Revista: Caribeña de Ciencias Sociales
ISSN: 2254-7630


HISTÓRIA, MODERNIDADE E CULTURA VISUAL: DOCUMENTÁRIOS DE WILLIAM GERICKE SOBRE O SUL CATARINENSE ENTRE AS DÉCADAS DE 1940 E 1960

Autores e infomación del artículo

Isadora Farias Espíndola*

Tiago da Silva Coelho**

Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, Brasil
Universidade do Extremo Sul, Brasil

isafariasespindola@unesc.net


RESUMEN
Este artículo tiene como principal objetivo el análisis de los documentales del cineasta viajero William Gericke sobre el sur de Santa Catarina entre las décadas de 1940 y 1960, teniendo como base principal a la perspectiva de la cultura visual. En el caso de que se produzca un cambio en la calidad de vida de las personas que viven en el país, se encajan en ese escenario, destacando el trabajo de las ciudades abordadas como forma de progreso y modernización de la región.
Palabras Clave: Cinema -Cultura Visual - Modernidad - Santa Catarina

HISTORY, MODERNITY AND VISUAL CULTURE: WILLIAM GERICKE DOCUMENTARIES ON THE SOUTH CATARINIAN BETWEEN THE DECADES OF 1940 AND 1960

ABSTRACT
This article has as main objective the analysis of the documentaries of the traveling filmmaker William Gericke on the south of Santa Catarina between the decades of 1940 and 1960, having as main base the perspective of the visual culture. We use as a source the documentaries currently on sites such as Youtube, the text allows a reflection on the process of modernization of cities and the use of cinema as a promotion of this process, mainly in Brazil, as well as Gericke documentaries on Santa Catarina fit this scenario, highlighting the work of the cities addressed as a way of progress and modernization of the region.
Keywords: Cinema - Visual Culture - Modernity - Santa Catarina

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Isadora Farias Espíndola y Tiago da Silva Coelho (2019): “História, modernidade e cultura visual: documentários de William Gericke sobre o sul catarinense entre as décadas de 1940 e 1960”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (febrero 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/caribe/2019/02/william-gericke.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/caribe19022019/02/william-gericke


  1. O USO DE IMAGENS NA HISTÓRIA E A MODERNIDADE.

Enxergamos, pensamos, sentimos e criamos. As imagens são capazes de influenciar de diversas formas a construção do saber histórico, podendo assim dar rumos a formas de compreender e ensinar aquilo que se vê. A exposição de um museu, as imagens de um livro didático, o barulho do projetor do cinema, o clique e o flash da câmera, o que sempre foi motivo de encantamento se torna parte da história, podendo assim construir uma historiografia.
O contato com as produções audiovisuais, e principalmente o ‘fazer filme’ nos levam a compreender o valor das produções de imagens ao longo da história, reconhecendo essas não somente como parte constituinte de um acervo histórico, mas também, como parte que constrói e dialoga com a sociedade que com ela interage, além de uma forma cabível no processo de ensino-aprendizagem. Essa compreensão, parte principalmente da prática de edição e análise fílmica no âmbito dos estudos históricos e produção historiográfica. Ao adquirir tal experiência, construir um roteiro, filmar o que é escolhido, editar, exibir e perceber a reação do público diante de uma exibição faz com que o olhar diante de outras produções se modificasse, caso ocorrido diante dos documentários de William Gericke encontrados no YouTube no ano de 2015 e produzidos entre as décadas de 1940 e 1960 no sul de Santa Catarina, Brasil.
As transformações ocorridas nas diversas formas de fazer e disseminar imagens, dialogam diretamente com o processo de modernidade, período caracterizado pela transformação nas noções de tempo, de trabalho e também no campo das artes. Como um efeito de “ação – reação” cada mudança ocorrida gerou efeito sobre a sociedade que vivia o período. Marshall Berman (1995) em seu texto Tudo que é sólido desmancha no ar, destaca que os homens e mulheres que viviam a modernidade não sabiam que estavam inseridos nela, e nem sentiam as tantas transformações, mas sentiam de certa forma, seus efeitos. O autor destaca dentre outras questões o sentimento de viver simultaneamente em dois mundos:

Ao mesmo tempo, o público moderno do século XIX ainda se lembra do que é viver material e espiritualmente em um mundo que não chega a ser moderno por inteiro. É dessa profunda dicotomia, dessa sensação de viver em dois mundos simultaneamente, que emerge e se desdobra a ideia de modernismo e modernização. (BERMAN, 1985: 16)

