Alex Luryan de Souza*
Alfredo Cesar Antunes**
Universidade Estadual de Ponta Grossa- Paraná/Brasil
alfredo.cesar@hotmail.com
Resumo
O objetivo da pesquisa foi analisar a idade de início e influências para a prática do futsal por crianças e adolescentes em escolinhas de futsal de Ponta Grossa-Pr/Brasil. Um questionário foi aplicado para 58 crianças e adolescentes com idade entre 9 e 17 anos, de duas escolinhas de iniciação do futsal da cidade de Ponta Grossa-Pr/Brasil. Os objetivos foram: avaliar a idade de início na modalidade, a influência de outras pessoas, motivos para continuar a prática e fatores que indiquem a existência de especialização precoce. Como principais resultados obtidos destaca-se que a maioria das crianças teve o início na modalidade entre 7 e 8 anos de idade. Quem mais as influenciaram para a prática foram os pais. Dentre as que desejam seguir na modalidade é porque gostam e praticam a modalidade por saúde, diversão e amizade. Após a análise das respostas conclui-se que os resultados não indicam uma prática de especialização precoce nos estabelecimentos pesquisados. Porém, são necessárias mais pesquisas em outras escolinhas de iniciação ao futsal e com pais e professores para uma percepção geral sobre este tema no município de Ponta Grossa-Pr/Brasil. Conclui-se que mais crianças e adolescentes estão em busca do futsal como forma de lazer e qualidade de vida e o professor/técnico e os pais têm papel fundamental nesse processo. O objetivo das escolinhas de futsal, além de ensinar os fundamentos da modalidade, deve ser incentivar a prática do futsal para um estilo de vida saudável e um bom convívio social.
Palavras-chave: Futsal, modalidade, crianças e adolescentes
Resumen
El objetivo de la investigación fue analizar la edad de inicio e influencias para la práctica del futsal por niños y adolescentes en escuelas de futsal de Ponta Grossa-Pr/Brazil. Se aplicó un cuestionario para 58 niños y adolescentes con edad entre 9 y 17 años, de dos escuelas de iniciación del futsal de la ciudad de Ponta Grossa-Pr/Brazil. Los objetivos fueron: evaluar la edad de inicio en la modalidad, la influencia de otras personas, motivos para continuar la práctica y factores que indiquen la existencia de especialización precoz. Como principales resultados obtenidos se destaca que la mayoría de los niños tuvieron el inicio en la modalidad entre 7 y 8 años de edad. Quien más las influenció para la práctica fueron los padres. Entre las que desean seguir en la modalidad es porque les gusta y practican la modalidad por salud, diversión y amistad. Después del análisis de las respuestas se concluye que los resultados no indican una práctica de especialización precoz en los establecimientos encuestados. Sin embargo, son necesarias más investigaciones en otras escuelas de iniciación al futsal y con padres y profesores para una percepción general sobre este tema en el municipio de Ponta Grossa-Pr/Brazil. Se concluye que más niños y adolescentes están en busca del futsal como forma de ocio y calidad de vida y el profesor / técnico y los padres juegan un papel fundamental en ese proceso. El objetivo de las escuelas de futsal, además de enseñar los fundamentos de la modalidad, debe ser incentivar la práctica del futsal para un estilo de vida saludable y una buena convivencia social.
Palabras clave: Fútbol sala, modalidad, niños y adolescentes.
Abstract
The objective of the research was to analyze the age for starting and influences for the practice of futsal by children and adolescents in futsal schools in Ponta Grossa-Pr/Brazil. A questionnaire was applied to 58 children and adolescents between the ages of 9 and 17, from two initiation schools of the city of Ponta Grossa-Pr / Brazil. The objectives were to evaluate the age for starting in the modality, the influence of other people, reasons to continue the practice and factors that indicate the existence of early specialization. As main results obtained it is highlighted that the majority of the children had the beginning in the modality between 7 and 8 years of age. Those who influenced them the most were the parents. Among those who wish to follow in the modality is because they like and practice the modality for health, fun and friendship. After the analysis of the answers, it was concluded that the results do not indicate a practice of early specialization in the researched establishments. However, further research is needed in other initiation schools in futsal and with parents and teachers for a general perception about this subject in the city of Ponta Grossa-Pr/Brazil. It is concluded that more children and adolescents are in search of futsal as a form of leisure and quality of life and the teacher/technician and parents have a fundamental role in this process. The goal of the futsal schools, besides teaching the fundamentals of the sport, should be to encourage the practice of futsal for a healthy lifestyle and a good social life.
