Revista: Atlante. Cuadernos de Educación y Desarrollo
ISSN: 1989-4155


ENTRE FORMAÇÃO DOCENTE E ACESSO AO ENSINO SUPERIOR: O CURSINHO PRÉ-ENEM NO CAMPUS DE ANANINDEUA - UFPA (2017-2018)

Autores e infomación del artículo

Francivaldo Alves Nunes*

Universidade Federal do Pará, Brasil

francivaldonunes@yahoo.com.br


RESUMO: O Cursinho pre-ENEM, sediado em Ananindeua, é um curso preparatório, gratuito, voltado para jovens e adultos que completaram ou estão cursando o 3º ano do Ensino Médio e que não possuam condições financeiras de arcar com cursos preparatórios. Neste texto destacamos as atividades desenvolvidas pelo cursinho, as estratégias metodológicas de funcionamento, perfil dos estudantes e professores e suas considerações sobre o pré-vestibular. Para ministrar as aulas, conta-se com o apoio de graduandos dos cursos da UFPA, assim como de discentes de outras instituições de ensino superior. A criação do cursinho permitiu uma atuação na região não apenas como uma opção de formação e complementação de estudos de seu público-alvo, mas também como um agente de integração entre a comunidade local e a UFPA de Ananindeua, assim como criou perspectiva para ingresso no serviço público, através das aulas preparativas, e assegurou à aproximação entre a formação de graduação e a experiência em sala de aula.
Palavras-chave: Educação; Formação; Cursinho; Ensino; Docência.

ABSTRACT: The pre-ENEM Cursillo, based in Ananindeua, is a free preparatory course for young people and adults who have completed or are in the third year of high school and who do not have the financial means to take preparatory courses. In this text we highlight the activities developed by the cursinho, the methodological strategies of operation, the profile of the students and teachers and their considerations about the pre-university entrance exam. In order to teach classes, we count on the support of undergraduates from the UFPA courses, as well as from students from other higher education institutions. The creation of the course allowed the region to act not only as an option for training and complementing studies of its target audience, but also as an agent of integration between the local community and UFPA of Ananindeua, as well as creating perspective for joining the public service, through the preparatory classes, and ensured the approximation between undergraduate training and the experience in the classroom.


Key word: Education; Formation; Cursinho; Teaching; Teaching.

RESUMEN: El Cursinho pre-ENEM, con sede en Ananindeua, es un curso preparatorio, gratuito, dirigido a jóvenes y adultos que completan o están cursando el 3º año de la Enseñanza Media y que no tienen condiciones financieras de arcar con cursos preparatorios. En este texto destacamos las actividades desarrolladas por el cursillo, las estrategias metodológicas de funcionamiento, perfil de los estudiantes y profesores y sus consideraciones sobre el pre-vestibular. Para impartir las clases, se cuenta con el apoyo de graduados de los cursos de la UFPA, así como de discentes de otras instituciones de enseñanza superior. La creación del cursinho permitió una actuación en la región no sólo como una opción de formación y complementación de estudios de su público objetivo, sino también como un agente de integración entre la comunidad local y la UFPA de Ananindeua, así como creó perspectiva para ingreso en el país, servicio público, a través de las clases preparativas, y aseguró al acercamiento entre la formación de graduación y la experiencia en el aula.


Palabras clave: Educación; formación; meter; la educación; enseñanza


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Francivaldo Alves Nunes (2018): “Entre formação docente e acesso ao ensino superior: o cursinho pré-enem no Campus de Ananindeua - UFPA (2017-2018)”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (diciembre 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/atlante/2018/12/formacao-docente-ensino.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/atlante1812formacao-docente-ensino


