Revista: Atlante. Cuadernos de Educación y Desarrollo
ISSN: 1989-4155


VIOLÊNCIA ESCOLAR E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DE ESTUDANTES

Autores e infomación del artículo

Ádria Carneiro da Silva*

Corina Fátima Costa Vasconcelos**

Jadson Justi***

Universidade Federal do Amazonas, Brasil

adriacarsilva@gmail.com


RESUMO

O presente artigo objetiva investigar como os casos de violência afetam o processo ensino-aprendizagem. Metodologicamente, este estudo engendra-se como qualitativo. A coleta de dados ocorreu por meio da observação direta, entrevista semiestruturada e questionário. Os resultados evidenciam que estudantes são diariamente submetidos a casos de violência física e simbólica por meio de apelidos, agressões físicas e bullying. Para professores, gestão escolar e coordenação pedagógica, a violência na escola afeta tanto o trabalho do docente quanto a aprendizagem de alunos. Portanto, diante dos casos de violência aos quais os estudantes são submetidos, é imperativo a escola inserir a questão dessa realidade em pauta de modo a ser mais discutida, bem como buscar alternativas para minimizá-la por meio de ações apontadas pelos estudantes, tais como: trabalho com projetos, fortalecimento da parceria família e escola e, sobretudo, a construção de relações mais afetivas entre professores e alunos.

Palavras-chave: Violência escolar, Ensino-aprendizagem, Educação.

RELACIÓN ENTRE VIOLENCIA ESCOLAR, ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE ESTUDIANTIL

RESUMEN

Esta investigación tiene como objetivo investigar cómo los casos de violencia afectan la enseñanza y el aprendizaje. Este estudio se caracteriza por ser cualitativo. La recolección de datos se realizó mediante observación directa, entrevista semiestructurada y cuestionario. Los resultados muestran que los estudiantes son sometidos diariamente a casos de violencia física y simbólica a través de apodos, agresión física e intimidación. Para los docentes, la gestión escolar y la coordinación pedagógica, la violencia escolar afecta tanto el trabajo del docente como el aprendizaje de los alumnos. Por lo tanto, ante los casos de violencia, se necesita más discusión, así como buscar alternativas para minimizarlo a través de acciones señaladas por los estudiantes, tales como: trabajar con proyectos, fortalecer la asociación familiar y escolar, así como relaciones más afectivas entre maestros y estudiantes.

Palabras clave: violencia escolar, Enseñanza-aprendizaje, Educación.

RELATIONSHIP BETWEEN SCHOOL VIOLENCE, TEACHING AND STUDENT LEARNING

ABSTRACT

This research aims to investigate how cases of violence affect teaching and learning. This study is characterized as qualitative. Data collection occurred through direct observation, semi-structured interview and questionnaire. The results show that students are daily subjected to cases of physical and symbolic violence through nicknames, physical aggression and bullying. For teachers, school management and pedagogical coordination, school violence affects both the teacher's work and student learning. Therefore, in the face of cases of violence, further discussion is needed, as well as seeking alternatives to minimize it through actions pointed out by students, such as: working with projects, strengthening the family and school partnership, as well as more affective relationships between teachers and students.

Keywords: School violence, Teaching-learning, Education.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Ádria Carneiro da Silva, Corina Fátima Costa Vasconcelos y Jadson Justi (2019): “Violência escolar e o processo ensino-aprendizagem de estudantes”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (diciembre 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/atlante/2019/12/violencia-escolar.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/atlante1912violencia-escolar



1 INTRODUÇÃO

¡

O tema abordado nesta pesquisa tem sido discutido por vários autores e pesquisadores de várias universidades do mundo. A violência é presente em diversos locais educacionais, e isso gera um sentimento de insegurança e medo entre as pessoas, tornando-as vulneráveis diante de inúmeros acontecimentos. Entre aos mais diversos tipos de violência, está a violência escolar, envolvendo alunos, professores e comunidade em geral.
O interesse por este tema deu-se a partir de uma experiência vivenciada pelos proponentes deste estudo em uma escola municipal de Parintins, Amazonas, Brasil, realizada com alunos de 3º e 5º anos do ensino fundamental. Ao perceberem inúmeras situações de violência no cotidiano da escola, sentiu-se a necessidade de investigar como os casos de violência afetam o processo ensino-aprendizagem de crianças de uma turma do 5º ano. E, para responder a esse objetivo, foi necessário discutir a relação violência escolar e o processo ensino-aprendizagem; descrever como os professores, estudantes, gestão e coordenação percebem os casos de violência na escola e seus impactos no processo ensino-aprendizagem e, por fim, analisar como a escola lida com os constantes casos de violências que envolvem os estudantes dos anos iniciais.

1.1  Concepção de violência e suas diferentes faces

A violência é um assunto de interesse dos diversos ramos das ciências humanas, tratando-se de um fenômeno tão antigo quanto à própria humanidade. A violência, por si só, tem um significado mais amplo que envolve todos os tipos de violências, no entanto, nesta pesquisa abordam-se especificamente a violência escolar e suas particularidades, fazendo com que nesse ponto se diferenciem das outras formas de violência.
Partindo disso, a violência não chegou ao século XXI de forma inesperada. Ela ocorre desde os tempos passados, sempre existiu e tem recebido destaque tanto no Brasil como no mundo. É comum ouvir diariamente noticiários sobre roubos, assaltos, violência contra idosos, adolescentes e mulher. A sociedade está cercada por ela em todos os lugares, nas ruas, nos hospitais, nas escolas, na câmara de deputados, entre outros.
No seu sentido amplo, tem a violência uma representação particular no imaginário das pessoas, e sentidos diferentes se ela é vista do ponto de vista da vítima ou do agressor. Contudo, percebe-se em geral como violência tudo não é desejado por outrem, e que se lhe impõe pela força simbólica ou concreta e que, assim sendo, se coloca na contramão do desejo apoiado pela diferença (Velho, 1996).
Conforme Marra (2007), considerando o conceito apresentado no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986), violência está ligada ao uso da força física ou mesmo moral e também à coação. Violência significa “[...] qualidade de violento; ato violento, ato de violentar; constrangimento físico ou moral; uso da forca, coação [...]”. Um conceito básico de violência em geral é apresentado por Chauí (2006: 308): “[...] em nossa cultura, a violência é entendida como violação da integridade física e psíquica de alguém, da sua dignidade humana.” A violência manifesta-se de diversas maneiras, o que implica resultados piores para quem é atingido.

Consequentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror. A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos e inertes ou passivos. (Chauí, 1999).

De acordo com Santos (2002), existe hoje uma sensação vaga, mas generalizada, de que a violência se instalou na vida social do Brasil, atingindo até a intimidade dos espaços reservados à vida privada. A exposição intensiva às notícias de fatos ditos violentos – os quais cobrem um amplo espectro, que vai das invasões de terras e da violência policial até as chacinas e os assaltos à mão armada –, reforça nas pessoas a ideia de que a violência esteja sem controle e de que ninguém mais está a salvo da sua ação.
Como resultado disso, a violência implica-se como predicado no perfil de jovens ou crianças, como menciona Santos (2002). Antecedendo a fase da criança constituir-se como um adulto, há necessidade de vivências que levem em consideração o respeito, saúde, moradia, educação entre outras. Se essas vivências forem negadas durante a infância, o resultado pode ser alarmante durante a fase adulta. As experiências quando criança adentram na mente e estabelecem uma identidade própria.
Para Fernández (2005), o conceito de violência também se submete aos valores e aos costumes sociais, o que não deixa de aumentar a confusão para se localizar conceitualmente nesse assunto.

