Revista: Caribeña de Ciencias Sociales
ISSN: 2254-7630


ABORDAGEM FUNCIONAL DA LÍNGUA E A ABORDAGEM FUNCIONAL DA GRAMÁTICA VISTA POR GIVÓN

Autores e infomación del artículo

Aguinaldo Pereira *

Universidade de Brasília, Brasil

aguinaldo.pereira@cfs.ifmt.edu.br

Resumo: No presente artigo busco apresentar pontos importantes sobre os fenômenos gramaticais da abordagem funcional apresentadas por Givón (2001) em sua obra Syntax An Introduction, mais precisamente no capítulo The functional approach to language and the typological approach to gramar.  O objetivo dessa revisão bibliográfica é apresentar alguns dos principais pontos que o referido autor traz sobre a abordagem funcional da língua e a abordagem funcional da gramatica, cotejado com obras de alguns autores como Chomsky (1961, 1965), Greenberg (1966a, 1966b, 1974, 1976, 1978, 1979), Hopper (1987), Sapir (1921) e Jespersen (1965).

Palavras-chave: Abordagem funcional, gramática givoniana, funcionalismo, tipologia.

Abstract: In the present paper I seek to present important points about the grammatical phenomena of the functional approach presented by Givón (2001) in his work Syntax an introduction, more precisely in the chapter The functional approach to language and the typological approach to grammar. The objective of this bibliographic review is to present some of the main points that the author brings about the functional approach of the language and the functional approach of grammar, compared with works by some authors such as Chomsky (1961, 1965), Greenberg (1966a, 1966b, 1974, 1976, 1978, 1979), Hopper (1987), Sapir (1921), and Jespersen (1965).

Keywords: Functional approach, givonian grammar, functionalism, typology.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Aguinaldo Pereira (2018): “Abordagem funcional da língua e a abordagem funcional da gramática vista por Givón”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (febrero 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/caribe/2018/02/abordagem-funcional-givon.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1802abordagem-funcional-givon


1. Introdução

Em seu trabalho Syntax An Introduction no capítulo I - The functional approach to language and the typological approach to gramar, T. Givón apresenta pontos de importância para estudantes de sintaxe, linguistas e estudiosos da língua, mais precisamente a respeito dos fenômenos gramaticais da abordagem funcional, buscando apontar desde suas bases epistemológicas, encontrada, segundo Givón (2001), na antropologia, psicologia, biologia e filosofia, como também a apresentação de dados para a construção das ideias básicas da gramática funcional.
A finalidade deste artigo é revisitar, segundo um olhar voltado para dentro do próprio texto de Givón, a respeito da maneira como o autor reflete sobre a abordagem funcional da língua e tipologia gramatical, o que acredito contribuir para reflexões futuras para a estudantes de linguística e principalmente na área da sintaxe. Para isso, buscarei atentar para cada ponto disposto no referido capítulo, totalizando oito pontos ao todo.

