita que se deve ter:
Um aspecto da prosa de Mia couto que a torna interessante, principalmente entre os leitores de Literatura Brasileira, é o intenso processo de invenção lexical pelo operado: a norma padrão da língua é transgredida, criam-se novas palavras, altera-se a sintaxe para exprimir novos sentidos: a língua portuguesa é trabalhada para se adequar a uma realidade cultural específica. A criação verbal, associada ao uso de provérbios, produz na escrita de Mia Couto um efeito de oralidade que busca resgatar histórias, mitos e crenças da tradição do povo Moçambicano (MANZONI, 2004, p. 1).
A autora descreve de forma objetiva o que ela acredita ser a escrita de Mia porque as novas palavras que se misturam com outras nas obras descrevem a cultura e a história, dessa forma as palavras abordam uma tradição que vem sendo transmitida do velho para o novo sem que seus valores sejam alterados. Na obra Cada homem é uma raça, percebemos que os personagens são de total importância para o autor e que ele tem a delicadeza de escrever suas histórias e que quem conduz a história é o próprio personagem, como bem confirmam as palavras do próprio autor em entrevista, quando foi perguntado sobre o processo de criação de suas narrativas:
Eu não sou tanto construtor de narrativas, o que me agrada mais é construir personagens... depois eu vou inventando história para que essa personagem tenha sentido, compreende? Mas para mim o que se acende, aquilo que se ilumina, são personagens são pessoas (MAQUÊA, 2005, p.216).
A narrativa deve-se a partir do que ele ouve, do que é vivenciado, por isso, as relações sociais e culturais, tem tudo a ver com as narrativas deste escritor uma vez que se deixa envolver com as estórias orais e as experiências vivenciadas pelas pessoas de seu país.
De acordo com o estudo realizado por Debora Reffi de Miayazaki e a Maria Margareth Meneguiti (2013) o escritor Mia Couto concedeu uma entrevista quando esteve no Brasil em 2009, entrevista realizada no dia vinte e nove de junho de 2009, no Teatro Eva Herz em São Paulo. A realização deste evento ocorreu juntamente com o lançamento do livro Antes do nascer do mundo (2013), patrocinado pela Livraria Cultura e a editora Companhia das Letras. O texto a seguir foi publicado na Revista Cultura do mês de julho/2009 e trazem as impressões do repórter Rui Barata Neto, em linguagem coloquial, ele demonstra simpatia e respeito pelo Mia couto. Segundo, Mia Couto (2009) ele é um homem simples, nada afeito a rotina de um escritor profissional - e nem quer ter esse estilo. Gosta de ter outro tipo de relação com as pessoas, realizar trabalhos em equipe, trocando experiências e informações. Por isso faz questão de manter como ganha-pão exercendo sua profissão como biólogo – foi até neste exercício que encontrou inspiração para desenvolver seu último trabalho Antes do nascer o mundo (2013), (ou adotado simplesmente Jerusalém, em Portugal, por exemplo – Mia deu os dois títulos como opção para suas editoras).
Ainda em conformidade com os estudos de Debora Reffi de Miayazaki, de Maria Margareth Meneguiti e do repórter Rui Barata Neto, na conversa que teve com o público, que lotou o teatro Eva Herz, Mia Couto deixou um recado interessante quando foi questionado sobre como divide o seu tempo para conseguir publicar obras. Ele disse: “o importante na escrita não é os termos técnicos que nós temos, mas sim o tempo para estarmos com os personagens, o tempo para nós próprios sermos um dos personagens que criamos. É isso que me obriga a ser cada vez mais um escritor insone” (Revista Cultura, 2005, p. 19). Mia diz acordar entre três e quatro da manhã, assombrado pelas histórias e pelos personagens dentro de si. Esquece as horas e se põe a escrever. Está aí um exemplo de que falta de tempo não é motivo para deixar de produzir literatura.
Os moçambicanos são a fonte de inspiração para Mia, pois retrata cada traço de acordo com o que ele visualiza no decorrer das suas obras, a guerra civil, por exemplo, é o traço respectivamente de sua escrita, ele o utilizado para compor grande parte de seus contos.
