Revista: Atlante. Cuadernos de Educación y Desarrollo
ISSN: 1989-4155


AS EXPOSIÇÕES E FEIRAS COMO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE

Autores e infomación del artículo

Livio Sergio Dias Claudino*

Universidade Federal do Pará, Brasil

liviosergio@ufpa.br


RESUMEN
Este texto trata de una experiencia docente del curso de Licenciatura en Educación del Campo, promovida por la Universidad Federal de Pará, Campus Abaetetuba, que tiene como base las Ferias y Exposiciones públicas como una importante estrategia metodológica para alcanzar las metas de enseñanza-aprendizaje, extensión y la investigación en variados contextos disciplinarios. El caso aquí presentado, como un relato de experiencia, se refiere a una actividad realizada con una clase de Educación del Campo, polo de Acará, en el interior del estado de Pará, en Brasil, en el segundo semestre de 2016, que culminó con la actividad 1º Feria de Ciencias y Tecnologías de la Educación del Campo de Acará. Los principales resultados alcanzados fueron la ampliación de las capacidades de realizar actividades en grupo, superar la timidez para lidiar con públicos externos, desarrollar las habilidades de investigación y escritura de los resultados, y una mayor interacción y divulgación de las actividades del curso junto a la comunidad local.

Palabras clave: Educación del Campo - Ferias de Ciencias y Tecnologías - Acará-Pará.

RESUMO
Esse texto trata de uma experiência docente do curso de Licenciatura em Educação do Campo, promovida pela Universidade Federal do Pará, Campus Abaetetuba, que tem por base as Feiras e Exposições públicas como uma importante estratégia metodológica para alcançar as metas de ensino-aprendizagem, extensão e pesquisa em variados contextos disciplinares. O caso aqui apresentado, como um relato de experiência, refere-se a uma atividade realizada com uma turma de Educação do Campo, polo de Acará, no interior do estado do Pará, no Brasil, no segundo semestre de 2016, que culminou com a 1º Feira de Ciências e Tecnologias da Educação do Campo de Acará. Os principais resultados alcançados foram a ampliação das capacidades de realizar atividades em grupo, superar a timidez para lidar com públicos externos, desenvolvimento das habilidades de pesquisa e escrita dos resultados e uma maior interação e divulgação das atividades do curso junto à comunidade local.

Palavras-chave: Educação do Campo - Feiras de Ciências e Tecnologias - Acará-Pará.

Abstract
This text is about a teaching experience of the Undergraduate Course in Field Education, Campus Abaetetuba, Federal University of Pará, which is based on Public Fairs and Exhibitions as an important methodological strategy to achieve the teaching-learning, extension and research goals in various disciplinary contexts. The case presented here, as an experience report, refers to an activity carried out with a field education group, Campo de Acará, in the interior of the state of Pará, Brazil, in the second half of 2016, culminating in the 1st Sciences Fair and Technologies of the Field Education of Acará. The main results achieved were to increase the capacity to carry out group activities, to overcome shyness in dealing with external audiences, to develop research skills and writing results, and to increase the interaction and dissemination of the activities of the course with the local community.

Key words: Field Education - Science fairs and Technology - Acará-Pará.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Livio Sergio Dias Claudino (2019): “As exposições e feiras como práticas pedagógicas: relato de experiência docente”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (marzo 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/atlante/2019/03/praticas-pedagogicas-docente.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/atlante1903praticas-pedagogicas-docente


