Revista: Atlante. Cuadernos de Educación y Desarrollo
ISSN: 1989-4155


SABERES-FAZERES SOBRE A CERÂMICA CAETEUARA DA COMUNIDADE "VILA CUERA" NO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA-PA: UMA PERSPECTIVA ETNOFÍSICA

Autores e infomación del artículo

Samuel Antonio Silva do Rosário*

Instituto Federal do Pará – IFPA, Brasil

Email: samuel_mat2009@hotmail.com


Resumo
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado desenvolvida através do PPGLSA (Programa de Pós-graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia) tendo como uma das temáticas a Etnofísica, relacionando o saber tradicional com o conhecimento acadêmico. A utilização dos saberes físicos presentes no cotidiano das comunidades se tornou a motivação para muitos pesquisadores estudarem os contextos histórico-culturais desta ciência. Nesse sentido, o dia a dia nas comunidades tradicionais são repletos de saberes-fazeres, que servem de orientação para o surgimento de novas formas de compreender noções particulares de pensar e representar a própria existência nesses locais, bem como contribui para a compreensão de como essas comunidades se organizam em sociedade, suas relações com o meio ambiente e suas práticas do cotidiano. As pesquisas estão sendo realizadas em uma comunidade de características tradicionais chamada “Vila Cuera”, situada no espaço rural do município de Bragança-Pa, às margens do rio Caeté. Entre os objetivos, destacamos o intuito de registrar os conhecimentos empíricos dos ceramistas, sobre a produção das cerâmicas e suas principais técnicas. O procedimento metodológico escolhido privilegia técnicas etnográficas, com o intuito de facilitar o entendimento da relação da ciência física com a comunidade escolhida, buscando estabelecer laços que auxiliem no processo de construção dos saberes físicos observados.
Palavras-chave: Saberes-Fazeres; Etnofísica; Cerâmica.

Resumen
El presente trabajo forma parte de una investigación de maestría desarrollada a través del PPGLSA (Programa de Postgrado en Lenguajes y Saberes en la Amazonia) teniendo como una de las temáticas a la Etnofísica, relacionando el saber tradicional con el conocimiento académico. La utilización de los saberes físicos presentes en el cotidiano de las comunidades se ha convertido en la motivación para muchos investigadores para estudiar los contextos histórico-culturales de esta ciencia. En este sentido, el día a día en las comunidades tradicionales están llenos de saberes, que sirven de orientación para el surgimiento de nuevas formas de comprender nociones particulares de pensar y representar la propia existencia en esos lugares, así como a la comprensión de cómo esas las comunidades se organizan en sociedad, sus relaciones con el medio ambiente y sus prácticas cotidianas. Las investigaciones se están realizando en una comunidad de características tradicionales llamada "Vila Cuera", situada en el espacio rural del municipio de Bragança-Pa, a orillas del río Caeté. Entre los objetivos, destacamos el propósito de registrar los conocimientos empíricos de los ceramistas, sobre la producción de las cerámicas y sus principales técnicas. El procedimiento metodológico elegido privilegia técnicas etnográficas, con el fin de facilitar el entendimiento de la relación de la ciencia física con la comunidad escogida, buscando establecer lazos que auxilien en el proceso de construcción de los saberes físicos observados.
Palabras clave: Saberes-Haceres; Etnofísica; Cerámicas.

Abstract
The present work is part of a master's research developed through the PPGLSA (Postgraduate Program in Languages ​​and Knowledge in the Amazon) with one of the themes being Ethnophysics, relating traditional knowledge with academic knowledge. The use of the physical knowledge present in the daily life of the communities has become the motivation for many researchers to study the historical-cultural contexts of this science. In this sense, day-to-day life in traditional communities is full of know-how, which serves as a guide to the emergence of new ways of understanding particular notions of thinking and representing one's own existence in these places, as well as contributing to the understanding of how these communities are organized in society, their relationships with the environment and their everyday practices. The research is being carried out in a community of traditional characteristics called "Vila Cuera", located in the rural area of ​​the municipality of Bragança-Pa, on the Caeté River. Among the objectives, we highlight the intention of recording the empirical knowledge of potters, about the production of ceramics and their main techniques. The chosen methodological procedure privileges ethnographic techniques, in order to facilitate the understanding of the relationship between physical science and the chosen community, seeking to establish links that assist in the process of construction of physical knowledge observed.
Keywords: Know-How; Ethnophysics; Ceramics.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Samuel Antonio Silva do Rosário (2019): “Saberes-fazeres sobre a cerâmica caeteuara da comunidade "Vila Cuera" no município de Bragança-PA: uma perspectiva etnofísica”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (julio 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/atlante/2019/07/saberes-fazeres-etnofisica.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/atlante1907saberes-fazeres-etnofisica