O fenômeno da violência transcende a mera conduta individual e se converte em um processo interpessoal, por afetar pelo menos dois protagonistas: aquele que a exerce e aquele que a sofre. Uma análise um pouco mais complexa, permite-nos distinguir também um terceiro afetado: quem a contempla sem poder ou sem querer evitá-la. (Fernández, 2005: 25).

Esclarece Marra (2007) que Jean-Pierre Bonafé-Schmitt, em seu artigo Les Médiations (1997), argumenta que o conceito de violência não é somente a agressão física, a extorsão e o vandalismo, mas também é conhecido como incivilidade, ou seja, falas ofensivas, linguagens chulas, empurrões, xingamentos e humilhações.
Quanto à violência na escola, esta não se resume a dados objetivos, mas a experiências vivenciadas de formas múltiplas e distintas por aqueles que a sofrem. Desse modo, para compreender o que se passa na escola, é necessário saber com que tipo de violência se está lidando. Essa problemática traz consigo um leque de denominações para entender como a violência escolar se faz presente e como é manifestada em diversas situações.
A violência na escola passa por várias etapas: primeiramente, a violência de fora para dentro da escola. Existem as violências do cotidiano, que é a microviolência; a simbólica e a violência institucional, essa última por sua vez está mais presente e visível, ou seja, a escola produz sua própria violência. A partir do momento em que o aluno entra na escola, por exemplo, a criança bagunceira é colocada para fora, ou quando um ou mais repetem o ano, nesse momento ocorre à violência institucional (Abramovay, 2002).
Schilling (2004) destaca que ao falar de violência, é necessário perguntar de que violência se está falando. Da que acontece na família, contra a mulher, os idosos, as pessoas com deficiências, daquelas com orientação sexual diferente do padrão, do desemprego, da fome, da falta de acesso e oportunidades, das instituições, das prisões, da corrupção, do preconceito, do racismo, da discriminação, das escolas, entre outras. Daí decorre a compreensão de que não existe uma única forma de violência, mas ela se manifesta de diferentes maneiras, em diferentes contextos e atinge tanto crianças, jovens, adultos quanto idosos.
Segundo Abramovay (2002: 73 e 74), a violência está resumida em:

(1) Intervenção física de um indivíduo ou grupo contra a integridade de outro(s) ou de grupo(s) e também contra si mesmo, abrangendo desde os suicídios, espancamentos de vários tipos, roubos, assaltos e homicídios até a violência no trânsito (disfarçada sob a denominação de “acidentes”), além das diversas formas de agressão sexual. As violências podem ser agressão física, homicídios, estupros, ferimentos, roubos, porte de armas [...];
(2) Forma de violência simbólica (abuso do poder, baseado no consentimento que se estabelece e se impõe mediante o uso de símbolos de autoridade); verbal; e institucional (marginalização, discriminação e práticas de assujeitamento utilizadas por instituições diversas que instrumentalizam estratégias de poder).

A violência simbólica acontece de diversas maneiras, desde o social ao econômico, envolve personalidades e características de pessoas diferentes, porém, é dessa forma que esse tipo de violência acontece, por meio de apelidos ou disfarçados de comentários maldosos. É fundamental a compreensão de como a violência acontece, pois vai além do preconceito e, como envolve o meio simbólico, é necessariamente nesse ponto que a violência é atingida pelo fato de ter manifestações mais abertas, racismo, homofobia, preconceito contra as pessoas mais pobres.
Além da violência física e simbólica, Bock, Furtado e Teixeira (1993: 286) chama atenção para a violência institucional, pois para ela é a “[...] maior violência exercida pela escola quando ela usa de seu poder sobre as crianças e os jovens para impedi-los de pensar, de expressar suas capacidades e os leva a se tornarem meros reprodutores de conhecimentos.” Ressalta-se que a autora se refere à experiência do fracasso escolar que é importante na construção da identidade das crianças e dos jovens. A “incapacidade” que lhes é atribuída passa a ser internalizada, então os alunos sentem-se incapazes.
Abramovay (2002) enfatiza que, em relação à escola, deve-se ter uma proposta pedagógica atraente para que essa cultura juvenil seja mais valorizada, pois, de certo modo, os jovens são protagonistas das políticas públicas. A cultura juvenil é violenta, por ser uma cultura de rua. Para Bock, Furtado e Teixeira (1993: 287), a violência nas ruas é “[...] um problema que afeta, particularmente, os centros urbanos maiores. A rua, como espaço social do lúdico, do encontro, da convivência, torna-se o espaço da insegurança, do medo, da violência pelo ‘bandido’, pela polícia e, mesmo, pelo cidadão comum [...]”. A criança observa e internaliza o que é visto na rua sobre essa cultura.
Para Marra (2007: 57), “[...] a escola não é somente vítima da violência que está fora dela. A violência que se manifesta na escola também tem matrizes próprias da instituição.” Assim, a escola não é só vítima como também tem uma parcela de contribuição para que essas violências aconteçam dentro do âmbito escolar, por meio de suas regras que são estipuladas no decorrer do ano, fazendo com que a violência institucional esteja ativa. A violência como fenômeno social afeta o cotidiano dos sujeitos presentes na escola, dificultando o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e comprometendo o convívio escolar.

1.2  Violência, agressividade e bullying: compreendendo conceitos

É necessário compreender que violência, agressividade e bullying têm significados diferentes. A violência é uma categoria mais ampla, que envolve a agressividade e o bullying como parte dessa categoria. Partindo disso, têm-se que

[...] a violência na escola era tratada como uma simples questão de disciplina. Mais tarde, passou a ser analisada como manifestação de delinquência juvenil, expressão de comportamento antissocial. Hoje, é percebida de maneira muito mais ampla, sob perspectivas que expressam fenômenos como a globalização e a exclusão social, os quais requerem análises que não se restrinjam às transgressões praticadas por jovens estudantes ou às violências das relações sociais entre ele. (Abramovay; Ruas, 2003: 13).

Desse modo, Abramovay e Ruas (2003: 14) adotou uma concepção abrangente de violência, pois ela:

[...] incorpora não só a ideia sevicia, de utilização da força ou intimidação, mas também compreende as dimensões socioculturais e simbólicas do fenômeno em tela. Há de se enfatizar, no entanto, que a violência na escola não deve ser vista simplesmente como uma modalidade de violência juvenil, pois sua ocorrência expressa à intersecção de três conjuntos de variáveis independentes: o institucional (escola e família), o social (sexo, cor, emprego, origem socioespacial, religião, escolaridade do país, status socioeconômico) e o comportamental (informativo, sociabilidade, atitudes e opiniões).

