Revista: Caribeña de Ciencias Sociales
ISSN: 2254-7630


A HERANÇA COLONIAL BRASILEIRA: Quanto as relações sociais e de produção no ciclo do café (1727-2017)

Autores e infomación del artículo

Dayana Crystina Barbosa de Almeida*

Fernanda Lima de Almeida**

Maria Izabel Sá Pantoja da Silva***

Nicoly Calista Tunas****

Heriberto Wagner Amanajás Pena*****

UEPA, Brasil

heriberto@uepa.br


RESUMO

Estudo que objetiva analisar as influências do café dentro do período colonial brasileiro, tanto no sentido social quanto econômico. Para tal utilizou-se de pesquisas documentos e bibliográficas para se analisar a quantidade da exportação cafeeira desde o seu surgimento no Brasil até os dias atuais e como este influenciou na nossa sociedade. Sendo assim inicialmente abordamos o surgimento do café no Brasil, com sua chegada e expansão pelo território, após observamos suas influências sociais e econômicas internamente, além de refletirmos sobre a influência da produção Brasileira no comércio Exterior e os efeitos destas no Brasil.
Palavras-chave: Brasil. Café. Economia.

ABSTRACT

This study aims to analyze the influence of coffee within the Brazilian colonial period, both in the social and economic sense. For that, we used documents and bibliographies to analyze the quantity of coffee exports since its emergence in Brazil to the present day and how it influenced our society. Thus, we first approached the emergence of coffee in Brazil, with its arrival and expansion across the territory, after observing its social and economic influences internally, besides reflecting on the influence of Brazilian production on foreign trade and its effects in Brazil.
Keywords: Brazil. Coffee. Economy. 

ABSTRACTO

Este estudio tiene como objetivo analizar la influencia del café en el período colonial brasileño, tanto en el sentido social como económico. Para eso, usamos documentos y bibliografías para analizar la cantidad de exportaciones de café desde su surgimiento en Brasil hasta la actualidad y cómo ha influido en nuestra sociedad. Así, primero abordamos el surgimiento del café en Brasil, con su llegada y expansión a través del territorio, luego de observar internamente sus influencias sociales y económicas, además de reflexionar sobre la influencia de la producción brasileña en el comercio exterior y sus efectos en Brasil.
Palabras clave: Brasil. Café. Economía.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Dayana Crystina Barbosa de Almeida, Fernanda Lima de Almeida, Maria Izabel Sá Pantoja da Silva, Nicoly Calista Tunas y Heriberto Wagner Amanajás Pena (2018): “A herança colonial brasileira: Quanto as relações sociais e de produção no ciclo do café (1727-2017)”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (julio 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/caribe/2018/07/heranca-colonial-brasileira.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1807heranca-colonial-brasileira


INTRODUÇÃO
O intuito deste artigo é demostrar como o Brasil de hoje é um produto direto de sua herança colonial, ou seja, é mostrar a maneira pela qual os acontecimentos históricos acabaram influenciando os rumos da sociedade brasileira, no campo do progresso econômico e social. Desde sua colonização até o ano de 1930, o Brasil apresentou uma economia agroexportadora. O bom desempenho da economia dependia da exportação das poucas commodities agrícolas, que com o tempo variou os produtos a serem exportados para o mercado internacional em: ouro, açúcar, café, borracha e outros, formando os ciclos da economia brasileira. Entre esses ciclos o que apresentou maior desenvolvimento foi o ciclo do café.
A importância econômica do café refletiu-se na sua expansão geográfica. Todavia a pós a grande geada de 1975, houve um deslocamento das principais zonas produtoras do Norte do Paraná para áreas de clima mais favorável, como o sul de Minas Gerais e o interior capixaba. A exportação brasileira do café começou a crescer a partir de 1816. Na década de 1830-1840, o produto assumiu a liderança das exportações do país, com mais de 40% do total; o Brasil tornou-se, em 1840, o maior produtor mundial de café. Na década 1870-1880, o café passou a representar até 56% do valor das exportações. Começou então o período áureo do chamado ciclo do café que durou até 1930; no final do séc. XIX, o café representava 65% do valor das exportações do país, chegando a 70% na década de 1920.