Keywords: Futsal, modality, children and adolescents
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:
Alex Luryan de Souza y Alfredo Cesar Antunes (2018): “Iniciação ao futsal: análise de duas escolas de iniciação na cidade de Ponta Grossa/PR/Brasil”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (mayo 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/atlante/2018/05/analise-escolas-iniciacao.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/atlante1805analise-escolas-iniciacao
Uma das modalidades esportivas mais praticadas no país, entre os esportes de quadra, é o futsal. (Brasil, 2013). Essa modalidade, também é praticada por milhões de pessoas em todo o mundo, tanto por lazer, como esporte de alto rendimento.
O crescente número de escolinhas 1 de futebol e futsal e a diminuição da sua prática em campinhos de várzea2 e na rua levou a uma mudança no processo de ensino e aprendizagem desta modalidade.
O objetivo destes estabelecimentos, de forma geral, é a prática sistemática com base nos princípios do alto rendimento. Existem vários fatores para o surgimento e crescimento das escolinhas de futebol no Brasil, como o crescimento das cidades e aspectos políticos, porém não é objetivo do presente trabalho aprofundar-se neste tema 3. Contudo, Valentin e Coelho (2005: 186-187) esclarecem que
A preocupação pedagógica em gerir e controlar os hábitos e o estilo de vida dos jogadores de futebol brasileiros surgiu, ainda que embrionariamente, a partir da derrota do Brasil na Copa do Mundo de 1966, realizada na Inglaterra [...] a valorização atribuída às categorias de base, pois elas apresentam-se como possibilidade de sanar os vícios e defeitos dos jogadores antes de se apresentarem às equipes federadas [...] Nesse contexto de valorização precípua das categorias de base, surgia uma nova prática pedagógica do futebol, institucionalizada no âmbito das escolinhas de futebol. A partir de sua inserção, com o apoio do Estado, as escolinhas tornam-se praticamente uma exigência para que se aceitasse um novo jogador numa equipe federada. Dessa forma, o jogador que se apresentasse a uma equipe federada deveria ter cumprido toda a seriação das escolinhas de futebol, de preferência as que fossem reconhecidas pelos treinadores por sua competência no ato de disciplinar e domesticar os jogadores através de uma intervenção pontual e detalhista.
Posto isso, é importante que os professores destes estabelecimentos e aos pais ou responsáveis estejam conscientes de que a maioria das crianças, na maior parte das vezes, não possui habilidades suficientes para se tornarem atletas de alto rendimento. Apesar de existirem alunos com habilidades motoras acima da média, por vários fatores, será uma parcela muito pequena ou talvez nula que atingirá tal objetivo.
Deve-se levar em conta que, para chegar ao topo no mundo do esporte, o caminho é muito árduo. Manter-se nesse topo é ainda mais complicado, pois nem sempre “querer é poder”. O sucesso no esporte depende de uma combinação de fatores relacionados a aspectos biológicos, motores, psicológicos, culturais e sociais, fazendo com que os futuros atletas sejam colocados em um “funil” (que tem entrada muito ampla, mas saída muito estreita). Muitos iniciam esse processo, mas pouquíssimos atingem o nível de excelência. (De Rose Jr, 2009:112).
Assim, um ponto fundamental a ser considerado no processo de iniciação esportiva é a especialização precoce, pois devido aos mais diversos fatores que envolvem as questões físicas, sociais e mentais, as crianças podem abandonar a vivência do esporte.