Como destaca Schilling (2004), A violência é multidimensional, pois está em diferentes formas e estilos de ser observada, desde à violência mais simples quanto à no sentido de caráter agressivo. Santos (2002) e Marra (2007) entendem a violência como ato violento. De acordo com Abramovay (2002), fundamentado em Éric Debarbieux, em La Violence en Millieu Scolaire: L’état des Lieux (1996), o estudo da violência no ambiente escolar apresenta mudanças tanto no que é violência como no olhar a partir do qual o tema é abordado. Abramovay (2002: 93-94) esclarece que Bernard Charlot e Jean-Claude Emin, em Violences à L’école: Etat des Savoirs (1997), classificaram a violência escolar em três níveis:

i) a violência – golpes, ferimentos, violência sexual, roubos, crimes, vandalismo;
ii) incivilidades – humilhações, palavras grosseiras, falta de respeito;
iii) violência simbólica ou institucional – falta de sentido em permanecer na escola por tantos anos; o ensino como um desprazer, que obriga o jovem a aprender matérias e conteúdos alheios aos seus interesses; as imposições de uma sociedade que não sabe acolher os seus jovens no mercado de trabalho; a violência das relações de poder entre professores e alunos; a negação da identidade e satisfação profissional aos professores, a sua obrigação de suportar o absenteísmo e a indiferença dos alunos.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (1993: 283), a violência é o uso desejado da agressividade, com fins destrutivos. Esse desejo pode ser “[...] o voluntário (intencional), racional (premeditado e com objeto ‘adequado’ da agressividade) e consciente, ou o involuntário irracional (a violência destina-se a um objeto substituto, por exemplo, por ódio ao chefe, o indivíduo bate no filho) e inconsciente.”
É comum alguns autores associarem a agressividade como um tipo de violência, pois geralmente nas escolas acontece em forma de provocações verbais ou quando os alunos agem por impulso de maneira violenta. A afirmação de que o ser humano é agressivo, conforme Bock, Furtado e Teixeira (1993: 282), causa estranheza, pois sempre tem um bonzinho que não seria capaz de fazer mal para uma mosca, porém, é necessário compreender que:

[...] a agressividade é um impulso destrutivo que pode voltar-se para fora (heteroagressão) ou para dentro do próprio individuo (auto-agressão) [sic] [...].
A agressividade sempre está relacionada com as atividades de pensamento, imaginação ou de ação verbal e não-verbal [sic]. Portanto, alguém muito "bonzinho" pode ter fantasias altamente destrutivas, ou sua agressividade pode manifestar-se pela ironia, pela omissão de ajuda, ou seja, a agressividade não se caracteriza exclusivamente pela humilhação, constrangimento ou destruição do outro, isto é, pela ação verbal ou física sobre o mundo.

Ferrari (2006), com base em autores como Sigmund Freud (1856-1939) e Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981), diz que a agressividade existe, mas é automaticamente ligada ao instinto de cada pessoa. É possível que apenas com uma palavra o momento agressivo seja parado, por meio da mediação, que normalmente acontece nas escolas.
Diferentemente da agressividade, que é considerada pela psicanálise por se tratar do comportamento, a violência não é somente a prática de delitos, restritos à criminalidade, ela é bem mais que isso, é um fenômeno que ultrapassa séculos. De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (1993: 284), “Nos tempos modernos, a violência ‘invadiu todas as áreas da vida de relação do indivíduo: relação com o mundo das coisas, com o mundo das pessoas, com seu corpo e sua mente’ [...]”.
“O bullying, palavra derivada do verbo inglês bully (termo utilizado para designar pessoa cruel, intimidadora, muitas vezes agressiva) significa usar a superioridade física ou moral para intimidar alguém [...]” (Guimarães, R., 2009). Para Moura (2013: 213), “O bullying caracteriza-se pelas agressões físicas e verbais cometidas por um ou mais indivíduo de forma repetitiva, intencional e sem motivação, com utilização de ataques como uso de apelidos, tapas, pontapés, entre outros [...]”. Como são destacadas por Fante (2008: 63): “As formas de maus tratos são: físico (bater, chutar, beliscar); verbal (apelidar, xingar, zoar); moral (difamar, caluniar, discriminar); sexual (abusar, assediar, insinuar); psicológico (intimidar, ameaçar, perseguir) [...]”.
De acordo com Moura (2013: 211),

[...] O fenômeno bullying desperta o nosso interesse de procurar informações e quais os motivos que levam alguns indivíduos a serem capazes de acharem esse comportamento um processo natural, que alguns falam serem brincadeiras entre os amigos, esses atos violentos e repetitivos que acabam em alguns casos tornando o “estudar” uma ameaça a própria sobrevivência dos envolvidos.

Embora violência, agressividade e bullying não sejam a mesma coisa, não estão separados, pois, quando ocorre algum caso de agressividade ou bullying na escola, não deixa de envolver a violência.

1.3 Violência escolar e o processo ensino-aprendizagem: breves reflexões

Fernández (2005) afirma que a violência entre estudantes é um fenômeno muito complexo que cresce no contexto da convivência social, cuja organização e normas comuns geram processos que costumam fugir do controle consciente e racional da própria instituição e de seus gestores.
Segundo Chrispino (2002: 17),

Se isso não bastasse, os alunos que não aceitam, por quaisquer motivos, as normas atávicas impostas sofrem uma sequência bastante conhecida de punições: são retirados de sala, pois não podem obstruir o bom andamento da aula; depois são suspensos para que reflitam sobre a sua incapacidade de conviver no meio social que possui regras, e, por fim, persistindo o problema situado sempre no aluno, ele é expulso. E no ato da expulsão, a escola assume sua falência como o local de transformação de valores pelo processo de convencimento lúcido. Ela expulsa os diferentes que não se submeteram à forma geral.

A violência institucional acontece nas escolas a partir do momento em que os alunos não aceitam as regras que são criadas dentro da instituição. Quando os alunos voltam da suspensão, retornam muito mais revoltados com os professores e fazendo com que a aula seja interrompida. Colombier (1989: 18) afirma que a violência existe, mas tratá-la como um mal absoluto que precisa ser contido por meio de sansões como “[...] disciplina, autoridade, punições, severidade, cuidado, repressão [...]”, seria agir de modo a alimentar o círculo vicioso da revolta e da repressão.
A massificação da educação trouxe para dentro da escola um conjunto de diferentes alunos, porém, a escola encontra-se preparada para lidar com os alunos de formato padrão. Dessa maneira, Abramovay (2002) destaca, que conforme pesquisa coordenada pela UNESCO, intitulada Cultivando Vida, Desarmando Violências (2001), alguns pontos para que possamos compreender que, nos dias atuais, os alunos construíram sua própria cultura, ou seja, a cultura juvenil que está ligada à forma de vestir (o capuz, o boné, as tatuagens, brincos), formas de falar, que estão presentes na cultura de rua e, principalmente, os temas que a maioria deles comenta.
Marra (2007: 13) menciona que “[...] a escola recebe hoje uma clientela com características diferentes, e garantir a ela um ensino de qualidade constitui um grande desafio para os profissionais da educação [...]”. Cabe a cada profissional (professor) mudar a realidade de uma criança ou pelo menos fazer com que o aluno entenda que a violência não é o melhor caminho para se seguir, porém, é necessário que a família esteja presente na rotina do aluno.
Para Marra (2007: 153),

A nova clientela, sem muito hábito de estudo, não tem apoio de seus pais, muitos deles analfabetos, e, pelo fato de estarem sempre ocupados em prover meios de subsistência da família, não têm como assistir seus filhos em seus deveres e também possuem uma baixa expectativa com relação à escola. Isso veio também piorar a expectativa de rendimento da escola em relação a seus alunos.