1. RAÍZES DO CAFÉ NO BRASIL

O café, durante o século XIX e o início do século XX, o principal produto de exportação da economia brasileira, contudo a sua força de exportação não foi imediata, percorrendo um longo caminho até o seu sucesso de produção. O café é uma planta originária do continente africano, das regiões altas da Etiópia e de lá foi levado para diversos lugares, como Arábia, Egito, Turquia e posteriormente para a Europa, durante o século XVII, até chegar na América.
As primeiras mudas de café introduzidas nas américas foram no Suriname, plantio de onde o Sargento Francisco de Mello Palheta transportou para a cidade de Belém- PA, em 1727, sementes que não se difundiu muito na região. No ano de 1774 o desembargador João Alberto Castelo Branco trouxe do Maranhão para o Rio de Janeiro algumas sementes que foram semeadas na chácara do Convento dos Frades Barbadinos. Então espalhou-se pela Serra do Mar, atingindo o Vale do Paraíba por volta de 1820. De São Paulo, foi para Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná.
A história do café no Brasil se confunde em grande parte com a própria história do país devido a sua grande importância econômica e social. Dessa forma, a produção em escala comercial do café ganhou força apenas no início do século XIX. Tal dimensão de produção cafeeira só foi possível com o aumento da procura do produto pelos mercados consumidores da Europa e dos EUA.
A produção do café no Brasil expandiu-se a partir da Baixada Fluminense e do vale do rio Paraíba, que atravessava as províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo, e beneficiou-se da estrutura escravista do país, sendo incorporada ao sistema plantation, caracterizado basicamente pela monocultura voltada para a exportação, a mão de obra escrava e o cultivo em grandes latifúndios, além  do clima e do solo propícios ao seu desenvolvimento . O fato de ser rota de transporte de mercadorias entre o Rio de Janeiro e as zonas de mineração contribuiu também para a adoção da lavoura cafeeira, já que parte das terras estava desmatada, facilitando inicialmente a introdução das roças de café e beneficiando o escoamento da produção através das estradas existentes.
Os capitais iniciais para a produção do café vieram dos próprios fazendeiros e comerciantes, principalmente os que conseguiram acumular capital com o impulso econômico verificado após a vinda da Família Real ao Brasil, a partir de 1808. Contudo, as técnicas de produção de café eram simples, iniciavam-se com o desmatamento da terra para plantação das mudas, que demoravam cerca de cinco anos para começar a produzir, e a colheita era feita manualmente pelos escravos, que, após essa tarefa, colocavam os grãos do café para secar em terreiros. Uma vez seco, o café era beneficiado, retirando-se os materiais que revestiam o grão através de monjolos, máquinas primitivas de madeira formadas por pilões socadores movidos a força d’água.
Após esse processo, o café era transportado nos lombos das mulas para o porto do Rio de Janeiro, de onde era exportado. Mas o aumento da produção cafeeira e os lucros decorrentes dela levaram ao início do processo de modernização da economia e da sociedade brasileira.
Um dos exemplos mais marcantes dessa modernização esteve na construção de ferrovias para o transporte do café, o que aumentou a velocidade do transporte e interligou algumas regiões do Império, principalmente após a expansão das lavouras para as terras roxas localizadas no chamado Oeste paulista, intensificada após a década de 1860. Tal situação levou ainda ao fortalecimento do Porto de Santos como principal local de escoamento da produção.
Em 1836 e 1837, a produção cafeeira superou a produção açucareira, tornando o café o principal produto de exportação do Império. Os grandes latifundiários produtores de café, os chamados “Barões do café”, enriqueceram-se e garantiram o aumento da arrecadação por parte do Estado imperial.
Surgiram ainda os chamados comissários do café, homens que exerciam a função de intermediários entre os latifundiários e os exportadores. Além de controlarem a venda do produto, garantiam aos latifundiários acesso a créditos para a expansão da produção e também viabilizavam a compra de produtos importados.
O café foi, dessa forma, um dos principais esteios da sociedade brasileira do século XIX e início do XX. Garantiu o acúmulo de capitais para a urbanização de algumas localidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo e cidades do interior paulista, além de prover inicialmente os capitais necessários ao processo de industrialização do país e criar as condições para o desenvolvimento do sistema bancário.
Sendo assim, por quase um século, o café foi a grande riqueza brasileira, e as divisas geradas pela economia cafeeira aceleraram o desenvolvimento do Brasil e o inseriram nas relações internacionais de comércio. A cultura do café ocupou vales e montanhas, possibilitando o surgimento de cidades e dinamização de importantes centros urbanos por todo o interior do Estado de São Paulo, sul de Minas Gerais e norte do Paraná. Ferrovias foram construídas para permitir o escoamento da produção, substituindo o transporte animal e impulsionando o comércio inter-regional de outras importantes mercadorias. O café trouxe grandes contingentes de imigrantes, consolidou a expansão da classe média, a diversificação de investimentos e até mesmo intensificou movimentos culturais. A partir de então o café e o povo brasileiro passam a ser indissociáveis.
Durante dez décadas o Brasil cresceu movido pelo hábito do cafezinho, servido nas refeições de meio mundo, interiorizando nossa cultura, construindo fábricas, promovendo a miscigenação racial, dominando partidos políticos, derrubando a monarquia e abolindo a escravidão. Além de ter sido fonte de muitas das nossas riquezas, o café permitiu alguns feitos extraordinários. Durante muito tempo, o café brasileiro mais conhecido em todo o mundo era o tipo Santos. A qualidade do café santista e o fato de ser um dos principais portos exportadores do produto, determinou a criação do Café Tipo Santos.
Contudo, a implantação do café no nosso país, realizada com o mínimo de conhecimento da cultura, fez com que após um tempo regiões em que inicialmente eram realizadas essa cultura se tornassem inadequadas para seu cultivo, fato que foi observado quando a cafeicultura no centro-sul do Brasil começou a ter problemas em 1870, após uma grande geada atingir as plantações do oeste paulista provocando prejuízos incalculáveis.
Apesar da ocorrência de uma longa crise na produção do gênero alimentício após o fato, a cafeicultura nacional se reorganizou e os produtores, industriais e exportadores voltaram a alimentar esperanças de um futuro melhor.
A busca pela região ideal para a cultura do café se estendeu por todo o país, se firmando hoje em regiões do Estado de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Rondônia, fato que continua posicionando o café hoje, como um dos produtos mais importantes para o Brasil e é, sem dúvida, o mais brasileiro de todos. Hoje o país é o primeiro produtor e o segundo consumidor mundial do produto.

