Revista: Atlante. Cuadernos de Educación y Desarrollo
ISSN: 1989-4155

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INDO ALÉM DO CODIFICAR E DECODIFICAR: o Método das Boquinhas no processo de alfabetização

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- INTRODUÇÃO

Este artigo foi projetado a partir da necessidade de refletir sobre a alfabetização que acontece nas escolas brasileiras. Codificar e decodificar de forma mecânica já é entendido como habilidades que não são suficientes, é preciso ir mais longe. Desenvolver verdadeiramente a leitura e a escrita no individuo é necessário, mas ainda precisa melhorar, considerando o alto índice de analfabetismo funcional que existe em nosso país.
A alfabetização se dá por meio de métodos que são utilizados para construir nas crianças as habilidades de leitura e escrita. No Brasil, existe uma variação de metodologias que são usadas para facilitar esse processo.  Fazer uma análise conceitual  e discutir aspectos desses métodos é parte desse artigo, contudo, não existe um propósito de avaliar de forma positiva ou negativa a viabilidade deles.
O Método Fonovisuoarticulatório, “Método das Boquinhas’, como é conhecido, é apresentado de forma reflexiva e analítica neste trabalho. O primeiro artigo científico publicado sobre ele foi no ano de 1997, Resultados positivos vêm sendo apresentados com o seu uso. Ele surgiu, primeiro, como recursos para crianças com dificuldades na aprendizagem, mas por ser uma metodologia que utiliza de imputs neurossensoriais foi trazido para a sala de aula e percebeu-se que pode ser uma boa estratégia de alfabetização.
A busca por esse tema se deve à necessidade visível de mudar o cenário da alfabetização em nossas escolas, sendo a pesquisa uma reflexão sobre o que o trabalho docente pode contribuir para esse processo, o que a pedagogia como ciência tem para agregar nessa área. Além de ser uma busca de conhecimento, já que mesmo na graduação em Pedagogia pouco se vê sobre como se alfabetizar uma criança.
A realização desta pesquisa é de natureza básica de forma qualitativa que, segundo Marconi e Lakatos (2018, p. 303) “O estudo qualitativo desenvolve-se numa situação natural, oferecendo riqueza de dados descritivos, bem como focando a realidade de forma complexa e contextualizada”. O instrumento de pesquisa utilizado nesta  pesquisa é de caráter bibliográfico, cujas autoras afirmam que:
A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, artigos científicos impressos ou eletrônicos, material cartográfico e até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferencias seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma. (MARCONI E LAKATOS 2019, p. 200).

Dessa forma, o arcabouço teórico deste artigo são as concepções de Soares (2008, 2018), Ferreiro e Teberosky (1986), Teberosky e Tolchinsky (2000), Jardini (2017) e Cagliare (1993), também contou-se com outras fontes como a BNCC, o Currículo de Referência do Estado de Minas Gerais e o PCN de Língua Portuguesa. O objetivo principal foi analisar como se dá o processo de alfabetização e os resultados quando se utiliza o Método das Boquinhas. Os objetivos específicos são conhecer as aplicações, as bases teóricas e relacionar o Método das Boquinhas com as regulamentações atuais na educação, além de buscar por definições do que é a alfabetização e os métodos desta.

• ALFABETIZAÇÃO: HISTÓRIA E DEFINIÇÃO

Apropriar-se da leitura e da escrita é um desafio grande para uma criança na fase escolar. Conseguir levá-las a aprofundar essas competências nessa etapa é uma provocação para os professores, pois muitos fatores influenciam esse desenvolvimento. Ferreiro (2011) aponta que o processo se dá em uma tríade: o sistema de escrita com suas características e regras, as concepções de quem aprende e as concepções de quem ensina, mas, formando uma tétrade acrescenta-se que o sistema (governo) e a forma que se pensa sobre educação em nosso país faz parte desse processo.
Apesar de existir autores que defendam que aprender a ler e a escrever se dá de forma natural como se dá a fala, diferenciando apenas no aspecto em que a língua falada é sonora e a língua escrita é visível. Pode-se afirmar que não é tão simples assim, pois, parte-se do pressuposto de que a escrita e a leitura são processos de aprendizado, pois, a criança não conseguiria ler e escrever sem instrução, porque mesmo com preparo e ajuda cuidadosa dos professores é um aprendizado lento e com dificuldades, isso porque a aquisição da leitura e da escrita é um processo cultural e não inata como a fala.
No Brasil, de acordo com Soares (2018), antes do século XIX, o  tema  dos métodos de alfabetização não era nenhum problema que necessitava estudo. Utilizava-se método da soletração, as chamadas “Cartilhas de ABC”, em que o centro era a grafia que ignorava a relação oralidade e escrita. No inicio do século XX, começou a reconhecer o valor sonoro das letras e sílabas, de maneira que a soletração deixou de ter espaço e surgiram os métodos sintéticos e analíticos, perdurando até os anos de 1980. Nesta década, iniciou-se outro movimento sobre alfabetização chamado de psicogênese da língua escrita ou construtivista e ele foi considerado uma “revolução conceitual” sobre a alfabetização, foi introduzido e disseminado em nosso pais por meio de Emília Ferreiro. Contudo, apesar de todo um histórico de se alfabetizar, o fracasso escolar brasileiro sempre foi uma realidade e se vive isso até hoje.
Existem muitas definições para o termo alfabetizar, toma-se aqui o sentido específico, objetivo do termo: processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita. (SOARES, 2008). Por tudo isso, a etapa de alfabetização é quando existe a assimilação da criança acerca da leitura e da escrita. E, quando a criança consegue adquirir esse conhecimento, ela não o deixa mais e faz desse aprendizado um desenvolvimento gradual para o resto da vida.
Outro importante ponto a se destacar no processo de alfabetização é que este depende de variadas características da realidade vivida, como culturais, econômicas e tecnológicas. Isso torna quase impossível colocar a alfabetização como um processo que acontece de forma geral e no mesmo sentido, pois do processo de alfabetização derivam as formas de como expressam aqueles sujeitos, a identidade deles. Além de ser um processo de inter-relação, de alfabetizadores (que possuem características pessoais e maneiras advindas de outras experiências que são próprias da sua prática) e alfabetizandos (que também possuem características únicas e próprias, dentro de classes com muitos alunos), tornando-se algo mais complexo e menos vertical.

