Kelly Macedo Maciel *
Jean Reis Almeida **
UFAM, Brasil
kellymaciel98@gmail.com
O presente trabalho pautou-se em identificar quais são as ações sustentáveis desenvolvidas pelos empreendimentos atuantes no ramo do artesanato assessorados pela Incubadora AmIC. A Incubadora Amazonas Indígena Criativa – AmIC, localizada no município de Parintins, atua na prestação serviços de consultoria e assessoria a empreendimentos criativos indígenas e não indígenas que fazem parte dos setores do artesanato e turismo de base comunitária. E tem como missão fortalecer e valorizar o empreendedorismo criativo, cultural e sustentável no Baixo Amazonas. A metodologia caracteriza-se quanto aos meios como pesquisa descritiva e quanto aos fins como pesquisa estudo de caso e pesquisa de campo. Os instrumentos utilizados foram observação direta, entrevista estruturada e aplicação de formulário. Os resultados apontam que a empreendimentos preocupam-se em desenvolver ações de cunho sustentável, tendo clara a ideia que estas ações promovem uma visibilidade diferenciada sobre os seus produtos.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Artesanato, Incubadora AmIC.
Resumen
El presente trabajo se basó en identificar cuáles son las acciones sostenibles desarrolladas por los emprendimientos actuantes en el ramo de la artesanía asesorados por la Incubadora Amic. La Incubadora Amazonas Indígena Creativa - AmIC, ubicada en el municipio de Parintins, actúa en la prestación de servicios de consultoría y asesoría a emprendimientos creativos indígenas y no indígenas que forman parte de los sectores de la artesanía y turismo de base comunitaria. Y tiene como misión fortalecer y valorar el emprendedorismo creativo, cultural y sustentable en el Bajo Amazonas. La metodología se caracteriza en cuanto a los medios como investigación descriptiva y en cuanto a los fines como investigación estudio de caso y investigación de campo. Los instrumentos utilizados fueron observación directa, entrevista estructurada y aplicación de formulario. Los resultados apuntan que los emprendimientos se preocupan en desarrollar acciones de cuño sostenible, teniendo clara la idea que estas acciones promueven una visibilidad diferenciada sobre sus productos.
Palabras clave: Sostenibilidad, Artesanía, Incubadora Amic
Abstract
The present work was based on identifying which are the sustainable actions developed by the enterprises acting in the branch of the craft advised by the Incubator AmIC. The Creative Indigenous Amazon Incubator - AmIC, located in the municipality of Parintins, acts in the provision of consulting and advisory services to indigenous and non-indigenous creative enterprises that are part of the community-based arts and crafts sectors. Its mission is to strengthen and value creative, cultural and sustainable entrepreneurship in the Lower Amazon. The methodology is characterized as means as descriptive research and for purposes such as research case study and field research. The instruments used were direct observation, structured interview and form application. The results show that ventures are concerned with developing sustainable actions, with a clear idea that these actions promote a differentiated visibility of their products.
Keywords: Sustainability, Handicraft, Amic Incubator.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Kelly Macedo Maciel y Jean Reis Almeida (2018): “Sustentabilidade empresarial na produção artesanal: um estudo de caso nos empreendimentos assessorados pela incubadora Amazonas Indígena Criativa – AMIC”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (octubre 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/caribe/2018/10/sustentabilidade-empresarial.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1810sustentabilidade-empresarial
1 INTRODUÇÃO
O advento da Revolução Industrial, no início do século XVIII, na Inglaterra, promoveu um rápido crescimento econômico e o aumento de geração de riqueza, garantindo maior prosperidade e melhor qualidade de vida. No entanto, o crescimento econômico desordenado fez com que houvesse um grande uso de energia e de recursos naturais, gerando a degradação contínua do meio ambiente. Entre os problemas ambientais causados pelo processo de industrialização encontram-se: alta concentração populacional; consumo excessivo de recursos naturais; contaminação do ar, do solo, das águas; e desflorestamento (DIAS, 2011).