Especialização precoce – Trata-se de um grave problema da pedagogia do esporte, tanto na educação formal quanto na educação não formal. A busca pelo resultado positivo a curto prazo, especialmente no Brasil, tem levado profissionais do esporte a promover a especialização como elemento de constituição de seus procedimentos pedagógicos. Ela acontece cada vez mais cedo, o que pode ser verificado claramente na modalidade futebol (Paes & Balbino, 2009:76).
Por isso, é necessário respeitar a individualidade da criança, tanto no desenvolvimento cognitivo, psicológico, social e motor.
Desta forma, apresenta-se a seguinte questão norteadora do estudo: Qual a idade de iniciação e influências dos adultos, para a prática do futsal por crianças e adolescentes que frequentam escolinhas de iniciação em Ponta Grossa-Pr/Brasil?
O objetivo geral foi analisar a prática do futsal por crianças e adolescentes em duas escolinhas de futsal de Ponta Grossa-Pr/Brasil.
Os objetivos específicos foram identificar: a) a idade da iniciação no futsal, b) a aspiração em continuar a prática do futsal na idade adulta, c) a influência dos pais e professores (técnicos) na iniciação da prática do futsal e d) fatores que indiquem a especialização precoce nessas crianças e adolescentes.
Para atingir os propósitos desta pesquisa é preciso compreender o processo e iniciação esportiva. Serão utilizados como base os trabalhos de Marques e Oliveira (2002), Andrade Jr. (2007), Ferreira (2008), Ferraz (2009), Böhme e Ré (2009), além de outros autores para complementar os argumentos.
De acordo com Böhme e Ré (2009: 171), “O processo de formação e promoção esportiva, mediante um treiidnto a longo prazo (TLP) é uma estratégia mais efetiva para a formação de atletas do que uma eventual detecção e seleção precoces”.
Os autores afirmam, com base em vários estudos, que o treiidnto esportivo de alto nível dura em média de 6 a 10 anos, dependendo da modalidade esportiva. É dividido em três níveis: a) formação básica geral, até 10 anos, tem por meta as capacidades coordenativas com variação de materiais e movimentos; b) O treiidnto específico, de 11 a 16 anos, com o objetivo de melhoria do desempenho esportivo da modalidade escolhida, esta fase pode ser dividida em três etapas: 1- treiidnto básico ou de iniciantes, de 11 a 12 anos de idade, 2- treiidnto de síntese ou de adiantados, de 13 a 14 anos de idade e 3- treiidnto de transição, de 15 a 16 anos de idade; c) o treiidnto de alto nível busca a especificidade da modalidade, a partir de 17 anos. (Böhme e Ré, 2009.
Por fim, o treiidnto de alto nível
[...] tem por objetivos gerais o alcance do alto desempenho individual; o aumento otimizado do volume e da intensidade de treiidnto; a perfeição, a estabilização e a disponibilidade máxima da técnica esportiva; a melhoria e a manutenção da mais alta capacidade de desempenho pelo maior período de tempo possível. (Böhme e Ré, 2009: 179).
De forma específica para o futsal, Andrade Jr. (2007) propõe três fases de treiidnto, a saber, a fase de aquisição, a de iniciação, e a de especialização, separadas de acordo com a idade da criança, como demonstra o quadro a seguir.
Na fase de aquisição trabalha-se com o aluno exercícios de forma lúdica, desenvolvendo o talento motor geral, com movimentos variados e utilizando materiais diversos; enfatizando o trabalho de futsal, mas sem preocupar-se com as especializações. (Andrade Jr., 2007: 34).
Dessa forma, a criança pratica o esporte de maneira atrativa, evitando mais tarde o abandono da prática esportiva.
Na fase de iniciação deve-se ter um direcioidnto para a compreensão da totalidade e da tática do jogo. Trabalhar algumas qualidades físicas adequadas à faixa etária dos alunos e gradualmente inserir conhecimentos específicos do futsal (Andrade Jr., 2007: 39).
Nessa fase de iniciação é importante fazer com que a criança comece a aprender a competir, ou seja, começar a participar de competições. A promoção e participação em jogos auxiliam a aperfeiçoar as capacidades e as habilidades de cada criança.