• MÉTODOS E MÉTODOS: uma definição

A definição de métodos de alfabetização é construída neste artigo por meio de Soares (2018, p. 16) como “um conjunto de procedimentos que, fundamentados em teorias e princípios, orientem a aprendizagem inicial da leitura e da escrita, que é o que comumente se denomina a alfabetização”. Indo até da etimologia da palavra meta+hodos= caminho em direção a um fim, isto é, o caminho para se chegar a uma criança alfabetizada.
Os métodos que comumente são vistos nas escolas brasileiras são os chamados métodos de alfabetização “tradicionais”. São separados em duas vertentes, métodos sintéticos e métodos analíticos. Nos métodos tradicionais de alfabetização, os professores passam a matéria, os alunos resolvem as atividades sem participar ativamente do processo. Nessa maneira de ensino, os alunos memorizam os conhecimentos e reproduzem de forma mecânica. Considera-se, pois, uma maior quantidade de conhecimentos memorizados do que a qualidade do ensino. Os conhecimentos prévios dos alunos são deixados de lado, o contexto social em que estão inseridos não é levado em consideração, segue-se um roteiro, no qual todos têm que acompanhar e aprender da mesma forma e ao mesmo tempo.

3.1-Método Sintético
O método sintético de alfabetização inclui as metodologias denominadas: alfabéticas, fônicas e silábicas. Nesse modelo de alfabetização, ensina-se por partes separadas, como, por exemplo, as letras do alfabeto. Logo, dividem-se as vogais, as consoantes e as agrupa formando as sílabas para formar as palavras e assim sucessivamente em sentenças, frases e parágrafos.
Nesse modelo de ensino, basicamente é montado um esquema entre o oral e o escrito, entre som e grafia. Mas essa correspondência é feita de forma dicotomizada e, por muitas vezes, faz com que o aluno fique confuso porque, como é visto por partes, a criança tem maior dificuldade de juntar tudo e transformar  em palavra.
No alfabético, apresenta-se ao aluno as partes mínimas da língua escrita, as letras do alfabeto, para depois apresentar as sílabas e, mais tarde, as palavras. Dessa maneira, só parte de uma etapa depois de ter absorvido a antecedente. No método fônico, ensina-se a relação entre som e escrita. O professor começa ensinando os sons das vogais depois das consoantes. A parte mais complexa desse método é ensinar que um mesmo grafema possui diversos fonemas além das variações de pronúncia da mesma palavra. Já, no método silábico, a sílaba é a unidade principal a ser ensinada. O professor apresenta ao aluno as sílabas com duas letras, chamadas de sílabas simples, e, em seguida, aquelas com mais de duas letras, sílabas complexas. Ao passar do tempo, os alunos tomam consciência com ajuda do professor que a mesma sílaba forma diversas palavras, (como por exemplo: bola, bala = boba), e com essas palavras é possível escrever sentenças, frases e construções mais complexas.

3.2-Método Analítico
Ao contrário do sintético, o método analítico se constrói num processo de alfabetização de estruturas maiores para estruturas menores. Configura-se em começar o conhecimento por meio das sentenças, textos ou palavras, indo em direção das letras isoladas. Dessa forma, a criança aprende por meio das palavras escritas e não fazendo referência à linguagem oral.
Os métodos analíticos são vários e são chamados de métodos de palavração, sentenciação, global de contos, natural e imersão. Nesses modelos, a estrutura de ensino ocorre do maior para o menor, de grandes partes para pequenas. O método de palavração consiste na memorização da configuração gráfica da palavra. Para facilitar a memorização gráfica, as palavras são apresentadas juntamente com figuras que representam seu significado. Após ser apresentada a diferentes palavras, a criança adquire um banco mental de termos que, posteriormente, aprende a decompor em sílabas. No método de sentenciação, a lógica do método de palavração é seguida, contudo, parte primeiro da sentença, depois de ser compreendida, passa para as palavras e depois para as sílabas. No método chamado Global de Contos, também conhecido como "global das historietas", parte do texto como unidade de análise e o decompõe gradativamente em sentenças, palavras e no final em sílabas. Já no método natural, segue uma estrutura  parecida com o global de contos, mas ele privilegia a escrita por meio de produções espontâneas, os alunos são incentivados a escrever sentenças próprias e ao se deparar com palavras que não conhecem substituem com desenhos. Por último, o método de imersão parte do princípio de que o aluno se alfabetiza quando está imerso no mundo da escrita, inserido em situações ou atividades reais de leitura e escrita.