1. INTRODUÇÃO

Praticamente todos os docentes se deparam com um grande desafio no ensino superior: como estimular os estudantes à prática da pesquisa e, posteriormente, à verbalização pública de seus resultados, sem provocar uma banalização da investigação científica. Na tentativa de alcançar essa meta, e de provocar outros efeitos benéficos para a formação dos indivíduos e também valorização dos trabalhos acadêmicos e, consequentemente, dos cursos envolvidos, as exposições públicas de resultados de trabalhos podem se constituir importantes ferramentas de ensino-aprendizagem-extensão universitária, possibilitando a construção do conhecimento interdisciplinar.
Especialmente no caso de alguns cursos mais marginalizados frente ao sistema geral de ensino superior, como as licenciaturas em Educação do Campo, a forma exposição pública pode ter diversos efeitos práticos e simbólicos que serão aqui tratados. Tendo isso em mente, essa comunicação tem como objetivo demonstrar a importância e os possíveis efeitos da metodologia que consiste em culminar as atividades curriculares tradicionais nos cursos de graduação com exposições públicas.
A pesquisa teve origem em duas experiências realizadas junto a turmas de Educação do Campo com habilitação em Ciências Naturais, durante duas disciplinas (Educação em Ciências e Tecnologias; Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável), nas cidades de Acará e Tomé-Açu, estado do Pará, respectivamente (o estudo ora apresentado vai se limitar a descrever mais profundamente apenas o caso de Acará). Em ambas, decidi propor a construção de pequenos projetos de investigação empírica de problemas tecnológicos locais e a busca de soluções, relacionados à agricultura ou questões do meio rural em geral.

2. METODOLOGIA

Em termos metodológicos, o relato de experiência resulta da observação participante durante a prática docente em sala de aula e no decorrer dos eventos (exposições e feiras de ciências), além de conversas informais com outros docentes, e aplicação de um questionário a 24 discentes que foram expositores em um dos eventos. Para apresentar os dados, selecionei algumas respostas que os estudantes colocaram nos questionários aplicados. Os mesmos foram sistematizados no Google Formulários, estando disponível para consulta posterior.
As experiências aqui relatadas aconteceram durante o segundo semestre de 2016, realizada na cidade de Acará, nordeste paraense, Brasil (cerca de 100 km do campus da universidade, e a cerca de 115 km da capital do estado). A feira aconteceu em agosto de 2016, organizada por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo, com habilitação em Ciências Naturais (química, física e biologia) da Universidade Federal do Pará, durante a disciplina Educação em Ciências e Tecnologias. A turma é composta por 27 estudantes, sendo que 24 responderam ao questionário. Desses, 17 mulheres e 8 homens, com idades variando entre pouco mais de 20 e menos de 50 anos. O mesmo foi aplicado cerca de 4 meses após o evento.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Muito conhecidas entre os estudantes, as exposições públicas de resultados de pesquisas, as populares feiras de ciências, datam de meados dos anos 1960 no Brasil e na América latina, mas apresentaram maior crescimento a partir dos anos 90. Trata-se de um importante momento para os estudantes exporem suas investigações a um público diferente daquele que estão habituados. Essas feiras constituem-se também espaços em que é possível realizar a prática interdisciplinar, pois diferentes saberes são mobilizados para a construção dos experimentos e também das explicações dadas aos fenômenos, que não são apenas naturais, mas também sociais (HARTMANN; ZIMMERMANN, 2009).
Em relação à interdisciplinaridade, Hartmann e Zimmermann (2009) observaram que, no que concerne ao ensino médio, quem consegue realizar a conexão entre as diferentes disciplinas e a prática são os estudantes, muito mais que os professores. Assim, a formação dos futuros docentes deve primar pela capacidade de realizar a interdisciplinaridade, que ainda não é prioridade e nem uma prática convencional nos currículos da graduação, embora a discussão já seja ampla.