A obra Cada homem é uma raça foi publicada originalmente em 1990, e a segunda coletânea do autor Mia Couto, em onze contos cuja ação desenvolve-se em diferentes momentos históricos, desde os tempos coloniais até os anos posteriores a independência do país. Nele percebe-se uma participação das mulheres como protagonista dos contos, elas fazem parte de um mundo magico criado pelo autor, que relata em traços de linguagem o retrato das mulheres e dos acontecimentos da guerra em Moçambique.
Mia Couto constrói em seus contos traços femininos que representam questões políticas e sociais, vivenciadas no decorrer do período pós-guerra, de Moçambique, mostrando a representação feminina dentro da obra Cada homem é uma raça (2013).
Essa obra se destaca porque aborda personagens femininas que trazem uma representação da realidade, retratando os sofrimentos que as mulheres tiveram que passar durante e após a guerra civil. Dessa maneira, é preciso refletir sobre a importância das mulheres em uma sociedade em que a figura masculina é que comandava. Este poder centralizador fez com as mulheres fossem tomadas pelos portugueses, exploradas e às vezes abusadas no período da guerra civil, submetidas a gerar em seus ventres frutos da violência.
A obra Cada homem é uma raça, foi publicada originalmente em 1990, é a segunda coletânea de contos de Mia Couto. Em onze histórias que apresentam um mosaico de personagens extraordinários, o autor dá provas de extrema sensibilidade que emana de sua prosa poética inconfundível.
Na coletânea de contos as mulheres são as protagonistas em grande parte deles. Em “A Rosa Caramela”, encontramos uma senhora corcunda que vive apaixonada por estátuas. Pouco se sabe a razão de sua loucura ou de sua tristeza, mas há suspeita de que o sonho frustrado de ser noiva tenha sido a causa de seu desassossego. Já em “Rosalinda, a nenhuma”tem-se uma viúva de um homem nada digno, fato é que ela só veio ama-lo depois de morto. Outro enredo interessante é o casamento pouco convencional que aparece no conto “O ex-futuro padre e sua pré-viúva”.
Todos os onze contos da Obra Cada homem e uma raça, são interessantes, eles têm uma ótima narrativa que faz com que o leitor se envolva por completo, assim como ocorre no conto “O Apocalipse do tio Geguê”. Para melhor conhecermos as narrativas trazemos um breve relato do que nos transmite a narrativa do Conto “O ex-futuro padre e sua pré-viúva”, Neste conto é retratado o romance do menino Benjamim com a jovem Anabela, o menino vivia da igreja, seu sonho era torna-se padre, ele já era considerado um seminarista, até o dia que aparece em sua vida a Anabela que entregasse a paixão não correspondida por Benjamim, ela não queria outro homem, só o recatado, ela dava em cima do Benjamim, mais ele resistia aos encantos da moça.
O pai da moça, seu Juvenal obrigou o Jovem Benjamim casar-se com sua filha por que havia saído conversas de que ela estaria grávida, sendo o Jovem o responsável pelo fato ocorrido, então foram submetidos ao casamento que não foi consumado e a descoberta de que a moça não estava grávida. Com o passar do tempo Anabela, procurou um enfermeiro que ajudou a moça com um feitiço que fez o Benjamim exercer seu papel de marido, o único problema foi que Anabela ao dormir transfigurava-se sua beleza em uma velha enrugada. O marido preocupou-se com a esposa e foi procurar ajuda para desfazer o feitiço.
O enfermeiro ajudou Benjamim, mas para satisfazer as vontades de Anabela aplicou uma injeção em Benjamim para que ele adormecesse, e para não atrapalhar o feitiço, e quando isso ocorreu, Anabela recebia em sua cama um homem que desfrutava de seus prazeres, foram noites e noites, até que o enfermeiro comunicou a esposa que no dia seguinte seu marido acordaria, o fato foi que a jovem não aceitou, pediu ao enfermeiro que deixasse Benjamim dormir por mais alguns dias e assim fez o enfermeiro.
No conto “A princesa russa” os fatos se desenvolvem a partir de uma mulher que acompanha seu marido imigrado da Rússia para Moçambique. A circunstância intrigante gira a respeito de uma mina de ouro que promete sanar todos os problemas do esposo, já que ela tornaria o rico. No entanto, a personagem russa encontra apenas a solidão na nova terra e busca alento em um de seus empregados locais, o narrador da história.
O universo mágico de Mia se faz ainda mais evidente nos contos“O embondeiro que sonhava pássaros” e “A lenda da noiva e do forasteiro”. Neles, a natureza vigorosa dá origem a mistérios que excedem o entendimento racional, mas representam alegoricamente questões trágicas do país.