3.3-Método construtivista
Indo contra as vertentes tradicionais de alfabetização, o método construtivista ou também como é conhecido “psicogênese da escrita” foi pensado e apresentado por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, no ano de 1979.
Segundo as autoras da teoria, o processo de aprendizagem depende do contato que o aprendiz teve com a escrita antes de entrar na escola, do qual o professor deve estar ciente. Depende também da lógica de raciocínio de cada criança, que, no contato com material escrito, produz hipóteses sobre como representar a linguagem escrita até que consiga acertar. Por isso, é importante que o aluno seja incentivado a não ter medo de se expressar e de errar (PELISON, 2013, p. 10).

Nesse modelo de ensino, as relações já existentes na criança, como a leitura e a escrita, influenciarão na construção da alfabetização. As relações com o meio letrado são elementos significativos na construção do saber. E o professor já deve estar preparado para ajudar cada aluno nessa estrada da obtenção do conhecimento, pois a crianças constroem hipóteses, sobre as quais erram e acertam para o conhecimento ser aprendido. Dessa maneira, o professor deve criar situações para o educando expressar-se e incentivá-lo a cada acerto.

• MÉTODO DAS BOQUINHAS

O Método Fonovisiarticulatório, popularmente chamado de “Método das Boquinhas”, foi criado pela fonoaudióloga Renata Jardini, aprovado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2009, como uma prática de tecnologia da educação com validade e credibilidade. Surgiu da aliança entre as áreas da fonoaudiologia e da pedagogia, abordando de forma simples e fugindo das tradicionais memorizações, regras e fórmulas. Foi pensado para mediar o processo de alfabetização em crianças que possuem distúrbios patológicos ou que apresentam dificuldades em aprendizagem, contudo, muitos profissionais e escolas começaram a utilizar esse método e obtiveram bons resultados. Dessa forma, a alfabetização, utilizando este método, chega à realidade das salas de aula.
Nessa metodologia fonovisiarticulatório, a criança vive a experiência da alfabetização usando os vários sentidos que naturalmente possui. Os canais sensoriais, ou seja, auditivo, visual, cognitivo, cinestésico ou motor fazem os alunos construírem seus conhecimentos, por isso torna-se um método multissensorial. Ele também pode ser entendido, como a própria autora coloca, como multissenroral, oralista, fônico e articulatório.
A base teórica desse método é extensa. Copovilla; Ferreiro (1986), Teberosky (1996) são alguns exemplos de autores que o fundamentam. É notável que esses nomes também fazem ligação com o construtivismo, pois, acredita-se que o processo de aprendizado tem que ser ativo e por meio das experiências de cada educando. Pensa-se num ensino que dê ao aluno capacidade de questionamento, por construir hipóteses, ser criativo.
Mas é importante que se destaque a visão que temos de construtivismo não se pauta em apresentar às crianças textos e materiais contendo escritas, muitas escritas como a visão “construtivismo à brasileira” (MORTATTI, 2016). Falamos sobre pensar construtivista, do olhar desfocado, de uma visão do  todo, onde não existem apenas aulas, lousa, caderno e lápis. Falamos de um trajeto marcado pelo questionamento permanente, pela dúvida constante, pela capacidade de perguntar com obsessão e de armar respostas provisórias, posto que aprender não é acabar com as dúvidas, mas convier criativamente com  elas (DEMO, LA TAILLE, HOFFMAN, 2010 apud JARDINI, 2017, p. 56).

As experiências de contato da vida por meio da boca são vivenciadas, primeiro para respirar, alimentar, logo a seguir para comunicar. Por isso, partindo dessa ideia, a alfabetização também deve partir da boca para vivenciar o primeiro contato com as letras. A criança começa a entender a boca como uma ferramenta para adquirir conhecimento e usá-la de modo confortável. A boca produz os sons (fonemas), que são transformados em conhecimentos codificados e decodificados para assim tornarem-se letras. Dessa forma, os fonemas são codificados/decodificados em grafemas, criando, assim, o aprendente, consciência fonológica produzida inicialmente pela boca.
O método das Boquinhas estimula a criança usar, lidar, analisar, questionar e pensar a língua escrita a partir da boca. Esse mecanismo a auxiliará, futuramente, a desenvolver um automonitoramento e outras destrezas metacognitivas importantes para construir textos significativos, interpreta-los, identificar as informação mais importante, sintetizar e gerar perguntas (COOPER, 1993, apud, JARDINI, 2017. p. 56).

Ao usar a boca e a própria articulação na produção do som e transformá-lo em grafema, a construção da escrita e da leitura transforma-se em uma concepção mais significativa para o aluno. É importante pensar que atualmente nas escolas ensinam-se as letras, seguindo o abecedário, mas quando começa o período de alfabetização, é necessário a criança saber o som da letra (o fonema) e não o nome da letra. A letra C, por exemplo, ao pronunciarmos seu nome (CÊ) não pronunciamos os seus dois fonemas. Por isso, o Método das Boquinhas  apresenta as letras, mas foca principalmente nos fonemas de cada uma e chama a atenção com o cuidado que temos que ter ao recitar o alfabeto.
Desta forma, o nome da letra, ou o recitar o alfabeto de maneira rotineira e mecânica, falando seu nome ( A- BÊ – CÊ – DÊ, ÉFE, GÊ, ÁGA...), treino tão usal nas escolas brasileiras, e também nos lares, deve ser evitado, na intenção de não prejudicar o processo pela fixação automática dos mesmos. [...] que as letras tem nomes, sons e bocas, mas para se aprender a ler, usamos seu som e sua boca (e não o nome da letra) [...] (JARDINI, 2017. p. 106)

