Revista: Atlante. Cuadernos de Educación y Desarrollo
ISSN: 1989-4155


O MÉTODO ETNOGRÁFICO EM QUESTÃO: UM PREÂMBULO REFLEXIVO SOBRE OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DO SABER E DO FAZER ANTROPOLÓGICO

Autores e infomación del artículo

Patrícia Rejane Froelich*

Julia Rodrigues Esmerio**

Ricardo Alberti***

Universidade Federal de Santa Maria- UFSM, Brasil

patyfroelich@gmail.com.


Resumo: Este artigo tem por objetivo primeiro analisar o método etnográfico, através de uma revisão bibliográfica. Trata-se de um exercício reflexivo e preliminar, que busca em segunda instância elencar elementos de ponderação que serão aprofundados na pesquisa empírica. Há, nesse sentido, um diálogo entre a Antropologia e método etnográfico com a epistemologia das Ciências Sociais. Fruto da requisição de uma disciplina da pós-graduação, o presente escrito visa reverberar ainda sobre o processo de formação de jovens pesquisadores.

Palavras-chave: Etnografia. Teoria Antropológica. Fazer antropológico.

EL MÉTODO ETNOGRÁFICO EN CUESTIÓN: UN PREÁMBULO REFLEXIVO SOBRE LOS DESAFÍOS CONTEMPORÁNEOS DEL CONOCIMIENTO Y LA PRÁCTICA ANTROPOLÓGICA

Resumen: Este artículo tiene como objetivo analizar primero el método etnográfico a través de una revisión de la literatura. Este es un ejercicio reflexivo y preliminar, que busca en segunda instancia enumerar los elementos de ponderación que se profundizarán en la investigación empírica. En este sentido, existe un diálogo entre la antropología y el método etnográfico con la epistemología de las ciencias sociales. Como resultado del requisito de una disciplina de posgrado, este escrito tiene como objetivo reverberar sobre el proceso de formación de jóvenes investigadores.

Palabras clave: Etnografía. Teoría antropológica. Haciendo antropología.

THE ETHNOGRAPHIC METHOD IN QUESTION: A REFLECTIVE PREAMBLE ON THE CONTEMPORARY CHALLENGES OF ANTHROPOLOGICAL KNOWLEDGE AND DOING

Abstract: This article aims to first analyze the ethnographic method through a literature review. This is a reflective and preliminary exercise, which seeks in the second instance to list weighting elements that will be deepened in empirical research. In this sense, there is a dialogue between anthropology and ethnographic method with the epistemology of the social sciences. As a result of the requirement of a postgraduate discipline, this writing aims to reverberate about the process of formation of young researchers.

Keywords: Ethnography. Anthropological theory. Anthropological doing.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Patrícia Rejane Froelich, Julia Rodrigues Esmerio y Ricardo Alberti (2019): “O método etnográfico em questão: um preâmbulo reflexivo sobre os desafios contemporâneos do saber e do fazer antropológico”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (octubre 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/atlante/2019/10/metodo-etnografico-questao.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/atlante1910metodo-etnografico-questao



INTRODUÇÃO
A proposta deste artigo é refletir sobre o método etnográfico, utilizando concomitantemente abordagens clássicas e contemporâneas. Nesse sentido, problematizar também sobre a importância da disciplina de teoria antropológica1 na formação acadêmica. Destacando, portanto, a discutir antropologicamente os desafios e anseios pragmáticos e teóricos da pesquisa e, por conseguinte, da prática etnográfica.

Ao analisar distintas (e por vezes muito semelhantes) elaborações acerca da etnografia, visa-se elucubrar como esses referenciais norteiam -de algum modo- a prática da pesquisa, havendo também uma espécie de autocrítica epistemológica.

Dado suas pretensões, destaca-se que este texto está ancorado em quatro momentos. Inicialmente faz-se uma sucinta revisão bibliográfica de alguns autores, privilegiando o construto de Geertz e Malinowski.

Em um segundo movimento reflexivo, entrecruza-se chamamentos antropológicos com Na sequência, na terceira parte do escrito, são traçados breves paralelos entre a disciplina de teoria antropológica per si e a epistemologia das Ciências Sociais. Por fim apresentam-se conclusões que visam, em primeira instância, elencar pontos conectivos entre o método e a prática antropológica clássica e contemporânea, destacando os desafios do fazer antropológico hoje, há que se destacar ainda que esses momentos por vezes se bifurcam.

  1. MAS O QUE É ETNOGRAFIA? Deixa os INTERLOCUauTORES2 falarem!

1.2 Geertz e o antropólogo como autor

Geertz é considerado um dos grandes nomes da antropologia do século XX, expressivo por suas análises sobre a cultura, as dimensões simbólicas da ação social, o papel do etnógrafo e da antropologia interpretativa. Considerado por muitos uma leitura obrigatória para os estudantes de Ciências Sociais, e uma releitura necessária para os professores dessa área.

A etnografia, segundo Geertz (2005), constitui-se em um trabalho alicerçado em dois momentos: o Estar lá (“no campo”) e o Estar aqui (“no mundo acadêmico”). Promover (atualmente desafiados pelas mudanças no campo de investigação, não mais tão distantes como outrora) a união desses momentos é a problemática que percorre os capítulos em relevo 3, e, por conseguinte, o fazer etnográfico e suas clivagens na contemporaneidade.

Inicialmente Geertz faz uma discussão da Antropologia no campo das Ciências, seus desafios primevos, muitos deles insuperados até então.  Para ele a credibilidade dos etnógrafos não está circunscrita na extensão de sua descrição ou na força de seus argumentos teóricos, mas sim na “sua capacidade de nos convencer de que o que eles dizem resulta de haverem realmente penetrado numa outra forma de vida” (GEERTZ, 2005, p. 15). Nem tudo que o antropólogo escreve é aceito, e nem deve ser, o rigor epistemológico deve imperar sob os nossos trabalhos.

Geertz (2005, p.18-19) traz assertivas de Foucault para compreender o que vem a ser um autor na antropologia, a saber, a distinção de dois campos de discurso: a de discursos “literários” (comumente com a “função-autor”) e “científicos”. Nessas terminologias a antropologia ficaria quase que completamente no primeiro campo, uma vez que “os nomes de pessoas são ligados a livros e artigos e, mais ocasionalmente, a sistemas de pensamentos” (GEERTZ, 2005, p. 19), o que não transfigura os antropólogos em romancistas, apenas denota algumas verossimilhanças.