1.CONHECENDO O PROJETO

O Cursinho Comunitário Pré-Vestibular do Campus Metroplitano da UFPA, sediado no município de Ananindeua, é um curso preparatório totalmente gratuito, voltado para jovens e adultos que completaram ou estão cursando o 3º ano do ensino médio e que não possuam condições financeiras de arcar com cursos preparatórios similares em instituições de ensino privadas. Trata-se de uma primeira iniciativa, que envolve alunos, professores e técnicos da UFPA, do Campus de Ananindeua.
A iniciativa partiu dos alunos e professores do curso de História, em 2016, os quais identificaram a dificuldade dos alunos da rede pública da Região de Metropolitana de Belém, em conseguir um emprego em uma instituição pública e/ou ingressar em uma universidade pública de qualidade, citando como exemplo a própria unidade da UFPA em Ananindeua. Tal cenário evidenciava a necessidade de cursos de capacitação que permitissem uma maior inclusão social desta comunidade.
Sobre o espaço de atuação, podemos registrar que a Região Metropolitana é caracterizada como social e economicamente “carente”, o que de fato guiou a implantação de uma unidade pública de ensino superior, o Campus Metropolitano da UFPA, no ano de 2013 (NUNES; LIMA; COSTA, 2018, p. 2). Tal característica pode ainda ser comprovada por meio dos questionários socioeconômicos aplicados nos processos seletivos do Cursinho, os quais apontam uma baixa renda per capita média inferior ou igual a um salário-mínimo.
Dado este panorama, a existência do Cursinho Pré-vestibular Comunitário é de extrema importância para a região. Além de ser um curso preparatório gratuito, visando a formação tanto para o vestibular, como para concursos públicos em geral, e voltado para a comunidade social e economicamente vulnerável, oferece aos graduandos do Campus de Ananindeua e outras instituições de ensino superior, uma ampla gama de atividades diferenciadas, auxiliando na formação docente dos alunos e na preparação para expor melhor os dados de pesquisa para sociedade, no caso dos alunos de cursos que não estão vinculados diretamente a licenciatura.
As atividades desenvolvidas por bolsistas e voluntários, como são classificados os professores, possibilitam que os discentes experienciem diversificadas situações intrínsecas ao trabalho em equipe, muitas delas bastante similares às que são efetivamente vivenciadas em seus futuros ambientes de trabalho, como: gestão de pessoas, capacidade de liderança, melhoria contínua da oratória, articulação apropriada de ideias e responsabilidade social; características estas desejáveis em qualquer profissional.
Segundo Luciana Massi e Alberto Villani (2014, p. 153), ao justificar a implantação de estratégias associadas à formação educacional para combater a desigualdade, informa que “a sociedade se divide entre dominantes e dominados, com base em estruturas de dominação social, dentre as quais a cultura tem papel importante”, sendo que por cultura entende também a formação educacional. De fato, o ingresso de candidatos em instituições públicas por meio de concurso ou vestibular, ao contrário do que crê o senso comum, não é uma função simples do esforço do indivíduo, perpassando por uma série de fatores sociais, culturais e econômicos. Nos parece que oportunizar esta formação através de um cursinho comunitário, significa oportunizar aos dominados a apropriação de ferramentas, que é a educação, que podem tornar a luta pela sobrevivência, a luta entre dominantes e dominantes, menos desiguais.
Apesar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, declarar em seu 22º artigo que “a educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 1997), é inegável a existência de outros fatores que funcionam como facilitadores do ingresso dos alunos da rede regular de ensino em instituições de ensino superior e instituições públicas em geral, como os cursinhos pré-vestibulares.
Um destes fatores foi definido por Dulce Whitaker (1989, p. 17) como “efeito de cursos preparatório”, ao destacar os êxitos no ingresso de alunos no ensino de graduação, a partir de preparativos para vestibulares. Tal efeito foi também observado em outros estudos de Whitaker, agora escrevendo com Elis Fiamengue (1999; 2001; 2003), bem como por diversos outros autores em estudos subsequentes como Ricardo Fortes (2005), Massi e Villani (2014), sugerindo que o êxito nos exames vestibulares e em concursos públicos é mais provável entre os alunos que procuram a preparação que permita conhecer os conteúdos exigidos, o formato de questões, as exigências de pontuação, entre outras informações exigidas nestes exames.
O problema, é que, a grande maioria destes cursos estão associados a instituições de ensino particulares, as quais muitas vezes são inacessíveis à população de baixa renda, típica da região Metropolitana de Belém, correspondente ao cursinho de Ananindeua. De fato, é verdade que muitas famílias de classe média baixa tendem a valorizar o capital cultural em detrimento do econômico (MASSI & VILLANI, 2014), de modo que os cursos preparatórios particulares sejam ainda acessíveis mediante a administração de prioridades familiares. Contudo uma grande parcela da população ainda é totalmente excluída desta realidade, tendo menores chances de sucesso nestes exames, quando não tem oportunidades de preparação.
Apesar do número crescente de medidas tomadas visando a inclusão de alunos de baixa renda nas Universidades, seja por cotas, programas de financiamento e/ou bolsas, um processo seletivo será sempre necessário, sendo interessante a existência de um curso preparatórios a fim de melhorar a colocação dos candidatos em condições econômicas desfavoráveis e aumentar as suas chances reais de usufruir do benefício disponibilizado, o que evidencia a importância de um curso preparatório gratuito e de qualidade.