2. A EFETIVA HERANÇA COLONIAL BRASILEIRA

2.1 Ciclo do Café no Brasil

Após a independência do Brasil em relação a Portugal, teve início o breve Período Imperial, quando o eixo econômico do país estava começando a se concentrar na região Sudeste, em especial nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Dessa forma, a partir da segunda metade do século XIX teve a ascensão cafeeira e o reajuste da economia regional e nacional, (NEVES, 1974).
De acordo com Silva (2018), o café chegou ao Brasil, na segunda década do século XVIII com Francisco de Melo Palheta, as primeiras mudas foram trazidas da Guiana Francesa. As raízes do café no Brasil foram cultivadas pela primeira vez em 1727, no Pará até chegar à região do Rio de Janeiro, por volta de 1760. Porém, somente no século seguinte a produção foi grande o bastante para torná-lo o principal produto da economia do país, iniciando a sua produção em escala comercial para exportação. Tal dimensão de produção cafeeira só foi possível com o aumento da procura do produto pelos mercados consumidores da Europa e dos EUA. No final do século 18, o café era considerado um produto para o consumo. Nos anos de 1840 a 1850, o produto avançou e conquistou o mercado mundial, tornando-se o principal produto de comercialização no Brasil, (TAUNAY, 1939).
A cafeicultura no Brasil beneficiou-se da estrutura escravista do país, sendo incorporada ao sistema plantation, caracterizado basicamente pela monocultura voltada para a exportação, a mão de obra escrava e o cultivo em grandes latifúndios, (PINTO, 2018). O capital inicial para a produção do café viera dos próprios fazendeiros e comerciantes, principalmente os que conseguiram acumular capital com o impulso econômico verificado após a vinda da Família Real ao Brasil, a partir de 1808.
As técnicas de produção de café eram simples. Mas o aumento da produção cafeeira e os lucros decorrentes dela levaram ao início do processo de modernização da economia e da sociedade brasileira. Em 1836 e 1837, a produção cafeeira superou a produção açucareira, tornando o café o principal produto de exportação do Império. Os grandes latifundiários produtores de café, os chamados “Barões do café”, enriqueceram-se e garantiram o aumento da arrecadação por parte do Estado imperial, (TAUNAY, 1939).
O café foi, dessa forma, um dos principais esteios da sociedade brasileira do século XIX e início do XX. Garantiu o acúmulo de capital para a urbanização do Sudeste do Brasil, além de prover inicialmente o capital necessário ao processo de industrialização do país e criar as condições para o desenvolvimento do sistema bancário, (PINTO, 2018). A queda nas exportações de algodão, açúcar e cacau fez com que os fazendeiros passassem a investir mais no “ouro negro” e ampliassem os cafezais. No início do século XIX o café atingiu alto valor no mercado europeu. Aproveitando essa oportunidade, em 1830 já era o produto mais exportado pelo Brasil, desbancando o ouro e o açúcar (TAUNAY, 1939). Segundo Andrade (1989), na segunda metade do século XIX, o café tornou-se o principal produto de exportação brasileiro, sendo sempre muito consumido no mercado interno também.
Nas primeiras décadas do século XX, a continuidade do crescimento é reforçada por uma política governamental bastante favorável aos interesses do setor, que garante crédito, formação de estoques e intervenções no câmbio para compensar eventuais baixas dos preços internacionais. Pinto (2018) afirma que isso tem efeito positivo: mantém o desenvolvimento da cafeicultura, possibilitando aos fazendeiros investir parte de sua renda em atividades comerciais e industriais, dinamizando a economia urbana. Mas tem igualmente um efeito nocivo: no final da década de 20, a produção interna (28 milhões de sacas anuais) aumenta muito mais que a demanda externa (15 milhões).
A quebra na bolsa de Nova York em outubro de 29 foi um golpe para a estabilidade da economia cafeeira. De acordo com Pinto (2018), o café não resistiu ao abalo sofrido no mundo financeiro e o seu preço caiu bruscamente. As lavouras de café enfrentaram a verdadeira dimensão do mercado. Depois da Revolução de 1930 e dos abalos provocados pela crise econômica mundial iniciada nos Estados Unidos em 1929, o governo Vargas mantém o apoio ao setor cafeeiro por meio do Conselho Nacional do Café e, ao mesmo tempo, decide impulsionar a industrialização.
Na década de 50, as exportações de café ainda representam a maior parte do total comercializado, e o Brasil permanece como o maior produtor mundial. Mas seu reinado absoluto na economia brasileira chega ao fim quando o setor industrial, a partir da segunda metade do século XX, se torna o carro-chefe do desenvolvimento econômico nacional.

