CAMINHOS DO JEQUITINHONHA: ANÁLISE DO PROJETO DE COMBATE Á POBREZA RURAL

Marcela de Oliveira Pessôa

3.2.3 – A Comunidade de Pedra Alta

A comunidade de Pedra Alta se situa à extremo sul do Município de Ponto dos Volantes, município surgido na última década do século XX na corrente de  desmembramentos realizados no Brasil. Ponto dos Volantes se emancipou de Itinga em 1996, e conta com uma série de ausências infraestruturais, mas que não se divergem, ao largo, da realidade jequitinhonhesa como um todo. O Município possui 11mil habitantes sendo que, até a corrente data, não havia resultados preliminares divulgados pelo IBGE sobre população urbana e rural.
A comunidade de Pedra Alta fica a cerca de 30Km da margem direita da BR116, por estrada de terra; e deste ponto da rodovia até a cidade leva-se mais 50Km aproximadamente, o que deixa a comunidade mais próxima da cidade vizinha – Padre Paraíso, ainda no Vale do Jequitinhonha – com a qual mantém interações constantes.  Para se chegar em Pedra Alta o principal meio é o transporte pessoal, além de contar com o frete de taxis e vans quando se tem condições para o pagamento. Por exemplo, o frete de táxi de Ponto dos Volantes para Pedra Alta me foi cobrado o valor de R$100.
A história desta comunidade é um tanto nebulosa para os próprios moradores. Não sabem ao certo dizer o porquê de sua instalação naquele local:
“Pelo o que eu sei é pouco porque, assim, nossos pais não nos contaram sobre a formação da comunidade... Só que, através das famílias, como todos acabaram criando aqui, poucas pessoas saíram... Então até os casamento foram tudo em família. Então facilitou esta comunidade. Então eu creio que isso começou desta forma...” (E.K).
“Aqui antigamente tinha as pessoa mais desquitado. Uma casinha aqui, outra ali... aí eles [os mais velhos] foram morrendo e foi gerando estes novos. […] Aí rendeu, né! Mas quando conheci isto aqui era tudo mato... […] Só que morador era mais pouco, depois que aumentou... […] ô moça isto aqui aumentou de uns 40anos pra cá” (E.L).
“[risos] Essa comunidade aqui foi formada por essas pessoa mais velha […] aí foi juntando este povo assim e juntou a comunidade. Era um lá, ali um outro... era quase que nem um deserto. Aí foi juntando este povo e juntou a comunidade. Igual essa igreja nossa ali, ela era debaixo de um pé de árvore ali. Depois passou para uma farinheira, aí depois de um pouco fez a igreja ali embaixo. Aí com pouco formou a comunidade, com todo mundo junto” (E.M).
“Então eu penso assim que ela surgiu de uma igreja, eu penso que ela surgiu […] na farinheira, [o pessoal se reunia lá e] hoje ela tem uma igreja. Aí, só que assim, hoje o pessoal foi conscientizando e hoje a comunidade é uma mistura de política, religião e cultura, né. Então acho que é isso ... e a cada ano que passa vai conscientizando. A política na comunidade, o pessoal vai entendendo etc. Então ela surgiu desta forma. E toda comunidade, ela surge de uma família […] você pode ver que aqui na comunidade todo mundo é parente, as 60 família que tem é tudo casado com primo...” (E.N) 

Por esta se tratar de região mais próxima ao Vale do Mucuri, pode-se deduzir que a história da comunidade esteve relacionada ao mesmo processo pelo o qual se deu o povoamento daquele; cuja atividade tardia se processou motivada pela Coroa Portuguesa no intento de estender a “civilização” sobre os índios desde o Vale do Jequitinhonha; oferecendo aos “desbravadores”, em troca, a terra que fossem capazes de ocupar e os índios que conseguissem capturar (RIBEIRO, 1997). No que tange à Associação Comunitária de Pedra Alta, sua composição também não tem mais de uma década; sendo que além desta há a associação da Escola Família Agrícola1 , que atende alunos da comunidade e outras comunidades vizinhas – embora estivesse desativada durante a minha presença. A comunidade também conta com pequenas casas comerciais familiares e é ocasionalmente assistida por projetos da Visão Mundial 2.
Diferentemente das outras comunidades, Pedra Alta fica situada em local muito elevado, sendo abastecida por várias nascentes. Também à diferença das outras comunidades visitadas, o clima é ameno e a vegetação perenemente verde. Existem outras comunidades que lhe estão no entorno, sendo três delas muito próximas, o que lhes permite manter relações constantes.
Não há uma rede coletiva de abastecimento de água, dependendo da perfuração de poços ou captação da água de alguma de suas dezenas de nascentes. Seus habitantes, aparentemente, têm grandes cuidados com seus cursos d’água, contudo a comunidade é mais uma das que se vê invadida pela cultura do eucalipto. Segundo o que me foi narrado, a área tem tradição no cultivo de café, e um dos seus grandes produtores ofereceu à comunidade a grota de sua propriedade no intuito de que zelassem pela mesma, justamente por ser um dos principais afluentes das águas que abastecem a comunidade. No entanto, o mesmo produtor introduziu o cultivo de eucalipto nas suas terras, o que deixou os moradores alarmados pela alta capacidade de absorção de água que tem este tipo de plantio e a previsibilidade da escassez do recurso.
Os tipos produtivos na comunidade são como na comunidade de Piauí Pereira: cultivo familiar realizado nas pequenas possessões de terra, tanto para o próprio consumo como no abastecimento da feira de Ponto dos Volantes e, pela proximidade, de Padre Paraíso. A diferença se dá pela tradição na produção de café ali existente e no seu entorno.
Para chegar à comunidade entrei em contato com um dos seus moradores, que além de me arranjar o transporte gratuito via membro da própria comunidade, também hospedou-me em sua residência com grande receptividade, atenção e respeito. Três das entrevistas foram realizadas na residência dos entrevistados. Ocorreram na presença dos familiares, mas sem sua interferência, e também com a presença do meu hospedeiro. As outras duas entrevistas foram realizadas na casa deste último. Embora considere que o ambiente e a presença do mesmo devam ter interferido na resposta dos demais entrevistados, deve-se relevar o fato de ter havido o falecimento de um dos moradores no mesmo dia em que se procedeu minha visita à comunidade, de modo que a grande boa vontade dos que me receberam foi imprescindível para a concretização do trabalho.


1 Escola Família Agrícola é uma iniciativa educativa voltada para o campo e que parte da pedagogia da alternância, onde durante um período o aluno fica na escola tomando conhecimento de questões gerais e técnicas voltadas para a realidade agrícola e n’outro período volta para sua casa onde exercita a aplicação dos seus conhecimentos (NASCIMENTO, 2004).

2 Visão Mundial (World Vision) é uma organização civil internacional criada na década de 1950 cuja principal atividade é o apadrinhamento de crianças carentes ao redor do mundo. Os padrinhos são quaisquer pessoas que, no interesse de contribuir a uma melhoria das condições de vida destas crianças, doam-lhes valores estipulados mensalmente até que completem a maioridade. No entanto existem outras atividades que visam contribuir na geração de renda, melhoria da saúde infantil e materna etc. Mais informações no sítio da organização: http://www.visaomundial.org.br/.

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