A escola vai muito além da Matemática e do Português. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Brasil, cabe ao campo educacional apresentar espaços para os alunos, fazendo com que construam significados éticos para qualquer ação na cidadania (Brasil, 1997).

Essas exigências apontam a relevância de discussões sobre a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa categórica de formas de discriminação, a importância da solidariedade e do respeito. Cabe ao campo educacional propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolítica e cultural. Apresenta-se para a escola, hoje mais do que nunca, a necessidade de assumir-se como espaço social de construção dos significados éticos necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania. (Brasil, 1997: 27).

É relevante ressaltar o papel do docente na escola, cuja função é auxiliar seus alunos, direcioná-los para construírem uma visão ampla do conhecimento. Abramovay (2002) destaca: quando o professor é amável, os jovens não abandonam a escola. Afinal, muitos desses alunos querem atenção e é na escola que eles têm a oportunidade de conversar com outras pessoas e até mesmo por alguns minutos relatarem para seus professores o que se passa em suas casas.
Segundo Santos (2002: 196),

Estudar um contexto marcado por um clima de violência e descobrir que a criança que vive nesse meio social tem um comportamento diferente, faz uso de um modo de linguagem diferente, e dizer: Ah! Esta criança silencia e não participa da aula porque vive a violência; esta outra faz gestos e não sai do lugar porque está com problemas psicológicos, devido à violência.

É importante acrescentar que a escola está ligada historicamente à pedagogia tradicional, ou seja, os alunos uniformemente padronizados; não permitia questionamento com os professores, assim a gestão sempre olhava para os alunos que obedeciam aos padrões. A escola, como qualquer instituição, está planificada para que as pessoas sejam todas iguais (Guimarães, A., 1996).

Há quem afirme: “quanto mais igual, mais fácil dirigir”. A homogeneização é exercida através de mecanismos disciplinares [...].
Assim, a escola tem esse poder de dominação que não tolera as diferenças, ela também é recortada de forma de resistências [...].
Compreender esta situação implica aceitar a escola como um lugar que se expressa numa tensão entre forças antagônicas [...]. (Guimarães, A., 1996: 78 e 79).

Essa temática envolve dois lados, tanto a violência quanto à escola, é uma via de mão dupla. Ainda que a escola não saiba lidar com seus respectivos, também sofre por estar vulnerável às violências. É preciso ter cautela com o fato de que, dentro da própria escola, existem possibilidades de lidar com as diferentes modalidades de violência e de construir alternativas pela paz, adotando estratégias e capital da própria escola.
Sabe-se que a escola está ligada ao âmbito social e que precisa conhecer seu clima escolar. Para Fernández (2005: 175):

A escola está envolvida em um importante empreendimento de âmbito social e como consequências existem os desajustes de comportamento, de valores e de respeito ao outro, que são nada mais que frutos de múltiplas causas, tais como: o modelo familiar, a influência dos meios de comunicação, os valores e os comportamentos manifestados do núcleo de contextos sociais deprimidos, a violência estrutural da própria sociedade [...].

De acordo com Cortez (2012), o currículo muitas vezes não acompanha a realidade educacional. Tal fato resulta em desinteresse e aprendizado não efetivo. O conteúdo escolar mostra-se desassociado da contemporaneidade logo, a hipótese que permeia é que as normas e projetos político-pedagógicos de cada instituição de ensino estejam aquém do contexto social.
Partindo do que fora exposto anteriormente, as crianças estão com um pensamento moderno, é necessário estar preparado para educar, porém, o conformismo e o tradicionalismo ainda estão impregnados na mente dos professores. Dessa maneira é que a violência escolar está envolvida com a relação do processo ensino-aprendizagem. A escola busca fazer o seu papel, porém, não tem a participação da família, e isso faz com que os alunos não tenham um bom desenvolvimento. Os problemas que eles trazem de casa os afetam profundamente, em especial, aqueles mais agressivos. Desse modo, esses alunos tentam chamar atenção de alguma forma e é na escola que eles acham esse espaço.
Pain (2010) menciona que a violência é uma forma encontrada pelos alunos de pôr para fora o que está lhes angustiando, a má qualidade do ensino e o abandono pelo professor. Pain (2010: 14) destaca ainda que “[...] O desejo deles não vem ao encontro dessa aprendizagem. Agredidos, revidam com a agressão que alimenta a hipótese que fazem sobre o resultado escolar: o problema é a escola, que não é boa, ou o professor, que ensina mal [...]”.
De um lado, o professor entra na sala de aula com o psicológico abalado, alguns com um sentimento de não serem valorizados, e isso faz com que haja desmotivação, e acabam desenvolvendo insatisfatoriamente sua função. No entanto, o professor tem que saber diferenciar a vida pessoal da vida profissional; por mais difícil que seja, é necessário que esteja inteiro para ministrar uma aula satisfatória. Do outro lado, o aluno que não está totalmente presente na aula, traz problemas familiares ou mesmo entre os colegas da escola. Essas situações afetam o processo ensino-aprendizagem.
Marra (2007), considerando os ensinamentos de Marilia Pontes Sposito, em A Instituição Escolar e a Violência (1998), e Eric Debarbieux, na obra de 1996 anteriormente aqui citada, considera que a violência escolar é aquela que se origina no interior da instituição educacional, ou como modalidade de relação direta com a escola. Para Marra (2007: 39), “[...] outras pesquisas denominam essa forma como sendo ‘violência da escola’ e atribuem à expressão ‘violência na escola’ à violência de fora que ultrapassa seus muros [...]”. Isto significa que a violência praticada por alunos é uma forma de pedido socorro perante um processo de anulamento, no qual o aluno deveria ocupar lugar central, o de agente do processo.
A violência interfere no processo de aprendizagem quando não existe respeito envolvendo todos que fazem parte da escola. Diariamente, as crianças vivem apelidando um ou outro, batem nos colegas, fazem brincadeiras de mau gosto e, às vezes, os professores não conversam mais com o aluno, mandam o agressor para a secretaria, fazendo com que voltem mais revoltados, afinal, essas situações só envolvem suspensão e expulsão.

[...] os educadores na sala de professores descrevem essas condutas como “eles não escutam”, “falta-lhes concentração”, “mexem com os colegas”, “têm maus modos com os professores”, “interrompem as explicações”, “são desobedientes”, “falam palavrões e usam linguagem vulgar”, “levantam-se sem permissão e sem nenhum propósito [...] (Fernández, 2005: 56).

Dessa forma, faz com que os professores se sintam incomodados e desmotivados para ministrar suas aulas.  Isso causa a desordem, a indisciplina e cria um ambiente desfavorável para o aprendizado dos alunos e para o professor.