Andrade Jr. (2007: 44-45) explica que a fase de especialização caracteriza-se por um direcioidnto para as particularidades do futsal, como o desenvolvimento das técnicas, os sistemas táticos, e as qualidades físicas, passando por um aumento de seu rendimento.
Um dos motivos destas separações em fases é a interação de ações pedagógicas e psicológicas, equilibrar e melhorar o comportamento motor da criança. Esta é a base para o processo de ensino e da aprendizagem e permite que as crianças tenham um bom domínio sobre seus comandos-motores, sensórios-motores e perceptivos-motores (Ferreira, 2008: 3).
O respeito às fases de treiidnto são fundamentais para evitar lesões no sistema músculo-esquelético, pois esta é uma das principais condições de abandono do jovem da modalidade.
As causas das lesões estão ligadas a fatores intrínsecos - idade, crescimento e estado maturacional, maus alinhamentos, força e flexibilidade reduzidas - e também a factores extrínsecos – características (volume, intensidade, velocidade, tipo de contracção) e condições de realização dos exercícios, tipos de superfície ou de equipamentos. (Outerbridge & Micheli apud Marques & Oliveira, 2002: 60).
Além disso, situações relacionadas com deficientes níveis de desenvolvimento de força e flexibilidade têm sido apresentados em pesquisas como causa de lesões crônicas (Soares et al.; Frohner et al.; Minãrro apud Marques & Oliveira, 2002: 61).
Para Ferreira (2008), no futsal, as técnicas utilizadas durante a prática do jogo são influenciadas pelos componentes de equilíbrio, ritmo, coordenação em geral, espaço e tempo. Para que ocorra o sucesso do aprendizado a criança deve ter um nível de desenvolvimento de suas qualidades físicas, psíquicas e motoras. Após o domínio das técnicas corporais básicas a criança terá condições de adequá-las às técnicas específicas do futsal. O autor supracitado explica que existem alguns aspectos básicos que devem ser observados no aprendizado do futsal, a saber, o conhecimento do perfil e características da criança, desenvolvimento dos componentes motores, procedimentos básicos do processo de ensino-aprendizagem e linguagem didático esportiva.
Outro aspecto fundamental no processo de iniciação ao futsal é a influência dos pais, professores e técnicos. “Os aspectos evolutivos dos comportamentos esportivos infantis indicam a presença e a influência de lideranças adultas”. (Simões, 2009: 90).
Quando se pergunta a qualquer criança ou adolescente por que está praticando esporte, é comum ouvir: “Porque gosto de jogar com meus amigos”; “Porque quero ser um jogador rico e famoso”; e/ou: “Porque meus pais querem que pratique esporte”. Existem outras, e todas demonstrando que o esporte é um dos fenômenos mais notáveis da sociedade moderna. (Simões, 2009: 85).
Entende-se que a maneira mais adequada de incentivar o esporte é fazer com que a criança interaja com o esporte de forma lúdica e supere suas limitações. O professor deve possibilitar um treiidnto adequado, que respeite a individualidade e a prontidão para a prática do futsal, e não coloque a competição e resultados como o principal objetivo. Além da pontidão motora, a prontidão psicológica e cognitiva é fundamental no processo de iniciação esportiva.
Quando se analisa o problema de a criança estar preparada para participar de competições no esporte, é necessário considerar a questão da prontidão e do período ótimo de aprendizagem, [...]. A prontidão está relacionada com os pré-requisitos necessários para o envolvimento de crianças e de adolescentes em novas experiências. O período ótimo de aprendizagem baseia-se na noção de que, durante o desenvolvimento, alguns momentos são ideais para promoverem-se novas aprendizagens, significando que as capacidades necessárias estão presentes no indivíduo, ou seja, a prontidão. Antes desse período, determinados conteúdos de aprendizagem ficam prejudicados e, após esse período, perde-se a oportunidade de se explorar o melhor potencial do indivíduo. (Ferraz, 2009: 47).