1. Introdução

A utilização dos saberes matemáticos e físicos presentes no cotidiano das comunidades se tornou a motivação para muitos pesquisadores estudarem os contextos histórico-culturais destas ciências; entre eles destacam-se Ubiratan D’Ambrosio, Paulus Gerdes, Alexandrina Monteiro, Ednilson Sousa, Thaise Prudente, Renato Santos e Bárbara Anacleto.
Nessa perspectiva, o dia a dia nas comunidades tradicionais 1 é repleto de saberes-fazeres, que servem de orientação para o surgimento de novas formas de compreender noções particulares de pensar e representar a própria existência nesses locais, bem como contribui para a compreensão de como essas comunidades se organizam em sociedade, suas relações com o meio ambiente e suas práticas do cotidiano.
A Etnofísica, proposta aqui, apropria-se da Etnomatemática para discutir a possibilidade de uma análise dos saberes-fazeres em uma comunidade de características tradicionais, fundamentada na contextualização (pelo grupo social que a compõe) do fenômeno físico estudado sob um paradigma inclusivo.
Nessa perspectiva, pautando nosso olhar pelas concepções Etnomatemáticas de D’ambrosio (1998, 2005, 2011) e Gerdes (2007) e das concepções Etnofísicas de Anacleto e Santos (2006) e Prudente(2010) conseguimos estabelecer relações e interconexões entre os fenômenos físicos e os saberes-fazeres tradicionais presentes na vida cotidiana da comunidade estudada, pois o cotidiano está impregnado de modos próprios de pensar, organizar e expressar saberes da cultura, os quais expressam ideias físicas nas suas mais variadas formas, pois é perceptível o fato de o cotidiano dos povos tradicionais estar impregnado de modos próprios de pensar, organizar e concretizar a existência, transformando a natureza e, por conseguinte, manipulando os fenômenos físicos nas suas mais variadas formas. Estes, portanto, adquirem validade na medida que resolvem os problemas de um determinado grupo; pois, nas comunidades tradicionais, conhecimento e tradição caminham juntos para um fim: a existência do coletivo e seus participantes num determinado tempo-espaço.
Sendo assim, esta pesquisa se pautou na seguinte problemática: "Quais saberes-fazeres etnofísicos estão presentes na produção da cerâmica tradicional caeteuara da comunidade Vila Cuera?".
O interesse em entender como os saberes-fazeres etnofísicos presentes nessa comunidade se relacionam com a existência desse lugar surgiu principalmente pela diversidade sociocultural e ecológica que se apresenta nesta localidade, possibilitando a partir da pesquisa, o entendimento das relações dos fenômenos físicos com a comunidade “Vila Cuéra”, localizada no espaço rural do município de Bragança-PA, às margens do rio Caeté, aproximadamente 8km do centro da cidade a esquerda da BR 308. A comunidade faz parte da história da construção do município, pois segundo a história oficial contada nos livros e os próprios moradores locais, foi neste espaço que iniciou anos atrás o que hoje conhecemos como município de Bragança, por este motivo a comunidade e conhecida também como “Vila Qui-Era” Bragança.
Diante disso, objetivou-se investigar os saberes etnofísicos latentes imbricados nos saberes-fazeres sobre a cerâmica da comunidade de características tradicionais estudada.