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa objetivou investigar como os casos de violência afetam o processo ensino-aprendizagem de crianças dos anos iniciais de uma escola pública em Parintins, Amazonas, Brasil. O estudo assumiu uma abordagem qualitativa, pela tomada de postura literária que leva em consideração a lógica de discussão em uma perspectiva subjetiva, pois se considera que a relação mundo e sujeito se complementa a partir de experiências dos participantes da pesquisa. Partindo disso, “Na pesquisa qualitativa o pesquisador procura reduzir a distância entre a teoria e os dados, entre o contexto e ação [...]” (Teixeira, 2014: 137).
A pesquisa foi realizada em uma turma de 5º ano de uma Escola Municipal em Parintins, Amazonas, que atende crianças dos anos iniciais do ensino fundamental. Está localizada em uma área que é resultado de um processo de invasão, zona periférica do município. As crianças que frequentam a escola são, em sua totalidade, provenientes do mesmo bairro, com pais de baixa renda que trabalham como tricicleiros, carroceiros, pescadores, pedreiros, carpinteiros e vendedores ambulantes.
Os participantes da pesquisa foram dois professores, um gestor, uma coordenadora pedagógica e trinta alunos do 5º ano do ensino fundamental, turno vespertino. Menciona-se ainda que, para resguardar a identidade dos participantes, estes receberam nomes fictícios ou caracteres numéricos durante o fluxo textual do presente estudo. Quanto aos docentes, Joana possui formação acadêmica em Licenciatura em Pedagogia e atua na sala de aula no turno vespertino; seu tempo de atuação no magistério é de dezoito anos e trabalha nesta escola há treze anos. O professor José possui formação em Normal Superior, atua na sala de aula no turno vespertino como professor de Educação Física, com o tempo de serviço no magistério de vinte e oito anos e trabalha nesta escola há oito anos.
O Gestor Raimundo é Especialista em Currículo, Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica. Atua no magistério há dezenove anos e, na função de gestor, há dois anos. A Coordenadora Pedagógica Rosária é formada em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia e Educação Especial Inclusiva. Possui sete anos de serviço e na função de Coordenadora Pedagógica há um ano e seis meses; trabalha nos turnos matutino e vespertino.
Dos trinta estudantes participantes da pesquisa, vinte são do sexo masculino (67,7%) e dez do sexo feminino (33,3%). Quanto à idade, 70% têm onze anos, 17%, dez anos e 13%, doze anos. É relevante destacar que 83% dos participantes apresentam distorção idade-série.
Para a coleta dos dados, utilizaram-se os seguintes instrumentos: observação direta, entrevista semiestruturada e questionário. A observação, segundo Marconi e Lakatos (2003: 190),

[...] é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar.

Tal instrumento permitiu que os pesquisadores pudessem observar em campo a realidade estudada.
A entrevista semiestruturada foi direcionada aos professores do 5º ano, gestão e coordenação pedagógica e teve como objetivo analisar como os casos de violência influenciam o processo ensino-aprendizagem e como a escola lida com esse fenômeno constantemente. Para Marconi e Lakatos (2003: 222), a entrevista “Trata-se, pois, de uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica; proporciona ao entrevistado, verbalmente, a informação necessária.” Desse modo, a entrevista foi conduzida a partir de um roteiro elaborado pelos pesquisadores.
O roteiro em questão foi composto dos seguintes questionamentos: a) Para você, há violência na escola? b) Em caso afirmativo, quais os tipos mais frequentes que você tem presenciado? c) Você acredita que os casos de violência na escola afetam o processo ensino-aprendizagem? Comente. d) Como a escola lida com os estudantes que cometem atos de violência e com os que são vítimas da violência? e) Você já foi vítima de violência escolar? f) No seu entendimento, o que causa a violência na escola? g) Para você, o que deveria ser feito para minimizar a violência na sua escola?
De acordo com Marconi e Lakatos (2003: 222), o questionário é “[...] constituído por uma série de perguntas que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do pesquisador;”. Tal instrumento fora aplicado aos estudantes com vistas a descrever como estes percebem os casos de violência na escola e seus impactos no processo ensino-aprendizagem. O instrumento em questão constou das seguintes perguntas: a) Quanto tempo estuda na escola? b) Já repetiu de ano alguma vez? Caso a resposta seja “sim”, qual o motivo? c) Há casos de violência em sua escola? Se a resposta for “sim”, descreva casos que você presenciou. d) Você já foi vítima de violência na sua escola? Caso a resposta seja “sim”, responda como aconteceu ou acontece. e) Para você, uma pessoa que sofre violência na escola pode ter seu desempenho escolar afetado? Justifique sua resposta. f) Você saberia dizer o que a escola faz com aqueles alunos que cometem violência e com aqueles que sofrem violência? Descreva. g) Para você, o que deveria ser feito para minimizar a violência em sua escola?
A análise dos dados foi realizada considerando a abordagem qualitativa no que tange ao referencial teórico adotado, aos dados coletados nas observações, às entrevistas e aos questionários, bem como aos objetivos propostos na pesquisa. Menciona-se, ainda, que no tópico “Resultados e Discussão” são apresentadas as falas de maior impacto dos participantes para uma discussão crível com a literatura pertinente.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1   Violência escolar e seus impactos no processo ensino-aprendizagem na percepção dos professores, estudantes, gestor e coordenadora pedagógica

A violência na escola tem se tornado cada vez mais frequente, entretanto, não tem sido compreendida como um caso grave que coloca em risco tanto a saúde psicológica, a física de pessoas que convivem no ambiente escolar quanto à aprendizagem das crianças. A partir desse pressuposto, procurou-se saber do gestor, dos professores, do coordenador pedagógico e dos estudantes se há violência na escola. A Coordenadora Pedagógica e os professores afirmaram que há bastante violência na escola; José enfatiza que a violência entre os alunos é constante, mas que não há violência com armas. O gestor corrobora com os colegas e acrescenta que sempre tem algum escorregão do professor ou do aluno; e sendo que a violência escolar acontece entre os colegas e até mesmo contra alunos, e que às vezes a forma como o professor se dirige ao aluno, já está agredindo.
As respostas demonstram que a violência não acontece somente com alunos, mas também com professores e alunos, alunos contra alunos e professores com professores; é uma relação interpessoal e por meio disso acontece à violência psicológica e simbólica, gerando um desequilíbrio na relação de professor-aluno e vice-versa.
Para Fernández (2005: 44),

[...] a violência psicológica frequentemente passa despercebida e se refere de forma geral a “jogos” psicológicos, chantagens, gozações, rumores, isolamento e rejeição. Nessa categoria estão incluídos os abusos entre alunos e as agressões entre professores-alunos e alunos-professores. O abuso entre alunos passa significativamente despercebido e é considerado dentro do currículo oculto como processo de maturação e percebido em alguns casos como processo inevitável. As agressões professor-aluno podem manter-se no âmbito do medo – o aluno não se atreve a afirmar a sua necessidade de ser respeitado – ou em outro extremo [...] a relação professor-aluno tem uma assimetria de poder. O seu enfrentamento produz sentimento de vingança, medo e rancor. Às vezes simboliza a personificação da rejeição de determinado professor, que por falta de autoridade, fraqueza (inexperiência, idade avançada, aspecto físico, tipo de matéria que leciona etc.), se converte em alvo fácil de certos alunos.