Contudo, com relação à competição, atualmente é consenso na literatura sua importância para o desenvolvimento dos mais jovens. Porém, muitos treinadores cometem um equívoco ao trocarem os resultados do futuro pelos sucessos do presente. O esporte de crianças e jovens só tem sentido enquanto projeto pedagógico, no qual se trate de igual forma da educação e da formação do indivíduo (Marques & Oliveira, 2002).
Não recomenda-se que crianças com menos de 8 anos participem de competições oficiais. Esta participação deve começar entre 11 e os 12 anos, ou até mais tarde, pois nesta idade elas estariam preparadas para as exigências das competições, do ponto de vista das técnicas e das habilidades, falta de sucesso e relações sociais. (Coakley, Bompa apud Marques & Oliveira, 2002: 69).
Geralmente a criança percebe a competição como brincadeira e, ao contrário de muitos adultos, o mais importante não é vencer e sim participar e divertir-se. Dessa forma, a competição pode colaborar no desenvolvimento da criança, por meio de novas experiências, novas amizades, novas informações.
Um bom exemplo disso é o desenvolvimento da prática e da consciência das regras. A criança compreenderá a verdadeira função das regras a partir dos 114 anos de idade e cabe ao professor/técnico respeitar este processo de desenvolvimento sem acarretar danos à criança. Ferraz (2009), com base em Piaget, mostra os efeitos desse desenvolvimento no quadro abaixo.
De acordo com a teoria, até os 10 anos é difícil que a criança identifique os fatores que regulam seu desempenho, como habilidade, esforço, dificuldades, condições, entre outros. Por este motivo, uma orientação inadequada pode gerar um sinal de incompetência levando à desmotivação e abandono da prática esportiva. Além disso, a ênfase na vitória pode se transformar em pressão geradora de ansiedade (Ferraz, 2009).
Entende-se que de acordo com os argumentos apresentados, por meio de revisão de literatura, o processo de iniciação ao futsal deve evitar o risco de uma especialização precoce.
A especialização precoce é entendida por Kunz (1994) como um processo que acontece quando crianças são introduzidas antes da fase pubertária a um treiidnto planejado e organizado em longo prazo, e que se efetiva em um mínimo de três sessões semanais, com o objetivo do gradual aumento do rendimento, além, de participação periódica em competições esportivas (Ramos & Neves, 2008: 1).
Voser (2003) alerta sobre os riscos para a criança com a prática do esporte de rendimento e, principalmente da especialização precoce. Tais riscos estão agrupados em quatro grandes áreas: riscos do tipo físico, principalmente por lesões por repetições de gestos técnicos; riscos do tipo psicológico com níveis altos de ansiedade, estresse e frustração por causa de desilusões em competições e ausência do brincar e do lúdico durante a infância; riscos do tipo motriz, ou seja, a especialização precoce leva a uma “falta de base poliesportiva” impossibilitando a prática de outras modalidades; e riscos do tipo esportivo, pois com a especialização precoce uma criança pode se destacar em uma modalidade, mas no futuro pode não ter as condições adequadas para aquela modalidade. Também, a conquista de títulos na infância não garante sucesso na fase adulta.
Por esses motivos, entende-se que o professor/técnico deve priorizar a participação do aluno de forma lúdica, para que ele se divirta sem ser pressionado pelo resultado.
[...] lideranças adultas (professores/pais) podem responsabilizar-se por suas condutas e atitudes adotando comportamentos pró-sociais esportivos e efetivos, para que as crianças/jovens adolescentes consigam desenvolver ações que promovam um crescimento adequado e condizente com as suas capacidades produtivas. (Simões, 2009: 101).
De acordo com os autores pesquisados, entende-se que os professores devem ter como objetivo proporcionar às crianças uma boa base motora e psicológica, respeitando a idade e as fases de treiidnto. Também, deve proporcionar ao aluno uma grande diversidade de experiências motoras, para que jogue com inteligência e prazer e continue a prática da modalidade, seja de forma profissional ou como saúde e qualidade de vida.
A pesquisa caracteriza-se como descritiva. Segundo Gil (1999) as pesquisas descritivas têm como objetivo principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi um questionário, aplicado aos alunos das escolinhas de futsal da cidade de Ponta Grossa-Pr. O questionário foi aplicado em 2 escolinhas de futsal, sendo uma de um projeto de extensão de uma universidade pública e a outra uma escolinha particular, sendo o mesmo questionário para ambas.