A exploração do meio ambiente manteve-se ainda durante o século XIX e o século XX. Nessa época a sociedade possuía uma visão equivocada de que os recursos naturais eram infinitos, ou seja, nunca se esgotariam. Contudo, na década dos anos 70 que se tornou evidente a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais. De acordo com Godard (2002) foi neste período que começou a se estabelecer a consciência de que os fatores que causavam os problemas ambientais estavam atrelados nas formas de desenvolvimento tecnológico e econômico.
Diante deste contexto, a ideia de desenvolvimento sustentável está baseada na maneira como o ser humano utiliza os recursos naturais e como preserva esses mesmos recursos para as gerações futuras. Entre tantos eventos e conferências para debater esta temática, foi em 1987, mediante o relatório criado pela Comissão de Brundtland, denominado de “Nosso Futuro Comum”, que o conhecimento acerca de desenvolvimento sustentável ganhou força, além de apresentar uma definição mais clara. O relatório buscou estabelecer uma relação harmônica entre o homem e a natureza. Além de ressaltar que a pobreza é incompatível com o desenvolvimento sustentável, com isso sugere que a política ambiental deva estar integralizada no processo de desenvolvimento e não mais uma responsabilidade setorial fragmentada (DIAS, 2011).
No âmbito empresarial, a questão da sustentabilidade faz com que as organizações busquem formas de reduzir seus impactos ambientais, melhorar sua imagem frente a responsabilidade social e promover um desenvolvimento econômico sustentável. Muitas empresas têm implementado em seus processos produtivos novas ferramentas de produção que causem menos impactos ao meio ambiente, promovendo a melhoria contínua e reduzindo os desperdícios operacionais. No entanto, cabe ressaltar que a sustentabilidade não deve ser buscada apenas por governos ou grandes empresas, mas também por uma casa, pequena empresa ou trabalhadores autônomos, sendo o caso dos artesãos. É neste cenário, que o objetivo desta pesquisa destina-se a identificar quais são as ações sustentáveis presentes na organização produtiva dos empreendimentos assessorados pela Incubadora AmIC, que atuam no ramo do artesanato. E tem como justificativa que a pesquisa é de origem um Projeto Iniciação Científica (PIBIC), tendo como título: “A prática do gerenciamento sustentável nos empreendimentos assessorados pela Incubadora Amazonas Indígena Criativa – AmIC”. Promovido pela Universidade Federal do Amazonas, Campus Parintins, tendo início no segundo semestre de 2017 e concluído no primeiro semestre de 2018.
2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A temática desenvolvimento teve início em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, gerando grandes prejuízos para o mundo, como o desemprego, a miséria, a discriminação racial, desigualdades políticas, econômicas e sociais. Nesse tempo, os territórios coloniais que se tornavam independentes presenciavam um estado de grande pobreza, enquanto, os países industrializados precisavam ser reconstruídos, sendo que sofreram danos estruturais durante o período da guerra (SUNKEL e PAZ, 1988).
O desenvolvimento possui três enfoques: primeiro - no crescimento, ao equiparar o desenvolvimento a níveis de produção e consumo material avaliados por indicadores como produto nacional bruto e renda per capita; segundo enfoque entra outras variáveis como a equidade social e a distribuição dos frutos do crescimento econômico cujos não são considerados como indicadores. O elemento que provoca essas etapas é a industrialização. Por fim tem-se os processos de mudanças estruturais, indicando que o desenvolvimento causa mudanças sociais e políticas estruturais (DIEGUES, 1992). É nesse contexto que o termo desenvolvimento sustentável torna-se um dos subtemas mais discutidos sobre desenvolvimento. Nasce a preocupação em preservar o meio ambiente, onde a geração futura possa desfrutar das mesmas condições de recursos naturais que dispomos atualmente.
Diegues (1992) salienta que em meados da década de 60 o uso intensivo de recursos naturais e a degradação da natureza eram considerados normais e necessários no processo de “desenvolvimento”. Para esses modelos a natureza era considerada fonte de matéria-prima inesgotável, e não um sistema vivo com ações e funções próprias.