Para 76,6% dos estudantes, há casos de violência na escola e dos quais são testemunhas diárias. Eles apontaram os apelidos, as agressões físicas (bater), as brigas, os palavrões e o racismo como as formas de violência mais frequentes na escola, como se evidenciam em suas falas:

Já vi um colega meu apelidando outro colega e também há aqueles que batem. (Estudante 1)
Eu já vi matarem pessoas. (Estudante 2)
Existe sim, porque meus colegas se batem, se esmurram e fazem bullying. (Estudante 11)
Sim, violência física, meus colegas estavam brigando, fazendo bullying um com o outro. (Estudante 20)

Os professores, a coordenadora pedagógica e o gestor indicaram apenas a agressão física como uma das formas de violência na escola. Desse modo, percebe-se que os estudantes evidenciaram mais percepção da violência que ocorre no cotidiano da escola e da qual são vítimas ou agressores.
Esses atos de violência também foram presenciados pelos pesquisadores durante o período de observação, muitas vezes disfarçados de uma brincadeira, por exemplo, a do “pirulito ou caju”, que ocorre por meio de murros nas coxas ou então nas costas. Em uma das situações envolvendo essa brincadeira, ocorreu que um dos estudantes bateu no outro nas costas, o qual sentiu fortes dores e foi levado, imediatamente, pela professora para sua residência e teve que explicar o ocorrido à mãe dele.
Os tipos de violência apontados configuram-se como violência física e simbólica. Para Abramovay (2006: 76),

[...] a violência nas escolas pode ser definida de várias maneiras. As definições estão alinhadas aos conceitos de violência: como sinônimo de agressão física; como delito ou crime; como transgressão; como agressão verbal; como as várias formas de discriminação; como ataques ao patrimônio, entre outras [...].

Assim, é necessário compreender que a violência não se limita apenas à agressão física, a crime ou a delitos, mas, como afirma Souza e Silva (2016: 5), “[...] encontra-se também no campo do simbolismo, do imaterial, como por exemplo: preconceitos de cor, de religião, bullying, [...]”. Para Abramovay (2002), a violência simbólica ocorre quando há o uso dos símbolos, não havendo necessidade de força física, mas que silencia alunos e até mesmo professores, por meio de palavras ou gestos.
De acordo com o Estudante 3 é de que na escola existe racismo. O racismo é uma forma de exclusão social encravada na sociedade brasileira em geral e no sistema educacional em particular e aparece, algumas vezes, de forma explícita e, outra, por meio de atitudes de pseudocordialidade (Castro; Abramovay, 2002). Durante a observação foi possível presenciar vários momentos em que a docente Joana parava a aula e conversava com seus alunos sobre essa questão, de maneira que pudessem compreender a gravidade de seus atos, por não representar apenas uma brincadeira.
Os pesquisadores questionaram os professores se já haviam sido vítimas de violência na escola. A docente Joana respondeu, sem hesitar, que já havia sofrido agressão verbal. O professor José responde:

Não, eu sempre fui bem-tratado pelos meus alunos porque eu os trato bem. Hoje já não existe mais aquela brincadeira saudável, sem maldade [...]. Você já não pode mais falar em tom de brincadeira, porque já é bullying, então, para mim, as leis até prejudicam esse tipo de relacionamento entre as crianças.

Para Schuchardt (2012).

No princípio, tratava-se o bullying como brincadeira da idade, mas posteriormente observou-se a gravidade do ato por meio de casos que demandavam a atenção e interferência conjunta do poder público, de educadores e comunidades na busca por se mitigar esse problema. Apesar de se falar muito sobre o assunto pouco ou nada de concreto e eficiente se tem feito a respeito, o que o torna uma grave problemática [...].

Apesar de antes ser considerada apenas uma brincadeira, entende-se que o bullying causa danos incalculáveis para vida das crianças ou dos adolescentes que são vítimas desse fenômeno.
O gestor, por sua vez, relata que quando estudava o primeiro ano, tinha uma professora que batia, dava reguada, puxão de orelha, puxava o cabelo de forma agressiva e até hoje apresenta traumas da violência que sofreu. Já a Coordenadora Pedagógica Rosária não respondeu diretamente à questão, mas alertou que é preciso saber lidar com esses acontecimentos no dia a dia, e que esses profissionais devem ter habilidade de lidar com essas situações, considerando a existência de pessoas melindrosas. E que esses profissionais precisam ter muita resiliência.
Segundo Colombier (1989: 12),

O professor tradicional aparenta poder desprezar a violência constitutiva da ordem necessária ao seu ofício. E, todavia, é sobre este ponto que repousa a formação dispensada. Além disso, quando a violência dos alunos atinge a possibilidade de ensinar, o reconhecimento “liberal” da violência no ensino vai ao encontro da violência mais ingênua, selvagem e desastrada dos alunos. Conter a violência, ou melhor, dar a ela um outro destino, não depende de uma grande inovação, mas do lugar e do conteúdo mais essencial, mais ajustado e mais forte que pode ser dado a uma pedagogia capaz de explicitar a natureza de seus verdadeiros recursos.

Com os alunos não foi diferente, pois 36% já sofreram violência na escola. Alguns relataram o ato:

Já aconteceu comigo, todos da minha sala me chamam de paçoca [...]. (Estudante 3)
Sim, eu já briguei devido ao colega ter-me “dedado” [...]. (Estudante 16)
Sim, ele falou que ia me furar [...]. (Estudante 17)
Sim, eu já fui vítima do meu colega. Um dia eu estava conversando e falaram que eu estava falando mal do meu melhor amigo [...]. (Estudante 18)
Sim, eu já fui vítima do meu colega que me meteu a “porrada”, falaram que eu apelidei o meu amigo [...]. (Estudante 9)
Forçaram-me a beijar alguém [...]. (Estudante 28)
Sim, meus colegas me apelidavam e faziam bullying comigo [...]. (Estudante 29)

Os relatos demonstram que, diariamente, os estudantes são vítimas de violência física e simbólica, gerando um estado de insegurança no ambiente escolar. Para Cortez (2012: 8), “[...] os alunos que convivem com essas situações não estão em um ambiente que lhes traga tranquilidade e satisfação, tanto na relação com os colegas como também em relação ao conteúdo escolar que lhes é apresentado [...]”.
No que concerne aos casos de violência e seus impactos no processo ensino-aprendizagem, os professores se manifestaram:

Afeta, as crianças muitas vezes vêm de casa com uma bagagem de problemas [...]. Muitos alunos têm pais separados, isso causa uma revolta neles, eles ficam se apelidando. Um dia a gente se uniu para fazer um trabalho, mas eles não queriam fazer juntos porque ‘fulano é isso, fulano é aquilo, é macaco, é elefante, é uma baleia’, como eles se apelidam muito acabam não fazendo as atividades ou então por algum outro motivo que eles descobrem do colega, acabam indo lá e batem. (Professora Joana)
[...] por causa do estresse que eles têm no decorrer da semana, a gente procura fazer atividades bem lúdicas na hora da Educação Física para não acontecer as agressões, mas assim mesmo, no momento das competições que realizamos, a violência acorre entre eles, às vezes, pelo fato de quererem vencer as competições, acabam se agredindo fisicamente (Professor José).

A coordenadora pedagógica corrobora com os professores de que a violência afeta o processo de ensino-aprendizagem e também reforça que os estudantes já trazem de casa esse comportamento, além de que muitos são provenientes de famílias desestruturadas. Ressalta, ainda, que muitas crianças são criadas livres, sem limites e acredita que esse comportamento agressivo é resultado do meio onde ela vive e da educação dos pais.