A amostra foi composta por 58 crianças e adolescentes com idade entre 9 e 17 anos, matriculadas nas referidas instituições.
Antes da aplicação do questionário foi entregue um termo de consentimento livre e esclarecido aos pais autorizando a participação na pesquisa, pois os sujeitos alvos da pesquisa são menores de idade. Também, por questões éticas os nomes das crianças e das escolinhas não foram identificados.
Após a autorização devidamente assinada e dando respaldo legal para a sua continuidade teve-se a aplicação do questionário.
O questionário teve por objetivo obter as informações de acordo com os objetivos específicos, estabelecendo-se as seguintes categorias de análise:
Para Gil (2002: 116) não existem normas rígidas para a elaboração do questionário. Porém, alguns critérios foram observados:
Com a aplicação desse questionário foram obtidos os dados necessários para a análise e interpretação do problema levantado para a pesquisa:
Qual a idade de iniciação e influências dos adultos, para a prática do futsal por crianças e adolescentes que frequentam escolinhas de iniciação em Ponta Grossa-Pr/Brasil?
A seguir serão apresentados os principais resultados encontrados com as respostas das crianças e adolescentes praticantes de futsal de duas escolinhas da cidade de Ponta Grossa-Pr/Brasil.
A amostra ficou caracterizada por 24 alunos da escolinha particular e 34 de um projeto de extensão de universidade pública.
A maioria dos sujeitos da pesquisa começou na modalidade com idades entre 6 e 9 anos, ou seja, na fase de aquisição do futsal (Andrade Jr, 2007). Este resultado indica que a maioria dos alunos iniciou em um período adequado à idade. Contudo, é fundamental estar atento para a forma de trabalho desenvolvido com as crianças, pois “A formação básica geral deve ocorrer até aproximadamente os 10 anos de idade, utilizando-se a maior variabilidade possível de movimentos e materiais”. (Böhme e Ré, 2009.
Portanto, seria importante verificar em estudo futuro de que forma e quais atividades foram desenvolvidas. Todavia, mesmo com uma porcentagem pequena (5,17%) que iniciaram entre 4 e 5 anos é preciso atenção para que esta prática não se torne rotina no processo de iniciação, ou seja, nesta faixa etária o ideal é a vivência em uma gama variada de experiências motoras e não em apenas uma modalidade.
Na pergunta sobre o futsal ser a primeira escolha, os resultados mostram que 28 alunos responderam que o futsal foi a primeira escolha de modalidade e 30 alunos responderam que o futsal não foi a primeira modalidade, destes foi perguntado qual a primeira modalidade.
Muitos dos sujeitos da pesquisa buscaram o futebol como a primeira modalidade. Esses dados podem estar relacionados com a popularidade do futebol no Brasil e o seu papel como identidade nacional do povo brasileiro. Sendo o futsal uma das ramificações ou adaptações5 do futebol é compreensível estas escolhas, ou seja, analisando o número total de sujeitos, o futebol ou futsal foi a modalidade de primeira escolha, com mais de 90% das respostas.
O que se observa, nessa trajetória do século XX, é o papel fundamental que o futebol teve na construção da identidade nacional brasileira, na medida em que foi se transformando numa "paixão nacional", compondo de maneira significativa o mosaico da cultura política nacional. Assim como o carnaval e o samba, o futebol é um dos patrimônios culturais brasileiros (Ribeiro, 2003: 1).
Segundo Daolio (1998) uma linha que explica a popularização do futebol no Brasil seria a facilidade de prática deste esporte, em termos de equipamentos, espaço e equipamentos. As regras do futebol tem fácil compreensão quando comparado com outros esportes, pode-se jogar em qualquer lugar e o único material obrigatório é uma bola. Também, o futebol gera muitos ídolos e ocupa um grande espaço na mídia, os jogadores são considerados heróis, são endeusados, invejados e imitados pelas crianças, servindo de modelo para estas (Daolio, 1998).