Nesse sentido, segundo Geertz (2005, p. 20), duas questões fundamentais surgem dessa alegação: “(1) Como se evidencia no texto a “função-autor” (...); (2) De que (...) o autor é autor?”. A primeira diz respeito a uma questão de assinatura/identidade autoral e a segunda a uma questão de discurso/retórica. Quanto a essa primeira questão, os etnógrafos almejam não apenas demonstrar que de fato “estiveram lá”, mas que se outrem estivesse lá, teria “visto o que viram, sentido o que sentiram e concluído o que concluíram” (GEERTZ, ibidem, p. 29). Eis uma fidedignidade para com os fatos narrados. Desta forma, precisam ter destaque nos nossos textos etnográficos, “as representações explícitas da presença do autor” (ibidem, p. 29), isto é, os etnógrafos devem entrar em seus textos, tal qual entram em uma cultura.

Quanto à outra questão, Geertz evoca entonações de Foucault e Barthes. O primeiro traça uma distinção entre autores de um texto, de uma obra ou de um livro em contraposição a autores de uma teoria, uma tradição ou disciplina. Barthes, por sua vez, diferencia o autor (aquele que cumpre uma função) de escritor (que realiza uma atividade). Há “uma questão de formação de um gênero, do movimento no sentido de explorar possibilidades recém-reveladas de representação” (GEERTZ, 2005, p. 34)

Segundo Geertz, o contexto moral em que se dá o ato etnográfico mudou completamente, e portanto, nosso objeto e nosso público estão muito mais próximos do que outrora. O trabalho etnográfico, afinal de contas, quer convencer quem e do quê? Como transitar, dado os novos dilemas (sendo que nem superamos os antigos), entre o campo e a escrita?

Geertz nos provoca a superar a crise moral e intelectual, historicamente presente no fazer etnográfico. Por que fazer etnografia hoje? Como harmonizar o “estar lá” e o “estar aqui”? Em conformidade com Geertz acredito que passou da hora de dedicarmos um pouco do nosso fascínio para com a própria escrita e não somente pelo trabalho de campo.

Realimentar a inspiração nas grandes obras referidas por Geertz, sendo respectivamente a de Lévi-Strauss, Evans-Pritchard, Malinowski e Benedict, memoráveis porque “assinaram seus textos com certa determinação e construíram teatros de linguagem em que grande número de outros, de maneira mais ou menos convincente, apresentaram-se” (GEERTZ, 2005, p.35), cada qual com sua retórica e suas limitações.

Nesse sentido Geertz (2013, p.04) patrocina um conceito de cultura semiótico, inspirado em Max Weber, no qual “o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; (...) uma ciência interpretativa, à procura do significado”. Levando em consideração essa conceitualização, a etnografia não se limitaria às técnicas e aos processos, e sim ao “esforço intelectual” (ibidem), buscando em seu objeto “uma hierarquia estratificada de estruturas significantes” (p.5), que estão comumente superpostas.  Em outras palavras a etnografia proposta por Geertz, se configura enquanto uma descrição densa, em que o etnógrafoprecisa encarrar uma “multiplicidade de estruturas conceptuais complexas” (p. 7).

Dessarte, a etnografia possui sua respectiva descrição, apresentando três características: “ela é interpretativa; o que ela interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida consiste em tentar salvar o ‘dito’ (...). Há ainda, (...) uma quarta característica (...), pelo menos como eu a pratico: ela é microscópica.” (GEERTZ, 2013, p.15). Em conformidade com Geertz, tomamos as formas da sociedade enquanto substâncias da cultura, e dada sua complexidade a análise cultural será sempre incompleta.

1.3 Bronislaw Malinowski: a etnografia & os imponderáveis da vida real

A obra de Malinowski é considerada um marco para os estudos antropológicos e etnográficos4 , especialmente o livro Argonautas do Pacífico Ocidental, ao passo que ele advoga em prol da entrada do antropólogo nas tribos estudadas, mas não somente isso, Malinowski também defendia que o etnógrafo deveria conviver -no sentido exato do termo- com/entre os nativos, e, por conseguinte aprender a língua, compreender as ações e suas respectivas motivações e também o comportamento deles.

O trabalho do Malinowski, em suma, é cravejado por relatos etnográficos de suas estadas em tribos diversas, majoritariamente naquelas próximas da Nova Guiné. A obra supracitada, por seu turno, desvela sua permanência nas Ilhas Tombriand, mormente, situadas na Nova Guiné. Resultado direto de três expedições entre 1914 e 1920. Na introdução desta obra, Malinowski faz ressalvas metodológicas a respeito de suas pesquisas e exibe suas noções sobre o trabalho de campo, que são igualmente compartilhadas pela escola funcionalista, da qual Malinowski é um considerado um dos idealizadores.

A temática do Kula está presente em grande parte da obra de Malinowski. O Kula, por sua vez, seria, segundo o autor, um sistema de trocas usado pelos habitantes das Ilhas Tombriand com terminações místicas e religiosas. Neste sentido o autor visa entender a forma de pensar do nativo e, por conseguinte intenta interpretar a cultura deste. Malinowski principia o que hoje denominamos de observação participante. Para ele, no transcorrer da observação, tudo devia ser registrado pelo etnógrafo, que estaria então vivendo na tribo, e por suposto tinha o privilégio de pesquisar quantas horas julgasse necessário.

Segundo Malinowski (1984, p.22) os resultados da investigação devem ser expostos de maneira honesta e clara. Na etnografia, segundo tal, a “sinceridade metodológica” é imprescindível, bem como o “relato de experiências concretas”. Para este autor a etnografia só possui valor científico se possibilitar a distinção dos “resultados da observação direta e das declarações e interpretações nativas e, de outro, as inferências do autor, baseadas em seu próprio bom-senso e intuição psicológica” (ibidem). Para ele, enquanto etnógrafos somos concomitantemente nossos próprios historiadores e cronistas. Há uma grandiosa distância, segundo o autor, entre o material apresentado no final da investigação e o material com as informações colhidas.