Nesse sentido, Sachs (1993) apresenta cinco dimensões da sustentabilidade dos sistemas econômicos que servem como base para o planejamento do desenvolvimento sustentável: social, econômica, ecológica, espacial e cultural. A dimensão social está relacionada ao objetivo de melhorar os níveis de distribuição de renda, diminuindo a exclusão social e a distância econômica existente entre as classes sociais. A dimensão econômica está de acordo com os aumentos na eficiência do sistema, seja na alocação de recursos ou na sua gestão. A dimensão ecológica consiste na preservação do meio ambiente, não comprometendo a oferta de recursos naturais essenciais a sobrevivência do ser humano. A dimensão espacial refere-se ao equilíbrio entre a ocupação rural e urbana. A dimensão cultural concerne as mudanças do modo de pensar e agir da sociedade, ou seja, despertando na sociedade uma consciência ambiental, reduzindo o consumo de produtos causadores de impactos ambientais.
O tema desenvolvimento sustentável é bastante amplo, tanto no sentido de tempo quanto de espaço, com isso Silva e Fraxe (2012) destacam que essa temática remonta aos anos de 1968, com a divulgação do Relatório “Os limites do crescimento”, passando pelo ano de 1987 com a criação do Relatório de Brundtland intitulado “Nosso Futuro Comum”. Esta temática ainda permanece no cenário político por meio das conferências organizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), sendo que no ano de 1972 ocorreu a Conferência de Estocolmo; no Rio de Janeiro, em 1992; e a Rio +20 também realizada no Rio de Janeiro, em 2012.
Dentre as conferências realizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a discussão sobre desenvolvimento sustentável, na Conferência intitulada Rio-92, realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, foi discutido pela primeira vez o desenvolvimento sustentável voltado para o meio empresarial. O Conselho Empresarial para o desenvolvimento sustentável, com a união de 48 líderes empresariais de diversos países, elaboraram durante a Rio-92 o documento intitulado “Mudando o rumo: uma perspectiva global do empresariado para o desenvolvimento e o meio ambiente”. Neste documento o Conselho admite que o progresso em direção ao desenvolvimento sustentável é um bom negócio, criando vantagens competitivas e a geração de novas oportunidades (DIAS, 2011).
3 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
Dias (2011) destaca que o conceito de desenvolvimento sustentável no âmbito empresarial tem se pautado mais como um modo de empresas assumirem formas de gestão mais eficientes, com práticas voltadas para a ecoficiência e a produção mais limpa, em comparação a um aumento do nível de consciência do empresariado em torno de uma perspectiva de um desenvolvimento economicamente sustentável.
O desenvolvimento sustentável nas empresas apresenta três dimensões, sendo a dimensão econômica, social e ambiental. Essas três dimensões se identificam com o conceito de “Triple Bottom Line”, expressão que se tornou conhecida no ano de 1997 com a publicação do livro Cannibals With Forks: The Triple Bottom Line of 21st Century Business, tendo como autor John Elkington (DIAS, 2011).
Segundo Elkington (1998) a sustentabilidade é apresentada como um princípio de assegurar que as ações que são tomadas no presente não influenciem nas gerações futuras, de modo que não limitem as opções econômicas, sociais e ambientais destas gerações.
Dessa maneira, o Triple Bottom Line é conhecido no inglês por 3P (People, Planet e Profit); traduzido para o português como PPL (Pessoas, Planeta e Lucro). No Brasil, este conceito é conhecido como o tripé da sustentabilidade (DIAS, 2011). A figura a seguir demonstra como o tripé da sustentabilidade é desenvolvido em qualquer organização ou tipo de produção:
Por meio da análise do conceito de “Triple Bottom Line”, as questões que envolvem a sustentabilidade empresarial não são encaradas de forma isolada, sendo que estas questões são afetadas pelo desempenho financeiro, reputação ou interação com outras partes interessadas (SOWDEN e SINHA apud DIAS, 2015).
A sustentabilidade social refere-se ao compromisso que as organizações assumem para com os seus colaboradores, fornecedores, contratados e consumidores, além dos seus impactos na sociedade (KRAJNC e GLAVIC, 2005).
A sustentabilidade econômica concerne a atuação das empresas quanto a geração de riquezas e lucros, sendo que através desses dois fatores há a promoção de empregos e possibilita a comunidade a melhoria em suas condições de vida (AUTIO, KENNEY e MUSTAR, 2014).