De todos os contos apresentados tem outros que marcam as perspectivas políticas da obra, isto, pode ser observado a partir da epígrafe “Só um mundo novo nós queremos: o que tenha tudo de novo e nada de mundo”, ela inicia o conto “Os mastros do Paralém” bem como os contos “O apocalipse privado do tio Geguê” e “Sidney Poitier na barbearia de Filipe Beruberu” todos eles apresentam a luta política tratando do autoritarismo e da violência ironicamente e assim, o leitor percebe que há uma inteligência que resiste e denuncia o sistema político que oprime as pessoas. Como de costume na obra de Mia Couto, as histórias minimalistas reunidas encantam pela notável capacidade de envolver e sensibilizar o leitor, seja pela exuberância da paisagem, ou pela linguagem (COUTO, 2013).
Conforme o contexto político e social que se insere a obra Cada homem e uma raça, temos uma questão que envolve a obra quando o autor recriou os traços dos conflitos que ocorreram no país incluído à realidade que as mulheres sofreram para lutar por uma vida mais estruturada, pela saúde e por um país melhor, sob o mesmo ponto de vista, o conto em análise refere-se ao ritmo social que era passado de uma geração para outra, conforme viviam as famílias, elas buscavam interagir cada membro a continuar exercendo a profissão de acordo com a cultura e os costumes familiares. Da mesma forma ocorre no conto “O apocalipse privado do tio Geguê”, pois é narrada a história, a partir de um militar com o nome de Geguê que defendia essa questão cultural que ele e seus familiares faziam parte. Segundo a autora Ana Mafalda Leite:
Praticamente todos os contos e romances de Mia Couto se faz a crítica aos poderes, ao desvio de bens, à corrupção, ao desrespeito pelos valores morais e éticos, por outro lado, em qualquer um dos livros do autor Moçambicano se problematizam e configuram os enquadramentos e ajustamentos culturais das minorias do país, os indianos, os mestiços, os brancos ou, ainda, os camponeses, os velhos, os que vivem “muito oralmente”, esses que representam outro tempo, os sem tempo, os sem tempo fora dele e, talvez por isso, sem espaço maior que a ilha (2013, p.65).
Vejamos que a autora se refere às escritas do Couto de maneira afirmativa a tudo que diz respeito à sociedade política e social em que o autor se destaca. Ana Mafalda Leite problematiza Moçambique dentro dos contos e romances do autor para explicar as derivadas raízes pós-coloniais, que todos os grupos étnicos vivem. Ainda é interessante ressaltar a forma que Couto narra seus contos retratando no personagem principal da obra um fato recorrente da guerra que abalou os países africanos.
A obra Cada homem é uma raça compõe-se por onze contos, que segundo Mia couto são histórias minimalistas reunidas que encantam pela notável capacidade de nos envolver e sensibilizar, seja pela exuberância da paisagem e seja pela beleza da linguagem.
É Através dos contos constituídos na Cada Homem é uma Raça (2013),que percebe a riqueza de cultura que transmite no período pós-guerra. Eles despertam interesse do leitor a partir do momento em que se percebe a riqueza cultural através da escrita bem desenvolvida de cada narrativa, em especial a escolhida para análise “O apocalipse privado do tio Geguê”, é porque ele estar ligado às reflexões históricas e culturais e despertam o interesse em desvendar os mistérios do tio Geguê e o papel que a mulher exercia no decorrer dessa história tanto no social quanto no político. Desta forma todo o conto é uma base cultural que demostra uma ficção que podem estar liga aos fatores subjetivos da obra. Vera Maquêa nos traz uma visão da maneira como ela via a África, e a identidade Moçambicana a partir da cultura e do sistema político que ele fazia parte:
Não é tanto a África que está ali. O que é o sentido de uma descoberta dos outros, cada um deles sendo uma espécie de outro continente, que está rodeado de mistérios. Esse fascínio instiga a viagem e é essa viagem que dá gosto fazer. Nós sabemos que a identidade moçambicana é algo que ninguém sabe exatamente definir, mas sabemos que todos nós temos que fazer uma viagem para chegarmos lá. A tentação mais forte e mais imediata hoje em Moçambique é a de erguer aquilo que se apresenta como “tradição” para dar credibilidade a uma certa identidade. Quando perto dessa “tradição” e de uma certa “oralidade” mais próximas estaríamos dessa tal Moçambicanidade. Mas isso é uma ideia simplista contra qual vou lutando. É preciso fazer um bocadinho o caminho com suas pernas: tem que ter um pé na tradição é o outro pé na modernidade. Só assim se chega a um retrato capaz de respeitar as dinâmicas e as relações complexas do corpo moçambicano. A chamada “identidade moçambicana” só existe na sua própria construção. Ela nasce de entrosamento, de troca e destroca. No caso da literatura é o cruzamento entre a escrita e a oralidade. (2005, p. 207-208).