Para realizar a etnografia o pesquisador necessita superar as barreiras que se interpõe, como em seu caso fora a linguagem e os preconceitos, entre outros. Para galgar êxito em tal empreitada é necessário uma “aplicação sistemática e paciente de algumas regras de bom-senso assim como de princípios científicos bem conhecidos, e não pela descoberta de qualquer atalho maravilhoso” (MALINOWSKI, 1984, p. 24). Nesse sentido Malinowski ressalta três unidades de agrupamento, dos chamados princípios metodológicos:

em(sic) primeiro lugar, é lógico, o pesquisador deve possuir objetivos genuinamente científicos e conhecer os valores e critérios da etnografia moderna. Em segundo lugar, deve o pesquisador assegurar boas condições de trabalho, o que significa, basicamente, viver mesmo entre os nativos, sem depender de outros brancos. Finalmente, deve ele aplicar certos métodos especiais de coleta, manipulação e registro da evidência. (MALINOWSKI, 1984, p.24)

Destas três unidades, segundo o próprio Malinowski, a segunda seria essencial. Sobre tal ele discorre como a proximidade com o nativo, através da convivência diária e integral, possibilita em demasia o andamento da pesquisa e a captura de informações na latência do momento em que determinado fato ocorre, como “(sic) Brigas, piadas, cenas familiares, acontecimentos triviais, por vezes dramáticos, mas sempre significativos, constituíam a atmosfera da minha vida diária, tal como a deles” (MALINOWSKI, 1984 p. 25). Com o transcorrer da pesquisa a presença do pesquisador, outrora perturbadora, passa a ser naturalizada. No escrito em questão, Malinowski ressalta ainda uma questão que continua sendo importante para os cientistas sociais em geral, diz respeito à operacionalização da pesquisa e um elemento fundamental: “As ideias pré-concebidas são perniciosas a qualquer estudo científico; a capacidade de levantar problemas, no entanto, constitui uma das maiores virtudes do cientista- esses problemas são revelados ao observador através de seus estudos teóricos” (ibidem, p.26).

Sobre o rigor empírico da pesquisa etnográfica-antropológica entendo que o autor releva fortemente o seguinte (assertiva que na sequência denomina de princípio geral):
O etnógrafo de campo deve analisar com seriedade e moderação todos os fenômenos que caracterizam cada aspecto da cultura tribal sem privilegiar aqueles que lhe causem admiração ou estranheza em detrimento dos fatos comuns e rotineiros. Deve, ao mesmo tempo, perscrutar a cultura nativa na totalidade de seus aspectos. A lei, a ordem e a coerência que prevalecem em cada um desses aspectos são as mesmas que os unem e fazem deles um todo coerente (MALINOWSKI, 1984, p. 28).

 

Segundo Malinowski, embora possa se traçar essa espécie de princípios, cada campo empírico possui peculiaridades e acredito que o ditado “deixa seu campo falar” tenha bebido desta fonte. Posteriormente Malinowski “bate em uma tecla” que ainda hoje se “bate” insistentemente, diz respeito à - necessária- diferenciação entre ciência e senso comum5 :

O (sic) tratamento científico difere do senso comum, primeiro, pelo fato de que o cientista se empenha em continuar sua pesquisa sistemática e metodicamente, até que esteja completa e contenha, assim, o maior número possível de detalhes; segundo, porque, dispondo de um cabedal científico, o investigador tem a capacidade de conduzir a pesquisa através de linhas de efetiva relevância e a objetivos realmente importantes. Com efeito, o treinamento científico tem por finalidade fornecer ao pesquisador um “esquema mental” que lhe sirva de apoio e permita estabelecer o roteiro a seguir em seus trabalhos (MALINOWSKI, 1984, p.29).

Malinowski recomenda também a constituição de uma base de dados, formada sempre que possível através de um levantamento exaustivo de todos os fatos. Desta maneira, segundo tal, é aconselhável elaborar “diagramas, planos de estudo e pesquisa, e quadros sinópticos completos” além destes ainda é necessário “o recenseamento genealógico de cada comunidade, na forma de estudos detalhados: mapas, esquemas e diagramas ilustrando a posse da terra e do cultivo, privilégio de caça e pesca, etc” (MALINOWSKI, 1984, p. 30). O método que ele denominada de método de documentação estatística por evidência concreta seria segundo tal a primeira e primordial questão metodológica, ancorada no maior número de fenômenos com manifestações concretas.

Posteriormente Malinowski problematiza acerca dos trabalhos arquitetados apenas sob o “levantamento de dados/survey” e os trabalhos dos amadores, feitos por viajantes, por exemplo. Segundo ele o mérito destes últimos seria a “apresentação de fatos íntimos da vida dos nativos”, enquanto os primeiros dariam conta de elaborar “um excelente esqueleto da constituição tribal”, contudo, somente a etnografia engloba a “carne e o sangue” da vida nativa (MALINOWSKI, 1984, p. 31) preenchendo “o esqueleto vazios das construções abstratas” (ibidem, p. 33). Então chegamos ao preciso conceito de imponderáveis da vida real6 :

há(sic) uma série de fenômenos de suma importância que de forma alguma podem ser registrados apenas com o auxílio de questionários ou, documentos estatísticos, mas devem ser observados em sua plena realidade. A esses fenômenos podemos dar o nome de os imponderáveis da vida real. Pertencem a essa classe de fenômenos: a rotina do trabalho diário do nativo; os detalhes de seus cuidados corporais; o modo como prepara a comida e se alimenta; o tom das conversas e da vida social ao redor das fogueiras; a existência de hostilidade ou de fortes laços de amizade, as simpatias ou aversões momentâneas entre as pessoas; a maneira sutil, porém inconfundível, como a vaidade e a ambição pessoal se refletem no comportamento de um individuo e nas relações emocionais daqueles que o cercam. Todos esses fatos podem e devem ser formulados cientificamente e registrados; entretanto, é preciso que isso não se transforme numa simples anotação superficial de detalhes, como usualmente é feito por observadores comuns, mas seja acompanhado de um esforço para atingir a atitude mental que neles se expressa. (MALINOWSKI, 1984, p. 33)

Considerando a modalidade de artigo incutida no presente trabalho e para não estender em demasia o subtítulo sobre Malinowski, ressaltam-se ainda dois pontos centrais dessa parte inicial do livro Argonautas: a necessidade de refletir como e quanto à subjetividade do pesquisador interfere na pesquisa; e a importância da elaboração de um diário etnográfico7 feito ao longo da investigação, e operando um (re)estranhamento ao longo do feitio deste.

Embora já tenhamos escrito também uma parcela considerável sobre Geertz neste trabalho, acreditamos que vale ainda destacar sua respectiva problematização acerca da polêmica publicação do diário de campo de Malinowski, o qual se enquadra na presente elucubração considerando a reflexão aqui operada acerca do fazer etnográfico.

Geertz (1997) inicia sua análise, portanto, destacando tal publicação escandalosa feita postumamente pela esposa de Malinowski, por decisão exclusivamente dela. O debate em torno de tal episódio, fatídico para os conservadores, deveria superar o prisma moralista, pois segundo Geertz há aquém disso uma questão epistemológica valiosa, que transcende a idealização do pesquisador, essa última, por sua vez, seria puro sentimentalismo utópico. Eis um ponto importante para se levar em conta ao fazer trabalho de campo.