A sustentabilidade ambiental no âmbito empresarial está pautada pela ecoeficiência nos processos produtivos. Adotar uma produção mais limpa e oferecer condições para o desenvolvimento de uma cultura ambiental organizacional, ou seja, criando uma postura de responsabilidade ambiental (DIAS, 2011).
Na visão de Dias (2011) a sustentabilidade empresarial surge como um elemento de inspiração para a estratégia organizacional, pois permite a criação de novas oportunidades (ampliando mercados e melhorando a reputação) e um melhor controle dos riscos para a continuidade do negócio. Para o autor, muitas das empresas que adotam os princípios da sustentabilidade tornam-se empresas de referência, onde os funcionários reconhecem o significado desses valor extra.
3.1 Artesanato Sustentável
O artesanato é uma atividade que busca apresentar as características regionais de determinada localidade, e também promove a educação. No sentido econômico, a atividade artesanal é considerada uma fonte de renda alternativa, gerando trabalho com um cunho social para as pessoas (FREITAS, 2011).
A definição de artesanato de acordo com o Sebrae (2010) é toda atividade produtiva cujo resultado é a criação de objetos e artefatos acabados, feitos de maneira manual ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade.
Quanto ao artesanato brasileiro, é um dos mais ricos do mundo, e é uma garantia de renda para muitas famílias e comunidades. É por meio do artesanato que é revelado os costumes, tradições e características de cada região. Segundo Mendonça (2011) o artesanato brasileiro resulta da mesclagem de técnicas específicas, onde são aplicadas de acordo com o patrimônio material e imaterial de cada localidade.
No contexto sustentável, a atividade artesanal busca o racioidnto e reaproveitamento dos recursos naturais, otimização da produção, diminuição de custos e a conscientização dos envolvidos neste tipo de atividade. De acordo com o Sebrae (2014) um produto que abrange as dimensões da sustentabilidade (econômica, social e ambiental), possibilita que a sua compra beneficie uma determinada comunidade, o meio ambiente e a busca de um equilíbrio em torno de toda a cadeia de fornecimento. Dessa maneira, por ser produto de apelo cultural, o artesanato se diferencia também pela sua forma de produção ambientalmente sustentável, que prioriza o ganho financeiro acrescido de boas práticas, contemplando o tripé que embasa a sustentabilidade.
Ainda de acordo com o Sebrae (2014) a sustentabilidade não se restringe somente a algo que deve ser buscado pelos governos ou grandes empresas, pode ser buscada por uma casa, uma pequena empresa ou trabalhadores autônomos, sendo o caso dos artesãos. Neste sentido, a sustentabilidade atrelada ao artesanato ganha espaço e poder ser um incremento do próprio produto ou processo produtivo.
4 INCUBADORA AMAZONAS INDÍGENA CRIATIVA – AmIC
Inicialmente, a Incubadora Amazonas Indígena Criativa - AmIC está vinculada a Universidade Federal do Amazonas, com sede em Parintins, município localizado a cerca de 369 Km da Capital Manaus. A incubadora também faz parte do Observatório de Economia Criativa do Amazonas (OBEC-AM), cujo objetivo é formular, implementar e monitorar políticas públicas com foco para o desenvolvimento do Estado do Amazonas, apoiando ações que expressam a criatividade de profissionais e de micro e pequenos empreendedores do Estado. 1 Além disto, a incubadora faz parte do Programa Rede Brasil Criativo, criado pelo Ministério da Cultura. As incubadoras que fazem parte deste programa de acordo com a federação são: Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal. Como princípios norteadores do programa está a diversidade cultural e inclusão social. 2
No que diz respeito a sua atuação, a incubadora AmIC atua no segmento da Economia Criativa, tendo como diferenciais a potencialização do empreendedorismo criativo e inovador e a valorização da cultura amazônica, ressaltando a cultura indígena. Desse modo, atua no fortalecimento de empreendedores criativos que atuam nos setores do artesanato e do turismo de base comunitária (SILVA e RIBEIRO, 2017). Dessa maneira, a sua missão é promover o fortalecimento e valorização do empreendedorismo criativo, cultural e sustentável no Baixo Amazonas. A imagem 2 e 3 apresentam a logomarca e sede da incubadora AmIC.