O interessante apontar nos estudos de Maquêa é que ela refere a todos que estavam envolvidos neste processo de identificação cultural que foi realmente a descoberta de mistérios que mostrou sua cultura em si, uma tradição que existiu além da colonização portuguesa, tudo diante da real identidade que refletiu nas escritas da própria história de Moçambique.
O gênero conto é uma das narrativas em prosa, a mais breve e condensada de todas. Concentra-se em torno de uma personagem e desenvolve apenas uma história. O conto como nos outros textos narrativos apresenta um enredo, um espaço, um tempo, as personagens. O que o destaca dos demais gêneros em prosa é porque ele apresenta um só conflito, como a fábula, mas, nele as personagens são mais complexas. O espaço no conto em geral é limitado a um ou poucos ambientes. O tempo pode ser cronológico ou psicológico, e o narrador pode ou não ser personagem.
É um gênero textual que apresenta um único conflito, tomando já próximo do seu desfecho. Encerra uma história com poucas personagens, e também tempo e espaço reduzidos. A linguagem pode ser formal ou informal.
O conto “O apocalipse privado do tio Geguê” nos transmite por meio dos traços da linguagem que se trata de um conto que faz parte de uma narrativa que envolve as questões sociais, política bem como o autoritarismo e que de certa forma chama o leitor para refletir o sentimento de opressão, no entanto, leva-o também a desvendar a delicadeza e exuberância da paisagem e da linguagem. Em decorrência deste fato percebe-se que o que Couto faz em sua escrita é mostrar a África através das experiências de seu povo, de suas histórias, das diferentes culturas, e o orgulho de ter nascido em um país africano.
O conto “O apocalipse privado do tio Geguê” traz elementos que representam aspectos tanto da guerra pela Independência quanto da guerra civil em Moçambique, o autor Mia Couto cria uma realidade a partir da memória do sujeito “tio Geguê” que vivenciou os conflitos da Guerra. O conto é narrado em primeira pessoa, pela personagem “Sobrinho” do Geguê. Constatamos no conto que o narrador é constituído de lembranças, ora suas, ora do tio Geguê, pois o rapaz confessa logo no início que “a história de um homem é sempre mal contada. Porque a pessoa é, em todo tempo, ainda nascente” (COUTO, 2013, p. 29), o trecho revela que o sujeito moçambicano é constituído pela mistura de culturas por isso mesmo, o “sobrinho” é produto do nascimento, isto é, dessa necessidade de compreender a dimensão desse espaço sócio/cultura que compõe sua nacionalidade, como demonstra também o trecho que segue “agora, quando desembrulho minhas lembranças eu aprendo meus muitos idiomas. Nem assim me entendo. Porque enquanto me descubro, eu mesmo me anoiteço, fosse haver coisas só visíveis em plena cegueira” (COUTO, 2013, p.29). Nesta passagem notamos que o narrador se destaca principalmente por se reconhecer fruto de um tempo/espaço que já foi de muitos outros, por isso, a dificuldade de se encontrar.
O conflito no conto ocorre logo após o tio ter trazido uma bota velha para a casa, a bota simboliza o passado, a luta política do povo moçambicano pela independência, como também a guerra civil iniciada logo após 1975. Geguê presenteia seu sobrinho com a tal bota, no primeiro momento o jovem não se afeiçoa a ela, pois, para ele o objeto não tinha significado, por isso, questiona o tio, já que guardar uma bota velha não fazia sentido, principalmente, porque não poderia saber em qual dos pés serviria, o esquerdo ou direito, como bem afirma o trecho abaixo:
Um dia me trouxe uma bota de tropa. Grande, de tamanho sobrado. Olhei aquele calçado solteiro, demorei o pé. Duvidava entre ambos, esquerdo ou direito. Um sapato sem par tem algum pé certo? [...] Você sabe de onde vem essa bota? A botifarra estava garantida pela história: tinha percorrido os gloriosos tempos da luta pela independência. – São botas veteranas, essas. (COUTO, 2013, p. 30).