Desta maneira não preciso8 me preocupar exaustivamente em “ser um poço” de simpatia e altruísmo, outrossim, devo atentar-me, não pela busca de ser como eles (“meus” nativos), mas em entendê-los, e alargar o universo do discurso humano (GEERTZ, 2013, p 10.). Apesar dos pesares, ter um trabalho de campo propriamente seu, segundo tal, é uma vantagem para travar discussões epistemo e metodológicas, dentro do campo científico das Ciências Sociais e especialmente na Antropologia. Sugestionando autoquestionamentos sobre nossa atuação enquanto pesquisadores(as), e nos convidando a descontruir “o mito do pesquisador semicamaleão, [aquele] que se adapta perfeitamente ao ambiente exótico que o rodeia, um milagre ambulante de empatia, tato, paciência e cosmopolitismo” (GEERTZ, 1997, p. 60). Desta maneira, Geertz é outro autor que – com o perdão da emotividade- nos motiva e provoca uma série de crises que são importantes na medida em que requerem um amadurecimento teórico e um trabalho empírico “corpulento”.

1.4 A especificidade da prática antropológica: a etnografia apresentada através da perspectiva de diversos olhares autorais

A seguir trazemos uma “mescla” de autores para nortearem a reflexão teórico-metodológica sobre o fazer etnográfico 9 intentada neste trabalho. Para fins deste artigo trata-se de uma síntese no sentido estrito do termo. Há que se destacar ainda que o método etnográfico não é propriedade exclusiva da antropologia, guardadas as devidas proporções do rigor empírico e analítico, pode ser utilizado por outras áreas do conhecimento se este método estiver em acordo com o respectivo problema de pesquisa. Em tempo, vale sublinhar que a etnografia não é o único método da antropologia10 e que a interlocução entre as ciências humanas e principalmente sociais é importante na construção do conhecimento.

Mas por que é importante mencionar essa batelada de autores para refletir acerca do fazer etnográfico uma vez que o mesmo é realizado pragmaticamente? Grosso modo porque nossa Ciência Social requer bases teóricas para fugir dos automatismos do senso comum. Não basta ir a determinado campo empírico e fazer a dita cuja observação, é necessário dialogar com a teoria afoita ao método e a prática e, por conseguinte a própria epistemologia do conhecimento científico. A antropologia por seu turno, sempre sofreu mais com o descrédito científico do que a Sociologia e a Ciência Política. Até hoje ela tem de justificar repetida e continuamente porque se caracteriza enquanto ciência e muitas vezes este descrédito vem justamente da Sociologia e da Ciência Política, em um sistema acadêmico que nutre egos inflados e competições medíocres para ver qual área seria a melhor. Como expresso no parágrafo precedente, compreendo a interlocução entre as áreas uma atividade prestimosa na construção do conhecimento.

Dito isso, para falar mais sobre etnografia podemos recorrer às reflexões de Fonseca(1998), que exemplificando o seu trabalho de campo sobre a organização familiar em vilas de Porto Alegre-RS/Brasil, desdobra o método etnográfico em cinco momentos: Estranhamento de uma realidade, Esquematização dos dados, Desconstrução da própria cultura, Comparação com outras sociedades, Sistematização do material coletado em modelos. Ela também destaca a observação participante que oferece ao pesquisador a oportunidade de conhecer os diferentes elementos da vida social pesquisada. Ela considera o diário de campo uma técnica fundamental para o método etnográfico.

Uma experiência etnográfica na sociedade tradicional jivaro, localizada na alta Amazônia, é descrita por Descola(2006), que ressalta a importância de estabelecer contato com os nativos e do consequente desafio da linguagem. O autor nos questiona sobre o que seria aprender e nesse sentido destaca a importância da convivência e da valorização da cultura local como algo primordial ao pesquisador.

Por referir experiência etnográfica, vamos ao encontro de Wacquant(2002), que entrou na academia de boxe para estabelecer uma proximidade que lhe permitisse estudar os jovens do gueto de Chicago, mas seu envolvimento com esse esporte e com vida de seus colegas de gym foi tamanha que o autor mudou seu objeto de pesquisa. Ele foi seduzido pelo boxe, segundo tal, e passou a ser um pugilista-antropólogo, a fim de romper com o olhar distante do observador externo.

Desta forma ele utilizou-se da observação participante (que, nesse caso, constitui-se em uma “participação observante” dado o tamanho do envolvimento) para confeccionar uma descrição profunda do seu campo, que resultou em um fazer etnográfico rico em percepções, reflexões e experiências. Rockwell(2009), por seu turno, reflete sobre a necessidade de nexos entre a formulação teórica e a observação empírica, e compreendendo a importância da contextualização temporal, onde a etnografia constitui-se uma forma de produzir conhecimento.

Já no trabalho de Sá (2013) visualizamos uma etnografia das relações cotidianas entre um grupo de cientistas brasileiros que está pesquisando uma espécie de primata – o muriqui – habitante da Estação Biológica de Caratinga em Minas Gerais. Ele relata o desafio de observar observadores e de estabelecer uma antropologia da aproximação. Ele diz que “passou trabalho” explicando para seus interlocutores do que trata uma investigação antropológica. O autor, atentando para as demandas de seu campo, optou por utilizar a observação participante em detrimento das entrevistas pré-estruturas.

Ele afirma que etnografia vem a ser uma parceria firmada entre etnógrafo e interlocutores. Destaca que há uma espécie de rito de passagem, em campo, para o antropólogo, no que tange o contato entre ele e seus pesquisados: “tanto cá como lá é preciso que haja primeiro certo estranhamento, depois alguma identificação (ou delimitação) para que, então torne-se (estranhamente) familiar.” (ibidem, p. 38).

Os etnógrafos, segundo Emerson et. al. (2010, p.130, tradução nossa), “devem inicialmente escrever notas de campo que retratem e sejam sensíveis aos significados locais”, embora eles admitam “que o que o etnógrafo escreve não é uma apresentação ‘pura’ ou literal dos significados de eventos e interações a maneira que os membros experimentam”. Outrossim, nós sabemos (e os autores relevam isto) que nossos relatos, enquanto etnógrafos, são inelutavelmente filtrados através das nossas percepções, experiências e compromissos, e nós devemos objetivar estas condições.