3.1 Feira de Ciências e Tecnologias da Educação do Campo de Acará

Devido a disciplina ocorrer de maneira modular, durante 14 dias letivos, tornou-se particularmente desafiadora a construção de projetos, aliado ao fato de que os momentos de encontro da turma são apenas em um dos períodos (noturno), sendo que a turma é constituída por uma maioria de adultos que trabalham durante o dia.
A proposta da disciplina, consistia em quatro atividades principais: a) a leitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) para o ensino de Ciências; b) a construção de um mapa temático da cidade de Acará, no qual era possível indicar quais locais na cidade os futuros docentes poderiam levar os estudantes de ensino médio e fundamental para aprender ciências (nessa, cada grupo deveria indicar de cinco a dez locais – nominal e espacialmente, além de descrever o que se podia ver); c) uma visita de campo, na cidade de Tomé-Açu, para conhecer estabelecimentos de agricultores que praticavam agroecologia e também uma cooperativa a CAMTA (Cooperativa Mista de Tomé-Açu); d) a feira de Ciência e Tecnologia.
Essa última, consistiu em demandar aos estudantes identificar “problemas tecnológicos locais reais, sejam eles relacionados à agricultura de uma maneira mais específica, ou então problemas educacionais que tivessem uma relação com o ensino de Ciências”. Considerando o perfil da turma (alunos originários das comunidade rurais) e da sua formação, era possível realizar trabalhos com uma forte vinculação com o meio rural acaraense.
No primeiro momento, foi dado um tempo para um levantamento prévio dos “problemas tecnológicos locais”, depois do qual cada grupo iria expor e propor perante a turma o tema escolhido. Foram formados então cinco grupos, com os seguintes temas: Feira do peixe de Acará; Agrotóxicos; Produção de mandioca e farinha em Concórdia; Resíduos sólidos e reciclagem na vila Jarumã; Contaminação de água na comunidade Goiabal. Cada um desses temas se relacionava a problemas tecnológicos locais, com vinculação ao meio rural. Além disso, além de mostrar o problema em si, cada grupo tinha a missão de também encontrar e expor ao público as possíveis soluções.
A turma aceitou o desafio proposto, que inicialmente foi apenas “pequenos projetos apresentados na forma de seminário ou uma minifeira”. Porém, ao longo dos dias, foi possível perceber o empenho enorme dos alunos, e a construção de projetos com recursos materiais diversos (como cartazes, maquetes, materiais vindos do campo, etc.). Assim, foi decidido coletivamente que seria então uma exposição pública.
O evento foi divulgado entre a comunidade escolar local, por meio de ofícios encaminhados às diretoras de escolas, além de divulgação nas redes sociais e também mídia radiofônica local. Na noite da programação, além da feira em si, um grupo de pesquisadores da UFPA, do grupo  “Ordenamento Territorial e Governança da Terra na Amazônia”, coordenado pelo prof. Dr. José Heder Benatti, aproveitaram a oportunidade para apresentar resultados de pesquisas. Mais de 100 pessoas estiveram presentes no evento, que durou pouco mais de 2 horas. Muitos familiares de estudantes estiveram presentes, fazendo do evento uma oportunidade também para a família conhecer o curso.
De uma maneira geral, a avaliação, por parte dos alunos indicou satisfação, conforme relatos abaixo, extraídos das perguntas do questionário:
O que você achou da atividade para o seu aprendizado? E para a comunidade que acompanhou?
“Essa atividade foi muito proveitosa e contribuiu para minha formação em todos os sentidos. A pesquisa me levou pela primeira vez a um lixão e daí à reflexão sobre o que pode ser feito para minimizar a produção de lixo, bem como dicas incríveis sobre como reaproveitar muito daquilo que consideramos lixo. E para a comunidade acredito que chamou a atenção o fato de nosso grupo levantar a questão do lixo com as pesquisas que foram realizadas para a disciplina” (Mulher, mais de 40 anos).

A discente destacou como a pesquisa de campo, que foi necessária para investigar o problema, busca soluções e expor para a comunidade foram capazes de causar um estranhamento sobre uma situação comum nas cidades, mas que a universidade pouco se envolve. 
“Durante o desenvolvimento desta atividade foram realizadas várias pesquisas na vila e em alguns órgãos públicos para aprofundar o trabalho e conhecer os destinos dos resíduos sólidos. Neste sentido, construir alguns objetos com algo que se pode encontrar nos lixões”. (Mulher, mais de 30 anos).