2.2 Relações Sociais e de Produção do Café no Brasil (1727 – 2018)

A exploração do Brasil foi muito custosa para Portugal, país que se dividia entre o lucro e a miséria. As desigualdades observadas hoje no Brasil assemelham-se com as desigualdades dessa época. Diferente dos demais países da Europa, o setor agrícola encontrava-se em lamentável estado de subdesenvolvimento, e portanto, traz ao Brasil uma tecnologia retrógada e careira.
D. Manuel, no decorrer de todo o seu reinado, não permitiu o desenvolvimento do Brasil, apenas manejando a colonização diante ameaça de perda de terras com a pirataria. O processo de colonização, portanto, não foi nada espontâneo, ao contrário dos Estados Unidos, onde os ingleses imigraram da Inglaterra com suas famílias e com quase todos os bens que possuíam. Pode-se afirmar que o Brasil experienciou uma colonização masculina, o que explica o fato da miscigenação social o que constitui as características desta sociedade. Diferente de outros colonizadores, Portugal não adotou o sistema de autogoverno, tal qual feito nos Estados Unidos, o que contribuiu enormemente para desenvolvimento social e econômico do mesmo, (GOMES, 2015).
O que deu início à exploração das terras brasileiras foi às reservas de pau-brasil, que se encontravam em abundância, principalmente na costa nordestina, o produto era considerado monopólio dos portugueses. O esforço agrário começaria propriamente pela cultura da cana-de-açúcar, que havia sido introduzida na Península Ibérica pelos Mouros, sendo com eles que os colonos portugueses aprenderam a produzir e aproveitar a cana economicamente, (GOMES, 2015). A colonização portuguesa se preocupava em enriquecer rapidamente, e se esqueceram de desenvolver indústrias.
Quando, em 1727, o Brasil inicia a produção de café, a monocultura é baseada no latifúndio e no trabalho escravo. Segundo Gomes (2015), a abolição da escravatura em 1888 transformou as relações de trabalho nas fazendas paulistas, mas não encerrou as diferenças sociais entre brancos e negros.
Silva (2018) avalia que a produção cafeeira tornou-se o carro-chefe da economia nacional e impulsionou a estruturação econômica, política e social, principalmente do estado de São Paulo (ferrovias; comércio regional; acúmulo de capital), como reforçado no item acima. A mão de obra imigrante, com presença italiana, representou a passagem do trabalho escravista para a mão de obra assalariada, utilizada posteriormente na constituição das primeiras fábricas paulistas. O geógrafo ainda relata que o governo nacional neste período foi constituído pelos grandes fazendeiros de café existentes na região sudeste e conduziram o país em detrimento de seus próprios interesses.
O Sudeste passou a ser a região mais desenvolvida do Brasil, apresentando as maiores concentrações industrial e populacional e a origem dessa concentração industrial e urbana, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, deve-se à economia cafeeira, que representou a força motriz para o desenvolvimento de infraestrutura e acúmulo de capitais, (SILVA, 2018).
Atualmente, existe uma queda relativa na participação do Sudeste na economia brasileira, principalmente na agricultura e na indústria. O setor secundário da região tem sofrido um processo conhecido como desconcentração industrial. Por outro lado, o setor terciário: comércio e finanças, ainda possui forte relevância para a economia nacional.
A economia agroexportadora apresentava, portanto, uma elevada vulnerabilidade visto que a demanda dependia das oscilações do crescimento mundial, (GOMES, 2015). Crises internacionais afetavam diretamente as exportações, criando dificuldades para toda economia brasileira já que todas as atividades dependiam direta ou indiretamente do desempenho do setor exportador cafeeiro. Como o setor exportador cafeeiro era o setor mais produtivo e de maior dinamismo, existia uma elevada concentração dos recursos naturais e de capital. Essa concentração causava uma elevada desigualdade na distribuição de renda. Desigualdade essa, característica do modelo agroexportador.