É preciso conhecer o som de cada letra isoladamente, sozinha, isoladas de vogais, para conhecermos assim o seu fonema. Muitas vezes não conseguimos sentir esse som, mas em muitas palavras é perceptível ouvi-lo, podendo ser pronunciada e audibilizada. São exemplos que se conseguem ouvir o som da letra em pacto, cacto (c – um som bem característica sentido no final da garganta), mesmo separando-as em sílabas, o som continua.
Quando a autora refere-se à articulação da boca, ela apresenta no método os articulemas. Estes articulemas são as “imagens” articuladas de cada fonema na boca.  Eles são o movimento articulatório da boca, língua, vibração das pregas vocais dentro de cada fonema.
[...]Assim, a fala é construída a partir de elementos ouvidos (sons de falantes) e também elementos vistos (imagens dos articuladores de quem fala), comprovados pelo famoso efeito Mcgurk (McGURK; McDONALD, 1976), que prova que as pistas articulatórias contribuem, efetivamente, de maneira multissensorial para a compreensão de fala, para promover a sobrevivência da espécie e de seu nicho, principalmente quando há concorrência entre estímulos, como ruído de fundo. Ou seja, recorremos a olhar para a boca de um falante, para compreender melhor o que ele quer dizer” (JARDINI, 2018. p. 147).

E os articulemas devem ser treinados sinestesicamente (pelo sentir), visualmente (com o auxilio do espelho) e auditivamente (ao som que aquele movimento tem).
Outro importante aspecto é a classificação das famílias silábicas. Na forma tradicional de ensino, aprendemos as famílias separadas, mesmo aquelas cujos sons são iguais. Já no Método das Boquinhas, as famílias silábicas devem ser aprendidas em concordância com o som (fonema) e com o articulema (boquinha), podendo o aluno entender porque mesmo sendo grafemas (letras) diferentes possuem nas palavras o mesmo som, o mesmo barulho. Exemplo disso é que na família do CA, CO, CU as crianças verão o QUE e QUI, pois possui o mesmo som e o mesmo ponto de articulação, já o CE e o CI irão ser vista na família em que aparecerá a boca e som que ela produz.
Para entender o Método das Boquinhas, primeiro é necessário saber a sua teoria. O que difere esse é o fato de no curso de Pedagogia certos aspectos da Língua Portuguesa não terem sido trabalhados, principalmente a “classificação” das letras, não só utilizado pelo Método das Boquinhas, mas em todo processo de aquisição da leitura e escrita. Essa classificação é bem complexa e elas são diferentes em modo e no ponto.

E ainda existe a classificação entre fonemas surdos e fonemas sonoros. Na verdade, fonemas causam bastante confusão nas crianças e muitas vezes são deixados os confrontos entre surdas e sonoras de lado, trazendo prejuízos para os alunos. Gagliari (1993, p. 62), ressalta sobre fonemas surdos e sonoras:
Um som é sonoro quando, juntamente com sua articulação, ocorrem vibrações das cordas vocais. Um som é surdo, quando as cordas vocais permanecem abertas sem vibração. Isso se verifica facilmente, através do tato, articulando os sons e colocando a palma da mão junto à cartilagem tireoide da garganta (GAGLIARI, 1993. p. 62).

Os confrontos entre surdas e sonoras é quando a criança consegue ter consciência do fonema de cada par. Por meio do aparelho auditivo, esses confrontos devem vir primeiro em uma estância sonora, pois dará ao aluno a capacidade de processar as diferenças entre os sons e também na articulação. É importante ressaltar que os fonemas devem ser trabalhados com a voz alta e não sussurrando, pois quando se fala o fonema sussurrado, ele se torna mais semelhante a um fonema surdo, mesmo sendo um fonema sonoro, Cagliare (1993, p.63) indica “O sussurro é um tipo de fonação diferente da produção dos sons surdo e sonoro”. Ao trabalhar o par surdo e sonoro F/V, temos que mostrar ao aluno o som (fonema) e o que a boca faz ao pronunciar, se “vibra” ou não, faca, fonema surdo, em nenhum ponto da articulação a vibração, mas já “vaca” a vibração é sentida bem no início da palavra. Logo depois desse trabalho oral, o professor deve estender o trabalho para a grafia. Mas, temos que pensar que memorizar listas de palavras e fazer cópias repetitivas não trará a consciência fonêmica de que o aluno precisa para compreender essa diferença entre os sons das letras que causam tanta confusão na alfabetização.
Com as vogais (A-E-I-O-U) é tudo mais simples, por isso, inicia-se o processo de alfabetização por elas. Além de possuírem o mesmo som e nome, todas as palavras do nosso sistema de escrita possuem vogais. É importante também começar o processo de alfabetização pelas vogais, porque elas são mais fáceis de serem articuladas, tendo a criança a facilidade de familiarização e aquisição da habilidade de relacionar nome + fonema + articulação.
Ter o conhecimento das classificações das letras é importante para saber realizar os articulemas das boquinhas. Pois os articulemas não são só o movimento da boca, mas todo o conjunto da região da boca. Além de eles garantirem a articulação dos fonemas que possuem a mesma letra e o mesmo som.