É a partir dessa bota que o narrador começa a interagir com as experiências da guerra, ou seja, ele passa a dar importância às lembranças do tio, respeitando-as muito mais do que sua própria vontade de não pertencer a esse mundo da guerra. A sensibilidade feminina causadora de interrogações ocorre quando, o “sobrinho” sonha com a figura da mãe, que o aconselha a não fazer maldades, pois a mãe viera em sonhos pedir “bondades”, por mais que ele nunca a tinha visto, já que era órfão, mas reconhecia pela doçura da voz que só poderia ser sua mãe, como afirma o trecho que segue:
Sonhava com minha mãe, era ela, eu sei, embora que nunca lhe vi. Mas era, não havia outra doçura assim. Me segurou os braços e me chamou: meu filho, meu filho. Eu me arrepiei, nunca aquelas palavras tinham pousados na minha alma. Ela, o que queria? Nada, só me vinha pedir bondades. Eu que não virasse costas ao coração. O meu comportamento-essa seria sua recompensa (COUTO, 2013, p. 31)
O Sonho, a sensibilidade feminina através da figura da mãe contrapõe a figura da “bota”, pois a narrativa mostra que o narrador ficou dividido entre seguir seu coração depois do conselho materno e a realidade do tio por meio daquilo que a bota representava. No entanto, o tio que é tido como pai para o narrador consegue conduzir o “sobrinho” nos conflitos civis, então, ele passa a exercer atividades desonestas, ele começou a atormentar as pessoas, o menino foi submetido a roubar, enfim, espalhar confusões no bairro onde morava. Semear o medo em todos e em tudo por acatar as ordens do tio, que exercia a profissão de vigilante.
O autor utiliza recursos como a “bota”, a memória e, é por meio deles que evidenciamos a história de Moçambique, pois o narrador toma conhecimento dos fatos por meio de outras personagens que viveram o período da guerra, como se confirma o trecho “tiveram um bocadinho de reunião, discutiram a temática da bota é demasiado histórica, não pode sofrer destino da lixeira. Geguê concordara não se podia deitar tamanha herança fora”. (COUTO, 2013, p.33). Neste aspecto, percebemos a construção do imaginário criado pelo narrador, nesta relação o que se constrói é a relação entre passado e presente, mas o “sobrinho” passa a integrá-las depois da experiência do sonho.
O personagem representado pelo sobrinho do tio Geguê, como pressupõe sua memória, é constituído a partir de uma apresentação do passado pelo seu tio, como uma constituição no presente que ele vivencia. As informações confusas de quem foi sua mãe, as dúvidas que o personagem carrega na memória, em sua imaginação em relação ao passado ao qual ele não conheceu, como está demonstrado no trecho “nasci de ninguém, fui eu que me gravidei. Meus pais negaram a herança das suas vidas. Ainda sujo dos sangues me deixaram no mundo. Não me quiseram ver transitando de bicho para menino, ranhando barbas, magro até na tosse” (COUTO, 2013, p.29) fazem dele uma figura problemática porque não sabe ao certo de onde veio, se de gente ou de bicho. A hipótese é de que ele pode ter nascido de outra coisa diferentemente daquilo que ele é hoje.