2.3 Mercado Atual do Café no Brasil.  

Atualmente o Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por 30% do mercado internacional de café, volume equivalente a soma da produção dos outros seis maiores países produtores. É também o segundo mercado consumidor, atrás somente dos Estados Unidos. As áreas cafeeiras estão concentradas no centro-sul do país, onde se destacam quatro estados produtores: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. A região Nordeste também tem plantações na Bahia, e da região Norte pode-se destacar Rondônia, (GOMES, 2015).
A produção de café arábica se concentra em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Bahia e parte do Espírito Santo, enquanto o café robusta é plantado principalmente no Espírito Santo e Rondônia. O Paraná chegou a ter 1,8 milhão de hectares dedicados ao cultivo de café. Hoje esse número é de apenas 156 mil hectares, mas o café ainda está presente em aproximadamente 210 municípios do estado e é responsável por 3,2% da renda agrícola paranaense.
A cafeicultura na Bahia surgiu a partir da década de 1970 e teve uma grande influência no desenvolvimento econômico de alguns municípios. Lima (2004) esclarece que há atualmente três regiões produtoras consolidadas: a do Planalto, mais tradicional produtora de café arábica; a Região Oeste, também produtora de café arábica, sendo uma região de cerrado com irrigação e a Litorânea, com plantios predominantes do café robusta (variedade Conillon).
Na Região Oeste, um número expressivo de empresas utilizando alta tecnologia para café irrigado vem se instalando, contribuindo, assim, para a expansão da produção em áreas não tradicionais de cultivo e consolidando a posição do Estado como o quinto maior produtor com, aproximadamente, 5% da produção nacional, (LIMA, 2004).
Os autores Ferreira & Santos (2018) informam que o consumo interno de café no Brasil em 2017 foi estimado em 21,5 milhões de sacas, que correspondem a aproximadamente 1,07 milhão de toneladas. Com esse volume, o país se destaca como segundo maior consumidor de café em nível mundial, sendo precedido pelos Estados Unidos, que consomem em torno de 25,8 milhões de sacas de café.
O Relatório da Embrapa Café, (FERREIRA & SANTOS, 2018) indica que em 2017 o consumo de café no Brasil aumentou 3,3% em comparação a 2016. De acordo com a pesquisa, esse crescimento demonstra que os apreciadores de café continuam cada vez mais consumindo o produto sob as mais diferentes formas, em função da melhoria da qualidade do Café no Brasil nas últimas duas décadas, o que tem contribuído expressivamente para esse crescimento contínuo do consumo, (FERREIRA & SANTOS, 2018).

3. O MERCADO BRASILEIRO DE CAFÉ NO COMÉRCIO EXTERIOR
3.1 O Café brasileiro no Comercio Exterior: posição do Brasil perante o mercado internacional

No século XIX o Brasil sofria uma estagnação econômica há setenta e cinco anos, não havia técnicas próprias e quase não formava capitais. Era necessário inserir-se no comércio internacional, entretanto o comércio açucareiro que era o primeiro produto de exportação na época estava cada vez menos promissor e o algodão, segundo principal produto brasileiro, era dominado pelo comércio exportador dos Estados Unidos.
O café já era conhecido no Brasil desde o século XVIII, cultivado para consumo local. Porém a partir da metade do século XIX ganhou importância comercial com a alta de preços, devido à desorganização do grande produtor da época que era a colônia francesa do Haiti. Na primeira década da implantação o café já contribuía com 18% do valor das exportações brasileiras, assumindo a terceira posição. Nas décadas seguintes o café despontou e ficou em primeiro lugar nas exportações brasileiras representando mais de 40%. Segundo Celso Furtado, “todo o aumento que se constata no valor das exportações brasileiras, no decorrer da metade do século XIX, deve-se estritamente à contribuição do café”.
Depois do terceiro quartel do século XIX, os termos dos problemas econômicos do Brasil haviam se modificado. O café permitiu ao país integra-se nas correntes de expansão do comércio mundial. Finalizada a primeira etapa da economia cafeeira, encontrou-se condições de autofinanciamento para a expansão subsequente.
A cultura do café tornou-se muito favorável na última década do século XIX, no Brasil beneficiou duplamente os produtores de café: proporcionou o credito necessário para financiar a abertura de novas terras e elevou os preços do produto em moeda nacional com a depreciação cambial.
As condições excepcionais do mercado fizeram com que os produtores brasileiros pudessem controlar três quartos da oferta mundial do café. Segundo Celso Furtado, “Essa circunstância é que possibilitou a manipulação da oferta mundial do café, a qual iria emprestar um comportamento todo especial à evolução dos preços nesse artigo. Ao comprovar-se a primeira crise de superprodução, nos anos iniciais do século XX, os empresários brasileiros logo perceberam que se encontravam em situação privilegiada, entre os produtores de artigos primários, para defender-se contra baixa de preços. Tudo de que precisavam eram recursos financeiros para reter parte da produção fora do mercado, isto é, para contrair artificialmente a oferta. Os estoques assim formados seriam mobilizados quando o mercado apresentasse mais resistência, quando a renda estivesse em altos níveis nos países importadores, ou serviriam para cobrir deficiências em más colheitas”.
A partir da República a política do café se fortaleceu, a produção crescia cada vez mais em detrimento das vantagens do mercado. A cada ano os estoques aumentavam e uma crise de superprodução já era prevista, porém não havia algo que parasse os produtores que fosse tão lucrativo, sendo que o governo comprava as os excedentes. Porém com a crise de 1929 o mecanismo de defesa do café destrinchou, acostumados a contornar a oferta mundial artificialmente pela retenção do produto os produtores não conseguiram controlar a baixa de preços e a diminuição da procura no mundo todo. Sendo muito dependente dessas exportações, a tentativa do governo de controlar a situação foi queimar os estoques de café. Assim a oligarquia do café foi arruinada.