Os recursos didáticos que são usados dentro do Método das Boquinhas são os de autoria própria da marca. Podendo o professor utilizá-los e criar outros adequando à sua realidade. Existe uma infinidade de jogos e brincadeira disponível, tendo a ludicidade como um ponto importante  que também acrescenta muito na absorção do conhecimento.
O Método das Boquinhas possui um material bem completo. A fim de nortear a sequência didática do professor, o profissional tem à disposição seis livros com atividades para serem proposta aos alunos. O primeiro livro refere-se às vogais (A-E-I- O-U), o segundo inicia-se as consoantes mais fáceis de serem aprendidas (L-P-V-T), o terceiro apresenta as consoantes complexas (M-F-B-N-D), já no quarto volume é proposto as consoantes mais difíceis (C- R[som forte], G- r[som fraco]), no quinto livro é dado sequências às consoantes (os pares) mais difíceis (J/GE,GI- S/CE- S/CI- X/CH- Z/ASA-H- CH/LH/NH), e no sexto e último, trabalha as sílabas complexas.
Os exercícios propostos pelos livros trazem a associação dos fonemas-grafemas- articulemas. Outro importante aspecto que é trabalhado nos livros, é que pelas leituras se concretizou a importância dos confrontos entre as letras, trabalhando a todo momento o que se preza pelo método, além de contribuir no aprendizado da criança, tendo várias atividades que auxiliam na aptidão da coordenação motora fina e visuo- espacial, bem como de possuir mapas de ideias, jogos e brincadeiras, fazendo o aprendizado chegar mais perto do aluno.

É importante ressaltar que os livros que dão ao professor a orientação sobre seu planejamento não abarcam a questão do letramento. Isto é, fazem com que o professor tenha que adaptar o material. Mas existem dentro da marca “Boquinhas”, acervos que orientem a junção entre o método e o letramento. Inerente aos materiais de “Boquinhas”, também existem livros que contribuem para a prática, desde a educação infantil (não a alfabetização na educação, mas o contato desde ali com a experiência com as Boquinhas) e também material para se trabalhar com a alfabetização de jovens e adultos na modalidade de EJA, assim como materiais específicos para trabalharem as dificuldades que normalmente os alunos de alfabetização possuem.
Destaca-se a importância de ver o aluno como agente principal para a aquisição das habilidades de leitura e escrita, tornando-os ativos no processo de alfabetização. Entendem-se um agente ativo na própria aquisição dos códigos os alunos que têm a possibilidade de refletir sobre o sistema de escrita, que formula hipóteses, que usam do erro como parte da absorção do conhecimento, que participa e não somente recebe conhecimentos prontos e acabados e professores que vivem em concepções reprodutivistas e que acreditem que somente eles possuem o conhecimento. Taberosky e Ferreiro (1985), apontam sobre sujeito ativo na aprendizagem da seguinte forma: “Um sujeito ativo é um sujeito que compara, exclui, ordena, categoriza, reformula, comprova, formula hipóteses, reorganiza, etc., em ação interiorizada (pensamento) ou em ação efetiva (segundo seu nível de desenvolvimento” (FERREIRO; TEBEROSKY.1985. p. 29). Dentro do método, é orientado ao professor que  se use da prática de alternância de papel com o aluno depois que a criança já estiver com o processo de alfabetização mais estruturado, Jardini (2017) afirma que dentro dos exercícios deve conter uma medida de “roll plaiyng”. Isto é, como numa brincadeira de “mentirinha”, o professor vira aluno, cometendo erros, dessa forma, a criança corrige essa falha proposital do professor e aprende a lidar com os seus erros também. O professor também pode propor  a alternância ao colocar atividades de outros colegas para que a criança corrija, trazendo para ele, um reforço e também a reflexão sobre o erro. Além de favorecer que o erro venha a contribuir para o processo de aprendizagem, tendo nessas situações uma forma de aprender. Mas, o que chama a atenção também quando se propõe essa prática é a quebra do paradigma de professor como detentor único do saber, um ser incapaz de errar e de aprender com seus alunos, coloca a sala de aula e a relação professor aluno como  um meio de parceria, de cooperativismos e de trocas.
Na proposição de Boquinhas, a alternância de papéis em todo o processo de aprendizagem, incluindo o professor responsável, levando a criança, após a aprendizagem formal, a criar situações de erro, para ser corrigida, aprender por meio deles e, também, a corrigir e ensinar colegas. Acredita-se que errar é apenas mais uma forma de aprender. O grupo, então, se empenha em descobrir como apreender o conhecimento, como acertar ou errar, sendo coautor de seu sucesso. Assim, o professor não promove ensinamentos, mas, sua tarefa consiste em ser um instrumento de intercambio entre as crianças, facilitando suas produções e criando concretamente situações em que possam descobrir que podem e sabem escrever (FERREIRO, PALÁCIO, 1987). Com base no aprender colaborativo, rompemos a estrutura de aulas denominadas por Schiefeldeim (1992), modelo frontal, centrada em um educador que ensina os mesmos conteúdos, da mesma maneira, no mesmo compasso, de costas aos alunos de forma expositiva e mecânica (JARDINI, 2017. p. 57).