2. ASPECTOS METODOLÓGICOS E ATUAÇÃO DOCENTE
Ao se propor a construção de atividades que permitam à aproximação entre o ensino acadêmico e o atendimento comunitário, através de aulas de preparação aos exames vestibulares, principalmente, a proposta se revela vinculada as ações pautadas numa concepção de que a metodologia se constitui na busca em mostrar o caminho do pensamento para a abordagem da prática a ser estudada (MINAYO, 1994).
Tendo em vista este pressuposto, o cursinho envolveu professores do ensino superior e alunos de graduação, tendo por base o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e na tomada da diversidade como estratégia de compreensão e análise dos atendidos pelo projeto. Ainda foi pautado na aproximação e inter-relação dos conhecimentos associados as práticas docentes que envolvem o saber acadêmico e a experiência de vida dos alunos da Educação Básica.
Do ponto de vista da administração do cursinho esta foi composta por um coordenador, vice-coordenador e um secretário, sendo supervisionada pelo coordenador deste projeto. As disciplinas foram coordenadas por bolsistas ou voluntários e supervisionada por um professor do Campus de Ananindeua, tendo como principal função coordenar, idealizar e orientar as atividades dos professores.
Os professores do cursinho são alunos regularmente matriculados em cursos de graduação do Campus de Ananindeua e Belém, assim como de outras instituições de ensino superior como o Instituto Federal do Pará (IFPA). Como se observa, profissionais externos e alunos de pós-graduação também podem desempenhar este papel, desde que devidamente avaliados e aprovados pela coordenação. Neste aspecto, os professores desempenham suas atividades como bolsistas ou voluntários do projeto. Professores bolsistas e voluntários tem como principais atividades preparar, organizar e ministrar com qualidade e desenvoltura aulas para as quais foram selecionados. Devem zelar pelos bens materiais e pelo nome do cursinho, respeitar a integridade física e moral dos alunos, zelar pelo cumprimento de normas da instituição, responsabilizar-se pela elaboração e correção de questões para os simulados e auxiliar nos processos seletivos quando solicitados pela coordenação.
Os alunos são também considerados integrantes do cursinho, uma vez que é impossível dissociá-los do processo de ensino-aprendizagem a que se propõe este projeto. De modo geral, o público-alvo do cursinho é constituído de alunos da rede pública de ensino que já tenham concluído ou que estejam matriculados no último ano do ensino médio (ou equivalente) e que não possuam meios de arcarem com as despesas de cursos preparatórios particulares. Neste contexto, alunos da rede particular de ensino que já tenham concluído, ou que estejam matriculados no último ano do ensino médio (ou equivalente), e que comprovem que receberam ou recebem bolsa de estudos de no mínimo 50% também compõem o público-alvo do projeto.
O cursinho oferece até 50 vagas anuais, sendo que a seleção dos alunos ocorre por meio de processo seletivo realizado no início do ano e guiado por Edital específico e amplamente divulgado. Cada processo seletivo é composto de duas fases que envolve prova escrita de múltipla escolha e redação, assim como análise do questionário socioeconômico a ser preenchido pelos candidatos.
O cursinho possui frentes de atuação com distintas cargas horárias, associadas a diferentes disciplinas básicas e áreas de conhecimento, conforme ilustra o quadro:

Esta divisão de frentes deve-se a facilitação na preparação do material didático, podendo ser adaptado conforme demanda e decisão dos membros do cursinho. A carga horária atual se encontra definida de acordo com as demandas observadas pela coordenação e professores, devendo ser adaptada e reavaliada periodicamente. Destaca-se que as atividades docentes são pautadas por aulas expositivas, análise de gráficos, mapas e figuras, aplicação de exercícios e testes, mostrando a a dinâmica que perpassa pelo ensino e aprendizagem nestes espaços de cursinho.

3. APONTAMENTO DE RESULTADOS
Ao destacarmos as atividades do cursinho, revelamos que se trata de uma oportunidade para que os alunos em situação de vulnerabilidade social e econômica possam concorrer em nível de conhecimento aproximado aos demais discentes que concorrem por uma vaga no ensino superior. Assim, a experiência realizada nos quase dois anos de funcionamento do cursinho comprovou a aprovação, ainda no primeiro ano de 15 estudantes em cursos de graduação da UFPA, principalmente.
Do ponto de vista do perfil dos estudantes, dos matriculados em 2017 e 2018, 68% eram mulheres. Em relação à cor, a maioria (72%) se declarou negro ou mulato, sendo que os brancos representam 28% do total. Observando os alunos fisicamente percebe-se que a maioria, de fato, não é totalmente branca, indicando que muitos já não se inibem quanto a sua identificação de cor.
Os jovens de 18 a 24 anos são a maioria, representando 71%. Esse dado revela que na cidade de Ananindeua, essa juventude que concluiu o Ensino Médio têm uma opção de atividade para ocupar a lacuna que fica entre a Educação Básica e o Ensino Superior. Essa juventude, que agora estuda no cursinho, também não tem emprego, pois o percentual de alunos que trabalha é muito baixo. Do 26 consultados, apenas 04 estão trabalhando, sendo que destes apenas em emprego em empresa privada, dois na condição de menor aprendiz e um que trabalha na informalidade. No caso, apenas 85%, ou seja, 21 alunos não estão trabalhando. Sendo que dos que não trabalha, estes justificam, pois “falta oportunidade no mercado de trabalho”, “não consegue encontrar emprego”, “não dipõe de qualificação”, ou porque, “precisa se especializar, cursando uma faculdade”.
Analisando o perfil socioeconômico apresentado e a realidade social dos alunos, as famílias têm, em média, de quatro a seis pessoas, que vivem com renda menor que um salário-mínimo. Dos 26 alunos entrevistados, apenas 05 discentes expressaram uma renda familiar de um a três salários-mínimos; ou seja, possuem R$ 980,00, aproximadamente, para dividir entre quatro pessoas, o que resultaria em uma renda per capita de R$ 245,00. No entanto, se dividir por seis pessoas obteria uma renda de R$ 163,00 por pessoa. No outro extremo, poderíamos dividir R$ 2.800,00 por quatro pessoas e teríamos uma renda per capita de R$ 700,00 e se dividirmos entre seis pessoas o resultado será de R$ 466,00 por pessoa. Considerando a renda destas famílias se observa a dificuldade, e no caso das que recebem um salário-mínimo ou menos que isso, a impossibilidade de sua manutença e ainda incluir as despesas com mensalidades de cursinho preparativos para vestibulares.
As implicações sociais e econômicas se refletem quando se observa que 73% do número de alunos, não possui computador em suas residências. O que se observa é que os jovens que iniciam seus estudos no cursinho trazem consigo as marcas da exclusão. Nesse sentido, dependem de espaços disponibilizados na universidade de acesso e inclusão digital, como mini infocentro e laboratório de informática, que oferecem computadores para uso dos alunos do cursinho.
A exclusão que afeta os discentes do cursinho vai além da universidade e atinge também a exclusão a bens culturais como livros, teatro, cinema, computador e outros. Apenas 28% dos alunos têm acesso a livros de literatura de vestibular, 30% têm a cesso à internet e cerca de 12% vão ao cinema ou ao teatro.
Ao observamos os pontos positivos destacados pelos alunos, quando fazem referência ao cursinho, estes apontam a qualidade de ensino ministrado, através de uma boa didática, e o bom preparo dos professores. Neste aspecto afirmam ser os professores, em sua grande maioria, bem preparados. Outra questão reveladora é que, embora o cursinho seja gratuito, este não perde a qualidade nas aulas e nas condições de infraestrutura, como salas bem estruturadas com cadeiras confortáveis, boa climatização e equipamentos para os professores, como expositor de slide e computadores. Questões mais subjetivas, como oportunidades para superar dificuldades e pensamento universitário também são registradas nas observações dos discentes.