Podemos afirmar quepor um lado“O Apocalipse do tio Geguê” é o fim do “tio Geguê”, o passado de guerra civil e, por outro lado, é o nascimento do tempo futuro, um mundo pautado na liberdade de poder sonhar com aquilo que ainda não existiu, a independência política e cultural das pessoas que foram submetidas ao mundo do crime, sobreviveram aos saqueadores em épocas de lutas civis. É uma ficção belíssima em que os fatos vão se desenvolvendo entre as lembranças da história e o mundo dos sonhos, das expectativas porque o “personagem sobrinho” nos revela em sonho seus anseios pela liberdade, já que ele só começou a questionar o “Tio Geguê” após ter sonhado e de ter experimentado a sensação de ter a figura da mãe como sinal de interrogação. Foi através dos questioidntos em relação ao modo de vida do “tio” que o sobrinho passou a pensar no amanhã, ele começou a criar expectativas de uma realidade que só existia no sonho. O que ocorreu foi que ele se desprendeu do passado que continuava fazendo parte do presente e passou a viver o presente inserto, mas, confiante de que as mudanças que poderiam ocorrer, seriam valiosas, assim, o encontro com a mãe é um dos motivos que levou o personagem-narrador descobrir que é possível ser outra pessoa. A sensibilidade feminina foi uma das causas que separou o mundo do crime e o mundo da liberdade, esta última ainda que um sonho foi capaz de prefigurar reflexões a respeito do comportamento do sujeito tanto do “sobrinho” quanto do tio” e a partir disso, construir outro mundo, e na realidade ficcional do conto o “sobrinho” se liberta das memórias do tio.
Outra figura feminina que sensibiliza o sobrinho é “Zabelani”, uma moça, por quem ele se apaixonou. Ela apareceu para transformar a vida dele, foi através dela também que ele se liberta de vez das lembranças do passado e dos crimes cometidos. No entanto, o tio Geguê aponta comentários negativos a respeito da jovem amada porque ele não aceitava que seu sobrinho se envolvesse com a Zabelani, podemos confirmar a posição do tio contra a relação dos jovens no trecho abaixo:
— Esta menina vai desafinar o teu juízo, rapaz.
Proverbiava: Duas árvores só atrapalham o caminho. Vocês, juntos, me vão trazer grande chatice. Enquanto matabichávamos ele me aconselhava, em vagas dicções. A redondura das ilhas, dizia, é o mar que lhe põe. As mulheres são muito extensas, a gente via - já - lhes, a gente sempre se perde (COUTO, 2103, p. 36).
O tio sempre achava um meio de desviar o comportamento do “sobrinho”, não queria mudanças, a demostrar que ele era importante para a continuidade de suas missões. E nesta perspectiva que notamos que o feminino apresentado no “O Apocalipse do tio Geguê”, é uma demonstração de reflexão, de interrogação, de ruptura com o passado.
No final do conto o menino atirou em direção ao tio, e fugiu sem saber se o tinha matado, esse fato torna-se importante porque foi o próprio tio que pediu que o sobrinho atirasse, significa que o passado já não era tão importante quanto o presente e o futuro, como bem confirma o trecho abaixo:
Agora penso: nem me merece a pena saber do destino daquela bala. Porque foi dentro de mim que aconteceu: eu voltava a nascer de mim, revalidava minha antiga orfandade. Ao fim, eu disparava contra todo aquele tempo, matando esse ventre onde, em nós, renascem as falecidas sombras deste velho mundo (COUTO, 2013, p. 46)3.
Nessa senda Mia Couto vai construindo uma narrativa que não apenas acesa o mundo a partir de uma África, de uma Moçambique fortemente marcada por uma guerra e suas mazelas, mas também por um posicioidnto marcadamente politico e ideológico. É possível após a leitura desta obra inferir a complexidade presente, ou as complexidades presentes nesse espaço fronteiriço em que Moçambique busca firmar uma identidade nacional.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que o presente estudo apresentou importantes reflexões a respeito da literatura moçambicana e da história do país. Tudo isso, levou-nos a perceber o valor cultural da escrita do Mia Couto, assim como a essência de suas obras diante do contexto de outras culturas porque acreditamos que arte literária faz com que o leitor se abra a novos conhecimentos.
Em relação aos estudos sobre a guerra de Moçambique de 1975, trouxe a visão mais ampla da realidade que viviam a população moçambicana, diante desse sistema político que desfavoreceu o direito de muitos cidadãos, ocasionou a fome e a miséria, em meio a todos esses aspectos sonhar é preciso, fazer diferente é necessário como ocorreu com as personagens do conto, não fugiram do passado, mas souberam superá-lo e construir novas perspectivas humanas.
Desta forma concluímos que todo o período de guerra que Moçambique sofreu tornou-se passado, mas um passado que não pode ser abandonado porque é dele que novas perspectivas literárias e socioculturais se estabelecem, pois, a maneira bonita de contar a história do país através de metáforas, das linguagens recriadas pelos personagens, de certo modo, poeticamente, faz do contexto sombrio de guerra um presente literário autônomo e rico em diversidade cultural.
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