2. Metodologia

Partindo do pressuposto que a Etnofísica é o estudo etnográfico dos fenômenos físicos, o referencial metodológico adotado permeia o campo da Antropologia, com o intuito de facilitar o entendimento da relação da ciência Física com os saberes-fazeres tradicionais da comunidade escolhida, buscando estabelecer laços que auxiliem no processo de aproximação dos saberes-fazeres etnofísicos observados com os conhecimentos acadêmicos da Física.
Nessa lógica, está se constituindo um conjunto de estudos e reflexões sobre os conhecimentos da comunidade estudada e suas epistemologias, interpretados a partir do fluxo do discurso social, biológico, ambiental, mitológico e cultural, na perspectiva da Etnofísica.
As descrições e teorizações surgem das interpretações de diferentes narrativas, sobre as epistemologias que explicitam e fundamentam os entendimentos produzidos para aspectos do modo de saber-fazer e de sua socialização, nas diversas fases da vida da comunidade de características tradicionais estudada.
Os autores Atkinsn e Hammersley (1994) caracterizam o estudo etnográfico com referência (na prática dos estudos etnográficos) a diversas formas de trabalho em ciências humanas, mas envolvendo a generalidade das seguintes características: grande ênfase na exploração (da natureza social e cultural) de um fenômeno particular, tendência para trabalhar sobre dados não estruturados, existência de um número reduzido de participantes sob análise, existência de interpretação explícita dos significados e funções das ações das pessoas, integração no produto dos estudos etnográficos, de descrições e explicações em que a quantificação e a análise estatística ocupam quando muito um papel secundário.
A pesquisa se deu em dois momentos, no primeiro foram realizadas entrevistas semiestruturadas introdutórias com os sujeitos da pesquisa para a obtenção de informações sobre os seus saberes, memórias e suas aplicações em diferentes contextos da vida em comunidade, ressaltando a importância da física e o que ela representa em suas vidas. No segundo momento, estão sendo realizadas observações durante o dia a dia da comunidade com o objetivo de conhecer e participar das práticas que envolvem a Etnofísica.
Desta forma, para alcançar os objetivos traçados, são utilizadas técnicas etnográficas, onde a pesquisa consisti em interpretar dados coletados a partir de uma observação participante. Ressalta-se que os pesquisadores etnográficos tentam descrever e reconstruir de forma sistemática, o mais detalhadamente possível as características das variáveis que constituem um fenômeno observado, com a finalidade de organizar categorias conceituais, comparando as construções e postulados gerados a partir dos acontecimentos em cenários distintos. Diante disso, são utilizadas leituras de autores da antropologia que descrevem experiências de aproximação como Malinowski (1976), Pritchard (2005) e Geertz (2008).
Nas entrevistas e diálogos informais, privilegia-se perguntas voltadas diretamente para as atividades da cerâmica, sendo empregados recursos como gravadores de áudio, câmaras fotográficas e diário de campo.
Também estão sendo realizadas observações participativas, vivenciando a prática das atividades dos sujeitos da pesquisa na oficina de cerâmica, focando características importantes que envolvem o cotidiano desses locais.

3. Considerações Finais

Nas comunidades tradicionais os conhecimentos que permeiam entre os variados saberes são passados de maneira empírica pela oralidade e através da vivência dos agentes sociais envolvidos, respeitando uma escala de gerações, assim uma geração mais experiente troca conhecimentos com a geração mais nova. Nessa ótica, o diálogo entre o mestre do saber e o aprendiz leva os sujeitos a estabelecer relações e a mobilizar processos cognitivos para definir suas concepções de mundo e de processos necessários para existência da comunidade.
Nessa perspectiva, se faz necessário refutar a dissociação entre o saber popular e o conhecimento científico, dando sentido e significado para muitas coisas que ocorrem em nosso cotidiano (D’AMBROSIO, 2011). As relações entre as teorias (saber) e práticas (fazer) devem estar sempre juntas, levando em consideração a visão de todos sobre o uso da Matemática e da Física em seu cotidiano e de que forma praticam e desenvolvem os saberes Etnomatemáticos e Etnofísicos no seu dia a dia.
Segundo o ceramista as peças são criadas primeiro eu sua mente, no abstracionismo que permeia o cognitivo, para posteriormente serem concretizadas no barro, e o mesmo se utiliza de uma matemática própria para determinar quantidade, formas geométricas, simetria, ângulos trigonométricos, assim como outros saberes Etnomatemáticos para que sua peça possa ser construída o mais próximo do que foi visto em sua mente. O ceramista ainda se apropria de conceitos sobre o tempo, temperatura, equilíbrio térmico e troca de calor oriundos da Física científica, mas que na sua forma de construir a peça de barro, são apenas perceptíveis ao tato, visão e paladar. Mostrando assim, que mesmo sem o conhecimento científico, é possível construir saberes Etnomatemáticos e Etnofísicos que servem de material teórico científico, reaproximando a ciência das práticas do cotidiano.
Na parte da pesquisa já realizada, é possível perceber a importância dos saberes etnofísicos para a comunidade e de como essa percepção por parte dos moradores traz uma nova perspectiva sobre a ciência Física, pois os próprios indivíduos quando percebem que se apropriam de conceitos físicos (mesmo que de maneira empírica) para realização dos seus fazeres diários, reconsideram a ideia do saber, não mais somente pela perspectiva de que o conhecimento ensinado na escola é sempre melhor, mas com uma visão que reconhece que os saberes-fazeres locais também tem seu valor.