Na pergunta sobre a influência de alguém para começar no esporte, 18 alunos responderam que não e 40 disseram que tiveram a influência de alguém para começar a prática do futsal. Destas influências temos:
Os resultados demonstram que a influência mais significativa para iniciar a prática do futsal foi dos pais, com 55% das respostas.
Um dado importante é que com relação aos 3 alunos que começaram a prática da modalidade com 4 e 5 anos, ou seja, uma idade prematura, dois destes foram pela influência dos pais. Desta forma, além dos professores o papel dos pais é fundamental para evitar uma especialização precoce. É preciso um processo de conscientização, pois
[...] Freud observa que o nascimento de uma criança nunca corresponde exatamente ao que os pais esperam dela, pois o que eles esperam é a perfeição [...] Assim, os pais sempre idealizam a criança. Esperam que ela seja inteligente, educada, obediente, boa aluna, asseada, ordeira, etc., enfim, uma supercriança que se transformará em um superadulto. Como é impossível para qualquer ser humano atingir a perfeição, quanto mais se espera de uma criança, mais ela pode fracassar, e esse fracasso pode ser até “saudável”, na medida em que fracassar diante de um ideal inatingível é uma condição para se buscar um caminho próprio, para buscar usufruir suas características específicas e singulares. (Priszkulnik, 2009: 20).
Contudo, a pergunta sobre a opinião dos alunos se começaram a treinar muito cedo deixa uma percepção positiva no processo de iniciação, pois apenas 8 responderam que sim e 50 responderam que não. Em relação aos 8 que responderam que sim um (12,5%) repondeu que começou a praticar com 6 anos, cinco (62,5%) começaram com 7 anos, e três (37,5%) com 8 anos. De acordo com a literatura estas idades são adequadas para o início da prática, desde que de forma lúdica e com orientação correta.
Com relação ao desejo de seguir na carreira profissional, 14 alunos responderam que não pretendem seguir a carreira profissional e 44 alunos reponderam que pretendem ter um futuro na modalidade. Este resultado alerta para o papel do professor/técnico na orientação sobre o futuro da prática da modalidade por seus alunos. Segundo Voser (2003: 20)
O treinador esportivo de crianças desempenha um papel central e decisivo no desenvolvimento esportivo da criança [...] desempenham papel de pai, amigo, conselheiro e, para muitos, de ídolo e de exemplo de vida [...] sabem que muitas conquistas e vitórias caem no esquecimento, o que prova que não é o triunfo que conta, e sim a forma como foi obtido.
Assim,o professor/técnico deve orientar sobre as dificuldades, possibilidades e caminhos que devem ser percorridos para se chegar ao alto rendimento e, talvez o mais importante, incentivar a prática permanente independente do futuro como atleta, evitando o abandono da modalidade.
Esta orientação torna-se mais importante com os resultados sobre o motivo para seguirem na carreira profissional.
Os motivos para seguirem na modalidade estão na tabela abaixo.
Alguns alunos responderam mais de uma opção, mas a principal opção da carreira profissional é por gostar da modalidade. Este resultado demonstra um aspecto positivo para a prática futura da modalidade, ou seja, os benefícios da prática esportiva como lazer e qualidade de vida. Entretanto, o motivo de dinheiro e fama também aparecem e isso pode estar relacionado com a influência dos pais e da mídia. O esporte de alto rendimento é considerado uma atividade profissional, sendo remunerado, e muitas crianças acompanham pela mídia os jogadores e desejam o mesmo sucesso, reconhecimento e riqueza.
Isso se agrava quando o esporte é vislumbrado como uma possibilidade de ascensão social e um meio de ganhar dinheiro. Hoje em dia, de forma especial no futebol, os jovens são levados a acreditar que poderão ser ídolos e obter somas astronômicas que resolveriam todos os seus problemas e os de seus familiares. Além dos pais e dos técnicos, surge também um novo personagem: o empresário, que procura obter ganhos a partir dos sonhos de muitos jovens. Nesse processo, não se pode eximir a responsabilidade da família, que passa a enxergar no jovem sua “galinha dos ovos de ouro”. (De Rose Jr, 2009:112).