Nos próprios materiais didáticos do método, esse tipo de erro construtivo é trazido. Atividade que faça com que a criança perceba o erro, que ela consiga fazer as correções é proposta dentro dos seis volumes, contudo, também é preciso que o professor tenha bom senso de utilizar dessa técnica do erro como base para o saber, pois de tanto ter de trabalhar com o erro, a criança pode se confundir ou até mesmo se frustrar com o seu desenvolvimento. É preciso fazer desse erro uma reflexão, ser um ponto dentro da alfabetização, mas se usado demais, pode tornar-se desagradável para o processo de alfabetização.
Para entender o Método das Boquinhas dentro da sala de aula, utiliza-se a pesquisa de Conrado; Rezende; Pasqualeto (2012), que fizeram um estudo com este método, comparando- o com outro método de alfabetização em turma de primeiro ano de uma escola pública do município de Caxias do Sul no estado de Rio Grande do Sul no ano de 2012.
Durante a pesquisa, as autoras aplicaram dois testes. Um no começo do ano letivo, sem que as crianças tivessem contato com algum método de alfabetização, e outro teste depois de quatro meses de intervenções com o método das boquinhas em uma turma, e na segunda turma utilizando outro método de alfabetização não especificado. Os testes foram aplicados de forma individual, mas instantaneamente nas duas turmas, ele possuía oito imagens, seguindo alguns critérios de dificuldades de escrita, indo de sílabas simples (consoante + vogal) e sílabas complexas (consoante+ vogal + consoante), e abarcava também a quantidade de sílabas da palavra (duas palavras dissílabas, trissílabas e polissílabas).
Para saber em qual nível que as crianças apresentavam na escrita, utilizou-se da separação dos níveis de escrita baseado em Ferreiro e Teberosky (1986), ficando determinado da seguinte maneira:
Nível 1:Neste nível, escrever é reproduzir os traços típicos da escrita que a criança identifica como forma básica de escrita. Se esta forma básica é a de escrita imprensa, teremos grafismos separados em si, composto por linhas curvas e retas ou combinações de ambas. Se a forma básica, é a cursiva, teremos grafismos ligados em si com uma linha ondulada como forma de base, na qual se inserem curvas fechadas ou semifechadas (p.183).

Nível 2: A hipótese central deste nível é a seguinte: para poder ler coisas diferentes (isto é, atribuir significados diferentes) deve haver uma diferença objetiva nas escritas. O progresso gráfico mais evidente é que a forma dos grafismos é mais definida, mais próximo as letras. Porém, o fato conceitual mais interessante é o seguinte: segue-se trabalhando com a hipótese de que faz falta uma certa quantidade mínima de grafismos para escrever algo, e com a hipótese da variedade do grafismos (p.189).

Nível 3:este nível está caracterizado pela tentativa de dar valor sonoro a cada uma das letras que compõem uma escrita. Nesta tentativa, a criança passa por um período da maior importância evolutiva: cada letra vale por uma sílaba. É  o surgimento do que chamaremos a hipótese silábica. Com esta hipótese, a criança dá um salto qualitativo com respeito aos níveis precedentes (p.193).

Nível 4: passagem da hipótese silábica para a alfabética. [...] a criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise que vá "mais além" da sílaba pelo conflito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de grafias [...] e o conflito entre as formas gráficas que o meio lhe propõe e a leitura dessas formas em termos de hipótese silábica [...] (p.196).

Nível 5:A escrita alfabética [...]. Ao chegar neste nível a criança já enfrentou a “barreira do código”; compreendeu que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba, e realiza  sistematicamente uma análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever (FERREIRO; TEBEROSKY. 1986. p.213).

Na primeira testagem, obtiveram os resultados de acordo com Conrado; Rezende e Pasqualeto (2012); turma número 1: aluno (4%) no nível I; 20 alunos (80%) no nível II; 2 alunos (8%) no nível III; 1 aluno (4%) no nível IV e 1 aluno (4%) no nível V. Já na turma número 2:5 alunos (19%) no nível I; 21 alunos (81%) no nível II; 0 alunos (0%) no nível III; 0 alunos (0%) no nível IV e 0 alunos (0%) no nível V.A turma número 1, recebeu a intervenção do Método das Boquinhas, e com o tempo de quatro meses, foi apresentado o seguintes resultados: turma 1: 0 alunos (0%) no nível I; 0 alunos (0%) no
nível II; 10 alunos (40%) no nível III; 6 alunos (24%) no nível IV e 9 alunos (36%) no nível V. E na turma 2: 0 alunos (0%) no nível I; 16 alunos (61%) no nível II; 6 alunos (23%) no nível III; 3 alunos (12%) no nível IV e 1 aluno (4%) no nível V.
Portanto, é possível perceber que nas duas turmas houve avanços, contudo na turma que a professora utilizou do Método das Boquinhas o desenvolvimento nos níveis de escrita foram mais significativos. Verifica-se um maior progresso principalmente na aquisição da escrita alfabética (Nível V) na turma número 1, garantindo maior quantidade de crianças que conseguiram escrever corretamente, e outro importante aspecto que diferencia da turma número 2, e a presença de nenhuma criança no nível 2, diferente da turma 2, que apesar de quatro meses de intervenção, tem a maior quantidade de alunos nesse nível de escrita.
Para explicar o desenvolvimento satisfatório na turma 1, as autoras afirmam que:

A partir dos estudos realizados sobre o “Método das Boquinhas” percebe-se que os avanços na turma nº 1, descritos acima, ocorreram devido a aspectos bem peculiares do método, como por exemplo: o trabalho inicial baseado na consciência fonológica e propriocepção da articulação dos fonemas. Nessa turma a professora realizou inicialmente atividades de apropriação do som e  do articulema representado por cada letra, com o auxílio da observação em espelhos e no modelo ofertado, ora por movimentos dos órgãos fonoarticulatórios envolvidos, ora por imagens dos próprios articulemas. Somente quando percebeu que as crianças já se sentiam seguras em relação a isso, é que ela passou para atividades que desenvolvem a escrita dos grafemas. Além disso, o fato de cada criança precisar somente da sua boca para compreender e acompanhar o processo de escrita faz dela autora de seu processo de uma maneira autônoma, pois não necessita de recursos externos para se apropriar disso (CONRADO; REZENDE; PASQUALETO, 2012. p. 11/12).

Por esse estudo, pode-se reafirmar o que Jardini (2017) defende que o Método  das Boquinhas promove a alfabetização de modo seguro, eficiente e com significado para a criança. Já que utiliza de seu próprio corpo na aquisição da leitura e escrita, tornando o agente principal para o desenvolvimento e tornam esses conhecimentos algo com sentido e significado. Mas, por outro lado, o trabalho do professor tem que ser mais individualizado, tornando outro desafio numa classe com muitos alunos.