Posteriormente Emerson et. al.(2010) chamam atenção para a descomedida frequência de notas de campo etnográficas que operam com categorias externas ao invés de utilizar os significados dos membros. Esse movimento incorre ao etnocentrismo que tende a estereotipar os interlocutores, relegando a famigerada descrição. Há ainda a possibilidade de incorrer a outro problema: o emprego de termos, categorias ou modos de avaliação utilizados e legitimados por determinado grupo, os quais o etnógrafo apropria-se para caracterizar um segundo grupo. Em adição, existe um terceiro movimento a ser evitado, no qual pesquisadores adotam uma postura de desprezo em relação aos significados dos membros, inferiorizando crenças e práticas destes últimos. Um quarto problema a ser evitado pelo etnógrafo, segundo os autores, é a supervalorização dos entendimentos ditos oficiais. Uma quinta vicissitude seria invocar a priori categorias teóricas para evidenciar eventos e configurações.

Emerson et. al.(2010) ainda destacam que há uma batelada de momentos diversos na vida de um grupo que servem para demonstrar como os membros se expressam, e criam suas respectivas significações. Etnógrafos, por seu turno, passam a arquitetar os significados dos membros ao disferir um olhar de perto ao que os membros fazem e falam durante tais momentos, com máxima atenção para as palavras, frases e categorias que eles utilizam em suas interações rotineiras. A forma, por exemplo, como os membros interpelam-se e cumprimentam-se. O etnógrafo precisa estar preparado para lidar com as dinâmicas do campo, ao passo que às vezes ele se depara com perguntas inesperadas.

Desta maneira, os autores supracitados defendem a consolidação de um etnógrafo sensível: sensível para com as experiências e distintos pontos de vistas dos seus interlocutores. Eles, os pesquisadores, precisam aprender a fazer perguntas que dê oportunidade aos interlocutores, para que estes, por seu turno, utilizem sua própria língua e seus conceitos na concessão das respostas requeridas. Assim, com uma interação sintonizada, o etnógrafo tende a fazer perguntas que façam também sentido para os pesquisados.

Para Dewalt, et al.(1993) da mesma forma que as crianças aprendem suas respectivas culturas, nós, enquanto etnógrafos (utilizando a observação participante) operamos um movimento semelhante, com suas respectivas vantagens e desvantagens. As vantagens dizem respeito ao fato de que na condição de adultos já possuímos certa maturidade e experiência de vida, enquanto as desvantagens englobam as nossas respectivas preconcepções. Os autores destacam que na condição de pesquisadores não estamos interessados somente em adentrar determinada cultura, mas também em arquitetar um entendimento sistemático de outrem.

O etnógrafo busca ver a realidade social mais de perto e observar as minucias, destacam Beaud e Weber (2007). Segundo eles a etnografia se aprende na prática. Eles advogam pela associação da prática e da empiria, uma vez que “Não(sic) há descrição sem conceitos. A pesquisa supõe análise” (BEAUD; WEBER, 2007, p. 13). Eles defendem também o diálogo entre a Sociologia e Antropologia, sendo eles respectivamente sociólogo e antropóloga, não há razão para o “terrorismo metodológico” e nem para a insistente dissociação de quali e quantitativo.

O diário de campo é uma ferramenta importantíssima para o antropólogo, uma vez que “transforma uma experiência social ordinária em experiência etnográfica, pois não só restitui os fatos marcantes que sua memória corre o risco de isolar e descontextualizar, mas, especificamente, o desenrolar cronológico objetivo dos eventos” (BEAUD; WEBER, 2007, p. 67).
Olivier de Sardan (2008) destaca que a pesquisa de campo, a qual acusam tratar-se de uma espécie de empatia ou dom do pesquisador, é apenas um dos muitos modos de produção de dados nas Ciências Sociais, e enquanto tal possui suas formas de rigor e validação e/ou plausibilidade dos dados arquitetados, da mesma maneira que os outros modos de investigação também possuem.

Nesse sentido a prática etnográfica tem a ver com uma constante tarefa de aprendizagem. Na prática, portanto, o pesquisador enfrenta diversos mal entendidos e aprende a improvisar com perspicácia, e no decorrer da investigação aprenderá os códigos locais. Desta maneira, a investigação de campo segundo ele, é muito mais do que um simples rito de passagem. Há que se trabalhar, concomitantemente, com a empatia e a objetivação.

Olivier de Sardan tutela também uma concepção não culturalista da antropologia. Embora ele reconheça a importância do culturalismo, principalmente com Franz Boas e sua pertinente crítica ao evolucionismo. No entanto, para Olivier de Sardan, o culturalismo representa uma massiva ameaça na busca pelo famigerado rigor antropológico. Isto não quer dizer que não se deva empregar a terminologia cultura, mas a sua utilização deve ser seguida de uma objetivação, evitando assim os essencialismos, e isto vale para outros termos também.

O texto antropológico, segundo Sardan, fala da realidade e não em seu nome, e desta maneira empenha-se para descrevê-la e compreendê-la da forma mais fidedigna possível. Assim sendo o antropólogo estabelece com seu leitor uma espécie de pacto etnográfico, em que suas descrições não se assemelham com a ficção ou as fantasias, assim “este pacto etnográfico é uma consequência de que os dados etnográficos são largamente produzidos pela interação do pesquisador com os sujeitos de sua investigação: apenas seu testemunho pessoal garante a veracidade” (OLIVIER DE SARDAN, 2008, p. 28, tradução nossa).

Considerando essa pequena revisão de literatura/síntese, constato que a formação do antropólogo deriva da união entre teoria e empiria.  É em campo (embora existam grandes antropólogos de gabinete) que surgem novas reflexões. Fazer etnografia (ainda que este não seja método exclusivo da antropologia) é um aprendizado contínuo. Ir a campo frequentemente, perder a timidez, ouvir, ver, escrever, sentir odores... Uma pesquisa etnográfica ganha consistência aos poucos. Exige paciência, vigilância epistemológica, disposição, respeito e ética profissional.

Embora os recortes autorais aqui explanados tenham limitações, ao passo que levo em consideração poucas obras e que os recortes dependem majoritariamente da minha acepção, considero deveras importante ler e refletir sobre variados trabalhos de cunho antropológico e etnográfico, sempre com olhar aguçado para o nosso próprio trabalho. Nesse sentido devemos ler cada escrito observando os caminhos teórico-metodológicos operados em tal, observando sua pertinência, ou seja, ler com espírito de escritor, para amadurecer nossos próprios trabalhos. Além de simplesmente “jogar” este chamamento aqui, o faço para mim mesma, em atenção as minhas elaborações, inclusive para a presente elucubração, a qual deixa a desejar neste sentido.