O início das atividades da AmIC ocorreram no segundo semestre de 2014. Entre suas atividades está o apoio aos empreendimentos assessorados no que tange aos aspectos técnicos no processo produtivo; orientação na captação de recursos; gestão dos empreendimentos, utilizando modelos de negócios criativos e o acesso a informações diferenciadas para a melhor gestão de tais empreendimentos (SILVA et al., 2016).
Atualmente, a incubadora AmIC assessora seis empreendimentos que atuam no ramo do artesanato e turismo de base comunitária. No ramo do artesanato, os empreendedores produzem uma variedade de produtos como biojoias, canetas, portas trecos, objetos decorativos, entre outros. Quanto ao turismo de base comunitária, são associações e cooperativas que através do turismo, promovem a valorização dos atrativos naturais disponíveis, manifestação cultural e a conscientização ambiental dos visitantes e comunitários.
5 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Uma pesquisa científica conceituada metodologicamente constitui-se em procedimentos racional e sistemático, onde se propõe adequar respostas aos problemas a serem investigados. Como forma de solucionar estes problemas, faz-se necessário o uso de métodos, processos e técnicas de pesquisa (DIEHL, 2004).
A técnica utilizada para a apresentação do trabalho é a apresentada por Vergara, onde o autor qualifica dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, a pesquisa caracterizar-se como descritiva, para Vergara (2003) este tipo de pesquisa apresenta as características de determinada população ou determinado fenômeno, além disso, também pode estabelecer relações entre as variáveis e definir a sua natureza. Quanto aos meios, caracteriza-se como pesquisa de campo e estudo de caso. A pesquisa de campo tem como finalidade obter informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta (GIL,2002). Dessa maneira, foi realizado uma pesquisa no local de trabalho de cada empreendimento estudado. Quanto a pesquisa estudo de caso, de acordo com Vergara (2003) é uma pesquisa voltada ao estudo de poucas unidades, como uma pessoa, uma família, um produto, uma empresa; e tem como característica a profundidade e o detalhamento. Neste sentido, o estudo restringiu-se aos empreendimentos assessorados pela Incubadora AmIC, sendo que a finalidade deste estudo foi analisar de que forma a sustentabilidade está presente na organização produtiva de tais negócios.
O universo e amostra da pesquisa, para Vergara (2003) a amostra é uma parte do universo (população) a ser estudada no qual foi escolhida por possuir algum critério de representatividade. A incubadora AmIC presta serviços de consultoria e assessoria a seis empreendimentos, quatro destes empreendimentos trabalham no segmento do artesanato, caracterizando-se como amostras desta pesquisa.
Quanto a coleta de dados, as técnicas utilizadas foram: observação direta, entrevista estruturada e formulário. A análise dos dados respaldou-se em uma perspectiva qualitativa, que na concepção Teixeira (2010) na abordagem qualitativa o pesquisador procura diminuir a distância entre a teoria e os dados, visando a compreensão dos fenômenos pela sua descrição e interpretação. Dessa maneira, para a análise dos dados, foram realizadas análises individuais dos itens contidos nos formulários, das entrevistas e observações. A interpretação dos dados de acordo com Lakatos e Marconi (2003, p.168) “é uma atividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às respostas, vinculando-as a outros conhecimentos”. Nesse sentido, foi realizada uma apreciação teórica sobre as três dimensões da sustentabilidade empresarial e como estão caracterizadas na organização produtiva de cada empreendimento pesquisado.
6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
6.1 Caracterização dos empreendimentos assessorados pela Incubadora AmIC
A Incubadora Amazonas Indígena Criativa – AmIC assessora quatro empreendimentos trabalham com a confecção de artesanatos. Os empreendimentos são: Kbças Gniais, Murumuru Biojoias, Martins Artesanatos e Arte Poranga Nativa.
O empreendimento Kbças Gniais é formado pelo casal de artesãos G. Duque e K. Silva, que atuam nesta profissão há mais de vinte anos. De acordo com o casal, o empreendimento foi idealizado para o desenvolvimento da produção familiar. O público alvo de seus produtos são todos os públicos em geral, especialmente os turistas e grandes empresas regionais e nacionais que encomendam seus produtos para presentear seus clientes.