4.1-A relativização sobre os documentos e método
Em nosso país, existem muitos documentos que regem a educação. Desde a Constituição Federal a documentos da própria secretaria municipal de educação de cada município, existem leis, parâmetros e condutas a serem cumpridas. Nesta pesquisa, como base teórica, relaciona-se a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da  Educação (LDB), Parâmetros Curriculares Nacional –Português (PCN) e Base Nacional Comum Curricular (BNCC) além do Currículo Referência de Minas Gerais.
O direito à educação é assegurado pela Constituição Federal. Em vários artigos, a valorização do ensino é pautada, trazendo uma educação de qualidade para todos os cidadãos brasileiros, tornando-os sujeitos completos, com uma formação digna e integral. Garante também que o estado e a sociedade em geral (a educação é dever do estado, família e sociedade) devem lutar para a melhoria da qualidade do ensino e a erradicação do analfabetismo.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.393/96, LDB), como o próprio nome indica é a lei que estabelece as diretrizes e bases obrigatórias para o ensino. Buscando- se o foco na alfabetização, a LDB não traz muitas informações precisas. Verifica-se que em seu Art. 32, o domínio das habilidades de leitura e escrita.
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; [...] (BRASIL, 2018. p. 22)

Ampliando as informações a respeito da alfabetização, os Parâmetros  Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa, oferecem maiores informações sobre o que se espera dessa etapa. Ele aponta em várias partes a necessidade de se pensar o processo de alfabetização como algo que vá além da codificação e decodificação, reforçando a importância da ação pedagógica do professor na aquisição das habilidades de leitura e escrita, apontando mais para a prática do letramento do que para as metodologias para se alfabetizar.
No documento, também aponta a importância das práticas que levem os alunos a construírem hipóteses e serem protagonistas do seu processo, participar ativamente é algo necessário, buscar nos erros dos educandos pistas, sondar sempre a necessidade que pode ser diferente em cada aluno.
É preciso ter claro também que as propostas didáticas difundidas a partir de 1985, ao enfatizar o papel da ação e reflexão do aluno no processo de alfabetização, não sugerem (como parece ter sido entendido por alguns) uma abordagem espontaneísta da alfabetização escolar; ao contrário, o conhecimento dos caminhos percorridos pelo aluno favorece a intervenção pedagógica e não a omissão, pois permite ao professor ajustar a informação oferecida às condições de interpretação em cada momento do processo. Permite também considerar os erros cometidos pelo aluno como pistas para guiar sua prática, para torná-la menos genérica e mais eficaz.

A alfabetização, considerada em seu sentido restrito de aquisição da escrita alfabética, ocorre dentro de um processo mais amplo de aprendizagem da Língua Portuguesa. Esse enfoque coloca necessariamente um novo papel para o professor das séries iniciais: o de professor de Língua Portuguesa. (BRASIL. 1997, p. 27)

Já numa nova perspectiva, a alfabetização é também objeto de destaque no documento que recentemente veio a reger a educação brasileira. A Base Nacional Comum Curricular-BNCC apresenta muitas informações sobre a alfabetização, o que deve ser contemplado e o que se espera do processo. Foi possível por meio desta pesquisa, perceber que o Método das Boquinhas, atende em vários fatores ao que ela indica.
As relações de fonemas – grafemas, isto é, fono-ortográficas, é entendida como ponto principal na construção do saber, é necessário que o aluno conheça e domine essa “mecânica”, conheça o funcionamento, a prática da elaboração de transformar aquilo que é som (fonema) em escrita (grafema), e isso, não é tarefa simples, exige muito do aluno, e não pode ser concebida por meio de cartilhas, textos prontos de livros que não conectam com a realidade do estudante. Ela também contempla as irregularidades da Língua Portuguesa, são poucas as letras que apresentam um único som (regularidade biunívoca), a maioria possuem vários sons, tem letra que não apresenta nenhuma sonoridade e possuem aquelas que são consideradas nasais, abertas e fechadas. Causando no aluno muitas hipóteses, que se não forem bem organizadas pelos professores gerarão dificuldades na aprendizagem do aluno.
Outro aspecto do processo de alfabetização nas escolas brasileiras que a Base Nacional Comum Curricular, (BRASIL, 2017) retrata e que o Método das Boquinhas também concorda é o trabalho com as famílias silábicas. De acordo com o documento, “as sílabas deveriam ser apresentadas como o que são, isto é, grupos de fonemas pronunciados em uma só emissão de voz, organizados em torno de um núcleo vocálico obrigatório, mas com diversos arranjos consoantes/vocálicos em torno da vogal núcleo.” (BRASIL, 2017. p. 91).
Sempre se aprende as famílias silábicas por meio dos grupos de consoantes com as vogais, mas é enfatizado a importância e se trabalhar grupos de fonemas pronunciados em uma só emissão de voz, organizados em torno de um núcleo vocálico obrigatório, mas com diversos arranjos consonantais/vocálicos em torno da vogal núcleo. E em Boquinhas esse pensamento também é tido como um potencial no processo de alfabetização, mas indo além, mostrando as famílias silábicas que possuem mesmo som e mesma articulação.
Dentro do documento da BNCC, estabelece aspectos que a criança deve ter contato para a construção das habilidades da alfabetização. Destaca aqui alguns desses pontos que se relacionam com o Método das Boquinhas:

• [...] Perceber quais sons se deve representar na escrita e como;
• Construir a relação fonema-grafema: a percepção de que as letras estão representando certos sons da fala em contextos precisos;
• Perceber a sílaba em sua variedade como contexto fonológico desta representação; [...] (BRASIL, 2017. p. 89)

Outro documento importante é o Currículo Referência de Minas Gerais. Construído com a Base Nacional Comum Curricular - BNCC, ele atende à regionalidade do Estado, trazendo questões próprias de Minas Gerais, buscando aproximar a BNCC da realidade das escolas mineiras.
No âmbito da alfabetização, o currículo prima por uma nova perspectiva no ensino. Deixando de lado práticas “tradicionais”, que apenas transmitem o  conhecimento, não dando ao aluno espaço para reflexão. Também é proposta uma escola onde os alunos participem ativamente do processo da construção da alfabetização, sendo agentes ativos, participativos e autônomos na aquisição da leitura e escrita.
Para estar de acordo com essa concepção, o trabalho em sala de aula deve se organizar em torno do uso e privilegiar a reflexão dos alunos sobre as diferentes possibilidades de emprego da língua. Isso implica, certamente, a rejeição de uma tradição de ensino transmissiva, isto é, preocupada em oferecer ao aluno conceitos e regras prontos, que ele só tem a memorizar, e de uma perspectiva de aprendizagem centrada em automatismo e reproduções mecânicas. (MINAS GERAIS, 2018. p. 229)

Dessa forma, percebe-se que as escolas e profissionais de educação terão de buscar novas metodologias e recursos para atender ao que se pede, tornando o Método das Boquinhas uma boa prática, atendendo à necessidade de ser um método de alfabetização em que o aluno é o centro da descoberta e participa criando hipótese usando seu próprio corpo como base para a aprendizagem.

• CONSIDERAÇÕES FINAIS

As estratégias usadas pelos profissionais de educação para garantir a aprendizagem dos alunos devem ir ao encontro da realidade de cada um. Considerar a diversidade humana é respeitar que cada um estrutura os conhecimentos e habilidades de maneiras distintas. Uma infinidade de métodos para conseguir atingir a individualidade de cada educando no processo de alfabetização existe como mostrado acima. Cabe ao professor saber utilizá-los, para, assim, garantir a todos os alunos o acesso à educação e ensino de qualidade.
Buscar novas práticas e métodos é tentar mudar a realidade da educação que se vive na atualidade, de modo que é necessário inovar, sair do que se repete mecanicamente, sem reflexão, pois é perceptível que esse modelo de escola não está atendendo à necessidade dos educandos. O Método das Boquinhas como mostrado pela pesquisa, torna-se uma nova busca, um novo aliado na construção de uma alfabetização consciente, em que o aluno irá consolidar de verdade a leitura e a escrita, não meramente codificar/decodificar, sendo agente ativo do processo de ensino. Por ser possível fazer essa relação que o Método das Boquinhas pode ser uma boa prática na alfabetização, demonstra-se que os objetivos postos no início da pesquisa foram alcançados.
Por meio da pesquisa, percebeu-se que a alfabetização ainda é um fenômeno que apresenta de dificuldades para as escolas brasileiras. O discurso do sistema educacional que busca por mudanças se faz urgente na prática, pois entender como se dá o processo  e a escola fazer o melhor para os alunos é dar-lhes nova oportunidade de mudar o seu mundo. Entende- se também que o melhor método é aquele que o aluno aprende, dando sentido, fazendo real mudança em sua vida.

REFERÊNCIAS
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BRASIL. LDB ( Lei nº 4.394/1996 e Lei nº4.024/1961). Lei de diretrizes e Bases
da Educação Nacional- LDB. 2º ed. Senado Federal. Brasília. 2018.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular-BNCC.
Brasília. 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s- língua portuguesa. Brasília. 1997.

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CONRADO, Bruna; REZENDE, Laíse; PASQUALETO, Viviane Medeiros. A Eficácia do Método das Boquinhas na Alfabetização – um estudo no 1º ano do município de Caxias. 2012. Disponível em: https://www.metododasboquinhas.com.br/ Acesso: 22/05/2018.

FERREIRO, Emília. TEBEROSKY, Ana.  Psicogênese da Língua Escrita. Ed.
Artes Médicas. Porto Alegre. 1986. Trad. Diana Myrian Lichtenstein.

JARDINI,        Renata      Savastano     Ribeiro.      MÉTODO       DAS      BOQUINHAS:        uma neuroalfabetização. 1ºed. Ed: Boquinhas Aprendizagem. Bauru. 2017.

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MARCONI, Marina de Andrade. LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. 7º ed. Ed. Atlas. São Paulo. 2018.

MINAS GERAIS. Secretária Estadual de Educação. Currículo Referência de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2018.

PELISSON, Júlia. Qual é o seu método? Letra A: O jornal do alfabetizador, Belo Horizonte, v. 9, n. 33, p.8-11, Março/Abril. 2003. Disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg.br. Acesso: 15/03/2018

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TEBEROSKY, Ana. TOLCHINSKY, Liliana. org. Além da Alfabetização. 4º ed. Ed. Ática. São Paulo. 2000.

*Graduada em Pedagogia na Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, unidade Cláudio-MG. Endereço Eletrônico: cbmlivia@gmail.com.
** Mestre em Educação, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Graduado em Letras e Pedagogia, pela UFMG Universidade Federal de Minas Gerais. Professor na UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais em Claudio-MG. Endereço Eletrônico: leitoralves@gmail.com
***Mestre do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA

Recibido: 20/11/2019 Aceptado: 25/11/2019 Publicado: Noviembre de 2019

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