  1. QUAL O LUGAR DA ETNOGRAFIA EM UM PROJETO DE PESQUISA & EM UMA DISSERTAÇÃO?

 

Nesse subtítulo há uma espécie de reflexão pré-campo. O projeto em discussão refere-se aquele apresentado na seleção de mestrado em Ciências Sociais-UFMA11 . Ele se insere nos debates acerca do mundo rural contemporâneo. O universo empírico escolhido é o distrito de Vila Sírio, município de Santo Cristo, estado do Rio Grande do Sul, no qual há considerável produção leiteira realizada por agricultores(as) familiares, que mantém uma especialização constante dessa atividade ao longo dos últimos anos, especialmente relacionada à mecanização, ao melhoramento genético do gado, à incrementação do trato alimentar bovino e o aumento do plantel.

Desta maneira, dialogando com Wanderley (2003), tal projeto de mestrado visa responder o seguinte problema de pesquisa: quais foram às rupturas no modo de produção agrícola, observadas pelos agricultores locais, e como vem ocorrendo a continuidade da agricultura familiar em Vila Sírio-RS diante dessa aparente especialização da produção leiteira?

Para além de uma síntese acerca desse projeto, busca-se nesse segundo bloco do presente escrito, promover reflexões sobre os anseios, que mesmo antes da pesquisa realizar-se empiricamente, já assolam a pesquisadora. Mas quem disse que esses anseios são de todo ruins? Eles são perturbadores, mas também motivadores. As dúvidas e impasses são o que aparentemente nos movem enquanto Cientistas Sociais.

Se tivéssemos todas as respostas e junto delas as convicções não haveria porque desenvolver uma pesquisa. Pesquisar, para além de romantismos, é envolver-se intensamente com uma parcela (leia-se recorte operacional empírico) do mundo social, no sentido teórico-epistemológico. Parece irrelevante elencar esses anseios? Até certo ponto talvez seja constrangedor, mas necessário para desconstruir as naturalizações que nos assombram devido ao fato de fazermos parte do mundo social pesquisado, como bem relevado anteriormente.

Vários autores foram importantes no processo de problematização e definição do meu objeto de estudo. Outrossim vale destacar que esse trabalho bibliográfico-reflexivo é constante e não estático, ou seja, vários “novos” autores foram -e são- integrados ao corpo teórico reflexivo do meu trabalho, especialmente alguns nomes advindos das disciplinas do curso de mestrado.

Nos trabalhos das Ciências Sociais as teorias servem como uma espécie de gasolina que ora utilizada fornece movimento (dinamicidade e corpulência) a pesquisa. Segundo Cardoso de Oliveira (1996) as teorias são uma espécie de prisma através do qual o pesquisador observará o seu respectivo objeto, pois “a partir do momento em que nos sentimos preparados para a investigação empírica, o objeto sobre o qual dirigimos o nosso olhar já foi previamente alterado pelo próprio modo de visualizá-lo” (p.15).

Nesse sentido, já com vistas no meu texto dissertativo, penso que, em consonância com um fazer etnográfico carregado de cuidados e responsabilidades éticas, temos que fazê-lo também na escrita. Desta maneira, já sintonizada com Becker (1977), reflito previamente acerca dos possíveis problemas dessa publicação no que concerne à exposição dos interlocutores da pesquisa, procurando “evitar publicar itens de fatos e conclusões que não sejam necessários à argumentação ou que causem sofrimento desproporcional ao ganho científico de torná-los públicos” (p. 156).

Outros autores importantes nesta caminhada teórico-metodológica são respectivamente Beaud e Weber 12, que iniciam o seu escrito com o seguinte subtítulo questionador e inquietante: Por que fazer uma pesquisa de campo? Logo no início da leitura- como este título inquiridor- recebemos “uma facada no coração” que faz coro com nossos anseios pré-pesquisa empírica.Para eles a etnografia não atua como um juiz ditando deliberações, e sim visa compreender, “aproximando o que está distante, tornando familiar o que é estranho. (...) A(sic) etnografia (...) reconstitui as visões da base mais variadas do que se imagina; permite o cruzamento de diversos pontos de vista sobre o objeto, torna mais clara a complexidade das práticas (p. 10-11)”. Assim como toda ciência a etnografia também não é neutra, ela se constitui, segundo os autores, em um “instrumento de combate ao mesmo tempo científico e político” (p. 11).

Ainda sobre o texto de Beaud e Weber vale destacar os seus respectivos conceitos de desambientação e distanciamento. No meu caso será uma pesquisa por distanciamento, ao passo que prima pelo movimento de “tornar estranho o que é familiar” (BEAUD;WEBER, 2007, p. 36). Será uma pesquisa por distanciamento uma vez que sou filha de agricultores familiares, produtores de leite no local elencado para essa pesquisa (a Vila Sírio no município de Santo Cristo/RS) e vivenciei uma significativa mudança nos moldes agrícolas locais, especialmente nas últimas duas décadas.

Esse marcador inspira e motiva a proposição deste estudo. Reconheço dilemas nessa escolha e antevejo interrogações éticas sobre tal, entretanto, penso em conformidade com Gilberto Velho (1978), propondo relativizar as categorias de familiar e exótico, na qual “O (sic) processo de estranhar o familiar torna-se possível quando somos capazes de confrontar intelectualmente, e mesmo emocionalmente, diferentes versões e intepretações existentes a respeito de fatos, situações” (Ibid. p. 45).

Em contraponto aos impasses, acredito que minha inserção em campo e meu contato com os interlocutores(as) será facilitado pelo conhecimento prévio que possuímos um do outro. Cresci ao lado dessas famílias, e, portanto, eles conhecem a mim e minha família de longa data, de forma que abrem a “porteira” de  sua propriedade com tranquilidade para nós. Outrossim, saí de Santo Cristo há seis anos por conta dos estudos universitários, e tenho amadurecido, através do contato com a literatura da antropologia e sociologia rural, a ideia de pesquisar sobre a produção comercial do leite, sobretudo pelo estranhamento que tenho praticado cada vez que (re)visito a localidade.

Talvez seja uma intenção ingênua e perniciosa, mas desde que saí de lá sinto que tenho uma obrigação para com o município. No sentido de devolver algo para o local que me viu crescer e sonhar com a graduação e para além dela. A ideia de transformar a dissertação em livro é algo que contemplaria este anseio, afinal fora a agricultura familiar de lá que sustentou pragmática (boa parte dela, afinal não podemos menosprezar o órgão concessor de bolsa) e teoricamente este trabalho. Como supracitado, vi a agricultura familiar de Santo Cristo reconfigurando-se periodicamente. Tal processo tornou-se mais visível, para mim, com as leituras patrocinadas pelas Ciências Sociais.