2. Abordagem funcional da língua
Em retomar o funcionalismo na filosofia, Givón apresenta as impressões de Aristóteles sobre o estruturalismo, bem como o princípio regente do funcionalismo – a correlação ou o isomorfismo entre forma e função. Denuncia também o autor para o fato do estruturalismo enquanto disciplina ser para a biologia inclinada ao senso comum. Além do mais, as ideias estruturalistas estenderam para a gramática nos postulados saussurianos de arbitrariedade, o que Givón chama de ato irrefletido.
Givón (2001) esclarece pontos cruciais de discussão ao abordar os primórdios estruturalistas e como foi retomado por linguistas e gramáticos da modernidade. Em seguida busca traçar os fundamentos lógicos do funcionalismo visto pela ótica da biologia aristotélica, bem como a atual, buscando traçar um paralelo entre as duas áreas do conhecimento: biologia e linguística. A biologia moderna é tomada como ponto de partida por apresentar correlação ou isomorfismo entre forma e função, o que é estendido na abordagem funcionalista de Givón como princípio da iconicidade.
O que parece contraditório, segundo o autor, é o fato de que mesmo sendo o estruturalismo pré-aristotélico refutado, e mais atualmente dado como questão acabada na biologia, linguistas modernos ampararam ideias gramaticais dentro dessa linha epistemológica.
Se por um lado a gramática estruturalista tem como ponto de partida as ideias de filósofos como Empédocles e Demócrito, refutadas por Aristóteles, os quais compreendiam os organismos através das partes dos componentes; por outro, a abordagem funcional da gramática deve seu início ao que foi descartado por Chomsky em Aspects of the Theory of Syntax (1965). Nesta obra, Chomsky admitiu que a estrutura sintática profunda fosse isomórfica a sua estrutura lógica, ou seja, a obra dá abertura para o pressuposto de correlação entre forma e função, o que foi posteriormente desenvolvido no funcionalismo como princípio de iconicidade.
No que tange a gramática e seu papel no processamento da informação, pode se dizer que Givón aponta os principais pontos desse postulado, ao mesmo tempo que coloca as razões da obscuridade do estruturalismo tradicional na análise da oração e suas partes, distantes do contexto discursivo.
Como mostra Givón (2001, p.11): pode-se entender o significado de orações independentes do discurso em que estão inseridos, mas não se pode compreender o discurso sem compreender as proposições que a compõem. Dessa forma, as palavras são perfeitamente significativas por si só, independente da proposição em que se encontram. No entanto é preciso entender as palavras para entender a proposição em que estas se encontram. E, por seguinte, podemos entender o significado de orações independentes do discurso em que estão inseridas, mas não podemos compreender o discurso sem compreender as proposições que a compõe. Podemos acrescentar nessa premissa funcionalista que há uma relação de inclusão entre palavras, informação proposicional (orações) e discurso.
Nesta mesma ordem, Givón qualifica em categorias o modo gramatical e pré-gramatical, vista por suas propriedades: estrutural, funcional e cognitiva. Nesse sentido, mesmo havendo uma distância entre os dois modos, percebe-se nos exemplos dado pelo autor (2001, p.14-15) que em todos os casos de comunicação pré-gramatical, há discurso multiproposicional.
A forte dependência de vocabulário nos modos de comunicação pré-gramatical, segundo o autor, coincide com o fato de que o vocabulário surge antes de gramática, tanto na primeira quanto na segunda aquisição da linguagem.
A fragmentação do discurso como recurso metodológico de análise gramatical, como já vem sendo usado pela gramatica tradicional apresenta pontos positivos e em certa medida incontestáveis empiricamente, segundo Givón (2001). O autor, no entanto, nos chama a refletir sobre os limites dessa certeza.
Os pontos positivos no isolamento das orações como método de análise gramatical podem ser então dois: não há por onde começar a segmentação do fluxo da fala natural; e esse método já é tido como incontestável pela tradição linguística.
Ao verificar, no entanto, os exemplos dados por Givón (2011), vejo que alguns simples questionamentos leva a melhor reflexão sobre as proposições da gramática tradicional. Na reprodução de parte dos exemplos usados pelo autor logo abaixo percebo que o mesmo conteúdo (valor) semântico proposicional pode aparecer em grande variedade de orações sintáticas.
a. Marla hit Henry
h. Marla hit him
p. Having hit Henry, (Marla left)