Esse tema é fundamental no processo de iniciação ao futsal, porém os dados coletados não permitem uma análise mais detalhada; sendo assim necessários outros estudos para analisar esta influência.
O resultado anterior é reforçado com o da pergunta sobre outros objetivos para praticarem a modalidade além da carreira profissional.
Alguns alunos responderam mais de uma opção, sendo que 4 não responderam. Verificamos que o foco deles é a diversão e saúde, mas eles também praticam como forma de fazer amizades. Esses dados reforçam o papel do esporte para o desenvolvimento de várias habilidades, além da busca da vitória em competições. Segundo Voser (2003: 48-49) a educação físico-esportiva favorece além das habilidades físico-motoras (percepção do próprio corpo, do espaço e tempo, tomada de decisões e resolução de problemas físicos, habilidade físicas) as habilidades afetivo-sociais (integração social, necessidade orgânica de realizar exercícios, criatividade, auto-conhecimento) e habilidades intelectuais.
Após os dados analisados e interpretados, com auxílio do referencial teórico pesquisado, é possível apresentar reflexões e possíveis respostas para os objetivos propostos.
No que se refere à idade da iniciação do futsal em crianças e adolescentes, a maioria dos entrevistados começou a prática da modalidade com a idade entre 7 e 8 anos, mas alguns começaram com a idade inferior a esta.
Sobre os motivos da iniciação do futsal em crianças e adolescentes destaca-se a influência dos pais. Esta constatação leva a uma preocupação e uma necessidade de orientação aos pais sobre o processo de iniciação ao futsal. Alguns dos entrevistados responderam que sua primeira escolha de modalidade foi o futebol, indicando uma influência cultural (futebol como identidade nacional) para a escolha da modalidade de futsal, por este ser uma adaptação do futebol e uma possibilidade de prática em espaços adaptados.
Um aspecto que mecere destaque nos resultados é que a maioria afirmou que deseja seguir carreira profissional na modalidade. É um resultado que alerta sobre o papel dos professores/técnicos como orientadores da prática do futsal, tanto nos seus aspectos positivos quanto negativos, como é o caso da especialização precoce.
Por outro lado, um ponto fundamental nesta pesquisa é que muitas das crianças e adolescentes querem continuar a prática porque gostam da modalidade, e por fatores relacionados à saúde e interações sociais. Esses dados indicam um aspecto positivo da prática do futsal para o lazer e busca de uma melhor qualidade de vida quando adultos. Objetivos apontados pelos autores analisados.
Enfim, sobre fatores que indiquem a existência de especialização precoce em crianças e adolescentes das escolinhas de futsal, as informações coletadas não demonstram tal fato. A idade adequada de início da prática, a influência dos pais para início em idade adequada, os motivos para continuar a prática por lazer e saúde indicam uma prática saudável do futsal pelas crianças e adolescentes analisados.
Contudo, alguns pontos devem ser observados com mais cuidado, mesmo não sendo a maioria das respostas, como o incentivo de alguns pais para o início da modalidade em idade inferior a 6 anos e a busca de fama e dinheiro para continuar a prática. Estes e outros pontos, como o papel da mídia para o início da prática, merecem outros estudos, pois são fatores que podem levar à especialização precoce e abandono do esporte. Também é desejável a continuidade de pesquisas com outras escolinhas de iniciação ao futsal, com pais e professores no município de Ponta Grossa-Pr.
Conclui-se que mais crianças e adolescentes estão em busca do futsal como forma de lazer e qualidade de vida/saúde e o professor/técnico e os pais têm papel fundamental nesse processo. Com o passar do tempo e surgindo as aportunidades adequadas poderão ter um futuro no esporte, tornando-se atletas ou não. O objetivo das escolinhas de futsal, além de ensinar os fundamentos da modalidade, deve ser incentivar a prática do futsal para um estilo de vida saudável e um bom convívio social.
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*Graduado em Educação Física (Bacharelado) pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)-Paraná/Brasil.