3.2 O comércio do café brasileiro atualmente

O Brasil é o maior exportador de café no mundo, entretanto o segundo maior consumidor perdendo apenas para os Estados Unidos. De acordo com dados do Conselho de Exportadores do Brasil – CeCafé, as exportações dos Cafés do Brasil superaram o volume de 34 milhões de sacas de 60 kg em 2016, das quais 29,56 milhões de sacas foram de café verde arábica, 580,31 mil sacas de café robusta, 29,2 mil de café Torrado & Moído e 3,83 milhões de café solúvel. Segundo o CeCafé, o café arábica e o café solúvel embarcados em 2016 atingiram o maior volume anual desde o início das exportações de café do Brasil.
De acordo com o Relatório mensal dezembro 2016, o ranking dos cinco principais países que compraram o café do Brasil nesse ano foram: Estados Unidos em primeiro lugar, com 6.477.794 sacas, que correspondem a 19% dos embarques brasileiros; seguido pela Alemanha, com 6.220.107 sacas, responsável por 18,3% das exportações; Itália em terceiro lugar, com 2.876.918 sacas (8,5%), Japão em quarto, com 2.538.786 sacas (7,5%); e Bélgica em quinto lugar, com 2.089.747 sacas (6,1%).
No Brasil, o café, principalmente o café verde, é um dos produtos agrícolas de maior relevância no comércio internacional. O País é o maior produtor mundial e, em 2007, suas exportações de café verde corresponderam a 30,55% do total mundial, a frente de países como Vietnã (14,82%), Colômbia (10,5%) e Indonésia (5,93%), segundo estatísticas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Fatores como a alta competitividade, aliada à presença de baixos custos de produção, desenvolvimento de técnicas de cultivo e qualidade dos grãos, estão entre os responsáveis pelo destaque da cafeicultura do País no mercado internacional.
Apesar dessa grande importância, as exportações do café verde brasileiro também são afetadas pela barreira imposta pelos custos de transporte, uma vez que o país exporta o produto para diversas localidades em todo o mundo. Suas exportações vão tanto para países vizinhos, como Argentina, Paraguai e Uruguai, quanto para países distantes, como Japão e Austrália. Além disso, assim como outras tantas commodities agrícolas, o café caracteriza-se pela baixa relação entre valor das exportações do produto e seu volume correspondente. Em outras palavras, o transporte internacional de certo valor de café corresponde ao volume e ao peso maior do que muitos produtos industrializados, por exemplo. Tal fato influencia, de forma direta, o custo de transporte do produto.

4. METODOLOGIA

Como base para o desenvolvimento da metodologia deste artigo, foram utilizados dados de dois artigos publicados internacionalmente, dados do IBGE, dados da International Coffee Organization e do site BizVibe, especialista em negócio e exportações.

4.1 Análise das exportações brasileiras de 1821 a 1913

Com base em Absell e Tena-Junguito (2016) é possível observar o aumento da exportação da produção brasileira em toneladas:

A diferença entre o início da exportação do açúcar e do café é muito grande. O açúcar começou com grandes exportações, entre 1821 e 1850, com 85,5 toneladas e decaiu entre o anos de 1850 a 1870, exportando apenas 3 toneladas. Entre os anos de 1890 a 1913 ocorreu uma melhora, com o aumento das exportações para 36,1 toneladas, contudo nada comparado ao início das exportações. Sobre o café, as exportações, entre 1821 e 1850, já apresentavam altos índices com 114,8 toneladas.  Entre os anos de 1850 a 1870 ocorreu uma pequena queda para 80,3 toneladas e entre os anos de 1890 a 1913 essa queda se acentuou para 53,4 toneladas. Contudo, entre os anos de 1890 a 1913 ocorreu um aumentou vertiginoso, totalizando 564 toneladas de café exportado. O total de exportações de produtos realizado entre os anos de 1821 a 1813 mostra a importância do café para a economia brasileira, de acordo com Absell e Tena-Junguito (2016):

Em meados de 1870, o preço do café estava abaixo da quantidade de sacas exportadas. Porém, entre 1880 a 1895, o preço do café se sobrepôs à quantidade de exportação. Após 1895 até meados de 1909 é possível observar que o preço do café se manteve abaixo do número de exportações. Contudo, de 1870 até 1909, as exportações continuaram aumentando cada vez mais e apenas declinou em 1909 quando, no mesmo período, o preço do café passou a se sobrepor novamente às exportações do café.

4.1 Análise das exportações brasileiras nos anos 2000 e importância na Economia Brasileira

No ano de 2011 a produção do Brasil foi superior à segunda colocada da lista, o Vietnã, em 1165.56 kg. Em 2012, a diferença de produção se acentuou, pois o Vietnã apresentou queda de 123.48 kg e o Brasil aumentou sua produção em 440.52 kg. Nesse sentido, a produção brasileira foi superior à produção vietnamita em 1729,56 kg.
Em relação às exportações, em 2011, de acordo com International Coffee Organization, o Brasil ainda se mantém na posição de maior exportador totalizando 40%:

Como mostra o gráfico de pizza, o Brasil representa a maioria das exportações mundiais de café. O Brasil é o maior exportador mundial de café solúvel e café moído / torrado. Ambos os tipos de café do Brasil são exportados para os EUA. Exportações de café. Não há impostos sobre as exportações de café do Brasil. Segundo o International Coffee Organisation as exportações de café geraram 5,15 bilhões em receita para o Brasil em 2013 e ainda, o Brasil exportará uma estimativa de entre 32 e 33 milhões de sacas de grãos de café em 2014.
Em 2014 a International Coffee Organisation estabelece os dez maiores exportadores de café do mundo e mais o uma vez o Brasil é o primeiro colocado. Hoje, o café é bebido em todo o mundo com uma produção de 150 milhões de sacas em 2014. A maior parte do café do mundo vem dos cinco grandes produtores de café Brasil, Vietnã, Indonésia e Colômbia. O Brasil, sendo o maior produtor mundial de café com mais de 50 milhões de sacas em 2013, tendo a produção brasileira superando os outros quatro países juntos. Embora a produção brasileira de café com queda nos próximos anos devido a implicações climáticas, eles ainda sejam responsáveis ​​por cerca de 40% do café mundial, com o próximo dos quatro maiores exportadores sendo cerca de 30%.
De acordo com o BizVibe (2017), a liderança do Brasil em exportação de café se deve ao fato de que o café brasileiro é considerado um dos melhores do mundo e muito disso pode ser atribuído ao fato de que o café tem baixa acidez. Tornando muito lucrativo para o mercado dos EUA quando se trata de exportação de café. Os americanos realmente importam 22% de todas as exportações de café do Brasil, com a Alemanha ocupando o segundo lugar em uma sombra acima de 18%, e a Itália, com as exportações brasileiras de café em 9,5%. O setor cafeeiro no Brasil continua tendo apelo de massa aos mercados globais em vastas regiões.
Quando se trata de exportações de café do Brasil, o International Trade Center informou recentemente que o Brasil exportou quase US $ 4,9 bilhões ou 1,8 bilhão de toneladas de café para o mercado global em 2016, representando mais de 15,8% do total das exportações mundiais de café naquele ano, tornando o Brasil maior exportador de café do mundo novamente. Alemanha, EUA, Itália, Japão e Bélgica foram os cinco maiores destinos de exportação para os produtos de café do Brasil em 2016.  Atualmente, os EUA, a União Européia e o Japão - os três maiores mercados exportadores de café para o Brasil - permitem a exportação isenta de impostos de café não processado do Brasil. O café processado, como grãos torrados, café solúvel e café descafeinado são tributados em 7,5% na UE e 10% no Japão. As exportações de café do Brasil para os EUA são livres de tarifas, graças ao acordo de comércio preferencial com os EUA. Uma grande razão para mais de 22% de suas exportações vai para os EUA.

Podemos perceber que, até 1750, o domínio absoluto de exportação de produto brasileiros era do açúcar. De 1750 a 1841 ocorreu uma queda uma representativa da exportação do açúcar. Entre os anos de 1841 a 1900 já existe um número significativo de exportações de café que aumentam até 1930. Nos anos seguintes há uma queda significativa na exportação, mas esses números se mantém estáveis até os anos 70, com o café totalizando em torno de 39% do total de exportações de produtos do Brasil. Isso nos mostra que até os anos 30 a economia brasileira dependia quase que exclusivamente do café, mas esse quadro começou a mudar entre a metade e o final dos anos 40 quando a exportação de outros produtos como minerais e bens manufaturados começam a aumentar. Na década de 70 podemos ver que os produtos classificados como Outros detém aproximadamente 54% das exportações, demonstrando que a economia do Brasil já não era mais dependente do café.
Em 2017 a variação no total de produtos exportados pelo Brasil e a diminuição da porcentagem do café é evidente, de acordo com Torres (2017):