O meio rural caracteriza-se por comportar distintos atores sociais, sendo que o ponto de convergência gira em torno da terra, que é o meio de produção, reprodução e poder deste espaço. Adoto, pois, a categoria de agricultor familiar por ser recorrente no meu campo empírico em sintonia com a denominação colono, ambas condizentes, nesse contexto, ao trabalhador rural cuja propriedade caracteriza-se por pequena extensão de terra, presença de policultivos (ameaçados ou diminuindo por conta da especialização em bovinocultura leiteira?), mão de obra familiar e ascendência alemã.

Para além da produção econômica o mundo rural é um espaço de vida (WANDERLEY, 2009), englobando relações sociais, modos de fazer, táticas e estratégias de produção e negociação. Tedesco (1999) destaca que existe um ethos no qual se consagram valores e visões de mundo ligado a terra, trabalho, família. Como nos lembra Woortmann (2002) a terra não é só mercadoria, na racionalidade do colono/agricultor ela representa sinônimo de identidade, simboliza herança e sucessão, em contraposição a racionalidade dos latifundiários na qual ela significa poder e status.

A literatura relacionada ao problema proposto é vasta, e aquém dos autores referidos, viso desenvolvê-lo utilizando os clássicos Wolf (1970), Mendras (1978) e Shanin (2005) para ponderar acerca das mudanças históricas do campesinato. Kautsky (1968), Martine (1987) e Graziano da Silva (1987), para refletir sobre os impactos sociais da modernização agrícola e a decorrente emergência de novos desafios no campo, especificamente em Santo Cristo. Wanderley (2003) e Lamarche (1993) para compreender a inserção da agricultura familiar no mercado e suas adaptações.

  1. O PROCESSO DE FORMAÇÃO EM FOCO: Notas sobre a disciplina de Teoria Antropológica no mestrado de Ciências Sociais

Considerando inicialmente a ementa da disciplina em análise, vemos a seguinte proposição “(sic) A disciplina se propõe desenvolver reflexões sobre o pensamento antropológico através da leitura e discussão de obras que tem contribuído para a construção do saber e do fazer antropologia”, sendo que os objetivos e o conteúdo programático vão ao encontro dessa súmula. Há toda uma espécie de encadeamento estrutural com fins de orientar a prática antropológica, especialmente etnográfica, que no meu caso dar-se-á (de praxe) em março deste ano.

Embora a bibliografia proposta seja longa e o tempo das sessões e leituras restrito, parece que a mesma galgou êxito. Suscitando, por exemplo, prestimosas reflexões que estão alicerçando a presente elucubração. Incentivando simultaneamente o amadurecimento teórico, a busca de novas leituras e concomitantemente releituras. O processo de formação de um estudante-pesquisador é multifacetado.

Há, ainda, um ponto importante de menção: as discussões coletivas, a partir da bibliografia basilar desta disciplina, aguçaram o senso crítico. O ambiente da sala de aula transfigurou-se em um riquíssimo local de trocas de saberes. A bibliografia é constituída como antônimo das “leituras de cabeceira da cama”. No sentido de que, dado seu gênero textual, exige mais dedicação e por suposto diversas releituras e quiçá a busca de textos complementares.

Há ainda o uso de dicionários com fins etimológicos.     Sob meu prisma a disciplina de teoria antropológica fora importante por vários motivos. Inicialmente porque permitiu uma releitura atenciosa dos clássicos. Também porque trouxera “novas” referências e ainda permitiu revisitar lacunas da formação no bacharelado. Possibilitou vislumbrar, nesse sentido, distintos esquemas analíticos e pensar meu projeto de pesquisa através destes encaminhamentos. Tais escolhas serão amadurecidas juntamente com o professor-orientador com vistas na famigerada dissertação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS COM PRELÚDIOS DE CONTINUIDADE

Considerando o exercício reflexivo operado neste artigo, aliás, esse movimento é caro ao fazer etnográfico e antropológico, encerro este escrito com a convicção de que há muito trabalho teórico e pragmático de pesquisa porvir e, por conseguinte para desenvolver e amadurecer. Parece um paradoxo, mas a finalização dessa disciplina marca concomitantemente o início de outras etapas. Nesse sentido compreendo que a breve revisão bibliográfica operada neste artigo terá de ser repensada em consonância com os dados futuramente colhidos em campo, articulando, portanto, teoria e empiria, prática cara ao fazer antropológico.

Este escrito deve ser tomado como proponente de interlocução. Apesar das suas limitações apresenta simultaneamente anseios de continuidade.  Há uma apreensão sobre a minha leitura em relação aos autores e a pertinência dos meus recortes.  Nesse sentido as dúvidas são interessantes ao patrocinarem desafios e crises a fim de alimentar a busca pelo amadurecimento teórico e assim fazer jus à Antropologia e, por conseguinte à prática etnográfica. Não é um itinerário fácil, mas quem disse que seria?

Há ainda a questão temporal, que pode ser transposta a este escrito e ao processo de redação da dissertação, ambos com prazo fixo, no sentido estrito do termo. Por que devanear acerca disso? Pois é um fator que incide sob a nossa produção teórica. Prejudicando-a?

Pensando dessa maneira verifico que se há algo que a disciplina de teoria antropológica incitou certamente foram questionamentos, diversos inclusive. No entanto ao passo que eles são inquietantes também fornecem energia para o desenvolvimento da pesquisa, uma vez que são as dúvidas que nos impulsionam, ou ao menos deveriam por que se tivéssemos todas as respostas, qual a razão de fazer pesquisa e enfrentar todas as intempéries decorrentes dela?

A respeito da utilização do método etnográfico em pesquisas, conclui-se que o mesmo deve ser utilizado em conformidade com o respectivo problema. A pesquisa empírica, por seu turno, necessita ser ancorada em reflexões teóricas. Como sobrelevado, há diversos autores que problematizam acerca do método e da prática em questão. Associar perspectivas clássicas e contemporâneas parece conveniente.

A prática etnográfica (associada com as técnicas e recursos de pesquisa) na minha compreensão apresenta vários momentos, alguns de entusiasmo e ocorrências em acordo com o planejado, alguns de desânimo e problemas operacionais. Isto não é uma regra e/ou uma observação etapista. Trata-se de uma conclusão de quem já utilizou o método e o quer empregar novamente. Na realidade cada campo de investigação e, por conseguinte o método utilizado, contemplam um universo particular e complexo. O saber e o fazer antropológico, por seu turno, são plurifacetados.