Quanto aos pontos negativos do cursinho, os alunos apontaram a necessidade de maior experiência de alguns professores e assiduidade dos docentes. Desinteresse de alguns alunos, falta de A ampliação das aulas de redação, falta de pontualidade e compromisso de alguns docentes, necessidade de maior organização das atividades da coordenação e a necessidade de organização de um cadernão que expresse os conteúdos trabalhados ao longo do ano, são apresentados também  como alguns outros pontos não positivos.

Independentemente do fato de os alunos obterem êxito no que se refere à aprendizagem, a figura do professor é marcante para eles. Quando se pergunta o que tem de bom no cursinho 19% disseram ser os professores, considerados como bem preparados. Contudo, há uma diferença que vale destacar, pois quando perguntamos o que tem de negativo, 12,9% dos alunos apontaram a inexperiência dos professores como negativo. Analisando os dados, podemos inferir que a figurado professor no cursinho sempre que aparece como positivo está vinculado à boa qualidade de ensino. Demonstra ainda que o decente é o elemento diferencial no processo de aprendizagem, seja do ponto de vista positivo ou negativo.
Sobre as expectativas apresentadas pelos alunos, entrar em uma universidade pública é o grande projeto de vida de grande parte dos discentes. No entanto, se observa que conseguir um emprego e adquirir bens está vinculado ao sonho do curso de graduação, ou seja, a universidade é o caminho para se ter profissão, trabalho e renda. Por outro, o cursinho se apresenta também como um espaço de aprendizagem que não apenas forma para o ingresso no ensino superior, mas entendem que as aulas preparam ainda para os concursos públicos.

Umas das características marcantes do cursinho diz respeito aos professores, principalmente quanto a seleção destes docentes, tempo de permanência e perspectivas construídas quanto ao pré-vestibular.
Para a seleção da equipe de professores, que deveria trabalhar com a primeira turma de 2017, foram afixadas cartazes em local na universidade de maior circulação de alunos e através de redes sociais, sendo que os interessados enviaram os currículos por correio eletrônico (e-mail), no segundo semestre de 2016, ou foram convidados por professores selecionados para atuar no cursinho. No final de outubro de 2017, foi marcada uma data para o processo de seleção que contou com uma prova didática, aula de 40 minutos, etapa seletiva que é usada como critério de seleção quando se necessita substituir professores. Importante informar que membros da coordenação do cursinho é responsável pela seleção de novos docentes, que deve ser efetivada normalmente de dois em dois anos, que é o tempo de permanência de cada professor.
Os professores selecionados iniciaram suas atividades ainda no final de 2016, em que foram responsáveis em auxiliar no processo de seleção dos alunos e matrícula. Concomitantemente atuavam na preparação de aulas e materiais didáticos, como apostilas e exercícios. Para estas atividades, os professores com condições socieconômicas vulneráveis recebem uma bolsa mensal de R$ 400,00 (quatrocentos reais) em média, sendo estas disponibilizadas através do edital do Programa Institucional de Bolsa de Extensão – PIBEX (BRASIL, 2018) e do Programa de Assistência Estudantil (BRASIL, 2017).
Quanto as expectativas dos professores sobre o cursinho, uma das docentes destaca que “é um excelente curso, pois além de dar oportunidade aos alunos da rede pública, também ajuda os futuros professores a ganharem uma grande experiência”. Expressa como sugestão, que “deveriam ter mais aulas interdisciplinares no curso, para reforçar, que todas as áreas de conhecimento estão ligadas e fazer os nossos alunos a aprendê-las e aplicá-las.”. Outra professora  revela que o cursinho melhorou ao longo dos anos, no entanto “presenciamos muitas falhas”, quanto a “rivalidade entre pessoas” e “problemas que pareciam pessoais entre professores e coordenação”. Aponta assim para a necessidade de maior diálogo e tolerância entre os docentes, de forma que possa “existir uma relação mais madura e profissional entre todos que compõe o cursinho”. A necessidade de mais reuniões entre todos, com o intuito de se conhecerem e esclarecerem objetivos e as atividades que serão exercidas ao longo do ano, também são observados pela professora.