[...] a agressão que a criança presencia, participa e sofre está dentro da casa dos tios, dos avós, pertos dos primos que acabam destratando essa criança, principalmente nessa questão de cor, o racismo, a questão do cabelo, a questão social. Não parte da sala, os alunos já trazem, uns vem querendo ser melhores que os outros, outros vêm agressivos e com uma sala superlotada, o professor não consegue realizar um bom trabalho por mais que ele tente [...]. (Rosária, Coordenadora Pedagógica).

Para os professores e coordenadora pedagógica, os casos de violência que acontecem na escola são decorrentes de uma má educação que as crianças recebem em casa e da violência que presenciam em seu meio de convivência, pois internalizam para reproduzir. O comportamento agressivo dos estudantes em alguns casos dá-se pela violência doméstica, fazendo com que a integridade da criança seja afetada, levando o estudante a perder a concentração.
De acordo com Castro e Abramovay (2002: 51), a violência doméstica seria “[...] um elemento desencadeador do que poderia ser denominada cadeia de violências ou reprodução de violências. Pais e mães violentos que têm os filhos como suas vítimas, que por sua vez, se tornariam violentos, fazendo outras vítimas [...]”.
Ao perceber a importância da família na educação das crianças, fica evidente, em alguns casos, que os pais são ausentes da vida de seus filhos, tanto na escola quanto em casa, como foi possível perceber a partir de diálogos com os professores e os estudantes, o que acaba interferindo em seu comportamento e desempenho escolar.
De acordo com Souza (2008: 128),

A falta de afeto e de valores está relacionada com a frequente ausência dos pais, que, em busca da sobrevivência diária para a família, deixam seus filhos com irmãos mais velhos ou babás, o que reduz cada vez mais o tempo de convívio familiar entre pais e filhos. Essa mudança nas relações familiares tem várias implicações. O abandono pode decorrer tanto da necessidade de trabalho dos pais, quanto do total despreparo por parte dos mesmos no trato com a criança, e ainda pela inversão de valores com relação ao papel da escola.

O abandono, como tratado por Souza (2008), ocorre por parte de alguns pais dos estudantes, pois estes não participam das reuniões que a escola promove e alguns professores somente conhecem os pais no dia da renovação de matrículas ou quando acontecem situações em que exigem a presença deles.
Segundo Fernández (2005: 36), “A família é o primeiro modelo de socialização de nossas crianças. Ela é um elemento-chave na gênese das condutas agressivas de nossos jovens [...]”. A família é um elemento fundamental para entender o caráter peculiar da criança agressiva com condutas antissociais ou conflitantes. Assim, é de responsabilidade dos pais fazer com que os filhos possam ter um bom comportamento, não só dentro de casa, como na escola ou em qualquer lugar que estejam.
Logicamente que as escolas não devem culpar somente as famílias, pois a instituição também tem seu papel na formação dos estudantes. Para Rosa (2010: 154-155),

[...] as escolas precisam estar cientes do seu papel, o de ensinar e educar, disponibilizando profissionais que possam contribuir na execução de metas que resgatem a dignidade e autoestima dos indivíduos envolvidos. Um trabalho de conscientização, envolvendo a escola como um todo, e quando necessário sendo mais enfático com o aluno que demonstra precisar de ajuda especifica.
O fato de a escola possuir um número considerado de alunos e um pequeno grupo que representa uma minoria apresentarem problemas de comportamento que leva ao envolvimento com problemas disciplinares, e a violência com outros alunos e professores, não significa dizer que a escola deve ignorar esse “pequeno número”, pois, não sendo tomada uma atitude inibidora e curadora, o foco se alastra, e quando se percebe já contaminou muitos, sendo muito mais difícil o controle.

As situações narradas nas falas dos professores e coordenadora pedagógica foram presenciadas pelos pesquisadores no momento da observação. Os alunos geralmente chegam à escola muito agitados e, nos corredores, é possível observar brincadeiras agressivas entre eles e que se estendem até a sala de aula, levando várias vezes a professora a interromper as aulas.
Abramovay e Ruas (2003: 51) destaca que, nas aulas de Educação Física, “Briga-se por futebol, lanche, notas, por causa de apelidos [...]”. Observou-se na aula dessa disciplina que os estudantes do sexo masculino participam ativamente e a competitividade entre eles é muito forte, mesmo porque há incentivo por parte do professor que premia as equipes vencedoras. Destaca-se que as atividades realizadas nas aulas, algumas vezes, reforçavam a violência entre os estudantes, porque eram movidos pela competitividade.
Para 73% dos estudantes, uma pessoa que sofre violência na escola pode ter seu desempenho escolar afetado.

Eu acho que sim, porque quem sofre violência não tem culpa [...]. (Estudante 30)
Pode afetar as outras crianças que estão na escola para estudar [...]. (Estudante 27)
Sim, porque ela vai ficar deprimida e vai afetar o estudo dela [...]. (Estudante 20)
Sim, porque eu fico com raiva daquele menino [...]. (Estudante 12)
Sim, eu sou essa pessoa [...]. (Estudante 9)
O meu colega quando apanha fica triste [...]. (Estudante 4)
Pode, porque é como uma flecha no coração [...]. (Estudante 3)
Sim, ele pode ter o desempenho afetado [...]. (Estudante 1)

Os relatos dos estudantes retratam percepções, sentimentos e leitura das situações dos impactos que a violência escolar gera não somente em sua aprendizagem, mas na própria vida, pois são eles mesmos, as vítimas e os agressores da violência. Para os alunos, a violência afeta sua aprendizagem porque mexe com seu estado psicológico e emocional.

3.2 As ações da escola perante os casos de violência no cotidiano escolar

Esta seção objetiva analisar como os professores, gestor e coordenador pedagógico lidam com os casos de violência recorrentes no cotidiano da escola com o olhar direcionado para os estudantes que cometem tais atos e para os que são vítimas da violência.
A professora Joana diz que quando ocorre a violência, a coordenação pedagógica e o gestor conversam tanto com a vítima quanto com quem a agrediu e, em seguida, os pais são chamados para tomar conhecimento do ocorrido. Entretanto, destaca que esses encaminhamentos não ajudam a minimizar o problema, porque acredita que, primeiramente, é preciso trabalhar o estudante em casa. O professor José, por sua vez, destaca que quando presencia casos de violência na escola, encaminha os envolvidos para a coordenação pedagógica ou para a direção da escola, além de suspendê-los das aulas de Educação Física da semana (punição), porque acredita ser uma forma de levar os estudantes a tomarem consciência do ato praticado.
O gestor e a coordenadora pedagógica confirmam as ações indicadas pelos professores, no caso, a conversa com os envolvidos, que geralmente ocorre na sala de aula, e também os pais são chamados e recebem orientações de como lidar com os filhos em casa. Quando os casos persistem, são encaminhados para as instituições que apoiam a escola: o Conselho Tutelar, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS),

Dependendo da gravidade da situação [...], chamamos o Conselho Tutelar [...]. Tem situações que requerem tempo, paciência e parceria dos pais [...]. Nosso problema também é que aqui é área vermelha, tem muitas famílias desestruturadas, pai educa de um jeito e a mãe educa do outro. (Rosária, Coordenadora Pedagógica)