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*Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Maria- UFSM (2014). Participou do Programa de Mobilidade Acadêmica Nacional/ANDIFES, financiada pelo Grupo Santander, na Universidade Federal do Maranhão (2013.2). Mestra em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA (PPGCsoc, 2017). Doutoranda em Extensão Rural pela Universidade Federal de Santa Maria- UFSM (PPGExR). Participa do Núcleo de Estudos Contemporâneos (NECON- UFSM) E-mail: patyfroelich@gmail.com.
**Advogada no Escritório de advocacia Esmerio Advocacia, atuando na area de TIC's no Ambiente Laboral, Assedio Moral no Ambiente de Trabalho e Direito da Sociedade em Rede. Bacharel em direito pela Universidade Franciscana- UFN, graduanda em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. E-mail: juliaesmerio@gmail.com.
*** Bolsista de Produção Científica pela CAPES. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduado em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Graduando em Estatística pela Universidade Federal de Santa Maria E- mail: r-alberti@live.com.
1 Proponente deste trabalho.
2 Eis uma junção de palavras prestimosas ao fazer etnográfico: Interlocutores + Autores.
3 CAPITULO 1- ESTAR LÁ/ A antropologia e o cenário da escrita (p.11-39) e CAPITULO 6- ESTAR AQUI/ De quem é a vida, afinal? (p. 169-193).
4 Por afinidade teórica escolhemos privilegiar o esquema analítico de Malinowski, outrossim vale destacar que Boas também é considerado um dos pais fundadores da etnografia, embora tenha gozado de menos prestígio que o primeiro. Para Boas, a cultura tinha como fundamento o relativismo (com viés metodológico), este reconhece que cada indivíduo vê o mundo através da cultura em que cresceu. Portanto, o antropólogo necessitaria relativizar sempre suas noções particulares, sendo que as culturas se entrelaçam. Ruth Benedict e Margaret Mead foram continuadoras do trabalho de Boas (que contribuiu notoriamente para a institucionalização da antropologia nos EUA), elas consideravam a cultura e a educação como determinantes da personalidade de cada pessoa, sendo que a cultura pode ser utilizada como critério para a explicação das condutas do individuo. Durkheim e Mauss, por seu turno, são elencados como os primeiros teóricos da antropologia, o segundo é sobrinho do primeiro. Mauss é considerado um grandioso antropólogo de gabinete. Outro nome importante da Antropologia fora o pensador Claude Lévi-Strauss, fundador da antropologia estruturalista e um dos maiores pensadores do século XX. Ele destacou que devemos preservar a diversidade das culturas e promover o intercâmbio cultural. Lévi- Strauss ao longo de sua vida (1908- 2009) como antropólogo-etnólogo trabalhou sob uma perspectiva universalista da cultura. Lévi- Strauss apresenta a cultura como uma regra onde a universalidade representa a natureza, há a passagem do estado de natureza para a cultura. Ele coloca-nos a proibição do incesto como sendo uma regra universal. Foi na obra de Mauss (Ensaio sobre a Dádiva) que Lévi- Strauss buscou inspiração para desenvolver a sua teoria de reciprocidade. Mauss por sua vez, trabalha com o fato social total, ou seja, um fato social que possui ao mesmo tempo significação religiosa e social, mágica e econômica, utilitária e sentimental, jurídica e moral. Para ele a troca se apresenta menos de transações que de dons recíprocos, em sociedades primitivas. Sobre as especificidades da prática antropológica e os diversos “grandes nomes” clássicos e contemporâneos, consultar Laplantine (2007), com fins de conhecer os “grandes” nomes da Antropologia e suas diversificadas apropriações e/ou críticas ao método etnográfico.
5 Abro um parêntese- o qual translocamos para a condição de nota- no meio desta reflexão sobre o escrito de Malinowski, para ressaltar que compreendemos que a transcrição literal do autor para o nosso respectivo texto, quando repetidamente, sobrecarrega demais o escrito, o ideal é colocarmos as ideias deles com nossas respectivas palavras. Outrossim, ressalto que essa primeira parte do livro em relevo nos desperta muito entusiasmo e, para que não se percam as características basilares de tal fazemos essas repetidas citações. Nesse sentido recomendamos a leitura integral do original. Este, embora tenha suas limitações, as quais vários autores posteriores a Malinowski criticaram duramente, acreditamos que ainda tenha muito a acrescentar para os jovens pesquisadores em formação, como no nosso caso o é.
6 Não por acaso eleito enquanto parte constituinte de um subtítulo do presente artigo. Em minha opinião trata-se do coração da obra de Malinowski, empregada até hoje, guardada as devidas proporções, nos trabalhos de cunho antropológico. No entanto os imponderáveis são partes constituintes da vida nativa e não a essência dela, alerta Malinowski.
7 Também referido atualmente como caderno de campo ou diário de campo. Sobre a especificidade de tal ver Magnani (1997).  Compreendo, em consonância Florence Weber (2009, p. 29) que através da observação, característica do método etnográfico, alcançaremos “simultaneamente as práticas e as visões de mundo dos nativos”, tão caras para nossa ciência social.
8 Peço licença para falar em primeira pessoa (mesmo já tendo feito anteriormente), sendo esta uma condição considerada importante dentro da antropologia: “o autor não deve se esconder sistemicamente sob a capa de observador impessoal, coletivo, onipresente e onisciente, valendo-se da primeira pessoa do plural: ‘nós’” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1997, p. 27).
9 A bibliografia operada neste artigo, e especialmente neste subtítulo, advém tanto da disciplina de Teoria Antropológica, quanto de outras disciplinas do curso de mestrado tais como Metodologia da Pesquisa em Ciências Sociais e Epistemologia das Ciências Sociais, além de autores vistos ao longo da graduação e em grupos de pesquisa. Em tempo vale ressaltar que há diversos outros autores operando com a problematização do fazer etnográfico, inclusive com uma visão extremamente critica. Contudo, é importante que cada trabalho que utilize este método o faça sob os moldes de seu respectivo campo. Diante disto atentamos mais uma vez para as limitações do presente escrito, uma vez que fora elaborado antes do campo empírico. Este artigo deve ser tomado enquanto proponente de interlocuções, cujas criticas são bem quistas.
10 Sobre esse aspecto ver Peirano (1995).
11 Apresentado em fins de 2014, intitulado A PRODUÇÃO LEITEIRA EM SANTO CRISTO-RS: RECONFIGURAÇÕES DA AGRICULTURA FAMILIAR.
12 Escrito em conjunto por tais autores: Guia para a pesquisa de campo/ Produzir e analisar dados etnográficos (já referidos no subtítulo precedente).

Recibido: 02/10/2019 Aceptado: 10/10/2019 Publicado: Octubre de 2019



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