Os exemplos acima não poderiam ser tomados isoladamente, pois as intenções comunicativas que há neles, como as ligadas a negação – e as não declarativas aos de fala podem parecer fáceis para uma reflexão consciente, porém outras não. Sendo assim, segundo o autor, esse é o lugar em que o estudo da gramática passa a fazer sentido, ou seja, no contexto comunicativo natural.
Dessa forma, a construção sintática ocupa lugar principal na descrição gramatical, sendo esses os instrumentos de codificação gramatical responsável por sinalizar a função do discurso pragmático.
Nos termos de Givón (2011), construções sintáticas têm ao mesmo tempo emprego semântico proposicional e discurso pragmático. Dessa forma, está muitas vezes em conflito, o que é causado pelas pressões funcionais concorrentes. Orações análogas podem tomar papéis diferentes em argumentos pragmáticos.
Isso me leva a refletir mais uma vez sobre o modo isolado de análise sintática. No isolamento dos termos não é possível a identificação dos diferentes papéis do discurso pragmático, o que vem sendo criticado por Givón ao longo de seu trabalho.
Como tipologia gramatical compreende-se o estudo da diversidade de estruturas que podem ser executas pelo mesmo tipo de função, ou seja, a enumeração dos principais meios pelos quais diferentes línguas codificam o mesmo domínio funcional. Dessa forma, tipologia gramatical não pode ser tomada pelo viés da arbitrariedade dos postulados saussurianos.
Estruturalistas desde Aristóteles tomaram como certo a arbitrariedade da gramática e consequentemente a exclusão dos universais gramaticais. Por outro lado, a gramática tipológica somente é possível se for baseada numa organização não estrutural de definição do domínio funcional tipificado.

3. A abordagem funcional da gramática
No funcionalismo, os grupos tipológicos de estruturas funcionam também para a gramática, ou seja, o agrupamento das línguas é baseado na similaridade de suas estruturas. Por outro lado, é reconhecido que no meio estrutural não é o único meio para afetamento da função comunicativa.
É assim, segundo a compreensão obtida em Givón, visto que tipologia gramatical feita somente numa abordagem sincrônica não leva em consideração a soma das várias vias de gramaticalização que se dá ao longo da história, ou seja, uma abordagem diacrônica. Nesse sentido, é preciso considerar as duas abordagens com suas importâncias devidas.
Quanto aos universais linguísticos, o autor traz as três abordagens para o tema: a de superestimação da diversidade, encontradas em Aristóteles, Saussure e Bloomfield; a diversidade como superficial, tomadas por Platão, Saussure e Chomsky; e o equilíbrio entre os dois anteriores. Os universais não precisam ser absolutos, e são entendidos numa relação de grau ou tendência. Essa abordagem é postulada por Greenberg (1966a, 1966b, 1974, 1976, 1978, 1979), onde as línguas podem codificar o mesmo domínio funcional por mais de um meio estrutural.
Nota-se ao longo da construção da teoria givoniana um ponto de equilíbrio entre os extremos propostos ao longo da história, desde Aristóteles até Chomsky. Isso também pode ser visto na diversidade restrita, conforme os termos do autor. Segundo Givón, as línguas podem diferir tipologicamente na maneira de codificar o mesmo domínio funcional por diferentes meios estruturais. Isso é possível porque as línguas exibem diferenças consideráveis na forma como organizam, ou esculpem domínios funcionais como códigos gramaticais.
Dessa forma, concordamos quando o autor discute sobre o limite do controle de regras, se colocando novamente entre dois exemplos extremos: Chomsky (1961) e Hopper (1987). No primeiro, o linguista entende a gramática como regras matemáticas, inflexíveis e com muitos algoritmos. No segundo, o linguista tem uma visão da gramática totalmente flexível e sempre negociada no ato discursivo, sempre dependendo do contexto usado no ato comunicativo.
Os dois casos anteriores só são passíveis de verificação e constatação em fatos seletivos da comunicação humana, o que não faz deles uma regra. No entanto, ainda será preciso entender o limite do controle de regras. A resposta vem, segundo Givón, com a posição de dois outros nomes da linguística: Edward Sapir e Otto Jespersen.
Para Sapir (1921), as regras não escapam a todo tempo, mas não estão livres de escapamento. Enquanto Jespersen (1965) não rejeita a rigidez da gramática, mas sua forma tirânica de não abrir exceções. Dessa forma, mais uma vez Givón se coloca no entremeio, buscando uma solução racional para as questões sintáticas das línguas.