Um aspecto importante da dinâmica do cursinho é o quadro docente, constituído, na maioria, por jovens que têm a mesma idade dos alunos. Esses jovens, que ainda cursam a universidade, têm a oportunidade de conviver com uma realidade muito diferente daquela que a teoria oferece. Os professores destacam ter aprendido com os alunos, a trabalhar com a diversidade de forma contextualizada, a desenvolver novas práticas pedagógicas, ao mesmo tempo em que cresceram com ser humano, como se pode observar nas expressões que seguem:

Nas reuniões de avaliação que estavam prevista para ocorrerem trimestralmente, professores expressaram suas considerações a respeito da experiência do cursinho em que destacam que essa atividade docente é uma importante contribuição para a formação pessoal e profissional. Isto permite o aprendizado com os alunos, assim como a convivência com realidade diferente. Observa-se ainda na fala dos alunos que o conhecimento da matéria é o grande ponto forte dos “professores”, no entanto expressam a necessidade de novas metodologias de ensino, que permita diversificar as formas de ensino e torne as aulas mais atraentes.
Os alunos do cursinho, ao avaliarem seus professores, destacaram os pontos positivos e negativos da atuação dos mesmos em sala de aula. Constam, a seguir, a relação dos pontos positivos e os negativos que constituem o perfil de docente idealizado pelos discentes, dentre outras qualidades:

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cursinho, como se observa, é representado pelos alunos como um facilitador de acesso à educação superior. Trata-se de um reforço à aprendizagem, fato que poderá conduzi-los a empregos e concursos públicos. Para outros, funciona como um facilitador para concursos públicos e diversas oportunidades de trabalho. Essa tendência também é marcada pela “atmosfera” de informação criada no cursinho, pautada na ideia de preparação para os vestibulares e concursos.
Do ponto de vista dos professores, o cursinho é representado como uma possibilidade de articulação entre a teoria e a prática. Embora tenham que trabalhar com alunos com defasagem de aprendizagem, promovem através de respeito, “amizade” e confiabilidade dos mesmos e servem como referência aos seus projetos de vida. Isso também eleva a autoestima do professor que vê no cursinho uma forma prazerosa de trabalho e complementação da formação.
Quando os alunos avaliaram os professores evidenciaram questões metodológicas e pessoais. Isto reforça a hipótese de que não importa ao professor ter apenas o conhecimento acadêmico, é necessário possuir também habilidades intra e interpessoais, assim como ser capaz de resolver problemas e situações que ocorrem no cotidiano da sala de aula.
Outra vantagem oferecida pelo projeto é a contribuição para a formação cidadã dos acadêmicos participantes. Os acadêmicos têm contato com alunos do ensino médio de escola pública que pleiteiam uma vaga em universidades. O contato proporciona o amadurecimento, maior senso de responsabilidade dos acadêmicos e o desenvolvimento de uma percepção da importância de se estudar em uma instituição pública de ensino superior.
Por outro lado, este cursinho têm uma grande importância para os discentes, não apenas  como possibilitadores de mobilidade social, mas também por ser, para os discentes, um dos poucos meios de difusão dos conhecimentos. Nesse sentido, mesmo que se confirme a tendência do cursinho de preparar os alunos para o vestibular, não se pode deixar de destacar a produção de conhecimento desenvolvido neste espaço, que interfere diretamente na qualificação e formação dos graduando dos cursos de Ananindeua.
Com o objetivo anteriormente destacado, sendo mantido, garante-se a transmissão dos conhecimentos citados, pois estes são exigência dos preparativos vestibulares, no entanto o auxílio a formação de novos professores é também garantido. Neste caso, partindo do pressuposto de que são os processos educativos os responsáveis pela elevação do pensamento empírico ao pensamento teórico-abstrato, “[...] oferecer possibilidades de acesso a um número cada vez maior de [pessoas] tem suas consequências, uma vez que não há como controlar a energia liberada através da produção e circulação do conhecimento e da capacidade crítica que este gera” (KUENZER, 2007, p. 1175).
Acesso ao ensino superior e formação de professores se constituem, portanto, como instrumentos mediados pelas ações do cursinho do Campus de Ananindeua.

5. REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 9394/96. Brasília, DF: MEC, 1996.
BRASIL. Programa Institucional de Bolsa de Extensão. Pró-Reitoria de Extensão, Universidade Federal do Pará, 2018.
BRASIL. Programa de Assistência Estudantil. Superintendência de Assistência Estudantil, Universidade Federal do Pará, 2018.
FORTES, Ricardo Luiz Rocha. O cursinho como unidade escolar de mediação entre o ensino médio e a universidade: peculiaridades, sentidos e perspectivas. Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. (Dissertação de Mestrado), 2005.
KUENZER, Acácia Zeneida. Da dualidade assumida à dualidade negada: o discurso da flexibilização justifica a inclusão excludente. Revista Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 1153-1178, out. 2007.
MASSI, Luciana; VILLANI, Alberto. Contribuições dos estudos de perfil dos graduandos: o caso dos cursos de licenciatura e bacharelado em Química da UNESP/Araraquara. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 14, n. 1, p. 151-170, 2014.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
NUNES, Francivaldo Alves; LIMA, Reinaldo José Vidal de; COSTA, Josué Muniz. Por um Campus Metropolitano na Amazônia: Desafios da formação superior e demandas regionais. Revista de Teorias e Práticas Educacionais, vol. 18, n.1, pp. 20-28 (Jan – Mar, 2018).
WHITAKER, Dulce Consuelo Andreatta. UNESP: Diferentes perfis de candidatos para diferentes cursos (Estudo de Variáveis Formadoras do Capital Cultural). São Paulo: Fundação para o  Vestibular da Universidade Estadual Paulista, 1989.
WHITAKER, Dulce Consuelo Andreatta; FIAMENGUE, Elis Cristina. Dez anos depois: UNESP diferentes perfis de candidatos para diferentes cursos (estudo de variáveis de capital cultural). São Paulo: Fundação Vunesp, 1999.
WHITAKER, Dulce Consuelo Andreatta; FIAMENGUE, Elis Cristina. Ensino médio: função do estado ou da empresa. Educação & Sociedade, XXII, n. 75, 2001.

WHITAKER, Dulce Consuelo Andreatta; FIAMENGUE, Elis Cristina. A heterogeneidade socioeconômica dos vestibulandos dos diferentes cursos da Unesp a partir de algumas variáveis de capital cultural. São Paulo:
*Doutor em História Social pela Universidade Federal do Pará. Atualmente é professor na Universidade Federal do Pará, atuando na Faculdade de História do Campus de Ananindeua. E-mail: francivaldonunes@yahoo.com.br

Recibido: 02/10/2018 Aceptado: 14/12/2018 Publicado: Diciembre de 2018

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