Mesmo não compreendendo tantas mudanças, o homem e a mulher moderna passaram a viver com intensidade o período, dialogando diretamente com os discursos vigentes, e com as novas tecnologias, como as ocorridas do campo da arte. Sobre essas, destacamos neste trabalho o cinema como parte de tais transformações. A partir das reflexões de Walter Benjamin (1995), podemos compreender como o cinema alterou também as formas de percepção e recepção de arte, a partir de sua reprodutibilidade técnica, influenciando as ações das massas e o pensamento coletivo. Com grande poder de persuasão os discursos presentes no cinema, refletiram e refletem sempre o período em que é produzido. Pensemos na exibição de cinema feita pelos irmãos Lumière no ano de 1895, em Paris: a sala escura e a população assustada com a grande máquina exibida na tela, o trem vinha pela ferrovia em direção aos telespectadores espalhando uma mistura de surpresa, medo e admiração. Assim como os telespectadores agiram frente a obra dos irmãos Lumière, o homem e a mulher moderna reagiram à modernidade.
Com as transformações da modernidade, o discurso de progresso tornou-se cada vez mais comum em todos os espaços de discussão, e assim, o cinema tornou-se uma forma de promovê-lo, como pode ser observado nos documentários produzidos pelo cineasta William Gericke. O cineasta viajante que percorreu o Brasil durante as primeiras décadas do século XX, vendendo seus documentários para prefeitos e grandes empresas das cidades retratadas; Gericke dirigiu, produziu, filmou e narrou a maioria dos seus documentários, destacando sempre as ideias acerca do progresso por meio do trabalho e estruturas modernas. Criciúma, Urussanga e Imbituba fizeram parte do itinerário do cineasta que na sua produção sobre essas cidades estabelece o mesmo discurso, enfatizando neste caso as minas de carvão, o porto, as fábricas do ramo alimentício, o assistencialismo e o funcionamento de prefeituras, destacando principalmente nomes específicos como o de Henrique Lage, em Imbituba, apontando-o como principal responsável pelo crescimento e desenvolvimento da cidade.
Fica claro que os documentários produzidos por Gericke fizeram parte de um momento em que o cinema iniciava sua trajetória no Brasil, e possui relação estreita com o período referente ao governo de Vargas, que no ano de 1932 assinou o Decreto lei 21.420, que enfatizou dentre outras questões a “produção de um curta brasileiro para cada filme estrangeiro” (DAVI, 2007: 4,), e em seguida, no ano de 1936, também no governo Vargas é fundado o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), entre os principais objetivos, estava o de construir as ideias nacionalistas. A partir das reflexões citadas podemos perceber aspectos muitos semelhantes nos audiovisuais produzidos Gericke nas décadas de 1940 a 1960 no Brasil. Podemos compreender que assim, o cinema brasileiro nas primeiras décadas do século XX encontrava-se refletindo os ideais nacionais de progresso, principal característica da modernidade. E além disso, as ideias daqueles que financiaram as produções, assumindo  assim um caráter de propaganda.
Os audiovisuais filmados nesse período foram recentemente disseminados em sites como Facebook e YouTube e possibilitaram a população da região o conhecimento dos mesmos, assim como o desenvolvimento das pesquisas sobre o tema. O ato de compartilhar publicações, por exemplo, nos remete a reprodução de uma informação inicial para um grande número de pessoas, e esta questão possibilita uma reflexão já citada nesse texto, aquela estabelecida por Benjamin no seu ensaio A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Os documentários sendo disseminados de forma contínua, perdem seu caráter de originalidade, ou seu valor artístico? Por meio desta pesquisa, observamos essa nova relação, e refletimos sobre os audiovisuais produzidos por William Gericke com suporte na Cultura visual. Assim, a produção, reprodução e disseminação dos audiovisuais produzidos por Gericke possibilitam perceber o sul catarinense em processo de transformação, e mais do que isso possibilita a reflexão histórica partindo de uma perspectiva visual. Ou seja, perceber uma sociedade distante da nossa, com características do seu tempo.  Dessa forma é importante compreender que, as imagens em movimento não são somente a ilustração do recorte temporal estabelecido, mas que possibilitam compreender de forma visual o que está e o que não está implícito nas cenas feitas por Gericke. Pensar os vídeos por meio dessa perspectiva torna-se então fundamental, diante da necessidade de compreender contexto, produção e a visualidade dos documentários.

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* Graduada em História pela Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC.
** Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, professor no Curso de História na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC


Recibido: 04/02/2019 Aceptado: 13/02/2019 Publicado: 13/02/2019


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