4. Conclusão
Finalizando, retomo um ponto de suma importância para o funcionalismo: a não arbitrariedade gramatical, ou seja, a de que a gramática é motivada. Essa ideia, a princípio, originou o termo “naturalidade da gramática”, que por seguinte a de iconicidade, trazida por Pierce (1940).
Para Pierce (idem), a iconicidade não é absoluta, mas uma questão de grau. Nesse sentido, na maioria das construções gramaticais, os dispositivos são intercalados com mais arbitrários dispositivos (regras). Entretanto, segundo Givón (2011), quando se olha a evolução gramatical, através dos processos adaptativos perfeitamente motivados, isso pode parecer ir contra a ideia de iconicidade na língua. Ao que me parece, e bem colocado por Givón (2011, p. 37), a aparente ideia de não iconicidade colocada anteriormente não elimina a natureza de gramaticalização, mas sim seu inevitável sistema de complexidade.
Como posso concluir, segundo o funcionalismo, a linguagem é vista primeiramente em termos de seu uso em contexto, ou seja, a língua (e por seguinte a gramática) não podem ser descritas ou explicadas como um sistema autônomo.

5. Referencial bibliográfico:
CHOMSKY, N. On the notion ‘rule of grammar’, Proceedings of Symposia on Applied
Mathematics, Vol. 12, Providence, RI: American Mathematical Society, 1961.

____________. Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge, MASS: MIT Press, 1965.

GIVÓN, T. Syntax: An Introduction. Vol.1. Amsterdam: John Benjamins, 2011.
GREENBERG, J. On some universals of language with particular reference to the order of meaningful elements, in: J. Greenberg 1966a.

____________. Language Universals. The Hague: Mouton, 1966b.

____________. The relation of frequency to semantic feature in a case language (Russian), Working Papers in Language Universals, 16, Stanford: Stanford University, 1974.

____________. Language Universals, With Special Reference to Feature Hierarchies. The Hague: Mouton, 1976.

____________. The Niger-Congo class markers: Prefixes, suffixes, both or neither, Studies in African Linguistics. Supplement #7: 94–104, 1977.

____________. Diachrony, synchrony and language universals, in: J. Greenberg et al. (eds. 1978), Vol. 2, 1978.

____________. Rethinking linguistic diachronic. Language, 55, 1979.

HOPPER, P. Emergent Grammar, BLS #13, Berkeley: Berkeley Linguistics Society, 1987.

JESPERSEN, O. The Philosophy of Grammar, NY: Norton, 1965.
SAPIR, E. Language. Harcourt, Brace and World (Harvest ppbk.), 1921.


* Professor português/ inglês do IFMT – campus Confresa. Doutor em Linguística pela Universidade de Brasília. e-mail: aguinaldo.pereira@cfs.ifmt.edu.br Rua Mato Grosso n.127 Centro – Confresa/ MT/ Brasil.

Recibido: 15/01/2018 Aceptado: 16/02/2018 Publicado: Febrero de 2018


Nota Importante a Leer:
Los comentarios al artículo son responsabilidad exclusiva del remitente.
Si necesita algún tipo de información referente al articulo póngase en contacto con el email suministrado por el autor del articulo al principio del mismo.
Un comentario no es mas que un simple medio para comunicar su opinion a futuros lectores.
El autor del articulo no esta obligado a responder o leer comentarios referentes al articulo.
Al escribir un comentario, debe tener en cuenta que recibirá notificaciones cada vez que alguien escriba un nuevo comentario en este articulo.
Eumed.net se reserva el derecho de eliminar aquellos comentarios que tengan lenguaje inadecuado o agresivo.
Si usted considera que algún comentario de esta página es inadecuado o agresivo, por favor, escriba a lisette@eumed.net.

Sitio editado y mantenido por Servicios Académicos Intercontinentales S.L. B-93417426.
Dirección de contacto lisette@eumed.net