O empreendimento Murumuru Biojoias tem como idealizador o artesão L. Silva, que atua no ramo do artesanato há mais de dez anos. Mas somente em 2004, segundo o empreendedor, a atividade artesanal virou fonte de renda, pois o mesmo encontrava-se desempregado. Quanto ao público alvo, seus produtos são voltados para todos os públicos e todas as classes.
O empreendimento Martins Artesanatos tem como responsável o artesão M. Martins, sendo artesão há mais de vinte e cinco anos. Inicialmente o empreendedor trabalhava no ramo da confeitaria, tempos depois, migrou para o ramo do artesanato, e o artesão ressalta que busca constantemente aperfeiçoar-se na atividade artesanal. E hoje em dia, o empreendimento é sua principal fonte de renda. Entre seus principais clientes, encontra-se pessoas físicas e algumas empresas que atuam na capital do Estado, Manaus.
O empreendimento Arte Poranga Nativa tem como idealizador D. Oliveira, pertencente a tribo indígena Sateré-Mawé. Começou a atuar no ramo do artesanato indígena desde 1993 até os dias atuais. De acordo com o artesão a criação do empreendimento nasceu da necessidade de dar continuação a atividade produtiva de seus antepassados, e também conquistar a independência financeira que tanto precisava para manter a sua família. Entre os públicos alvos encontram os lojistas, pessoas físicas e turistas.
Com base na aplicação de formulários juntamente aos sócios-proprietários dos empreendimentos pesquisados, foi possível identificar os principais artesanatos comercializados por cada empreendimento.
Percebe-se que os empreendedores criativos apresentam uma variedade de produtos artesanais comercializados. Os artesãos destacam que o design dos seus artesanatos representa a cultura amazônica, ressaltando a fauna e flora presente nesta região, assim como, a representação indígena, cabocla e ribeirinha presentes na região do Baixo-Amazonas.
6.2 Análise das dimensões da sustentabilidade empresarial presentes nos empreendimentos: dimensão social, dimensão econômica e dimensão ambiental.
O impacto da sustentabilidade nas empresas gera a conscientização ambiental, criação de valores sociais e a redução de custos devido ao uso consciente dos resíduos naturais. Neste contexto, foi possível identificar as principais ações desenvolvidas pelos empreendimentos que caracterizam-se como sustentáveis. Utilizou-se como parâmetro as dimensões social, econômica e ambiental. Foi possível observar que os quatro empreendimentos pesquisados possuem as mesmas características no tocante as três dimensões da sustentabilidade. O quadro a seguir apresenta de forma sucinta quais são essas ações sustentáveis, e em seguida, é explicado cada ação.
6.2.1 Análise da dimensão social
Na dimensão social, de acordo com o Sebrae (2014) o artesão percebe a necessidade de contratação de mais pessoas para suprir as várias demandas de produção, no entanto, deve-se atentar para os aspectos da legislação trabalhista, valorização do bem-estar e saúde. Neste contexto, os principais fatores destacados pelos empreendedores são: o modo de contratação informal de funcionários e a ausência de qualidade de vida no ambiente de trabalho.
No que diz respeito a contratação, os empreendimentos, exceto o empreendimento Martins Artesanatos, contratam novos funcionários nos meses que antecedem o Festival Folclórico de Parintins, no entanto esta contratação ocorre de maneira informal, não havendo a assinatura na carteira de trabalho. Destacam que não possuem condições financeiras necessárias para o pagamento de todos os encargos de um funcionário fixo. Entretanto, foi possível identificar que os quatro empreendedores preocupam-se e tem conhecimento sobre a grande importância de apresentar relações de trabalho formalizadas e legalizadas, proporcionando a valorização e segurança do trabalhador.
No que tange a ausência de qualidade de vida no ambiente de trabalho, os quatro empreendimentos apresentam uma estrutura física inadequada, onde o espaço é pequeno, quente e não tem uma organização correta das ferramentas e maquinários. Além do mais, não foram identificados equipamentos de proteção para a segurança dos próprios empreendedores e funcionários, exceto do empreendimento Murumuru Biojoias que dispõe de protetores auriculares, luvas e óculos.