Em relação às ações da escola diante dos casos de violência, 81% dos estudantes responderam que os envolvidos são encaminhados para a Secretaria, Diretoria e para falar com a coordenadora pedagógica, além de relatarem casos de suspensão, expulsão e transferência. Os demais (19%) indicaram: convocação dos pais, encaminhamento para o Conselho Tutelar, castigo e ralhos.
Cada escola tem uma maneira de lidar com essas situações, entretanto, a preparação dos profissionais é fundamental. Chrispino (2002) ressalta que os diretores e professores necessitam estar preparados e indica o diálogo como uma estratégia para mediar os conflitos a que são submetidos a vítima e o agressor.
A professora Joana, em vários momentos, tem utilizado o diálogo para tratar da violência em sala, além de trabalhar com vídeos que abordam o bullying e a violência física. A recorrência de casos de violência na escola gera um certo mal-estar e estresse para aqueles que lidam diariamente com essa situação, pois são várias vezes colocados em estado de tensão, principalmente, quando precisam lidar com o estudante agressor. Para Fernández (2005: 54), o agressor “[...] impõe a muitos o respeito ou o medo, acredita que pode exercer o abuso de poder por meio da agressão, ele precisa treinar o controle de sua raiva, o desenvolvimento da empatia, o autocontrole [...]”.
A escola lida com esses casos por meio de conversas com o gestor e coordenadora e, dependendo do caso, é chamado o Conselho Tutelar. A coordenadora pedagógica, na tentativa de minimizar os casos de violência, apresentou para os professores sugestões como palestras com psicólogos, projetos envolvendo a violência, drogas, entre outros. Porém, alguns deles não recebem bem as propostas.
Para uma possível solução, a escola deveria buscar condições de mediação tanto para quem é agredido quanto para o agressor. Chrispino (2002) destaca a importância de criar eventos para discutir a violência em si, sem apontar o violento e a necessidade de criar condições de tratamento afetivo para todos os estudantes antes e depois da agressão.
Para os professores e coordenadora pedagógica, uma das causas da violência escolar são os problemas familiares, pois acreditam que 99% das famílias dos estudantes são desestruturadas. Para Assis e Avanci (2004), a violência na família, por sua vez, potencializa a violência social, interferindo na forma como a criança é capaz de vivenciar as relações e a violência que sofre na escola e na comunidade em que vive. A criança está em uma fase de observar e imitar os pais, o ambiente em que a criança vive influencia para seu comportamento na escola, gerando alguns casos de violência e interferindo na aprendizagem.
O Gestor acredita ser “falta de respeito”, e atribui à família essa responsabilidade, por não estar mais conseguindo educar os filhos. Afirma ainda que tem alunos excelentes por que a família acompanha, mas que a maioria das famílias aqui são desinteressadas e desestruturadas.
Para Chrispino (2002: 11),

A escola é o espaço que a sociedade acredita ser o ideal para reproduzir os valores tidos como importantes para sua manutenção. Ocorre que a própria família, em crise e em transformação, passou a delegar à escola funções educativas que historicamente eram de sua própria responsabilidade, o que acarretou uma mudança no perfil de comportamento do aluno.

É certo que a família delegou muito de sua responsabilidade para a escola, entretanto, não se pode culpabilizá-la por todas as mazelas sociais que hoje afligem as crianças, os jovens e os adultos. Para o gestor e os professores, o trabalho social com a família e a parceria família-escola constitui condição fundamental para minimizar os casos de violência na escola. A coordenadora pedagógica, por sua vez, sugere palestras, parcerias com outros profissionais e órgão como o CRAS e CREAS e formação continuada de professores.
Em relação ao que é preciso fazer para minimizar a violência na escola, os estudantes sugerem:

Eu acho que deveria ter uma lei para que as pessoas se respeitassem [...]. (Estudante 3)
Para acabar com a violência na sala, todos teriam que ter mais respeito [...]. (Estudante 28)
Os professores deveriam prestar mais atenção em seus alunos [...]. (Estudante 30)
O gestor ou gestora deveria chamar os pais para assistir as aulas [...]. (Estudante 29)
Botar os alunos para limpar tudo e botar em cima do milho [...]. (Estudante 18)
Botar polícia na escola [...]. (Estudante 11)
Tirar os que fazem violência e deixar os que não fazem [...]. (Estudante 17)
Eu faria uma programação na escola [...]. (Estudante 12)
Para acabar a violência, basta o guarda fazer os meninos pararem de brigar [...]. (Estudante 10)
Eu queria que quem brigasse fosse suspenso [...]. (Estudante 4)
Tem que fazer uma palestra sobre a violência na escola [...]. (Estudante 22)

Os estudantes apresentam sugestões que podem impactar negativamente na questão, como a necessidade de polícia na escola, castigos, suspensões, expulsões; por outro lado, indicam ações potenciais para combater o problema: atividades que trabalhem os valores (respeito), relação mais afetiva entre professor e aluno, participação dos pais e realização de projetos na escola (programação e palestras).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contemporaneamente, o fenômeno da violência configura-se em uma problemática social que toma conta da vida das pessoas, sejam crianças, jovens ou adultos. Qualquer que seja sua face, coloca a todos a uma convivência de insegurança e medo. No espaço escolar, não é diferente, professores e estudantes convivem diariamente com episódios de violência, que acentuam os conflitos e impactam decisivamente no processo ensino-aprendizagem.
Tanto os professores quanto os gestor e estudantes já foram vítimas de alguma forma da violência escolar, sendo a física e simbólica mais presente na escola. Estas se manifestam por meio de apelidos, agressões (bater), brigas, palavrões, ameaças e racismo. Para os professores, gestor e coordenadora pedagógica, a violência na escola afeta tanto o trabalho do professor quanto a aprendizagem dos alunos na medida em que se cria um clima de insegurança, de desrespeito e indisciplina. Estes, ainda, culpabilizam a família pelo comportamento agressivo dos estudantes, pois argumentam que a desestrutura familiar é uma das maiores causas da violência na escola.
Na tentativa de minimizar as ocorrências da violência no âmbito escolar, o gestor, a coordenadora pedagógica, os professores e os estudantes relatam que a escola utiliza o diálogo com os envolvidos, além de chamarem os pais e contarem com o apoio de outros órgãos como CREAS e CRAS. Entretanto, os estudantes denunciam que também ocorrem suspensão, expulsão, transferência e castigos como sansões para estudantes agressores.
Por fim, diante dos casos de violência a que os estudantes na escola são submetidos, é imperativo que a escola coloque a questão da violência em pauta de modo a ser mais discutida, bem como busque alternativas para minimizá-la por meio de ações como as já apontadas pelos estudantes: trabalho com projetos, fortalecimento da parceria família e escola e, sobretudo, a construção de relações mais afetivas entre professores e alunos.

REFERÊNCIAS

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*Pesquisadora do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia da Universidade Federal do Amazonas.
** Professora do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia da Universidade Federal do Amazonas.
*** Professor do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia da Universidade Federal do Amazonas.

Recibido: 05/08/2019 Aceptado: 11/12/2019 Publicado: Diciembre de 2019

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