4. Referências Bibliográficas

ANACLETO, Bárbara da Silva, SANTOS, Renato P. dos. Etnofísica na Lavoura de Arroz: Um estudo preliminar. XIV Simpósio Sul brasileiro de Ensino de Ciências, Blumenau: FURB, 2006.
ATKINSON, P. e HAMMERSLEY, M. Ethnography and participant observation. In N. Denzin e Y. Lincoln (Eds), Handbook of qualitative research. Newbury Park: Sage, 1994.
D’AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática. São Paulo: Editora Ática, 1998.
D’AMBROSIO, Ubiratan. Sociedade, cultura, matemática e seu ensino. São Paulo: Educação e Pesquisa, 2005.
D’AMBRÒSIO, Ubiratan. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.
DIEGUES, Antônio Carlos. O Mito moderno da natureza intocada. 6ª edição. São Paulo: Hucitec, 2008.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. 1ª ed., reimpr. Rio de Janeiro - LTC, 2008.
GERDES, Paulus. Etnomatemática: reflexões sobre Matemática e diversidade cultural. Ribeirão: Edição Húmus, 2007.
MALINOWSKI, B. Os argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1976.
PRITCHARD, E. Bruxaria, oráculo e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.
PRUDENTE, Thaise Cristiane de Abreu. Etnofísica: uma estratégia de ação pedagógica possível para o ensino de física em turmas de EJA. Centro Científico Conhecer, Goiânia, v. 06, n. 10, p. 01-13, 2010.
TAVARES, Margarida M. R. et al. Diagnóstico do Potencial Turístico. Municípios de Bragança, Augusto Corrêa e Tracuateua. Estado do Pará: CPRM/ Primaz, Seicom, 1998.

Professor do Instituto Federal do Pará – IFPA (Campus Marabá Industrial), Mestre em Matemática (PPGLSA-UFPA), Especialista em Matemática e Ciências Naturais (FCV), Especialista em Ciências Biológicas (FAERPI), Graduado em Matemática (UEPA), Graduado em Ciências Biológicas (UNIASSELVI), Graduando em Física (IFPA), E-mail: samuel_mat2009@hotmail.com
1 (DIEGUES, 2008) destaca as seguintes característica sobre comunidades tradicionais: a) Dependência e até simbiose com a natureza(...); b) Conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos(...); c) Noção de território ou espaço onde o grupo social se reproduz econômica e socialmente; d) Moradia e ocupação do território por várias gerações(...); e) Importância das atividades de subsistência(...); f) Reduzida acumulação de capital; g) Importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal(...); h) Importância das simbologias, mitos e rituais associados à caça, pesca e atividades extrativistas; i) A tecnologia utilizada é relativamente simples(...); j) Fraco poder político(...); l) Auto-identificação ou identificação pelos outros de se pertencer a uma cultura distinta das outras.

Recibido: 07/04/2019 Aceptado: 05/07/2019 Publicado: Julio de 2019

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