6.2.2 Análise da dimensão econômica
Nesta dimensão, os pequenos negócios devem buscar a redução de custos dos processos produtivos (SEBRAE, 2014). Os quatro empreendimentos pesquisados evidenciaram os seguintes aspectos: redução nos custos pela reutilização de materiais descartáveis e plantio de insumos naturais; geração de empregos; participação em feiras e eventos para a visibilidade de seus negócios.
Grande parte dos artesanatos criados pelos empreendedores pesquisados têm como matéria-prima principal insumos naturais e produtos reutilizáveis, dessa maneira, ocorre a redução nos custos, aumentando a lucratividade e melhora a imagem de seus negócios perante o mercado consumidor.
Os empreendedores destacam que a geração de emprego movimenta a economia local, mesmo que a contratação ocorra de maneira informal.
Quanto a participação em feiras e eventos, os empreendedores ressaltam que essas oportunidades contribui para a maior visibilidade para seus negócios, tornando seus trabalhos conhecidos tanto regionalmente como nacionalmente. E entre essas participações de feiras e eventos, recebem várias encomendas de seus produtos.
6.2.3 Análise da dimensão ambiental
Para o artesão, o grande diferencial de seu negócio está na utilização de materiais reciclados no produto oferecido, ou no processo produtivo (SEBRAE, 2014). Os artesãos destacam que para a confecção dos artesanatos utilizam muito insumos naturais e materiais descartáveis. E entre os insumos naturais, os principais são: jenipapo (genipa americana),cuieira (crescentia cujete), casca de árvore, casca de murici (Byrsonima verbascifolia), sementes de açaí (Euterpe oleracea), murumuru (Astrocaryum Murumuru), najá (Attalea maripa), babaçu (Attalea speciosa), ouriço de castanha (Bertholletia excelsa), bambu (Bambuseae). E quanto aos materiais descartáveis reutilizados são: madeira descartada pelo Polo Moveleiro, osso bovino, garrafas plásticas, latas, borra de café.
De acordo com Dias (2011) a produção limpa tem o propósito sustentável de transformar os recursos naturais em produtos que geram baixo impacto ambiental. Nesse sentido, os empreendimentos estudados seguem o modelo de produção limpa, e, possuem uma conscientização ambiental, pois preocupam-se em saber como os insumos naturais são retirados da natureza. Ressaltam que o desenvolvimento de práticas sustentáveis agregam valores tangíveis e intangíveis para os seus produtos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho propôs identificar de que forma os empreendimentos assessorados pela Incubadora Amazonas Indígena Criativa – AmIC que atuam no ramo do artesanato desenvolvem ações sustentáveis no âmbito da organização produtiva.
Com base nos aspectos observados, torna-se necessário entender que a prática sustentável não é somente um conjunto de medidas ambientalmente corretas. Um negócio para ser caracterizado como sustentável precisa estar em equilíbrio ambiental, social e econômico. Nesse sentido, os empreendimentos em estudo têm clara a ideia sobre a importância das ações sustentáveis e como podem contribuir para o avanço de seus negócios.
Na dimensão social, alguns aspectos devem ser melhorados, como a contratação correta de novos funcionários, respeitando as leis trabalhistas. E readequar o local os empreendedores trabalham, priorizando por um local mais amplo, menos quente e que possua equipamentos de segurança adequado para a realização de cada atividade.
Na dimensão econômica, foi possível observar que o uso de insumos naturais e materiais descartados são grande diferencial competitivo no mercado, atraindo novos clientes que buscam produtos de cunho sustentável.
Na dimensão ambiental, é possível observar que os empreendimentos utilizam os recursos naturais e materiais descartáveis de forma eficiente. Dessa maneira, os empreendedores agem como agentes ambientais procurando impactar de maneira positiva no ecossistema e agregar valor aos seus produtos.
Neste contexto, para que ocorra o equilíbrio entre as três dimensões da sustentabilidade empresarial é necessário que os quatro empreendimentos pesquisados possuam uma gestão eficiente e eficaz que agregue de forma equitativa as questões sociais, econômicas e ambientais.
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*Graduanda em Administração pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Membro da Incubadora Amazonas Indígena Criativa – AmIC.