Torres (2017), com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior, mostra que em 2017 a soja, mesmo triturada, foi o principal item de exportação do Brasil em abril. Nesse sentido, a lista dos cinco principais produtos de exportação do Brasil segue com: minérios de ferro e seus concentrados em 2°, óleos brutos de petróleo em 3°, automóveis de passageiros em 4° e açúcar de cana bruto em 5°. A soja mesmo triturada corresponde à US$ 3,948 bilhões (22,32%) do valor total exportado pelo país no período. O valor total de bens exportados pelo Brasil em abril de 2017 somou US$ 17,686 bilhões. Em relação ao café, embora este produto possua uma exportação significativa, se considerarmos os valores em dólares, de $329.775.290, na atualidade, corresponde à somente 0,018% do total de exportação brasileira, figurando apenas no 9º lugar da lista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A principal consequência do Ciclo do Café no Brasil, segundo Silva (2018) foi a economia brasileira ficar muito dependente das exportações deste produto por um longo espaço de tempo. Assim, por exemplo, quando o preço do produto caia, o governo brasileiro comprava estoques e queimava para aumentar o preço, na afirmação da política de valorização do café. Outras consequências negativas foram: a concentração do poder político e econômico na região Sudeste; o aumento do desenvolvimento industrial e urbano somente nos estados do Sul e Sudeste; a imigração europeia quase escravocrata para as lavouras de café e as indústrias. Como consequências positivas, pode-se observar a construção de ferrovias para escoar a produção de café do interior de São Paulo para o porto de Santos e o impulsionamento do desenvolvimento do mercado brasileiro e da região Sudeste.
O maior problema no sistema agroexportador adotado pelo Brasil foi o descompasso entre a base produtiva e a estrutura de consumo, ou seja, a exportação era uma das únicas bases que determinava a renda nacional. Não havia investimentos em bens de consumo ou tecnologia, por exemplo; tudo era importado. Deste modo, qualquer problema no balanço de pagamentos (diminuição de exportações ou guerras) poderia ocasionar uma diminuição das importações, afetando diretamente as condições de consumo da população.
Um dos problemas da economia agroexportadora também era as oscilações de preço do produto exportado. Quando o preço subia, aumentava a lucratividade e parte desse lucro era reinvestido no próprio setor. Porém, esse reinvestimento não aumentou a remuneração dos trabalhadores empregados no setor cafeeiro, mas sim a quantidade de funcionários, já que nessa época (final do séc. XIX) o contingente de trabalhadores aumentou significativamente ocasionado pelo aumento do fluxo imigratório e pelo fim da escravidão, (FURTADO, 1974).
Nos últimos anos da República Velha o café era o produto que sustentava a economia brasileira e se encontrava em constante expansão. Em 1930 a economia mundial entrou em uma das maiores crises da história e causou uma enorme baixa no preço do café. O “fracasso” do modelo agroexportador trouxe à tona a necessidade da industrialização, que já havia iniciado no fim do século XIX, e se tornou meta prioritária de investimentos. Em consequência, criou-se um mercado interno importante, principalmente no Centro-Sul, que foi o suporte para um desenvolvimento sem precedentes das atividades industriais, comerciais e financeiras. O café, sobretudo, consolidou a hegemonia política e econômica do Centro-Sul, transformando-o na região brasileira onde o desenvolvimento capitalista foi pioneiro e mais acentuado. Desde os anos 50, a importância do café para a economia brasileira tem decrescido sensivelmente.
Ferreira (2016) conclui, concordando com Sérgio Silva, economista brasileiro e estudioso do processo de industrialização do Brasil que as profundas transformações no setor cafeeiro observadas a partir da segunda metade do século XIX sinalizam de alguma maneira que a economia e a sociedade do país iniciaram seu processo rumo ao capitalismo. Vistos deste modo, tanto a expansão cafeeira quanto a industrialização seriam “estágios da transição capitalista no Brasil”.
É nesse sentido que este artigo afirma ser o café um marco no processo histórico brasileiro de formação da economia nacional: ele está na origem e arraigado em a formação capitalista, o que explica sua importância econômica. Para Celso Furtado (supracitado por Ferreira, 2016), “dificilmente um observador que estudasse a economia brasileira pela metade do século XIX chegaria a perceber a amplitude das transformações que nela se operariam no correr do meio século que se iniciava”. Frase esta que inicia um dos capítulos do livro de Celso Furtado, denominado de: Formação Econômica do Brasil (referência até hoje nas universidades dos cursos de economia do país), ao nosso propósito, o livro demonstra a preponderância do café na formação da economia brasileira à medida que as transformações às quais o autor faz referência recaem sobre o setor cafeeiro.
Além disso, com a Revolução Industrial a todo vapor, as jornadas de trabalho sofreram alterações significativas, o que motivou a busca por estimulantes para todos os envolvidos nas produções industriais. O café, naquele momento histórico, cairá como uma luva. E o Brasil soube aproveitar o momento. Os números apresentados por Furtado são surpreendentes: “No primeiro decênio da independência o café já contribuía com dezoito por cento do valor das exportações do Brasil, colocando-se em terceiro lugar depois do açúcar e do algodão. E nos dois decênios seguintes já passa para primeiro lugar, representando mais de 40% do valor das exportações”.
Ademais, a expansão cafeeira viabiliza a acumulação de capital na economia brasileira, satisfazendo em parte os pré-requisitos necessários para o desenvolvimento propriamente industrial do país, observado mais adiante, a partir de 1930. Assim, pode-se afirmar que o café ganhou notoriedade comercial por uma imposição histórica durante o século XIX e, a partir de então, não deixou de ser relevante na pauta exportadora brasileira. Além disso, por compor a base de acumulação de capital da economia brasileira, pode-se dizer que o Grande Capital Cafeeiro é o precursor do Capital Industrial nacional, o que explica sua importância à nação e à formação econômica do Brasil. A popularidade, por sua vez, advém de alguns traços da base sobre a qual se apoiou esse capitalismo. Traços estes que transcenderam o tempo e aparecem hoje, todos os dias, nas xícaras das manhãs.

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*Graduada em Letras Inglês (UFPA), Mestra em Letras Estudos Literários UFPA, Doutoranda em Letras (UFPA), graduanda do curso de Relações Internacionais (UEPA) e Professora Assistente II (UNIFESSPA).
** Graduada em Psicologia (UNAMA) e graduanda do curso de Relações Internacionais (UEPA).
*** Graduanda em Direito (FACI) e graduanda do curso de Relações Internacionais (UEPA).
**** Graduanda do curso de Relações Internacionais (UEPA).
***** Professor Adjunto da Universidade do Estado do Pará – (UEPA)


Recibido: 15/07/2018 Aceptado: 19/07/2018 Publicado: Julio de 2018


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