Destacamos no relato da discente que ocorreu a interação com as instituições relacionadas ao poder público local, indicando a preocupação em encontrar soluções coletivas para as problemáticas locais. Já outro discente indica que foi pela pesquisa que “ descobrimos as causas do problema na minha vila” (Homem, 30 anos). No caso, o problema investigado foi sobre a baixa produtividade da mandioca (Manihot esculenta) na comunidade. Já uma discente de pouco mais de 30 anos indicou: “Foi bem interessante, aprendi muitas coisas novas. Para minha comunidade [o bom] foi descobrir e conhecer novas coisas, principalmente em relação ao meio ambiente e ao uso dos agrotóxicos”.
Outra indagação no questionário aplicado foi: Qual/is a maior(es) vantagem(ns) de uma atividade disciplinar se transformar em exposição pública?

“O contato com as pessoas, que não estão ainda na universidade, uma oportunidade de mostrarmos nossos trabalhos” (Homem, mais de 25 anos).
“Oportunidade para desenvolver e trocar saberes” (Mulher, mais de 20 anos).
“É levar a sua pesquisa para além do espaço acadêmico, e ter a possibilidade de transformação do espaço estudado, levando ao conhecimento da população para que juntos possam buscar melhorias” (Mulher, mais de 20 anos).
“As vantagens são muitas, principalmente para nós enquanto discentes, pois contribui positivamente para o aprendizado. Uma vantagem muito importante é que os nossos trabalhos não ficam somente em sala de aula, compartilhar com a população é de suma importância”. (Mulher, mais de 30 anos).
“O reconhecimento do curso, ajuda mútua, satisfação e aperfeiçoamento da prática docente”. (Mulher, mais de 30 anos).

Como apresentado, quando instigados a refletir sobre as vantagens, para os discentes e para a comunidade, há certo consenso de que as exposições permitem interagir com a comunidade não acadêmica, mostrar o que fazem no cotidiano da universidade, trocar saberes com os populares, e obterem reconhecimento social.
Podemos sintetizar que os principais resultados foram: um melhor aprendizado e construção do próprio conteúdo da investigação científica orientada (FREIRE, 1996), pois, para cada tema os discentes deveriam buscar o material bibliográfico; a aprendizagem sobre a escrita de textos científicos baseados em projetos de ciências (cada grupo teve que entregar um relatório constando todas as etapas da pesquisa, incluindo os resultados); interação entre a comunidade local, escolar e não-escolar, com os alunos da Educação do Campo, favorecendo a divulgação do curso; as dinâmicas de trabalho em equipe, desde os processos de escolha, até a apresentação diante de um público externo; para muitos, essa foi a primeira vez que participam como expositores em uma Feira de Ciências, e sua autoestima se elevou.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As exposições públicas podem se constituir em importantes mecanismos pedagógicos para envolver os alunos, nos diferentes níveis educacionais, com os conteúdos disciplinares. De uma maneira geral, podem ajudar a desenvolver inúmeras capacidades, desde a superação da timidez de falar em público, bem como de realizar pesquisas e compreender métodos científicos. Além disso, podem ser meios de divulgar os cursos mais marginalizados perante os sistemas de ensino, favorecendo um melhor reconhecimento das atividades que são desenvolvidas pelas faculdades. Sabe-se que, pelo menos no ensino médio, as feiras de ciências estão se tornando cada vez mais corriqueiras, porém, pode-se expandir a sua prática, de modo a que algumas disciplinas, não apenas as relacionadas às Ciências Exatas e Naturais, possam também se valer dessa importante estratégia de ensino, aprendizagem, extensão, pesquisa e comunicação.

REFERÊNCIAS

LIHARTMANN, Â. M.; ZIMMERMANN, E. (2009). “Feira de ciências: a interdisciplinaridade e a contextualização em produções de estudantes de ensino médio”. Florianópolis. Anais do VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências..
FREIRE, P. (1996). “Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa”. São Paulo: Paz e Terra.

*Docente efetivo na UFPA. Engenheiro agrônomo e doutor em Desenvolvimento Rural. E-mail:liviosergio@ufpa.br

Recibido: 13/12/2018 Aceptado: 26/03/2019 Publicado: Marzo de 2019

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